Islamofobia é arma política nos EUA pós-11 de Setembro

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Durante marcha antiguerra e contra a islamofobia em Nova York em 9/4/2011, manifestante muçulmana-americana carrega cartaz em que se lê ‘Tolerância – Viva por isso’.

Carolina Cimenti, de Nova York, especial para o iG

Em meio aos preparativos para a corrida eleitoral pela Casa Branca em novembro de 2012, grupos minoritários como os muçulmanos vêm servindo de munição política para o oposicionista Partido Republicano e sua facção ultraconservadora, o Tea Party.

Nas últimas semanas, menções negativas ao islamismo foram feitas por Newt Gingrich, Michele Bachmann, Herman Cain e Mitt Romney, os quatro principais concorrentes à nomeação republicana para a disputa contra o atual presidente dos EUA, o democrata Barack Obama. Cain, por exemplo, disse publicamente que jamais consideraria contratar um muçulmano como parte da sua equipe. Dias depois, foi elogiado e defendido por Gingrich, que comparou os muçulmanos aos nazistas.

Segundo Sherman Jackson, professor de estudos islâmicos da Universidade de Michigan, a atual crise econômica americana dá combustível aos movimentos conservadores nos EUA, que tendem a criticar e oprimir as minorias, incluindo os muçulmanos. “Desde o 11 de Setembro de 2001, os 2 milhões de muçulmanos americanos ficaram mais em destaque, mas, nos últimos dois anos, com o crescimento do Tea Party, a islamofobia passou a ser um tema popular, fazendo parte de discursos políticos e até de leis”, disse ao iG.

Desde 2010, pelo menos 24 governos estaduais dos EUA discutiram e consideraram elaborar legislações que proíbam os juízes de consultar ou considerar a sharia – código de leis muçulmanas. Pelo menos dois Estados, Oklahoma e Tennessee, aprovaram medidas constitucionais para banir o uso das regras islâmicas nos tribunais americanos. “Quem vê de fora imagina que esse seja verdadeiramente um risco presente no cotidiano dos EUA”, ironizou Jackson. “Claro que não é. A influência muçulmana nas leis ou tribunais americanas é praticamente zero”, afirmou.

O presidente do Conselho Muçulmano de Relações Públicas, uma organização não-governamental com base em Washington, Salam Al-Marayati, é ainda mais crítico. “Isso tudo faz parte de uma política exagerada que pretende criar medo e histeria. Obviamente não existe o menor risco de a sharia tomar conta dos EUA”, declarou.

Foto: Divulgação

Proposta arquitetônica para o Park51, centro islâmico perto do Marco Zero, em Nova York. Projeto foi alvo de protestos no ano passado.

Temidos e criticados publicamente, os muçulmanos americanos não gostam de falar com jornalistas. Grande parte das cem mesquitas do Estado de Nova York não apresenta nenhum sinal islâmico na parte de fora. “O islamismo é uma religião extretamente pacífica. Há, claro, muçulmanos que distorcem isso, mas eles são a minoria e são excluídos dos círculos de preces imediatamente”, disse um funcionário de uma mesquita ao sul de Manhattan, que não quis tirar foto nem se identificar.

De acordo com o jornal New York Times, quatro fatores iniciaram a campanha anti-sharia nos EUA: a polêmica do ano passado contra a abertura de uma nova mesquita ao sul de Manhattan, perto do Marco Zero (local onde ficavam as Torres Gêmeas); o medo do aumento do terrorismo organizado por muçulmanos nascidos e educados no país; e o crescimento do Tea Party. O quarto elemento seria um advogado judeu ortodoxo que vive no Brooklyn, chamado David Yerushalmi.

Yerushalmi, que raramente dá entrevistas, financiou pesquisas confirmando o crescimento da sharia nos EUA, processou o governo de diversos Estados americanos contra decisões que ele afirma terem como base a lei islâmica e redigiu o esboço das leis anti-sharia aprovadas em Oklahoma e Tennessee. Ele também convenceu uma série de organizações conservadoras a apoiar a sua tese e a campanha.

Pelo menos duas organizações nos EUA, porém, o criticam fortemente. A Liga Judaica Antidifamação, que luta contra o antissemitismo, o extremismo e o preconceito, considera Yerushalmi um “líder islamofóbico, racista e perigoso”. E a People for the American Way, que tem uma página especial contra o extremismo de direita, enquadra o advogado como “arquiteto de uma campanha racista que ganha força e se configura como risco para os EUA”. Essa organização cita as oito estratégias dos conservadores para aumentar a islamofobia nos EUA:

1) incitar medo em discursos públicos em relação aos islâmicos;
2) distorcer estatísticas e pesquisas para comprovar o risco criado por muçulmanos;
3) inventar que existe risco de a sharia tomar conta dos tribunais americanos;
4) defender a liberdade, exercendo exatamente o contrário: tirando liberdade dos muçulmanos;
5) dizer que o islamismo não é uma religião, mas uma forma de organização que quer dominar o mundo;
6) tirar direitos dos muçulmanos (por exemplo, o direito de expressão, direito de rezar e exercer sua religião livremente, direito de abrir uma mesquita etc.);
7) ligar temas anti-islâmicos com a retórica anti-Obama;
8) afirmar que existem ligações entre islâmicos e organizações perigosas, como a máfia e terroristas.

O risco prático de uma campanha como essa, segundo o professor da Universidade de Michigan, é influenciar radicais que acabam agindo contra pessoas ou toda uma comunidade simplesmente por vê-la de forma distorcida. “É muito fácil criar o incêndio, e muito difícil apagá-lo depois.”

Crescimento da islamofobia

Candidata pré-republicana Michele Bachmann, que tem o apoio do Tea Party.

Estatísticas confirmam que a islamofobia cresce nos EUA. De acordo com um estudo realizado no início deste ano pelo Pew Forum, um dos institutos de pesquisas mais respeitados do país, 38% dos americanos têm uma opinião negativa sobre o islã e os islâmicos, enquanto apenas 30% expressam uma visão favorável à religião (os restantes 32% não têm uma opinião formada sobre o assunto).

Um exemplo prático da influência negativa da islamofobia é o fundamentalista cristão Anders Behring Breivik, que deixou 77 mortos em 22 de julho na Noruega com a justificativa de que é contrário ao multiculturalismo e à imigração muçulmana na Europa. Antes do massacre, ele publicou um manifesto de 1,5 mil páginas, no qual, entre outros temas, elogiou diversos conservadores e islamofóbicos americanos.

Entre essas influências americanas, está Pamela Geller, uma blogueira e comentarista de Nova York, que também é cliente de Yerushalmi. Geller, porém, não assume nenhuma responsabilidade em relação ao assassino norueguês. “Toda essa discussão é ridícula. Breivik é responsável por suas ações. Se qualquer pessoa o incitou à violência, foram os islâmicos supremacistas, não eu. Se alguma coisa o incomodou, foi o relacionamento entre a Europa e o Oriente Médio, não os EUA”, escreveu ao iG.

A islamofobia nasceu e tradicionalmente sempre foi mais forte nos países europeus, como a França, a Alemanha e Reino Unido. A aversão ao islã nesses países sempre foi ligada à economia, não necessariamente à religião. “Ela é mais relacionada à questão de tentar evitar que os empregos locais parem nas mãos dos estrangeiros, que são em grande parte islâmicos”, disse o sociólogo Hérmes Dupuis, da Universidade London. “Nos EUA, a islamofobia começou a ser mais representativa após o 11 de Setembro, e vem carregada de medo, de terror, de pânico”, comparou.

De acordo com o professor Jackson, porém, a crise econômica, juntamente com os dez anos do 11 de Setembro e os discursos políticos que antecedem as eleições de 2012, podem ser uma combinação explosiva contra o islamismo em um país que tradicionalmente sempre lutou exatamente pelo contrário, a liberdade.

Fonte: Último Segundo


21 Comentários

  1. Ao ler este artigo a impressão que eu tive é que ele mostra apenas um lado da moeda.
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    Ninguem fala que os líderes Islamicos vem incitando o ódio ao povo ‘cristão’ americano e em outros casos europeu há muitos anos.
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    É como se o Islã fosse um coitadinho que estava quieto em seu canto quando a horda americana decidiu odiá-lo.
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    Que visão mais míope do mundo que este artigo apresenta, não gostei!
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    Queria ver se Bangladesh decidice mandar uns 747 em prédios de São Paulo assassinando mais de 5.000 brasileiros nós iriamos morrer de amor por eles.
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    Pelo amor de Deus, com quanto mais hipocrisia tratamos este tema, mais longe ficamos de uma solução que nos evite uma guerra santa declarada (não o que vivemos hoje veladamente)
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    Sds.

  2. Alem do que é muita hipocrisia (novamente) exigirem um tratamente que não oferecem de volta…
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    Cristãos americanos são vistos com maus olhos no mundo islâmico, como exigir isso de volta?
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    Sds

  3. Pobres muçulmanos! Vou derramar lágrimas… Adorei a foto da mulher com a palavra TOLERÂNCIA escrita. Eu adoro ser enganado…
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    As pessoas esclarecidas no mundo Ocidental estão fartas da perseguição e intolerância do Islamismo. Cristãos são perseguidos e mortos em todos os países árabes onde muçulmanos são maioria.
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    Assistam ao documentário THE THIRD JIHAD. Esclarecedor.
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    Só ingênuos acreditam que os muçulmanos preveem um mundo onde eles viverão lado a lado com outros povos.
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    Há poucos dias atrás, naveguei no portal islâmico de controle de TVs do Oriente Médio http://www.menritv.org. Fiquei chocado com o que assisti.
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    No Ocidente, muçulmanos falam em tolerância, no Oriente Médio, África e Ásia, eles falam em morte aos infiéis.

  4. Que idiotas muitos países são atacados por terroristas por que eles não a ceitão o modo deles agir mesmo que esse povo seja de maioria Islamica!!

  5. A europa ocidental sempre viu o islã como uma ameaça.
    Os motivos podem até ter mudado, mas o receio em relação ao islã continua o mesmo. Os cristãos (?) proselitistas e fanáticos e aliados da extrema direita são as pessoas que mais tem medo do islã. É de se observar que as pessoas no Brasil tem mania de importar (o que não presta) dos EUA e já estão fazendo prosélitos com base nesta ideologia (supostamente) cristã. São fãs do Tea Party e querem ser governados pelos ricos e “cristãos”.

  6. Com Islam, ou sem Islam…à América , q pensei q nunca à veria em má situação…agora estou vendo eles querendo se fecharem ainda mais…inutilmente… já dá pra avistar o fundo do poço…HHuuurrruuulllll !!! KKK

  7. Theo Gatos disse:
    27/08/2011 às 15:25

    O que você falou tem muito de razão…Apenas lembre-se que os ataques com aviões 747 não foram feitos por árabe algum..Ataques forjados. Essa é a maior mentira do século XXI ( até agora..rs)

  8. Pessoal, é o seguinte:

    Os EUA, quer gostem ou não, é a mais antiga, sólida e bem estabelecida democracia nas Américas (tolera até estratégias de markenting político, considerado por muitos, radicais)… Característica básica desse país e de outros muitos das Américas…

    O palco do jogo democrático, não é físico, se processa no mental, ou seja, desenvolve-se dentro de estratégias de manipulação da opinião pública, principalmente eleitores…

    É amplamente aceito nas democracias das Américas, seja do sul, como no do norte, a manipulação do inconsciente coletivo dessa massa (Democracias “quentes”), que tem como elementos, não apenas idéias, mas principlamente sua ligação com sentimentos básicos humanos, tais como: medo e amor…

    Algumas combinações de idéias ligados a sentimentos humanos tão básicos como medo e amor, já foram planejados e executados com sucesso, por um gênio da propaganda política do passado… O resultado hoje previsível, foi uma “egrégora monstro”, que os arrastaram para o ódio e uma guerra que devastou boa parte da Europa no século passado… Despertaram o “diabo” dizem alguns, e o “diabo” andou sobre a terra e pilhas de corpos, dizem outros… Isso foi o suficiente, para que as características de muitas democracias desse continente, não apoiarem manipulação políticas de sentimentos humanos mais básicos… A política é mais consciente e menos passional (Democracias “frias”)…

    Utilizar essas combinações de idéias e sentimentos mais básicos, como instrumento de pressão política contra outro adversário, faz sentido (gera união interna e complica objetivos externos do adversário), porém, como já demonstrado no passado, tende a ficar incontrolável, mesmo para O Gênio, como diz alguns, do passado… Esse é um alerta de liberais e moderadores sobre o uso desse tipo de estratégia de propaganda política…

    Ficar ameaçando por tempo prolongado com “coquetéis molotovs” o “circo”, como estratégia para que o outro lado ceda, gera ansiedade, que mais cedo ou mais tarde, alguém acaba se descontrolando e atirando e pior, quando um atira, a massa passional a segue, e a situação sai fora de controle, como no exemplo do passado…

    Deviam voltar atenção a tradiconal estratégia de exportação do melhor de sua cultura e comércio (o mundo adora o american way of life), e não do pior… Funciona a séculos e tem efeitos duradoros a médio e longo prazo, e são bem efetivos, pricipalmente, em períodos de crise econômica…

  9. Aqui no Brasil, se utiliza com sucesso compaixão… A dupla amor e alegria (dobradinha futebol/carnaval), já apresenta sinais de estagnação e efeitos colaterais graves… Amor e medo em períodos prolongados, não deu certo, gerou traumas profundos em todos os setores da sociedade brasileira…

    http://youtu.be/gQ2sQk9q-30

  10. “Durante marcha antiguerra e contra a islamofobia em Nova York em 9/4/2011, manifestante muçulmana-americana carrega cartaz em que se lê ‘Tolerância – Viva por isso’.”… tentem organizar uma marcha pacifica como essa em TEERÃ em apoio ao cristianismo… depois me digam o que aconteceu… dependendo do resultado, mudo totalmente minha postura com relação ao islamismo…

  11. Religião e política não devem se misturar nunca….é juntar o detonador ao explosivo…….cada coisa em seu canto……e neste quesito o Islã esta completamente equivocado, criando assim uma horda de fanáticos inconsequentes….

  12. Depois que o Hamas tomou Gaza, um dos alvos foi uma escola cristã existente. Primeiro atacaram com granadas ateando fogo à biblioteca. Como isso não foi suficiente, num segundo momento retornaram ao local e metralharam o pároco (e também diretor).

  13. O bom senso, o pai da democracia, recomenda, nao misturar determinados conjuntos de ideias, religiao ( pois normalmente ou tem a paixao, ou o medo – ou mistura de ambos – como componentes basicos da estrutura de organizacao mental/espiritual) e democracia e uma delas… Bem lembrado, o exemplo classico…

    Tambem prefiro democracias mais ¨frias¨, mais racionais e menos passionais…

    Nao aguento mais propaganda politica com candidato com criancinhas ramelenta (que em situacoes normais evitaria) nos bracos…

  14. Theo Gatos,meu caro.
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    Meu querido,é assim que se dá a dinâmica do ódio;cada um contribuindo com um ramo seco,cada um tem um pretexto para odiar o outro.
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    Se vê um lado da moeda,acredite que essa moeda só tem a mesma figura;pois olhar do outro lado verás a mesma coisa também;só muda o foco do ódio que é mutuo.
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    Dá razão a um lado é a mesma coisa que dá a o outro lado também,seria afagar o mesmo monstro de duas cabeças.
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    abraços

  15. O grande problema e causador de muitas guerras é puramente a religião…
    Em nome da Bíblia ou em nome do Alcorão.
    Um se achando melhor que o outro, defendendo seu ponto de vista por cima de tudo e todos,
    No fundo, são todos iguais os mesmos hipocritas que não estão nem ai pelo que pregam, só querem ser melhores que os outros.

  16. A grande virada vai ser religiosa, escute bem.
    As outras crises terão uma relevãncia apenas para movimentar a massa de manobra, mas serão acessórias.

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