Construção do Muro de Berlim completa 50 anos

Sugestão: Gérsio Mutti

Em 1961, Alemanha comunista construiu de um dos maiores símbolos da Guerra Fria. Ato homenageou suas vítimas neste sábado.

Há 50 anos, a República Democrática Alemã (RDA) dava início à construção de um dos maiores símbolos da Guerra Fria: o Muro de Berlim. Neste sábado, um ato relembrou a noite em que a Alemanha comunista dividiu a cidade em duas, o que veio a separar famílias durante 28 anos. A cerimônia começou com a leitura dos nomes de 136 berlinenses que morreram tentando cruzar o muro.

“Não podemos esquecer o dia 13 de agosto de 1961 e a dor que trouxe sobre milhões de pessoas”, declarou a chanceler alemã Ângela Merkel em seu discurso. O ato foi celebrado na Bernauer Strasse, uma das ruas cruzadas pelo muro e onde restam partes dele, ao redor do qual foi criado um centro de documentação e comemoração.

Foto: EFE

Presidente alemão Christian Wulff e chanceler Ângela Merkel prestam homenagem às vítimas do Muro de Berlim

Ao contrário de outros locais por onde passava o muro, como o Portão de Brandeburgo e a Potsdamer Platz, esse ponto fica longe do atual centro do Berlim, mas adquiriu caráter emblemático reforçado por ter sido o local em que aconteceu a primeira morte relacionada ao muro.

Neste sábado, o presidente Christian Wulff lembrou o episódio: “A primeira morte foi a de Ida Siekmann em 22 de agosto de 1961. Ela quis pular em direção à liberdade aqui, na Bernauer Strasse, a partir do terceiro andar”. De origem cristã democrata, Wulff também aproveitou para acertar as contas com aqueles que durante os anos da divisão da Alemanha se resignaram à existência do muro. “Os sandinistas na Nicarágua receberam de alguns setores mais solidariedade do que dos cidadãos oprimidos pela RDA”, disse.

Sem surpresas
A construção do muro implicou uma descomunal logística que não passou despercebida pela espionagem ocidental, como evidenciam documentos que datam de 1961 e foram revelados recentemente.

Em meio a suspeitas, em agosto daquele ano, o chefe de Estado da Alemanha comunista Walter Ulbricht afirmava que ninguém tinha a intenção de construir um muro. Hoje, cinco décadas mais tarde, historiadores se perguntam o que estava por trás da declaração de Ulbricht, feita um mês e meio antes de Berlim amanhecer dividida.

Que a Alemanha comunista pretendia “garantir” a fronteira era sabido, assim como também era que a divisão entre os setores leste e oeste de Berlim era o principal corredor para fugir à Alemanha capitalista.

Desde 1945, 3,5 milhões de cidadãos germânico-orientais haviam deixado a RDA em direção à República Federal da Alemanha (RFA). Nos primeiros seis meses de 1961, o número de foragidos chegava a 200 mil.

Enquanto Ulbricht pronunciava seu desmentido, nos arredores de Berlim se armazenavam quilômetros de aramados fabricados em ritmo vertiginoso, toneladas de blocos de concreto, tijolos e cimento, como documentou uma reportagem da rede de televisão pública ARD transmitida nos últimos dias.

Além disso, milhares de soldados das forças de segurança da RDA levavam semanas treinando para operações que começaram apenas no dia 13 de agosto com o fechamento das estações de metrô e das ferrovias.

Foto de 13 de agosto de 1961 mostra militares da Alemanha Orienteal removendo blocos em Friedrich Strasse, no leste de Berlim – Foto: AP
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Documento

Até agora, a ideia geral era que a construção do muro havia surpreendido a espionagem ocidental, assim como pegou de surpresa o próprio chanceler da Alemanha ocidental na época, Konrad Adenauer, e o então prefeito de Berlim, o social-democrata Willy Brandt. Mas documentos relatam, no entanto, que serviços secretos da RFA já estavam de sobreaviso.

“Norman se inteirou por meio de suas fontes em Berlim Oriental que estão sendo tomadas medidas para que, entre os dias 12 e 18 de agosto, fiquem fechadas as fronteiras entre os setores”, constatava a ata 4.288, com data de 11 de agosto de 1968, da unidade Flora dos serviços de espionagem da Alemanha ocidental, o Bundesnachrichtendienst (BND).

“Norman” era a alcunha do agente de Berlim Oriental, onde operavam agentes secretos de todas as potências envolvidas, mais as da Alemanha ocidental.

O relatório 4.288 é uma das 5 mil atas reveladas pelo BND e divulgadas pelos jornais Süddeutsche Zeitung e Berliner Zeitung. Os documentos compilados pelo BND entre 1952 e 1962 são centrados nas tensões entre as potências ocidentais e as voltadas à União Soviética.

Nesta semana, o ministro do Interior alemão, Hans-Peter Friedrich, classificou a construção do Muro de Berlim como um ato de violência contra a população.

“A República Democrática Alemã não podia viver sem o muro, mas também não pôde continuar com ele”, declarou em um ato comemorativo, celebrado na antiga Casa dos Ministérios da República Democrática Alemã, atual sede do Ministério das Finanças alemão. Friedrich acrescentou ainda que cada uma das vítimas do regime fronteiriço é uma testemunha de que a Alemanha oriental infringiu direitos humanos fundamentais.

Já a presidente do Partido de Esquerda, Gesine Lötzsch, provocou polêmica ao afirmar que a construção do muro havia sido consequência da agressão da Alemanha nazista contra a União Soviética. As declarações de Lötzsch geraram reação imediata dos políticos conservadores que as consideraram uma prova de que o Partido de Esquerda – grupo resultante da fusão entre os pós-comunistas do Partido do Socialismo Democrático (PDS) e dissidentes da Social Democracia – continua representando o pensamento ditatorial da RDA.

Desde 13 de agosto de 1961, que Berlim amanheceu partida se seguiram 10.680 dias de divisão forçada até 9 de novembro de 1989, quando o porta-voz do Politburo, Günter Schabowski, leu um comunicado segundo o qual a RDA permitia a seus cidadãos viajar ao oeste.

Klein Glienicke

A construção do Muro de Berlim transformou da noite para o cotidiano de algumas localidades como Klein Glienicke. O vilarejo de apenas 500 habitantes se tornou uma espécie de prisão fronteiriça.

Com uma singular geografia nos arredores de Berlim, Klein Glienicke é rodeada pelas águas do Lago Griebnitzsee e era cortada pelo muro. O vilarejo era acessível apenas com um salvo-conduto e atravessando uma estreita ponte desde a cidade oriental de Potsdam.

A exposição Por trás do Muro: Glienicke, lugar da divisão alemã faz um percurso pela “zona de segurança especial” que foi cenário de intercâmbios de agentes entre o Leste e o Oeste, durante a Guerra Fria.

Entre os habitantes de Klein Glienicke, cuja paisagem de palácios e jardins prussianos é patrimônio da Unesco, houve quem conseguisse fugir para o Ocidente, alguns saltando o muro com ajuda de uma escada ou mesmo cavando um túnel por meses.

Fonte: Último Segundo

5 Comentários

  1. Perguntem aos alemães de que lado do muro foi melhor viver… a resposta resolve o enigma ideologico de alguns que navegam nestas águas…

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