EUA e China tentam chegar a acordo sobre estratégia militar

The New York Times

Trocas de promessas sobre melhorar relacionamento entre forças militares escondem perspectiva de que um pode ser inimigo do outro.

Durante três dias na China na semana passada, o principal oficial militar americano, o almirante Mike Mullen, trocou promessas sobre melhorar o relacionamento entre as suas forças militares com o seu equivalente chinês. Ele viu jatos de combate chineses Su-27 decolarem de uma base aérea, viu um exercício de contraterrorismo chinês em um bunker sufocante debaixo de posto do Exército e se espremeu em um submarino chinês em uma base naval.

Quando Mullen, chefe de Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, partiu na manhã da quinta-feira passada, ninguém poderia suspeitar que ambos os lados baseiam suas estratégias militares na perspectiva de que o outro pode ser o inimigo.

No entanto, eles fazem isso e essa realidade escureceu como uma nuvem negra a visita, a primeira reunião desse tipo em quatro anos em Pequim. Isso faz de uma aproximação entre os principais poderes militares do mundo uma tarefa extremamente difícil – até mesmo quando os presidentes de ambos os países dizem querer atingir exatamente isso.

Conforme os militares americanos contemplam o futuro e em particular uma Ásia recém-poderosa, a sua relação ainda mais crucial com a China está sendo puxada em direções opostas. A modernização alucinante que a China tem implementado em sua máquina militar antiquada é a principal razão.

O Exército chinês confirmou recentemente o lançamento iminente de seu primeiro porta-aviões, com mais por vir. Ele realizou o voo inaugural de seu primeiro jato invisível e levantou a apresentou outro avião de combate. Seus estaleiros estão construindo uma nova classe ainda secreta de submarinos avançados. E o país reconheceu o desenvolvimento de um míssil marítimo que alguns especialistas afirmam que poderiam atacar navios a mais de 1,7 mil kms de distância.

Exceto pelos submarinos, cada um desses desenvolvimentos aconteceu neste ano. E eles acontecerem em um ano em que os militares chineses colocaram sete satélites de reconhecimento em órbita.

Por um lado, dizem os analistas, as ambições militares da China são compreensíveis. O comércio global do país e sua dependência de combustíveis e matérias-primas estrangeiras justificam a construção de uma força militar sofisticada para proteger seus interesses, assim como os EUA têm feito. Conforme a China se expande em áreas agora dominadas pelos militares americanos, uma ampla cooperação é crucial para evitar rivalidades perigosas e erros de cálculo potencialmente desastrosos. Até mesmo algum bem poderia vir dessa aliança improvável.

Reforma militar

Mas, por outro lado, muitos analistas americanos veem a reforma militar da China como o núcleo de um esforço para conter o poder militar dos Estados Unidos no oeste do Pacífico. De acordo com essa visão, o míssil anti-navio, o porta-aviões e muitos outros equipamentos sofisticados que a China está desenvolvendo destinam-se a ser uma força contrária à Frota 7 da Marinha dos Estados Unidos, que tem dominado as águas do Pacífico há mais de meio século.

“Nós não precisamos de um outro inimigo como a União Soviética”, disse Bonnie S. Glaser, pesquisadora sênior das políticas de segurança chinesas no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington. “Estamos respondendo às medidas que a China está tomando, e à relutância da China em sentar e nos dizer o que está fazendo e que missões essas novas plataformas e armas destinam-se a cumprir”.

Do ponto de vista dos EUA, os chineses têm sido ambíguos sobre suas motivações. Em janeiro, logo depois de uma reunião de cúpula com o presidente americano, Barack Obama, em Washington, o presidente chinês, Hu Jintao, deixou claro que o Exército da Libertação do Povo precisa construir confiança com o Pentágono.

Contudo, o Exército chinês – para não mencionar grandes facções da burocracia da China, sua liderança e o todo-poderoso Partido Comunista – consideram os Estados Unidos como um país determinado a frustrar a legítima ascensão da China como uma potência global.

Eles notam que os EUA deslocaram a maior parte de seus porta-aviões do Atlântico para Pacífico, que recentemente fortaleceram acordos militares com Cingapura e Austrália, que está cortejando a rival da China, a Índia, e que tem procurado intervir diplomaticamente no Mar da China Meridional, onde a China e a maioria de seus vizinhos sofreram amargas disputas territoriais.

Eles também notam que os Eua rejeitaram as exigências de interrupção do reconhecimento aéreo da fronteira leste da China no Pacífico. Tampouco o país irá revisar um mandato de longa data do Congresso para vender armas a Taiwan, que a China clama como sua província. A China chegou perto de definir a resolução de ambas as questões como pré-condição para que haja confiança genuína entre as duas forças armadas.

E assim os chineses estão construindo o que chamam de uma força totalmente defensiva, embora uma que inclua armas que existem principalmente para atacar alvos militares dos EUA.

“Eu posso entender as pessoas no Pentágono e no PLA se preparando para o pior cenário – todos os militares fazem isso”, disse Dennis J. Blasko, analista independente que trabalhou como especialista sobre China na inteligência militar, referindo-se ao Exército Popular de Libertação. “Essa é a função dos militares: fazer esses planos”.

Ameaça

Mullen, em sua visita à China, disse repetidas vezes que as ações dos EUA no Pacífico não passaram de parte das suas décadas de envolvimento na região e que não representam uma ameaça para a China. Em um discurso na Universidade da Defesa Nacional, em Washington, o general Chen Bingde, comandante das forças chinesas, disse que a atualização militar do seu país não chegaria aos pés do poderio tecnológico americano e que a China nunca “tem a intenção de desafiar os EUA”.

Mas, em ambos os lados do Pacífico, as suspeitas inevitavelmente aumentam cada vez que um lado revela uma nova arma ou nova aliança de idade.

Alguns analistas americanos dizem que a ação e reação em que os dois países se baseiam poderia condenar qualquer chance de um verdadeiro acordo militar e diplomático. Outros dizem que os EUA seriam forçados a outra corrida armamentista, só que desta vez, ao contrário da Guerra Fria, seria a China que teria bilhões para gastar em novas armas, e os EUA poderiam ser forçados a escolher entre armas e alimentos.

Charles W. Freeman Jr., ex-diplomata a quem Obama nomeou sem sucesso para liderar o Conselho Nacional de Inteligência, argumentou exatamente isso em um discurso recente no Instituto de Estudos Marítimos da China, que tem sede em Rhode Island.

“Os EUA agora estão fiscalmente ocos”, disse Freeman, observando que o orçamento militar americano é, essencialmente, todo financiado com dinheiro emprestado. “Ainda estamos entrando em uma rivalidade militar de longo prazo com a China em termos que são facilmente suportáveis pela China, mas fiscalmente ruinosos para nós. Essa rivalidade é ainda mais desvantajosa, porque a China está competindo de maneira notável quando se trata de custo-eficiência e nós não”.

Alguns analistas questionam sua avaliação. Mas a maioria concorda que custa muito menos construir um míssil capaz de afundar um porta-aviões dos EUA do que ele construir o porta-aviões e um sofisticado sistema de defesa anti-míssil.

A China pode ser capaz de arcar com os mísseis e os EUA podem ser capazes de construir navio e sistema de defesa. Mas não se sabe se eles são realmente necessários. Em relação a isso, um analista americano reforçou: “Estamos nos preparando para uma luta que eu não tenho certeza se qualquer um de nós precisa ou quer ter”.

*Por Michl Wines

Fonte:  Noticias do Dia

11 Comentários

  1. É melhor ter acordo,senão o negocio pode esquentar.O perigo de o mundo ficar pequeno demais pras duas nações é eminente.Isso poderia se tornar um motivo pra uma ww3.Temos exemplos na historia,como as guerras púnicas,onde Roma e Cartago lutaram,porque o crescimento de Roma era limitado por Cartago,assim como o da China é ameaçado pelos Eua.A saída a 2 mil anos foi a guerra,no qual terminou com a destruição de Cartago,tendo os romanos salgado seu chão para que nada mais crescesse lá,e Roma com a vitoria se tornou uma superpotência.Por isso eu falo,pra isso não acontecer acordos devem ser feitos o quanto antes,é uma guerra contra o relógio.Eu não acredito que os chineses sejam bonzinhos como falam,e os americanos,bem,já sabemos o que eles são capazes de fazer.

  2. “Estamos nos preparando para uma luta que eu não tenho certeza se qualquer um de nós precisa ou quer ter” Palavra de alto-comando que desconhece a cartinha. Hillary sabe muito bem, sabe torcer! o pano.

  3. É…Oceano Pacífico, o maior do mundo, está ficando pequeno!
    .
    “Por outro lado:
    Eles notam que os EUA deslocaram a maior parte de seus porta-aviões do Atlântico para o Pacífico,”
    .
    isto, vão passear lá pra as bandas do Oriente…

  4. Fico mt feliz, preocupado em ler e constatar q os ianks estão no seu ocaso, é q a china cresce como sempre foi, uma potencia.E q a mesma reclama p sí a sua ilha separatista taiwuan…é é sempre será China.A minha preocupação e a síndrome de galo velho q os ianks poderam desenvolver p mostrar-se ao seus rivais, e nós da AS seremos olhados como o seu quintal. O Chaves antes de anunciar o seu mega poco de petróleo se armou,e nós no BRASIL estamos capaz de afastar um atake corsário aos n interesses ?!? Poderemos responder as cizânias q crescem no norte do país entre n irmãos , como na reserva rapôsa- terra- do -sol !?!?Estão n FAs presentes n localidades , ouvindo, olhando, e sendo mantenedora?!?! Temos equipamentos certos e bons p fazer frente ao inimigo q se esconde entre o n irmãos? Sds.

  5. Seria irônico se a China fazer com os EUA o que estes fizeram com a União soviética:
    Derrotar sem disparar um tiro. Vencendo pelo esgotamento da capacidade de investir. Talvez não daqui 20 anos, mas daqui 50, poderemos ver isso, se a China continuar com crescimento econômico de 2 digitos. Mas a derrocada econômica dos EUA, pode ser o fim de um futuro brilhante para a China…. Interessante… Estão literalmente como irmãos siameses.

    []’s

  6. O lance aí é só um, quer dizer , dois.
    Segurar e acalmar a China e Índia na hora que o bicho pegar com a Coréia do Norte . E o Paquistão meu amigo?
    O Paquistão é uma bomba relógio que está fora de controle.
    Bomba relógio atômica , esse é o problema.

  7. A China está completa de razão, suas armas são eminentemente para defesa, pelo menos hoje, o cenário futuro mostra a retomada de taiwan que é chinesa, não acho que eles queriam retomar taiwan destruindo-a, muito pelo contrário, são inteligentes e sabem das potencialidades da ilha(PIB), com relação aos yanques, acho que só verei uma possibilidade de guerra quando os chineses começarem a se desfazer de seus títulos americanos (1/3 das reservas chinesas), do contrário é um tiro no pé. Já imaginou, guerrear contra os americanos e ainda perder 1/3 das suas riquezas da noite pro dia. Esses dois vão viver sempre abraçados, uma verdadeira simbiose.

  8. A China atualmente é um anão militar, perto dos EUA e Rússia. Motivo: Possui poucas armas nucleares. Se a China der uma de união com os EUA, certamente os americanos irão enganar os chineses, com o papo de limitação em armas nucleares. Quer dizer, os EUA podem ter 6 mil armas nucleares, mas os chineses terão que se limitar a 350. Pessoal, se o Brasil quiser ser respeitado e seguro, teria que ter no mínimo 1000 Bombas Atômicas de 1 MT.

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