Paul Krugman: "Podemos estar perto de reviver a crise de 1930"

Paul Krugman

25/07/2011

Esta é uma época interessante, e digo isso no pior sentido da palavra. Agora mesmo estamos vivendo, não uma, mas duas crises iminentes, cada uma delas capaz de provocar um desastre mundial. Nos EUA, os fanáticos de direita do Congresso podem bloquear um necessário aumento do teto da dívida, o que possivelmente provocaria estragos nos mercados financeiros mundiais. Enquanto isso, se o plano que os chefes de Estado europeus acabam de pactuar não conseguir acalmar os mercados, poderemos ter um efeito dominó por todo o sul da Europa, o que também provocaria estragos nos mercados financeiros mundiais.

Somente podemos esperar que os políticos em Washington e Bruxelas consigam driblar essas ameaças. Mas há um problema: ainda que consigamos evitar uma catástrofe imediata, os acordos que vêm sendo firmados dos dois lados do Atlântico vão piorar a crise econômica com quase toda certeza.

De fato, os responsáveis políticos parecem decididos a perpetuar o que está sendo chamado de Depressão Menor, o prolongado período de desemprego elevado que começou com a Grande Recessão de 2007-2009 e que continua até o dia de hoje, mais de dois anos depois de que a recessão, supostamente, chegou ao fim.

Falemos um momento sobre por que nossas economias estão (ainda) tão deprimidas. A grande bolha imobiliária da década passada, que foi um fenômeno tanto estadunidense quanto europeu, esteve acompanhada por um enorme aumento da dívida familiar. Quando a bolha estourou, a construção de residências desabou, assim como o gasto dos consumidores na medida em que as famílias sobrecarregadas de dívidas faziam cortes.

Ainda assim, tudo poderia ter ido bem se outros importantes atores econômicos tivessem aumentado seu gasto e preenchido o buraco deixado pela crise imobiliária e pelo retrocesso no consumo. Mas ninguém fez isso. As empresas que dispõem de capital não viram motivos para investi-lo em um momento no qual a demanda dos consumidores estava em queda.

Os governos tampouco fizeram muito para ajudar. Alguns deles – os dos países mais débeis da Europa e os governos estaduais e locais dos EUA – viram-se obrigados a cortar drasticamente os gastos diante da queda da receita. E os comedidos esforços dos governos mais fortes – incluindo aí o plano de estímulo de Obama – apenas conseguiram, no melhor dos casos, compensar essa austeridade forçada.

De modo que temos hoje economias deprimidas. O que propõem fazer a respeito os responsáveis políticos? Menos que nada. A desaparição do desemprego da retórica política da elite e sua substituição pelo pânico do déficit tem verdadeiramente chamado a atenção. Não é uma resposta à opinião pública. Em uma sondagem recente da CBS News/The New York Times, 53% dos cidadãos mencionava a economia e o emprego como os problemas mais importantes que enfrentamos, enquanto que somente 7% mencionava o déficit. Tampouco é uma resposta à pressão do mercado. As taxas de juro da dívida dos EUA seguem perto de seus mínimos históricos.

Mas as conversações em Washington e Bruxelas só tratam de corte de gastos públicos (e talvez de alta de impostos, ou seja, revisões). Isso é claramente certo no caso das diversas propostas que estão sendo cogitadas para resolver a crise do teto da dívida nos EUA. Mas é basicamente igual ao que ocorre na Europa.

Na quinta-feira, os “chefes de Estado e de Governo da zona euro e as instituições da UE” – esta expressão, por si só, dá uma ideia da confusão que se tornou o sistema de governo europeu – publicaram sua grande declaração. Não era tranquilizadora. Para começar, é difícil acreditar que a complexa engenharia financeira que a declaração propõe possa realmente resolver a crise grega, para não falar da crise europeia em geral.

Mas mesmo que pudesse, o que ocorreria depois? A declaração pede drásticas reduções do déficit “em todos os países salvo naqueles com um programa” que deve entrar em vigor “antes de 2013 o mais tardar”. Dado que esses países “com um programa” se veem obrigados a observar uma estrita austeridade fiscal, isso equivale a um plano para que toda a Europa reduza drasticamente o gasto ao mesmo tempo. E não há nada nos dados europeus que indique que o setor privado esteja disposto a carregar o piano em menos de dois anos.

Para aqueles que conhecem a história da década de 1930, isso é muito familiar. Se alguma das atuais negociações sobre a dívida fracassar, poderemos estar perto de reviver 1931, a bancarrota bancária mundial que tornou grande a Grande Depressão. Mas se as negociações tiverem êxito, estaremos prontos para repetir o grande erro de 1937: a volta prematura à contração fiscal que terminou com a recuperação econômica e garantiu que a depressão se prolongasse até que a II Guerra Mundial finalmente proporcionasse o impulso que a economia precisava.

Mencionei que o Banco Central Europeu – ainda que, felizmente, não a Federal Reserve – parece decidido a piorar ainda mais as coisas aumentando as taxas de juros?

Há uma antiga expressão, atribuída a diferentes pessoas, que sempre me vem à mente quando observo a política pública: “Você não sabe, meu filho, com que pouca sabedoria se governa o mundo”. Agora, essa falta de sabedoria se apresenta plenamente, quando as elites políticas de ambos os lados do Atlântico arruínam a resposta ao trauma econômico fechando os olhos para as lições da história. E a Depressão Menor continua.

Tradução: Katarina Peixoto

(*) Paul Krugman é professor de Economía em Princeton e Prêmio Nobel 2008.

Fonte: Sinpermiso, via Carta Maior

9 Comentários

  1. O que veio depois da crise dos anos 30?
    II Guerra Mundial!

    Prepara-te Brasil, contagem regressiva para a 3ª WW.

  2. Rsrs rsrs perto é rsrs rsrs Sempre se busca justificar no passado o que se evidencia.Sr.Paul meu nobre,a velha e imunda Europa se degrada e inevitavelmente implodira e o Imperio do novo mundo naufraga no veneno que ele proprio criou.Sobrevivera a isso o emrgente que tem propria materia desatrelando-se economicamente e opequeno que não endividar-se e com um minimo de subsistencia.Sorria meu caro Paul chegamos no seculo da sobrevivencia não do mais forte como era anteriormente mas do estrategico posicionamento administrativo.

  3. Sobre economia eu entendo, pois é relativamente fácil. A economia só funciona se tiver produtores e compradores, e para isso tem que haver distribuição de renda. Esse é o problema dos EUA e da Europa. Vão ter que dar salários sem as pessoas trabalharem, caso contrário a economia para. Resolvido.

  4. SÃO TUDO FARINHA DO MESMO SACO
    .
    .
    O pior que isso pode acontecer só por causa de ideologias ultrapassada que permeia o congresso americano.
    .
    Como se pode observar,os políticos de lá não tem muita diferencia com os daqui.

  5. Os EUA já não vivem no capitalismo desde o inicio dos anos 80,eles vivem (e colhem seus frutos) do neoliberalismo,capitalismo quem vive é a China. Já a Europa vive em uma especie de neomercantilismo com a Alemanha empurrando para o resto do continente seus produtos. Como diz o 1maluquinho vai sobreviver (ou sofrer menos) quem se desvincular desse “grude”. Some-se a tudo isso os EUA enfiados em duas guerras sendo que só no Afeganistão vão pro buraco (segundo algumas fontes) 2,5 bilhoes por semana. É esperar para ver.

  6. Dandolo tem razão… levaram o povo americano a falta de liquidez, logo a insolvencia… enxugaram a economia causando recessão e desemprego… acredito que as guerras foi o que mais contribuiu para isso, como disse o muttley… acredito que os americanos terão que descobrir o comercio mundial novamente, importando e exportando mais… o problema é o valor da mão-de-obra chinesa… não dá para competir com mão-de-obra escrava… a politica de barreiras e subsidios a produtos americanos, não ajuda em nada o comercio mundial… se cada um se fechar em copas, não há comercio…saudações…

  7. Pow descobriste a formula econocomercial heim em afirmar que a economia so funciona se tiver produtores e compradores rsrs Imagine se fosse o inverso.Aee eu quero comprar,kd,onde ta.Perae que eu vou la fazer rsrs

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