Vinte anos depois do fim da URSS, muitos gostariam de voltar no tempo

Pesquisas recentes reveleram que poucos na Rússia veem os acontecimentos de 1991 como uma vitória pró-democracia.

The New York Times

Sergei Veretelny foi baleado e ferido quando se colocou desarmado diante de uma fileira de veículos blindados há 20 anos para ajudar a impedir a passagem no centro de Moscou, uma das poucas vítimas da última e falha tentativa de preservar a União Soviética.

Era um momento em que os russos, na sua maioria intimidados e passivos súditos do governo soviético por 74 anos, concentraram-se nas ruas para apoiar o futuro presidente Boris Yeltsin, exigindo uma mudança democrática.

O escritor Vasily Aksyonov capturou o entusiasmo de muitos naquele momento ao chamar o impasse de 60 horas de, “provavelmente, as noites mais gloriosas da história da civilização russa.”

Mas o homem forte por trás do governo da Rússia, o primeiro-ministro Vladimir Putin, chamou a queda da União Soviética de “a maior catástrofe geopolítica do século”.

Dias antes da chegada do aniversário da queda da União Soviética, neste sábado, pesquisas revelaram opiniões mais próximas das de Putin do que das de Aksyonov. Poucas pessoas disseram ver os acontecimentos de 1991 como uma vitória pró-democracia.

“Naquela época na Rússia, por trás da cortina de ferro, só tínhamos ouvido falar da democracia”, disse Veretelny, 54 anos, que na época ganhava a vida como motorista. “Nós realmente acreditávamos na mágica e bela palavra democracia. Mas muitas coisas não saíram exatamente da maneira como esperávamos. Começamos a nos perguntar pelo que o nosso sangue foi derramado”.

Na década que se seguiu, caóticas mudanças sociais e econômicas, além das tentativas frustradas de reforma, deram à democracia um mau nome. Muitas pessoas saudaram a estabilidade que Putin trouxe, mesmo às custas de algumas liberdades democráticas.

Dias antes da chegada do aniversário da queda da União Soviética, neste sábado, pesquisas revelaram opiniões mais próximas das de Putin do que das de Aksyonov. Poucas pessoas disseram ver os acontecimentos de 1991 como uma vitória pró-democracia.

“Naquela época na Rússia, por trás da cortina de ferro, só tínhamos ouvido falar da democracia”, disse Veretelny, 54 anos, que na época ganhava a vida como motorista. “Nós realmente acreditávamos na mágica e bela palavra democracia. Mas muitas coisas não saíram exatamente da maneira como esperávamos. Começamos a nos perguntar pelo que o nosso sangue foi derramado”.

Na década que se seguiu, caóticas mudanças sociais e econômicas, além das tentativas frustradas de reforma, deram à democracia um mau nome. Muitas pessoas saudaram a estabilidade que Putin trouxe, mesmo às custas de algumas liberdades democráticas.

Desilusão

Veretelny é apenas uma voz entre 140 milhões de russos, e embora sua desilusão seja amplamente compartilhada, muitas pessoas parecem aceitar os limites de Putin a respeito da concorrência política, da sociedade civil e da mídia. Uma eleição que está marcada para o início do próximo ano não deve mudar o curso do país.

Veretelny falou uma semana antes do aniversário na casa de Lyubov Komar, a mãe de um jovem veterano da guerra russo no Afeganistão,  que foi um dos três homens mortos na noite final. Veretelny foi ferido ao tentar recuperar o corpo de Komar, que ele disse ter ficado pendurado em um veículo blindado, que ia para frente e para trás para desalojar um ônibus que havia ficado preso em sua carroceria ao bloquear o caminho.

“Eu vi o cara pendurado para fora do carro blindado”, disse ele. “Coloquei minhas mãos para ajudar e fui atingido no ombro. Eu pensei que alguém viria retirar o corpo, mas o veículo dirigiu para frente e para trás até que o corpo caiu no asfalto.”

Os carros blindados e tanques bateram em retirada pouco depois, marcando o fim de um golpe que tentou segurar a onda de mudança. Em 25 de dezembro, o então presidente Mikhail S. Gorbachev renunciou, pondo fim à União Soviética.

Desde então, Veretelny trabalhou como eletricista, inspetor de polícia e agora como empreendedor à margem da economia russa. Até recentemente, sua mulher Svetlana tinha um ótimo emprego como gerente de um negócio e ela disse que o casal vive confortavelmente.

Processo

Komar, que trabalha como ajudante em um clube de saúde, ainda constrói sua vida em torno da memória de seu filho, e ela ecoa a opinião de Veretelny, dizendo: “Se meu filho pudesse ter visto para onde o país estava indo, ele não estaria nas barricadas”.

Sentada em seu apartamento, rodeada de fotografias que traçam seu crescimento de um menino a um soldado, ela disse que desistiu do processo político. “Eu não voto há 10 anos”, disse ela. “Eles estão muito bem sem mim. Escolhem quem eles querem, então por que votar?”

Como muitos russos, ela passou a desprezar Yeltsin pelo que viu como uma liderança fraca e agora faz parte da grande maioria do povo russo que apoia Putin. Mas o que ela realmente gostaria é de voltar no tempo.

“Eu me sentia mais confortável na URSS”, disse ela. “Você sempre tinha um pedaço de pão. Você sempre tinha trabalho. Sim, com certeza, você pode ir para o exterior agora, mas tem de ter dinheiro para isso e tem de entrar em dívida. Se você não tem dinheiro, não pode fazer nada.”

Um levantamento recente do Centro Levada, uma respeitada agência de pesquisa, descobriu que 20% dos russos compartilham o sonho de um retorno da União Soviética. Esse número oscilou entre 16% e 27% nos últimos oito anos.

Entre estes, não surpreendentemente, estava Gorbachev, que tentou reformar e preservar a URSS, mas foi frustrado pelo golpe, depois por Yeltsin e pela força situação do momento. “Alguns dizem repetidamente que o colapso da União Soviética era inevitável”, disse ele em uma coletiva de imprensa na quarta-feira. “Mas eu continuo dizendo que a União Soviética poderia ter sido preservada.” Dirigindo-jornalistas, ele disse: “Vocês criticam Gorbachev: fraco, molenga, mais ou menos nesses termos. Mas o que teria acontecido se aquele molenga não estivesse naquela posição, naquele momento, quem diabos sabe o que poderia ter acontecido conosco.”

Segundo o Centro Levada, aqueles que desejariam voltar ao passado soviético são em sua maioria membros do antigo Partido Comunista, idosos e pessoas que vivem em pequenas cidades e aldeias. A pesquisa foi realizada em julho com 1,6 mil pessoas e possui margem de erro de mais ou menos 3 pontos percentuais.

Outras respostas sugerem que os russos querem a democracia, mas uma democracia específica, com um governo central poderoso, algo mais próximo ao que o país tem hoje do que alguns, como Veretelny, havia imaginado. Mais da metade dos participantes da pesquisas, 53%, disse valorizar mais a “ordem” do que os direitos humanos.

“Nós tivemos tanta esperança, tanta fé, tanta inspiração para o futuro”, disse Svetlana, esposa de Veretelny. “Havia um sentimento de liberdade e esperança. Estávamos todos felizes em ver mudança adiante.”

Mas agora, segundo a agência de pesquisa, apenas 10% dos entrevistados veem aqueles dias como uma vitória para a democracia. O número de pessoas que chamou os eventos de tragédia aumentou de 25% no aniversário de 10 anos da queda da URSS para 39%. “É o que é”, disse Veretelny, que passou da esperança à passividade. “Temos apenas de perceber que é isso o que nós temos.”

*Por Seth Mydans

Fonte: Último Segundo

13 Comentários

  1. …quantos gostariam da volta dos militares,,,iria acabar com esses vagabundos vendendo droga, agora nao da para ir no banco, o malandro assalta , mata e ainda ri da nossa cara..
    Esse entreguismo da Amazonia..essas ONG safadas que protegem os criminosos..

  2. Esses russos cairam no engodo do ocidente!Democracia sempre foi tirania das minorias é isso que vemos no norte e no Brasil também!No Brasil o povo só é chamdao pra chancelar o poder dos tiranos, que, com o cheque em branco nas mãos, que lhes damos, fazem o que bem entendem!Precisamos evoluir muito nesse quesito no que diz respeito a nossa democracia; você constata que o Estado tem poder demais e o Povo tem poder de menos!E é isso que precisamos mudar, dar mais poder ao povo e tirar o poder daqueles que se apropriam do Estado!É absurda a ídeia de que após eleitos ou nomeado ou concursado nós não podemos fazer nada pra tirar essa gente que a partir do Estado e da autoridade que se investem em nome do povo façam o que fazem, e nós, os soberanos (o povo), ficamos impotentes, esperneando daqui e dali e tão somente isso que nos resta!Isso é uma vergonha!Precisa mudar!Precisamos de mecanismo eficaz para agirmos nessas circunstancia, e eu só vejo como meio um quarto Poder, onde o povo não fosse representado, mas falassem diretamente e com poder de intervir nos demais poderes, e então, suspender o direito de toda e qualquer autoridade eleita, nomeada ou concursada!

  3. A queda da URSS,foi um golpe sem planejamento que jogou o país nas mãos de um líder desequilibrado,com sérios problemas de alcoolismo,Boris Yeltsin levou o país a secessão e ”criou” uma série de repúblicas instáveis e com armas atômicas !
    O fim da URSS tornou o mundo mais perigoso!

  4. Tem um amigo que participou de uma destas passeatas, só velho caquético reclamando que “o bom era no meu tempo”. O problema é que a Russia passou do falso comunismo (segundo alguns) para o falso capitalismo.

  5. Não me falem em volta da ditadura, alguem já esqueceu que era proibido até de usar as cores da bandeira do Brasil, tenham dó.

    Não comparem a nossa democracia a ditadura das corporações dos EUA.

    Lá a eleição não é direta, e sim por delegados, lembrem do Bush na Florida, pensa num golpe. Roubaram do Al Gore.

    Chega a ser ridiculo destes que querem a volta dos torturadores e entreguistas, alguns da epoca da ditadura queriam o melhor para o Brasil, mas quem realmente mandava era os EUA.

    Até a Esquadrilha da Fumaça era proibida de usar as cores do Brasil.

    Tenham vergonha na cara e não façam comparações.

  6. FALACIAS… como querem alguns, um povo massacrado durante 75 anos de comunismo não volta a normalidade em pouco tempo… levara algumas decadas ate aprenderem a andar com as proprias pernas e não dependerem de um estado totalitario gerido por uma minoria, esta sim draconiana… se alguem conhece um regime melhor que o democratico, ainda que meia-boca como o nosso, que atire a primeira pedra…

  7. O fim da URSS foi em grande parte (acelerado) causado pela guerra do Afeganistão, some-se a isso o acidente nuclear de Chernobyl que custou caro, muito caro e os gastos militares execivos. Vale salientar a lacuna deixada pelo seu fim, que está tendo reflexos nos EUA e na europa ocidental que aparentão estar indo para o buraco tambem só que de maneira mais suave. Gastos militares e envolvimento em guerras é o ingrediente certo para o fim de imperios, vide imperio romano entre outros.

  8. Esa ea maior prova que FILOSOFIA DISNEY DOS YANKES SO PRESTA PRO PATETA EO PRO PLUTO
    OPS OPS O PATO DONALD NAO PODIA ESQUECER KKKKKK
    POVINHO QUE ACREDITA AO CONTRARIO VA PRO PAIS DAS MARAVILHAS POIS PELO QUE NOTA SE DISNEY JA NAO TA BASTANDO
    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

  9. Pra quem acha que ditadura resolve alguma coisa na área de segurança pública lembro que os morros do Rio de Janeiros começaram a ser dominados em plena ditadura e nenhum “general salvador da pátria” quis saber, simplesmente foram empurrando com a barriga.
    Muito cuidado ao falar bem da nossa ditadura porque muitas coisas ditas hoje estão erradas, naquele tempo existia corrupção altíssima, desvalorização do salário, criminalidade, falta de saúde enfim exatamente como hoje, a diferença é que antes os jornais eram proibidos de comentarem esses assuntos.

    Sobre os russos chorões se querem viver numa nação comunista, ótimo, vão para Cuba ou Coréia do Norte – não gostam, então tão esperando o que?

  10. “Sobre os russos chorões se querem viver numa nação comunista, ótimo, vão para Cuba ou Coréia do Norte – não gostam, então tão esperando o que?” KLM, meu caro jeca, esse recado caiu como uma luva sobre tu… conhecestes Havanna ou Ching alguma coisa? tá na hora… lá sim, são os paises das maravilhas… aproveita e traz uma bala de fuzil autografada pelo Castro como suvenir, já que não vais a Miami visitar o Mickey…

  11. Muitos russos veem hoje que o que lhes foi dito que era “democracia” era só a liberdade de escolher qual marca comprar, a tirania é a mesma, comunismo e capitalismo, só muda a cor da bandeira.

  12. Estive a trabalho na Rússia e sinceramente, se existe algum saudosismo do comunismo isso deve ser uma minoria minúscula da população.

    O que eu vi e fiquei perplexo é com a quantidade de famílias que tiveram parentes mortos por Stalin isso sim tem muito…

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