A nova relação EUA-Brasil

Washington precisa se livrar de preconceitos e reconhecer que o maior país da América Latina já é uma potência global

Por David Rothkopf, Foreign Policy

TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Durante anos, uma piada muito repetida dizia que o Brasil era o país do futuro – e sempre seria. Nos anos 90, porém, na esteira das reformas de Fernando Henrique Cardoso e, depois, graças aos notáveis mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva e à aplicação do povo brasileiro, a piada foi superada pelos fatos. Como investidores, CEOs, jornalistas e as potências mundiais já reconheceram, o futuro chegou para o Brasil.

Embora líderes americanos, como os presidentes George W. Bush e Barack Obama, tenham reconhecido a mudança, muita gente na comunidade política dos EUA continua cética e resistente. Sim, o Brasil estava em ascensão, diziam, mas sempre encontravam um modo de qualificar suas opiniões, de estabelecer uma condição após a outra que o Brasil teria de preencher para ser visto como “uma potência de primeira classe”.

Enquanto especialistas na Ásia aceitavam a ascensão da China e da Índia e, rapidamente, começaram a refazer a política com base nas relações cambiantes de poder, os analistas de América Latina se aferraram ao passado, às velhas formulações e preconceitos. Aos olhos dessas peças de museu vivas da pequena comunidade de assuntos latino-americanos em Washington, o Brasil poderia ser o país do futuro – poderia até mesmo ser o país do presente -, mas nós deveríamos nos aferrar às políticas do passado até que tenhamos novas informações.

Agora, o Council on Foreign Relations (CFR) divulgou um novo relatório sobre as relações EUA-Brasil que avança bastante para romper com o passado e recomenda que os EUA adotem uma nova posição política com Brasília. O ponto central do relatório é que o Brasil precisa ser visto em separado da política latino-americana e como uma das potências globais mais importantes da atualidade.

O relatório Global Brazil and U. S.-Brazil Relations é o resultado de mais de um ano de trabalho de uma força-tarefa liderada pelo ex-secretário de Energia dos EUA Samuel Bondman, pelo ex-presidente do Banco Mundial James Wolfensohn e chefiada por Julia Sweig, diretora de estudos sobre a América Latina do CFR. Eu fiz parte do grupo e as discussões foram um microcosmo fascinante de todos os debates, entusiasmos e frustrações que marcaram as conversas sobre as relações EUA-Brasil nos últimos anos.

Embora não seja nada de mais considerar como um player global um país que é o quinto mais populoso do mundo, que tem a quinta maior área e taxas de crescimento que farão dele a quinta maior economia do planeta, não é fácil desfazer hábitos históricos e velhos arcabouços políticos. É isso, porém, que esse relatório faz ao enumerar as maneiras pelas quais o Brasil terá um papel central em questões que vão do comércio ao clima, da energia à modelagem de uma política econômica global.

No entanto, apesar de toda sua abrangência e extensão, o ponto do relatório que receberá maior atenção é a recomendação de que o governo Obama “endosse plenamente” a aspiração do Brasil de ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

Embora esse passo, que vai além do apoio oferecido por Obama em sua recente visita ao Brasil, possa ser visto como simbólico, visto que a reforma do Conselho de Segurança, provavelmente, demorará anos, ele provavelmente teria repercussões profundas no Brasil.

Segundo o relatório, “um endosso formal dos EUA ao Brasil faria muito para superar uma desconfiança persistente do governo brasileiro de que o comprometimento de Washington com uma relação madura, entre iguais, é, em grande parte, retórica”.

Não é pouca coisa. O tratamento dado pelos EUA aos brasileiros – mesmo durante o governo Obama, que parece sinceramente comprometido com o aprofundamento das relações – refletiu teimosamente as velhas noções sobre qual deveria ser o papel internacional do Brasil. Isso ficou evidente nas reações à iniciativa brasileira e turca para costurar um acordo sobre o programa nuclear do Irã.

Como o Brasil se afastou do script dos EUA e agiu de maneira independente – apesar de ter recebido um endosso explícito da Casa Branca para seguir em frente com seu plano – os EUA ficaram frustrados e ofendidos com a ação brasileira.

Como os EUA sempre acharam que o Brasil deve ocupar um papel secundário em assuntos externos, porém, Washington não tratou essa diferença de pontos de vista da mesma forma que trata as enormes diferenças com outros países do Brics, como China, Rússia ou Índia.

Em vez disso, os EUA tentaram penalizar os brasileiros por sua independência, mais especialmente ao não dar um pleno apoio às aspirações do Brasil ao Conselho de Segurança do tipo que já ofereceram à Índia. Isso apesar de Washington ter tido muitas discordâncias políticas iguais ou piores com Nova Délhi, incluindo uma sobre o programa nuclear indiano.

Esse tipo de discurso duplo, um para potências emergentes da Ásia e outro para a potência emergente das Américas, é a fonte do ceticismo do Brasil até agora sobre a sinceridade com que os americanos estão saudando sua ascensão.

Outra razão da resistência em apoiar o reconhecimento da legítima demanda do Brasil de ser reconhecido como uma potência global provém da velha política americana para a América Latina, que argumenta que os EUA precisam ir devagar com o Brasil para não ofender outras potências regionais aspirantes, como México e Chile.

Entretanto, não há motivos para que esses países recebam um status semelhante ao do Brasil, além de seu saudável orgulho nacional. Alguém acha que houve um grande debate entre líderes da Ásia sobre como a Indonésia (mais populosa do que o México) ou a Austrália (que tem uma economia maior do que a do México) se sentiriam sobre o apoio americano à Índia?

Certamente que não. As potências na Ásia já são vistas automaticamente por especialistas políticos americanos como players globais mais sofisticados do que a maioria dos países da América Latina.

Esse relatório, cujos signatários incluem o ex-subsecretário de Estado, Nick Burns, o ex-assessor para a política latino-americana de Bill Clinton, Nelson Cunningham, a ex-embaixadora americana no Brasil, Donna Hrinak, e o ex-presidente do Conselho de Inteligência Nacional, Robert Hutchings, representa a mais recente constatação de como os EUA deveriam rever o papel das potências emergentes. Como tal, o relatório é um grande passo adiante e foi um privilégio estar associado à iniciativa.

Fonte: Estadão

19 Comentários

  1. Arrogancia mundial! É o que define a crise global e a relação que sertos esstadunidenses teimam com o Brasil e a AL. Eles apoiam muito o México e Colombia porque são esses que produzem o “barato deles” (narcóticos).
    No final vão ter de seder.

  2. Ou aceitam o fato de q somo uma potencia mundial econômica e futuramente tbm militar + herbívora; ou ficam de fora da n “Orbita”, q significa perder dólares p outros países…simples assim. Aliás, ianks ñ são confiáveis.Quem viver verá.

  3. “…mas sempre encontravam um modo de qualificar suas opiniões, de estabelecer uma condição após a outra que o Brasil teria de preencher para ser visto como “uma potência de primeira classe”.
    .
    Enquanto especialistas na Ásia aceitavam a ascensão da China e da Índia e, rapidamente, começaram a refazer a política com base nas relações cambiantes de poder…,”
    ———————————–
    Pois é…A “condição a preencher” para ser considerado uma “potencia de 1ª classe” é
    termos Forças Armadas fortes e apoiadas em uma sólida base industrial de alta tecnologia.
    .
    E compras de prateleira pura e simplesmente não podem nos fazer “chegar lá”…
    .
    E também este tipo de coisa vergonhosa (abaixo) não pode acontecer, noticia velha, más é só um exemplo, entre tantos!
    .

    www*youtube*com
    .
    /watch?v=_sNui2vycag
    .
    *Substituir os asteriscos por pontos, juntar tudo, copiar e colar no navegador…

  4. Matéria muito boa.
    Tipo um conselho de notáveis orientando uma tomada de consciencia de uma grande nação, na sua relação com outra grande nação.
    A comparação com situação semelhante na Ásia também muito oportuna.
    Gostei.

  5. quanto mais longe dessa cambada melhor.
    Quando eles cairem,e vão cair é bom estarmos longe, para não tentar segurar em nos…

  6. Esse moço cita sobre o Brasil : “potência de primeira classe”.
    Em qual filme? Por favor senhores.
    A mídia está acelerada em elevar a moral do brasileiros nos chamando de potência.
    Só seremos potência quando não houver mais nenhum cidadão brasileiro revolvendo lixo para comer carniça, só seremos potência quando pagarem um salário digno a todos inclusive aos policiais e bombeiros que no RJ ganham mil reais reclamam são chamados de vândalos e são presos, isso vindo do estado que ganha mais dinheiro com petróleo do pré sal.
    Até agora os nossos idosos e doentes terminais não receberam um tostão do dinheiro da dívida dos precatórios e morrem sem receber, e a educação e os hospitais?
    Então pé no chão meu camarada, discurso bom vem de quem tem plano de saúde, não tem dívida e ganha muito bem para escrever uma poesia desta. Té logo.

  7. “os analistas de América Latina se aferraram ao passado, às velhas formulações e preconceitos. Aos olhos dessas peças de museu vivas da pequena comunidade de assuntos latino-americanos em Washington, o Brasil poderia ser o país do futuro – poderia até mesmo ser o país do presente -, mas nós deveríamos nos aferrar às políticas do passado até que tenhamos novas informações”…”
    O ponto central do relatório é que o Brasil precisa ser visto em separado da política latino-americana e como uma das potências globais mais importantes da atualidade”…”Embora não seja nada de mais considerar como um player global um país que é o quinto mais populoso do mundo, que tem a quinta maior área e taxas de crescimento que farão dele a quinta maior economia do planeta, não é fácil desfazer hábitos históricos e velhos arcabouços políticos. É isso, porém, que esse relatório faz ao enumerar as maneiras pelas quais o Brasil terá um papel central em questões que vão do comércio ao clima, da energia à modelagem de uma política econômica global”…”No entanto, apesar de toda sua abrangência e extensão, o ponto do relatório que receberá maior atenção é a recomendação de que o governo Obama “endosse plenamente” a aspiração do Brasil de ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU”……………

    Hummm então eles despertaram e neste novo alvorecer vislumbram um prospero El Dorado e usarão da busca desenfreada de um lugar ao sol no clube dos cafagestes nutrida por nossas Ratazanas e slogans de preservação,nova ordem mundial e Tititi Patatá né…Não se iludam sempre nos olharam como inferiores e tolos fornecedores de materias.Agora nossas reservas e nosso mercado barato a eles são o atrativo.Que a mentalidade Brasileira seja esclarecida e realista.Que busquemos nestas necessidades o beneficio do desenvolvimento,capacitação e autosuficiencia.Eu duvido que eles aceitariam que fossemos iguais e concorrentes diretos.Temem o potencial do povo trabalhador que somos e nossas reservas gigantescas.Essenciais ao mundo sempre fomos embora maquiassem isso para não chamar a atenção.Não é so prosperidade de mercado,consumo e crescente economia e reservas.Usamos apenas 30% de nossas terras férteis em agro e pecuaria.O Brasil sozinho tem condições de alimentar coerentemente o mundo.Os EUA tambem poderiam ter essa capacidade embora eu duvide que fizessem isso.Não é momento de empolgação e sim de reflexão e estrategia.O futuro do nosso povo e de todos os outros aos quais representamos e de nossa atitude dependem é o que viermos a fazer agora.

  8. RTadeuR não apenas o estado que mais ganha Royaltes do petroleo.O RJ hoje é o estado que mais arrecada ganho ao Governo Federal e levando-se em conta nosso parque industrial,população e tamanho territorial,é uma façanha estrondosa.Abençoado Brasil que tem uma reserva de Petroleo ainda não declarada oficialmente na Amazonia Azul que vai de SC ate AP e se contarmos aquilo que ja sabiamos que temos a mais de 40 anos UMA GRANDE QUANTIDADE INEXTIMAVEL DE PETROLEO que vai do alto Rio Negro ate a fronteira com a Venezuela.É o mesmo tipo de Petroleo que a Venezuela tem e o nosso é um pouquinho melhor.A mentalidade politica deveria priorizar infraestrutura e capacitação.Beneficiando as reservas que temos e qualificando o nosso povo seremos aquilo que muitos desconfiavam,outros acreditavam e a realidade evidencia A MAIOR ECONOMIA DA TERRA em uma Democracia solida com diplomacia não intervencionista focada no entendimento e na igualdade.É isso que eles mais temem no Brasil.A diferença para se estabelecer uma nova era.

  9. so seremos grandes e momoraveis quando realmente pudermos chegar ao espaço sideral com nossas proprias pernas(((ops))) proprias asas.. sds

  10. Está na hora dos brasileiros se fiarem mais nos brasileiros. E olhem que existe cada peça por aqui. Não somos melhores, nem piores.

  11. Politicamente, regredimos à década de 20. A nossa justiça não funciona para os grandes corruptos. Não estou otimista com o meu país. Um país que eu admiro muito é a China, pois eles sabem eliminar os seus corruptos e não dão mole para os banqueiros e especuladores financeiros. Se não expulsarmos o Grande Satã com a sua legião de capetas do nosso convívio, não vejo nenhuma esperança em nossa Pátria. O Brasil precisa ser passado a limpo, pois pouca coisa se aproveita. Aqui é a terra do amigo, amigo do amigo, fidalgo (filho de algo), bajulador e dos apadrinhados políticos.

  12. Nesse ponto de vista de repressão a corrupção e defesa do mercado interno e dos interesses gerais a China realmente faz o dever de casa DANDOLO mas estão longe de serem exemplos aos demais pelo simples fato de oprimirem e escravizarem o proprio povo alem de serem parceiros devoradores que so visam ganhar e so permitem que entre em seu mercado aquilo que lhes é essencial,ou que eles desconhecem,não dominam ou não se interessam.Quero ver se nós começarmos a fazer frente aos produtos deles no mercado internacional e passarmos a reprimir mais a entrada de contrabando Chines e efetuarmos um melhor controle de qualidade para liberação de comercialização de produtos em nosso mercado,se eles continuarão ainda sorrindo a nós e chamando-nos de amiguinhos.DANDOLO não existem Demonios,Diabo ou Capetas,o inimigo do homem é o proprio homem.Nós com nossas incapacidades e desvios é que erramos e é muito mais espiritualizado adimitir isso do que buscar culpados sobrenaturais ou naturais.Se sabemos que eles vem nos sugarem,nos aliciarem,nos usarem e sempre incorremos no mesmo erro é porque nossa mentalidade,nosso sistema,nossos servidores,empresariado e sociedade é ineficaz,descapacitado e vendido.Hoje temos uma alta incidencia de agencias e agentes de espionagem internacionais agindo no Brasil em segmentos diversificados.Essas coisas não se tornam publicas para não gerarem mal entendidos.Somos no momento o mercado mais promissor em um mundo que esta ficando sem opções de mantener-se.Se pelo menos houvesse uma conscientização nacional com enganjamento de todos os segmentos de nossa sociedade nos desenvolveriamos e nos capacitariamos levando outras nações a superarem adversidades e tambem prosperarem.Se fosse possivel isto acontecer seria o inicio de uma nova ordem e a possibilidade de entendimento global.Por hora o agravamento da crise tambem pode depurar e facilitar entendimento.O futuro a Deus pertence mas o homem aprendeu tudo o que hoje sabe simplesmente desenvolvendo a observação.

  13. Como se ja não bastasse que adiquirissem nossos produtos por ninharias,se enriquecerem explorando nosso povo e manipularem todo nosso sistema agora ja estão ate diversificando o cardapio do turismo sexual ao drogarem e aliciarem nossas Indias para satisfazerem suas taras http://www.oaltoacre.com/index.php/brasil/10233-ministerio-publico-acusa-agencia-dos-eua-de-promover-turismo-sexual-com-indias.html A hora que o Diabo Olubi despertar suas tripas serão aperitivos para o grande banquete de suas carnes.

  14. Grande potencia? que grande potencia? um pais onde a grande população não sabe redigir um pequeno texto, argumentativo ou explicativo, onde não sabem resolver as 4 operações fundamentais e assim chegam ao 2º grau, que potencia é essa? não temos engenheiros, administradores e outras categorias igualmente importantes em numero necessario para, como diria o genio Dandolo, criar massa critica e alavancar a economia do pais, gerando distribuição de riquezas e não essa famigerada bolsa esmola eterna ignorança…rsrsrs… eita fuminho bom sô… tão querendo liberar só o que não presta… grana para a educação, saude e segurança, ah, isso não tem, não…

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    Analfabetos, pessoas revirando lixo para comer, operários mal pagos, etc. Existem até nos USA, e na Europa eu via isso todo dia…
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    Pra mim é conceito de Potencia em si que deve ser revisto… muito acham que potencia tem que ser somente economia grande e rica, mas em nenhum país do mundo ATUAL isso tudo existe para todos dentro da nação, é ainda utopia para todas as “Potencias” atuais!!
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    E vendo como os brasileiros consideram potencia o fim dos problemas sociais como o fim da fome e do analfabetismo, vejo que realmente um conceito de potencia atual poderia ser o de possuir altos níveis de desenvolvimento humano no lugar da super economia que funciona somente para poucos.
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    Creio que seja mesmo mais real considerar IDH como o verdadeiro parâmetro para ser potencia!
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    Valeu!!

  16. Correto FRANCOORP embora o mundo ainda adote uma qualificação Espartana para se definir o que é potencia querendo ou não não so a vontade mas tambem a necessidade esta levando a todos reverem conceitos.Do que adianta ter misseis intercontinentais nucleares se não tiver como manter quem os controla?Do que adianta uma avantajada e sofisticada força aerea se não tiver pilotos bem nutridos pois o conhecimento a experiencia em combate não é o que realmente os pode manter vivos.Entramos no seculo 21 retornando aos primordios onde o que mantem não são mais armas,ouro,papeis,titulos e bens e sim o essencial que é agua,alimentação e energeticos.Quem os tiver,quem os dominar sobrevivera e quem sucumbir deixara tudo o que conquistou para quem restou.

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