Policial do futuro: botas à prova de balas e computador acoplado à cabeça

Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro |
Feira de segurança no Rio apresenta inovações para a área, como primeira arma elétrica nacional e polar para operações de resgate

Parece coisa de James Bond, mas não é. Os policiais do futuro próximo terão à disposição botas à prova de balas, computador portátil na cabeça acionado por voz e pistolas elétricas brasileiras.

Um grupo de resgate e retomada poderá ter os movimentos monitorados por uma espécie de polar, que medirá respiração, batimentos cardíacos e mostrará até se o policial caiu no chão, possivelmente vítima de tiro. O treinamento de abordagem e tiro poderá ser virtual, com cada policial treinando sozinho em um software interativo e com tiro ao alvo a laser. Até o confronto real pode ser treinado, com as armas adaptadas a laser e coletes com sensores.

Muitos desses aparatos já existem mundo afora, mas ainda não são usados maciçamente no Brasil. Outros são novidades, como as botas balísticas ou os computadores de cabeça. Equipamentos do gênero, exclusivos ou não da área de segurança ou de Defesa, foram apresentados por fornecedores na Interseg, feira de segurança no Riocentro.

Tiros de pistola não furam bota balística, pioneira mundial

A partir do ano que vem, policiais brasileiros poderão usar além de coletes, botas à prova de balas. A paranaense Guartelá concluiu os testes de campo da “Shell” e espera a aprovação do Exército para começar a comercializar as botas, que resistem a tiros de pistola calibre .40, .380 e revólveres .38. O material que reveste o modelo é o kevlar, semelhante ao de coletes.

“Uma das dificuldades dos policiais que atuam em operações é que têm as partes vitais protegidas, mas expõem o pé. Se atingidos por um disparo, perdem uma essencial articulação do corpo, o tornozelo, e têm de sair de combate, comprometendo a equipe e um resgate”, explica Luiz Fernando Malta, sócio da empresa de 130 funcionários e 80 mil pares por ano.

É a primeira do gênero no mundo e levou cerca de dois anos, entre concepção original e testes. Existe uma bota de Cingapura resistente a explosões de minas terrestres, mas nenhuma à prova de balas. A Shell tem proteção balística nas laterais, de pouco antes do bico – para não perder a área de flexão – até a articulação dos tornozelos. A sola é feita de material anti-perfuro, que impede a entrada de objetos pontiagudos. Uma vez aprovado pelo Exército, o modelo deve custar entre R$ 500 e R$ 600 no mercado.

Especializada em “botas táticas de alta performance”, a Guartelá também lançou na Interseg modelo especial para pilotos de helicóptero e profissionais de resgate em aeronaves, com couro anti-chamas e reforço no tornozelo, a “High Fly Fire. “Os pilotos se preocupavam com o macacão anti-chamas, mas se esqueciam dos pés. A tripulação precisa fazer socorros e saltos de 2 metros ou 3 metros de altura. Muitas vezes se machucam ao cair, torcendo o tornozelo”, explica Luiz Fernando. A Guartelá conta ainda com calçados especiais para bombeiros, com solado resistente a 1200ºC, couro anti-chamas e impermeável.

Computador portátil usado na cabeça


A Motorola está lançando um computador portátil de cabeça com tela, para o profissional de segurança – ou de outras áreas que não possa ficar com as mãos ocupadas. O head-mounted computer é um equipamento pequeno e leve, que parece um fone de ouvido de operadores de telemarketing acrescentado de um óculo, que contém o computador, que fica atrás da cabeça. Os comandos são dados por voz, e as telas – semelhantes às de um iPhone – vão mudando de acordo com a ordem.

“A tela pode parecer pequena, mas a imagem da tela é curvada, com lente de aumento e dá a sensação de ser uma tela de 15 polegadas”, explica o engenheiro Carlos Augusto Levy.

Pela tela, é possível a um operador de trânsito ver câmeras da companhia de tráfego para saber como está o movimento de veículos. Basta dizer o número da câmera, que o vídeo se abre. Isso vale também para documentos e fotos.

O computador aceita pendrive e pode receber informação via Bluetooth e internet sem fio, via banda larga, e a bateria, semelhante à de telefones celulares, dura de 4h a 5h. “Dá mobilidade, agilidade na tomada de decisões, com maior qualidade”, disse Levy, que desenvolveu no Brasil o aplicativo de vídeo – os aplicativos podem ser desenvolvidos de acordo com a demanda do cliente.

Polar para operações especiais

Outro produto da Motorola se assemelha a um polar usado por corredores sob a camisa. O aparelho envia os sinais vitais da pessoa, como respiração, batimentos cardíacos, mostra a posição do corpo – se em pé ou deitada, por exemplo.

Em uma operação policial de resgate de reféns, por exemplo, o comandante pode saber se o seu policial foi baleado em um ambiente fechado, vendo na tela do computador uma seta deitada. A tela de computador do comando pode ter os dados de toda a equipe monitorada.

“Ao perceber a queda de um agente, é possível disparar a ambulância e socorro”, disse o presidente da Motorola Solutions no Brasil, Eduardo Stefano.

Os sinais são emitidos por um Bluetooth acoplado ao radiotransmissor, ligado por fio a um “modem” colocado no colete do policial. Se acontece algo diferente do normal, a cor muda do verde para o vermelho. Os equipamentos se comunicam entre si, mas para mandar mensagens para um computador distante, é preciso ter disponível uma rede wireless local.

Arma elétrica tem mira a laser e memória com hora dos disparos

A Condor, empresa de tecnologias não-letais, está lançando a Spark, primeira arma elétrica brasileira, que só depende agora da aprovação do Exército. O “dispositivo elétrico incapacitante” é o terceiro do gênero no mundo – as outras são a mais “Taser” e a Karbon, da Karbon Arms.

“Nossa arma usa menos energia no indivíduo, preservando o risco de fibrilação. A intensidade do choque e a amperagem são menores do que as da concorrência, o que reduz o risco de letalidade”, afirmou Vilson Tolfo, diretor da Condor.

A arma elétrica pode ser disparada a uma distância entre 4 metros e 8 metros, com mira a laser. São lançados dois dardos, presos à arma por um fio condutor da corrente, que causa o choque. A Spark conta ainda com um dispositivo de memória digital interna, com a hora e data dos disparos.

A Cientistas investe na “inteligência artificial” para treinar policiais e vigilantes em abordagens com respeito a direitos humanos. A empresa desenvolveu um software interativo que permite o treinamento e prática de comandos e uso progressivo da força entre alunos e suspeitos virtuais. É um sistema portátil com cenários 3D que pode ser instalado em uma área pequena, de ao menos 3 metros x 3 metros.

“Não precisamos de Rambos, mas de policiais que saibam verbalizar ordens e respeitem os direitos humanos”, disse Paulo Guerra, gerente de negócios da Cientistas.

Fonte: Último Segundo

11 Comentários

  1. Tanto a arma não letal, como as letais utilizados em segurança pública, deveriam ter câmera (ao destravar começa a gravar)… As cameras e gravadores atualmente são extremamente pequenos (não chega a uma polegada), fáceis de incorporar a uma arma… Para o judiciário, facilita e muito o trabalho de provas envolvendo policiais e seguranças… Para a corporação = menor possibilidade de problemas relacionados a desvio de conduta… Para o Estado, redução drástica de homicídios envolvendo corpo de segurança pública…

  2. Estou impressionado com a insdústria nacional, isso deveria ser disponibilizado imediatamente, vejo como uma alternativa ao porte de arma de fogo para defesa pessoal contra um atacante.

  3. Se um mero rádio transmissor da motorola para a polícia custa em torno de R$ 15.000, imaginem quanto custará esse computador portátil. O que me revolta nesse “mundo de oz” é a falta de prioridades. Arma não letal, ou melhor, arma de baixa letalidade, é para as polícias do Japão, Reino Unido, Canadá, onde o índice de criminalidade é muito baixo, para nós policiais em SP, RJ, etc. as armas tinha que ser cada vez mais letais, diariamente enfrentamos bandidos que em poder de fogo superam em muito as nossas. Enquanto alguns vivem no “mundo da fantasia”, eu e meus irmãos vivemos, sangramos e morremos no mundo real.



  4. mais se eu fosse bandido … atirava visando a cabeça… não o pé…

    sendo o calçado a prova de bala.. em quanto isso compromete a agilidade de quem o usa…

    mais um produto da série… VAMOS HIPER FATURAR

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