Por Williams Gonçalves – Dr. Sociologia / UERJ
A vitória de Ollanta Humala no segundo turno das eleições presidenciais do Peru sinaliza a possibilidade de mudanças internas importantes, bem como não menos importantes mudanças no relacionamento do país com os demais países da região.
O resultado do primeiro turno apresentou um aparente paradoxo: excluiu do segundo turno aqueles candidatos que estariam mais afinados com a política econômica do Presidente Alan García e que, presumivelmente, poderiam garantir continuidade às significativas taxas de crescimento econômico ocorridas nos últimos anos. Entre os excluídos estava Alejandro Toledo, considerado responsável pelo início da marcha ascendente da economia daquele país. A maioria do eleitorado ao invés de seguir essa lógica linear, preferiu, todavia, dar seus votos a Ollanta Humala, do Partido Nacionalista, e a Keiko Fujimori, da Renovação Nacional.
Por que isso aconteceu? A resposta não é difícil. Embora a economia tenha crescido muito, inclusive resistindo muito bem à crise econômica geral dos anos 2008-2009, o fato é que as desigualdades sociais se mantiveram praticamente intactas. O nível de informalidade do trabalho continua das mais altas do mundo, atingindo 61% da população economicamente ativa. E os dois candidatos, ainda que de orientação ideológica distinta, mostraram-se sensíveis a esse aspecto social do processo econômico.
O êxito eleitoral de Humala exprime, portanto, a grande preocupação da maioria dos eleitores peruanos de que o crescimento econômico se traduza em maior bem estar e em melhores perspectivas de vida. Por esta e outras razões, o ex-Presidente Lula da Silva tornou-se referência de governo para o candidato Humala, que flagrantemente afastou-se de Hugo Chávez. Os eleitores de Humala esperam que ele seja capaz de reduzir drasticamente a informalidade e os inclua no mercado interno, melhorando suas condições de vide e garantindo-lhes os direitos de que têm sido privados.
Para o Brasil, a vitória de Humala é altamente auspiciosa. O diálogo que tem mantido com as autoridades brasileiras virá fortalecer o processo de integração regional. Isso tanto significa o fortalecimento da Unasul, como também abre mesmo a possibilidade de inclusão do Peru no Mercosul. A opção feita pelos peruanos é muito importante para o Brasil, porque enfraquece o projeto político do México e do Chile de quebrar a unidade regional mediante a proposta de criação de um Bloco do Pacífico Latinoamericano. Além, portanto, da importância das relações bilaterais com o Brasil, a conquista de Ollanta Humala representa expressiva vitória do projeto da integração sul-americana.
Fonte: O Globo
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