O extermínio do potencial hidrelétrico brasileiro

David Waisman ENGENHEIRO, CONSULTOR LEGISLATIVO DO SENADO

Nos anos recentes, num país com privilegiado potencial hidrelétrico como o Brasil, vemos multiplicarem-se as termoelétricas, poluentes e de operação custosa. O peculiar ambientalismo que prevalece no País tem levado a isso, semeando às dúzias usinas de energia elétrica tocadas a combustível fóssil esgotável, caro, poluidor e emissor de gases-estufa.

Sob a égide de um preservacionismo radical, projetos de centrais hidrelétricas geradoras de energia limpa e renovável, quando não são vetados, são autorizados apenas se previamente mutilados enquanto recurso natural do País. Não é só o veto total a um projeto hidrelétrico que leva à multiplicação das termoelétricas: o mesmo ocorre por efeito do veto parcial, que impõe a execução de projetos de hidrelétricas em regime de grosseiro subaproveitamento do potencial hídrico local.

Imaginemos nossas jazidas de minério de ferro. Ou nossas reservas de petróleo. São riquezas de que o Brasil foi dotado pela natureza. Pois bem, agora suponhamos que, por exigência desse tipo de preservacionismo, metade das jazidas brasileiras de minério de ferro devessem ser lançadas ao oceano, perdidas para sempre. E que um similar destino de desperdício fosse dado à metade das reservas brasileiras de petróleo. Alguém aceitaria tal decisão mansamente, sem discussão ou protesto? Pois é o que vem ocorrendo com nossos potenciais hidrelétricos.

Esses potenciais são um recurso natural precioso. Europeus, americanos e canadenses os exploraram rigorosamente enquanto deles dispuseram. Foram aproveitados ao longo de muitas décadas e até hoje estão as correspondentes usinas hidrelétricas a sustentar o padrão de vida desses povos, complementadas pelas termoelétricas, que se tornaram indispensáveis, dada a inexistência naqueles territórios de potenciais hidrelétricos adicionais. Ao aproveitamento dos potenciais hídricos para a geração de energia elétrica é frequentemente incorporada a vantagem de se amenizarem as enchentes nocivas e a de se usarem os cursos d”água assim regularizados para outros fins úteis, tal como navegação e irrigação.

Um sítio propício à implantação de uma usina hidrelétrica, uma relativa raridade na natureza, é – repita-se – um recurso natural precioso. O projeto de uma usina naquele local consiste em barrar, armazenar e liberar controladamente a vazão do curso d”água. Ao liberar a vazão retida, movimentam-se os geradores de energia elétrica, sem consumir água, acentue-se: as águas apenas passam pelas máquinas e seguem seu curso. A função de barrar, por estruturas adequadamente construídas, depende do que se deseja reter, isto é, armazenar, acumular em reservatório.

A acumulação irá garantir a produção de energia com certo grau de independência em relação às variações sazonais das vazões naturais. Já de há muito a tecnologia sabe calcular o grau ótimo dessa retenção e acumulação, de modo a estabelecer um equilíbrio racional entre o custo de barrar, o ônus de inundar para acumular e a obrigação de complementar as limitações sazonais do suprimento de energia obtenível daquele aproveitamento. Esse complementar consiste em construir usinas termoelétricas, uma forma de produção de energia mais cara e poluente.

A formação do reservatório de acumulação deve obedecer a esse cálculo racional, condicionado pela configuração física do sítio e pelo regime de vazão do curso d”água. O volume acumulado garante a chamada energia firme, aquela com a qual se pode contar sempre. Se a energia firme incorporada ao projeto for aquela que decorre da vocação plena do sítio, a complementação por termoelétricas se reduzirá a um mínimo.

Evidentemente, como ocorre em toda intervenção humana na natureza, a par das enormes vantagens para o País que trazem a existência e o aproveitamento do potencial hidrelétrico, há também impactos negativos, e a inundação de terras pelo reservatório é um deles. Impacto ambiental negativo que, nos termos da lei, deverá ser compensado e mitigado. Essa compensação pode assumir a forma de ações de conservação da natureza em outros locais. Por exemplo, por meio da recuperação ou conservação de áreas de forma a favorecer a perenização de determinados biomas.

Ora, se predomina o princípio da intocabilidade da natureza, como vem ocorrendo, e ao ser desprezado o mecanismo legal de compensação da inundação por ações de conservação em outro local, os projetos de hidrelétricas ou são vetados ou são mutilados, neste caso restringindo-se a área inundável a apenas aquilo que a natureza já inunda nas enchentes. Isto é, os projetos são implementados na modalidade “a fio d”água”, com subaproveitamento da energia firme que seria possível obter. Esse veto e essa mutilação equivalem – e isso não costuma ser percebido ou divulgado – a deixar se perder para sempre uma riqueza natural preciosa.

Por que a sociedade não admite fazê-lo com jazidas de minério de ferro ou com as reservas de petróleo, mas tolera a mutilação hidrelétrica imposta pelo ambientalismo intocabilista, é uma questão que precisa ser discutida. Enquanto isso não se der, continuará o criminoso desperdício de valiosíssimos recursos naturais, e se vão multiplicando as poluentes termoelétricas do preservacionismo irracional.

Fonte: Estadão

14 Comentários

  1. Esaa é a lógica da ideologia ecológica que estamos importando dos pseudos desenvolvidos do hemisfério norte! Por qual razão?Com isso não teremos a energia comparativamente, não tanto competitiva, e consequentemente não representaremos ameaça economica a esses desenvolvidos…numa série de circunsstancia há o engodo ecológico sobre a nossa produção, e nós, que adoramos importar quase tudo, nem percebemos isso…eles estão querendo também mensurar a emissão de carbono na produção de proteina brasileira para com isso nos boicotarem, a título de exemplo: o peido do boi, segundo eles, emite CO2 na atmosfera, aumentando o efeito estufa…pode!!!Seria comico se não fosse verdade!Melhor ficarmos de olho!

  2. Caros as usinas do rio madeira foram mutilidas, fala-se em soberania, mas ela foi entregue de bandeija as ONGs que atuam contra os interesses nacionais. o reservatório inexiste em tempo de seca a população fica sem agua e energia, o governo foi neliente, cade a defesa da soberania tão propalada – foi neste caso para no esgoto.

  3. Usinas hidrelétricas são ainda a melhor saída, e um país como o BRASIL não pode se negar a produzi-la !
    É a energia mais ecológicas viável nesse momento,já que energia eólica e solar não são tão viáveis ainda!

  4. .
    .
    Tem deixar de lado os protestos de vez em quando e fazer a coisa na marra… com o aumento do salario dos políticos não é assim, façamos assim com as Hidro também!!
    .
    Muda Brasil!!

  5. Os verde-entreguistas deveriam serem levados a pelotão de fuzilamento. Estão a serviço de interesses extrangeiros contra o Brasil!

    Quando vejo PV, ong’s internacionais, Marina Silva, irem contra as grandes hidrelétricas, vejo que o complô contra o nosso desenvolvimento é grande. Lá fora ninguém é contra o deles más quando é para o Brasil.

    E a mídia lesa-pátria presta o mesmo desserviço contra a Nação, sao todos corrompidos pelo $$$.

    Expulsem estes agentes anti-Brasil (ong’s), não precisamos desta raça em nosso solo.

  6. Não vão mais fazer a Hidrelétrica do Madeira ?
    Não querem que o Brasil cresça e se torne uma nova China.
    Essa é a verdade verdadeira.
    Querem o povo brasileiro como vassalo. O capitalismo para sobreviver necessita de vassalos.

  7. PARA OS ADMINISTRADORES. cada vez q eu vo ler uma materia
    abre otra aba para otro site “http://www.donagabriella.com/?s=netaffbr&c=222345&utm_source=netaffbr&utm_medium=affil&utm_campaign=222345” virus ou vcs permitiro isso?

  8. Esse texto pode até ser exagerado, + aponta um caminho q estaremos trilhando se nada for feito, e logo. Ñ só a perda de capacidade hidréletrica do n BRASIL por descuido, por omissão, por negligência , por lançar nos mesmos td os dejetos humanos…isso deveria cosntituir crime grave e as prefeitura penalizadas.Eu vi rios de minha infância virar “VALA”…mt triste, trágico.Sds.

  9. Isso não tem nada de ecologia, e sim de estrategia de ocupação, pois sempre nascem cidades perto de usinas sejam elas hidroleletricas ou não (exceto as nuclerares), por isso que não querem as possiveis cem usinas na região norte.

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