Vinte anos depois, ex-repúblicas soviéticas se blindam contra o comunismo

http://wscdn.bbc.co.uk/worldservice/assets/images/2011/08/19/110819091836_red_square_304x304_bbc_nocredit.jpgArtem Krechetnikov

BBC Rússia

No dia 1º de agosto de 1991, o famoso monumento a Karl Marx, que se eleva sobre o centro da cidade de Moscou, apareceu com os seguintes dizeres pintados em tinta vermelha: “Proletários do mundo, perdoem-me!”

Era uma irônica alusão ao chamado aos trabalhadores contido no Manifesto do Partido Comunista, publicado em 1848 na Alemanha por Marx e Friedrich Engels.

A ideia de comunismo concebida originalmente pelos intelectuais europeus encontrou abrigo espiritual na Rússia – que se tornou “a pátria do proletariado mundial”.

Os comunistas que viviam na “casa da revolução mundial” se orgulhavam de seu papel na história e no cenário geopolítico.

Vinte anos após o colapso do maior país comunista do mundo, o Partido Comunista permanece um dos mais influentes do país.

Em números de parlamentares, só fica atrás do partido Rússia Unida, dos últimos ocupantes do Kremlin, Dmitri Medvedev e Vladimir Putin.

Mas a maioria dos analistas está de acordo com a opinião de que o partido não tem futuro político na Rússia.

Os filiados do PC de hoje pertencem a um setor determinado, mas em envelhecimento, da população. Se tudo continuar como está, os simpatizantes da sigla tendem a desaparecer.

A maioria dos simpatizantes da oposição na Rússia é nacionalista ou a favor de ideias ocidentais.

Existe, sim, muita nostalgia na Rússia pela antiga União Soviética, mas não da igualdade indiscriminada, das filas e da doutrinação política: os cidadãos sentem falta do tempo em que a União Soviética era uma nação poderosa, respeitada e temida em todo o globo.

Muitos especialistas crêem que os comunistas poderiam ter retomado o poder nos anos 1990, quando a Rússia se encontrava em meio à turbulência política, se tivessem um líder carismático líder.

Entretanto, a firme liderança de Genady Ziuganov assegurou o estabelecimento do capitalismo e de um sistema de democratização na Rússia.

Os eventos históricos que se desenrolaram na “casa da revolução” determinaram o destino do comunismo no resto do mundo.

Europa e Ásia Central

Nos países que conformavam as ex-repúblicas sob a batuta de Moscou, o que há de comum é a tentativa de evitar a influência da ideologia comunista.

A única ex-república soviética a manter o comunista é a Moldávia. Seu ex-presidente entre 2001 e 2009, Vladimir Voronin, foi o primeiro chefe de Estado comunista democraticamente eleito após a dissolução do bloco soviético.

Mas mesmo seus seguidores não são comunistas linha-dura no sentido tradicional: não desejam o retorno à vida soviética. Parte dos ativos do país foi privatizada e a melhor definição da estrutura sócio-econômica do país é capitalismo com um toque pós-soviético.

O país que mais preservou os valores e o estilo de vida soviéticos é Belarus, a “linha de montagem” do antigo bloco comunista.

A liberalização econômica e a ruptura dos antigos laços econômicos atingiram duramente o país, que não possuía recursos naturais.

Praça Vermelha após o golpe de 1991: para analistas, comunismo poderia ter vingado

Durante a 2ª Guerra Mundial, o país amargou a ocupação nazista, insuflando uma desconfiança em relação à influência ocidental na psique nacional.

Mesmo assim, o comunismo tem desvanecido e o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko – que chegou ao poder impulsionado por esse sentimento antiocidental – nunca invocou as ideias de Marx e Lênin.

A ideologia predominante é a do paternalismo estatal com liderança carismática e ditatorial.

Nos países da Ásia Central, que combinam capitalismo, autoritarismo secular e o uso oportunista de certos elementos islâmicos, os governos mantêm laços mais próximos com Moscou que com os países ocidentais – mas isso é porque a Rússia não os incomoda com questionamentos a respeito de direitos humanos.

Na Ucrânia, nos países do Cáucaso e nos Bálticos, o comunismo já não é digno de menção. As disputas políticas continuam nesses países, mas por forças inteiramente distintas.

No Leste Europeu, onde comunismo foi implantado força, a ocupação e a humilhação nacional, a maioria das populações nunca apoiou a ideologia.

A União Soviética provia os recursos para os seus “satélites” e permitia, neles, um grau de liberdade mais que em seu próprio solo. Mesmo assim, as tentativas de se livrar do jugo de Moscou só foram suprimidas com a intervenção do Exército Vermelho na ex-Alemanha Oriental, a Hungria e a ex-Tchecoslováquia.

Há partidos pós-comunismo em todos os países do antigo Pacto de Varsóvia, que advogam uma plataforma de esquerda moderada e europeia. Esses partidos têm tido espaço na Polônia, Hungria, Romênia, Eslováquia e Bulgária, mas não há possibilidade de voltar ao sistema político socialista de outrora.

China e Ásia

Se a revolução russa já não tinha grande relação com os ideais da ideologia marxista, a chinesa certamente não tinha. A China nunca teve um proletariado capaz de receber desempenhar a função histórica que lhe cabia segundo Marx.

Mao Tse Tung chegou ao poder em 1949 vindo da classe camponesa. Considerava-se líder de um “vilarejo global” em uma luta contra a “cidade global” e nunca escondeu sua rejeição à civilização urbana.

O seguidor de Mao no Camboja, Pol Pot, levou os ensinamentos de seu mestre à ação lógica, dizimando a população urbana do país.

Mao Tse Tung rejeitava a luta do proletário urbano e adaptou ideias socialistas à realidade do campo

Mao combinava a ideologia marxista com um nacionalismo chinês e um despotismo asiático, exemplificados pela coletivização e a obediência. O indivíduo era um coágulo no sistema e todo interesse material era substituído por um profundo sentimento de conformidade.

No Vietnã, o vizinho mais próximo da China, o caminho do comunismo foi semelhante.

A Mongólia foi o único país a estabelecer o socialismo ao estilo soviético antes da 2ª Guerra Mundial. Depois da queda da União Soviética, o país rejeitou o modelo e embarcou em um caminho de reformas de mercado e democracia multipartidária.

Hoje, a Coreia do Norte é o único bastião do comunismo stalinista. O país vive imerso em um sistema onde o mercado é inexistente e a ideia de coletividade é tão forte que os indivíduos são proibidos de cobrir as janelas com cortinas.

A doutrina oficial norte-coreana não se baseia nos princípios marxistas-leninistas, mas no espírito de autoconfiança. Na prática, isso se traduziu no desejo de Kim Il Sung e seu sucessor, Kim Jong Il, de se manter seu domínio sem se submeter a ninguém.

África e América Latina

Na África, a realidade social não poderia ser mais diferente dos cenários elaborados por Marx e Engles, que se debruçaram sobre os problemas das sociedades industriais.

Em parte, a aproximação dos países africanos com a URSS foi motivada pela rejeição ao imperialismo histórico das potências europeias.

Aos líderes anticolonialistas africanos também apetecia a ideia de modernizar seus países através de ditaduras. Eles sabiam pouco sobre as ideias de Marx e Lênin, mas entenderam que bastava dizer a palavra mágica – “socialismo” – para estar na lista dos receptores de armas e recursos da União Soviética.

Isto gerou todo tipo de confusão. Quando a Etiópia e a Somália entraram em guerra, por exemplo, ambos os países se consideravam socialistas. Levou tempo até Moscou decidir quem apoiar: a Etiópia.

O parque Lênin, em HavanaCuba pode ser o país a martelar o último prego no caixão do comunismo

Na América Latina, de forma semelhante ao que ocorreu na África, o apoio da URSS foi usado na Guerra Fria contra outra potência vista como imperialista – os Estados Unidos.

Mas muitas revoluções latino-americanas não foram diretamente inspiradas pelo marxismo. A Cubana começou como uma insurreição contra a autoridade vigente.

Fidel Castro era popular em Moscou tanto quanto Yuri Gagarin, o primeiro homem no espaço. O líder cubano da “ilha da liberdade” mostrava que o comunismo poderia ser jovem, cheio de vida e democrático.

Ao longo dos anos, Cuba perdeu a vitalidade e passou a ser um país governado por uma geração de octogenários. É possível que se torne o país a martelar o último prego no caixão do comunismo global.

Fonte: BBC Brasil

19 Comentários

  1. O Comunismo não morreu. Acredito que ele retorne daqui a 30, 40 ou 50 anos, porém diferente do que existiu. Será o Comunismo por Rede de Computadores. Vai ter que haver um software bastante inteligente para gerenciar a economia dirigida. Retornará através da Alemanha e Israel, e todos os países o adotarão, pois o Sistema Capitalista é um grande destruidor de riquezas. Veja o que ocorreu com os EUA: Plutocratas. O Sistema Político Brasileiro, também é um péssimo exemplo para a humanidade. A Alemanha, China e Suécia estão no caminho certo.

  2. Artem Krechetnikov

    BBC Rússia = British Broadcasting Corporation (BBC)

    corporacao BRITANICA de radiodifusão

    Numero 2 no brainwash da massa popular,perdendo apenas

    pra CNN de origen ? = YANKE

    Nao me adimiro do que falao nem perco tempo com velho disco furado delas duas

  3. Poderia aqui expor conspirações envolvendo israel, china, suécia. Mas também tem um lado interessante. Pode ser que tais conspirações sejam “conspirações” afim de alertar a sociedade sobre possíveis contra-tempos que a humanidade pode criar futuramente. Por isto os filmes nas telonas, matrix, 2035, etc… Será?.. Pois infelizmente as socio-democracias estão a atropelar as constituições e liberdades individuais em todo o globo.

  4. Essa porcaria nunca funcionou. O povo russo estava em uma miséria tão grande que o playboy espertalhão do Lenin conseguiu enfiar essa lorota na goela dos russos. Todos iguais, tudo dividido, os homens são iguais..etc .Mas se vc for “do partido” ou amigo de algum figurão; vc é mais igual que os outros, tem pedaços maiores do bolo, etc..Uma grande cascata. O Marx (vagabundo e marido de viúva rica..)acabou morrendo tão pobre que não tinha nem como pagar o próprio enterro. Essa porcaria de comunismo é tão ruim que nem os Russos usam mais..

  5. O Dandolo anda delirando. Dizer que a Alemanha e Israel se tornarão comunistas e todo o mundo os seguirá? Comunismo por rede de computadores?!!! Realmente, não dá para levar a sério quem faz declarações como essas.

  6. Aqui no BRASIL existe o comunismo que funciona, nas tribos indígenas que ainda vivem a moda antiga. Vivem de coleta e de um incipiente tipo de agricultora, onde a mandioca é o principal tipo de cultura. Só assim é que ele funciona, o comunismo, numa sociedade bem primitiva que um dia acabará cedendo à competição. A competição, pelas leis da natureza, a da seleção natural, é o segredo do sucesso. Uma sociedade forçada a ser igual sem competir não cria coisas novas, não se recria, não evolui, porque é proibido, pois pode diminuir a igualdade. E uma sociedade onde a competição é desenfreada, lei das selvas, produz muita desigualdade. Tem de se encontrar o equilíbrio para ser feliz…
    A antiga CCCP era avançada em dois setores em especial e atrasada em boa parte dos demais, estes setores avançados eram o da corrida armamentista e o espacial, porque? Porque foram forçados pela guerra fria “competição com a OTAN pela hegemonia”, isso demonstra que a competição fez bem a antiga CCCP que teve que acompanhar os avanços capitalistas e manter seu poder dissuasório atualizado. O legado dessa tecnologia/espertice ficou para a Rússia e prova que que a “igualdade absoluta”, se é que ela existe, é contraponto da competição e por consequência, da evolução tecnológica/conhecimento.
    Talvez no futuro um sistema melhor surja, quando robôs faram o trabalho pesado para nós para fiarmos só filosofando. Aí esses robôs podem nos achar inúteis e nos eliminar, competição amigos…

  7. O poderio militar e avanço tecnológico da Rússia não veio do sistema político-econômico Comunismo. Veio da coragem,dedicação, seriedade e empenho do povo russo para com seu país. (se o comunismo em si bastasse Cuba, Coreia do Norte, Angola,Camboja, etc seriam potências tb..)



  8. vamos fazer uma campanha o nome será:

    Pague um Psiquiatra para o Dandolo já!

    voltando a realidade …. milhões de vezes um sistema capitalista…que uma … nomenklatura…se é que me entendem..

    quem tem iniciativa…seja para ser político..a empresário ..se da bem… o resto faz o serviço e ganha salário..FATO !

    democracia – qdo. eu mando.
    ditadura – qdo. sou mandado.

  9. dandolo, creio q dos 3 paises citados, o melhor é exemplo é a suecia, cujo sistema democratico deles é o melhor ate agora. nao vou expecular sobre suas ideias, nem as confirmo nem as nego, visto que ao futuro a Deus pertence. ja pensou s daq a 30-50 vermos isso? mas acho q nao teremos mais um comunismo hegemonico como antes. abraços.

  10. Pessoal, não costumo errar nas minhas previsões. Às vezes eu erro … Por exemplo: Pensava que a III GM iria começar em 2008 ou 2009.

  11. Os países grandes territorialmente e ricos, não irão querer o comunismo, tais como a China, Brasil, Rússia, EUA, Canadá, Argentina, etc. Já os países menores e com poucos recursos naturais, certamente serão comunistas. Motivo: Futuramente, haverá muito desemprego, devido à tecnologia. A maioria da população vai querer o comunismo devido a isso. Alemanha e Israel ? Os comunistas vieram desses países.
    O capitalismo tem um lado negativo: Preda as empresas, por causa da concorrência. Isso é algo insano e idiota.

  12. O capitalismo americano só funciona de tiver senhores feudais e vassalos.
    Como os vassalos estão terminando, acabou o capitalismo.

  13. Dandolo disse:
    23/08/2011 às 21:03
    “O capitalismo americano só funciona de tiver senhores feudais e vassalos.
    Como os vassalos estão terminando, acabou o capitalismo.”
    ——

    Dandolo, muito interessante essa frase. Meus parabéns; é para se pensar…

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