Para os soldados americanos, a morte não vê gênero

Sugestão: Gérsio Mutti

Rod Nordland
Em Mehtarlam (Afeganistão)
The New York Times

Quando a especialista Devin Snyder, uma jovem de 20 anos do sul do Estado de Nova York, foi morta por uma bomba plantada em uma estrada próxima desta cidade na província de Laghman, no leste do país, em 4 de junho, ela se tornou a 28ª mulher soldado americana a morrer no Afeganistão.

Mulheres morreram em todas as guerras travadas pelos Estados Unidos, mas geralmente como pessoal de apoio, como enfermeiras e auxiliares. No Afeganistão, a maioria das mulheres morreu em situações de combate, como Snyder, apesar da proibição oficial das forças armadas de mulheres em funções de combate. O mesmo acontece no Iraque, onde 111 mulheres soldados morreram, segundo dados compilados pela icasualties.org, uma organização independente que monitora as baixas militares. Em ambas as guerras, 60% dessas mortes foram classificadas pelas forças armadas como devido a atos hostis.

Guerras sem linhas de frente claras colocam as mulheres em risco mais do que nunca, dificultando a separação entre funções de combate que são proibidas para mulheres, e funções de apoio, que frequentemente são tão perigosas quanto e em alguns casos até mais.

Talvez o que seja mais notável a respeito da morte de Snyder foi quão pouco alguém tenha notado que não havia nada incomum a respeito.

“Lá fora, não há distinção entre homem e mulher”, disse o sargento Vincent Vetterkind, um dos membros do pelotão dela. “Nosso gênero é soldado.”

Apesar de ainda haver um debate em casa sobre o papel da mulher nas forças armadas, aqui em solo essa batalha parece ter sido em grande parte vencida discretamente durante os nove anos de envio de tropas, onde as mulheres cada vez mais compartilham os mesmos riscos que os homens.

“Para dizer a verdade, eu nem mesmo pensava nesse assunto”, disse sua líder de pelotão, também uma mulher, a 1ª tenente Riannon Blaisdell-Black, 24 anos, de Virginia Beach, Virgínia. “Por aqui nós não vemos gênero, nós não vemos raça.”

Blaisdell-Black, cujo 3º Pelotão da 164ª Companhia da Polícia Militar chegou ao Afeganistão apenas em abril, viu sua unidade perder um oitavo de sua força devido a duas bombas nos dois primeiros meses de sua missão. Além de Snyder, três outros PMs do 3º Pelotão foram mortos pela mesma bomba, juntamente com um prestador de serviços civil americano. Uma bomba anterior, no sexto dia da presença do 3º Pelotão aqui, enviou outra mulher da força de volta para casa com ferimentos graves e também feriu dois homens.

“Havia cinco de nós dividindo a mesma B-Hut”, disse Blaisdell-Black, usando o termo para os alojamentos aqui onde normalmente dormem oito soldados em cada. “Agora são três.”

Snyder era uma estrela do atletismo colegial em Cohocton, Nova York, nascida em uma família militar; seu pai esteve na Marinha, onde está sua irmã, enquanto um irmão está no Exército. Ela se alistou logo após se formar, optando pela polícia militar, porque, como colocou um de seus colegas de pelotão, “nós tínhamos as armas melhores e maiores”.

Com ambos os braços cobertos de tatuagens, Snyder brincava com a ideia de se tornar uma modelo de tatuagens e também expressou interesse em se tornar uma analista nas operações psicológicas das forças armadas. Suas notas de condicionamento físico frequentemente superavam o 300 perfeito do Exército e ela estava determinada a se tornar sargento — uma honra que lhe foi concedida de modo póstumo.

Ao mesmo tempo, ela levava um canivete cor-de-rosa e uma fita adesiva cor-de-rosa, e na base de sua unidade no Forte Richardson, Alasca, ela tinha um veículo off-road também cor-de-rosa.

“Ela certamente mantinha seu lado feminino”, disse Blaisdell-Black. “Até mesmo suas tatuagens eram todas de flores e coisas de menina.”

A polícia militar é uma escolha comum para as mulheres que desejam entrar em combate, mas não a única. Atualmente, especialistas em armas de combate na infantaria e em unidades blindadas são as únicas grandes especialidades vetadas para mulheres –apesar de mesmo aí poderem entrar em combate como médicas ou especialistas em logística de combate.

O batalhão de infantaria ao qual o 3º Pelotão da PM estava ligado aqui, o 1º Batalhão, 133º Regimento, possui 40 mulheres entre seus mais de 600 soldados.

“Para o soldado médio que está lá fora em missão, não faz diferença”, disse o comandante do batalhão, o tenente coronel Steven Kremer. “Se a pessoa à minha esquerda ou minha direita consegue atirar é o que importa. Eu digo que as mulheres no meu batalhão são incríveis.”

Blaisdell-Black disse: “Sério, o único momento em que se torna um assunto é quando você está lá fora em uma patrulha de três dias e precisa encontrar um lugar para urinar”.

Mas o Exército tem uma solução até mesmo para isso, um dispositivo que permite às mulheres urinar em pé, que as mulheres apelidaram de “She-wees”.

Na noite anterior à morte de Snyder e de seus companheiros, a especialista Shakira Lamb, a médica do pelotão, teve um sonho, ela disse: “Uma pessoa entrava no meu alojamento, toda ensanguentada”.

Quando o esquadrão saiu na manhã seguinte, “eu sabia que algo ia acontecer”, disse Lamb.

Eles seguiam para uma sessão de tutoria em uma delegacia afegã em Alingar e tinham que passar por um ponto perigoso na Rota Iowa, passando pela aldeia de Khandah, onde no sexto dia do pelotão no Afeganistão três de seus membros foram feridos por uma bomba.

Como Lamb assistiu, uma bomba enterrada no mesmo local explodiu sob o primeiro veículo de seu comboio, com tanta força que a explosão matou três dos quatro soldados em seu interior instantaneamente, Snyder entre eles.

Um soldado raso, Robert L. Voakes Jr., sobreviveu o suficiente para ser evacuado, mas morreu pouco depois.

Voakes, 21 anos, um nativo-americano da tribo Keweenaw Bay de Michigan, tinha orgulho de ele e seu irmão serem os primeiros membros de sua tribo a servirem no Afeganistão. Também morreu com ele o sargento Christopher R. Bell, 21 anos, de Golden, Mississippi, que tinha uma filha de 1 ano, uma menina tão perfeita, ele disse aos seus companheiros de pelotão, que não havia necessidade dele e sua esposa, Sam, terem outro filho.

Outro morto foi o sargento Joshua D. Powell, 38 anos, um texano com o hábito perpétuo de mascar tabaco e com fala arrastada, que estava em seu segundo turno de serviço no Afeganistão – o primeiro lhe rendeu um Coração Púrpura e uma medalha de valor. Ele estava no 3º Pelotão há apenas poucas semanas, tendo se apresentado como voluntário para substituir um dos soldados feridos anteriormente. A quinta vítima foi Brett Benton, 37 anos, um policial veterano do Kentucky, um dos dois prestadores de serviço da DynCorp que acompanhavam o pelotão em suas missões de tutoria.

“Provavelmente eles não sentiram nada, nem souberam o que aconteceu”, disse o líder do esquadrão, o sargento Jonathan Enlow. “A médica é que teve dificuldade de desistir.”

Lamb, a médica, disse: “Não havia muito que pudesse fazer por eles e isso foi difícil. Bell parecia surpreso. Voakes, ele parecia o mesmo de sempre. Snyder, eu podia ver seus olhos e seu sorriso”.

Quatro dias depois, disse Blaisdell-Black, o pelotão enviou outro esquadrão de volta à Rota Iowa, na mesma missão.

“Todo mundo estava determinado a seguir em frente”, disse Enlow. “Apesar de ser uma droga perder companheiros, não é que tenha sido um desperdício ou algo assim.”

Fonte: UOL

19 Comentários

  1. Esses são os soldados americanos , mas e os civis do afeganistão que já perderam crianças, adulto e mulheres sob bobadeiro covarde? Sem falar dos Talibã , que já perderam milhares de homens.

    Não vejo esse grupo como terrorista, apenas grupo de resitência que lutam contra invasor. Foi assim contra os russos, Alexandre ” O Grande” ,Ingleses e por ai vai. Sem falar que foram esse mesmo grupo que os EUA forneceram armas para lutar contra ocupação Soviética em 1949.

  2. MInha opinião é que, se as mulheres fazem tantas passeatas por direitos iguais, ai está uma delas. Se homens dirigem carros, pilotam motos etc, mulheres também o fazem. Se homens vão a guerra e morrem em campo de batalha por que não as mulheres.? Direitos iguais, obrigações também iguais.

  3. CONCORDO COM VCS Esses são os soldados americanos , mas e os civis do afeganistão que já perderam crianças, adulto e mulheres sob bobadeiro covarde? Sem falar dos Talibã , que já perderam milhares de homens.

    Não vejo esse grupo como terrorista, apenas grupo de resitência que lutam contra invasor. Foi assim contra os russos, Alexandre ” O Grande” ,Ingleses e por ai vai. Sem falar que foram esse mesmo grupo que os EUA forneceram armas para lutar contra ocupação Soviética em 1949.+++++++++++++++++++++++++++++++++
    MInha opinião é que, se as mulheres fazem tantas passeatas por direitos iguais, ai está uma delas. Se homens dirigem carros, pilotam motos etc, mulheres também o fazem. Se homens vão a guerra e morrem em campo de batalha por que não as mulheres.? Direitos iguais, obrigações também iguais.

  4. Esses são grandes patriotas norte-americanos que perderam suas vidas em uma guerra fabricada pelos globalistas a fim de obterem o controle do Afeganistão. Peões sacrificados para garantir lucros aos senhores do mundo. Um dia tudo o que esta encoberto será revelado e a justiça será feita. Condolências às famílias.

  5. Muitos jovens dos EUA são tão fanáticos como os que dizem combater,sofrem verdadeiras lavagens cerebrais e vão para um lugar inóspito totalmente diferente de seus lares, para desperdiçarem suas juventudes e suas vidas para defender um falso mundo livre cantado em verso e prosa pelos EUA !

  6. César Pereira,

    Concordo com você.Digitei errado, em vez de colocar 1979 eu coloquei 1949. Percebi o erro, mas não tinha mais como editar.
    O site poderia ofercer opção melhor para editar os textos.Isso melhoraria bastante os erros de digitação.

  7. Acho que alguns colegas desconhecem a diferença entre Talibãns e Mujahidins.

    Queriam que os EUA deixassem os pacíficos e bondosos camponeses Talibâns tomarem conta do país e o usassem como base para atacar o ocidente. Certo?

    Acharam que os americanos não iam ter coragem de invadir e se deram mal…

    Depois do 11 de setembro, esperavam o que?

    Alguém realmente acredita que os americanos criaram essa guerra para roubar as infinitas riquezas de um dos países mais pobres do mundo?

  8. O Afeganistão pode ter uma população pobre, mas não é um país pobre, possui muitas riquezas naturais,além de ser um ponto estratégico na Ásia, tendo fronteiras com países como Paquistão,Irã,etc.
    Os EUA cometeram um erro grave ao invadir esse país,deveriam ter estudado melhor,e saber que nem mesmo a Rússia com toda sua tecnologia foi páreo para os Talibans!
    Os EUA parecem que nada aprenderam no Vietnã,onde toda a sua tecnologia sucumbiu a uma guerra assimétrica que tudo leva a crer se repetirá agora no Iraque e no Afeganistão !

  9. Isso mesmo, para os soldados americanos a morte não vê gênero, assim como idade e etc, eles matam mulheres, crianças e civis inocentes no afeganistão e tão pouco se lixando pra isso.

  10. A tecnologia não sucumbiu a querra assimétrica nem no afeganistão nem no vietnãm!
    Perder 100 para matar 01 não é vitória tática nem pros mártires religiosos…
    Se os talibans fossem bons como vocês acreditam eles levavam a guerra para longe dos civis, não iam se misturar à eles e se esconder em escolas, igrejas e hospitais!

    Quanto mais civis morrerem melhor para os Talibans, que colocam a opinião mundial contra os americanos e ainda se afirmam como os libertadores do povo na guerra sangrenta contra o império do mal.

    Até estátuas de pedra os caras massacram!

  11. Oque se vê são os soldados dos EUA e seus aliados saindo em debandada sem conseguir estabelecer oque se propuseram a fazer! O resto é mídia,essa coisa de dizer que os Talibans são do mau ,e os invasores são do bem, só em Hollywood !
    Muitos combates acontecem nas montanhas,agora claro que haverá combates em áreas civis, não há como o Taliban alugar um lugar onde eles possam fazer a guerra !

  12. “Talibans são do mau ,e os invasores são do bem”

    Amigo, eu nunca sugeri ou afirmei que os EUA são do Bem, mesmo pq não penso isso. O que eu disse foi que os atentados causaram a invasão e não os interesses políticos!

    Todo mundo sabia que era roubada invadir o Afeganistão, inclusive grande parte dos generais americanos!

    Me perdoe a intolerância, mas os líderes talibans, ao contrário da grande maioria do povo afegão,são um bando de terrorista assassinos, que massacravam o próprio povo.
    Nada a ver com ideologia, também acho que os Bushs da vida deveriam ser responsabilizados e punidos.

    Porém acredito que: Uma coisa é Geopolítica outra é desejar que o mundo seja como eu e você achamos justos!

    Abs.

  13. Uma coisa é alugar, outra é fazer reuniões de líderes militares (terroristas) em escolas, hospitais e igrejas.

    E sim, eles se misturam com o povo para se proteger dos ataques aéreos e atingir a opinião pública mundial.

  14. O importante para o stablishman não é a vida de seus compatriotas, muito pelo contrario… qnto mais americanos patriotas morrerem melhor para eles… o que interssa são os businnes e armamentos gastos nessas incursões desnecessárias… viva o acordo entre o pentagono/wallstret/northtroop/boeing…

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