O terrorismo a todo vapor

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Apesar do sentimento de triunfo demonstrado pelo povo americano após o anúncio da execução de Bin Laden, para os integrantes e simpatizantes da rede Al-Qaeda, o terrorista é visto como um mártir da “guerra santa” e deve inspirar novos ataques contra alvos civis e militares, avalia o professor Luiz Alberto Moniz Bandeira. Ele é o autor de Formação do Império Americano – Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque, na qual ele fala sobre a constituição da Al-Qaeda e o surgimento de Bin Laden, financiado pela CIA para combater as forças da União Soviética no Afeganistão nos anos 70.

A CartaCapital, o especialista afirma que a guerra contra o terrorismo, encampada por George W. Bush e seguida por Obama, não foi capaz de reduzir o número de atentados. Ao contrário, intensificou o problema. “Só em 2009 ocorreram 10.999 ataques em todo o mundo, segundo o Country Reports on Terrorism, publicado anualmente pelo Departamento de Estado. Um terço ocorreu no Afeganistão e no Paquistão. Aproximadamente 10% foram realizados por meio do suicídio”, comenta Moniz Bandeira, que também é cônsul honorário do Brasil em Heidelberg (Alemanha). Confira, abaixo, a entrevista.

– CartaCapital: Qual é o significado da morte de Osama Bin Laden, quase dez anos após os EUA encamparem a “Guerra ao Terror” como retaliação aos ataques de 11 de Setembro de 2001?

– Moniz Bandeira: A morte representou uma vitória do presidente Barack Obama, que conseguiu, em dois anos de meio no governo, um objetivo que o presidente George W. Bush não alcançou durante os oito anos do seu mandato. Esse feito pode melhorar sua desgastadíssima popularidade e fortalecer sua candidatura à reeleição em 2012. Mas não constitui um golpe decisivo no terrorismo islâmico.

– CC: A que se deve o êxito da operação?

– MB: É importante salientar que na mansão onde Bin Laden vivia e foi morto não havia sequer um telefone e rede de internet. John Brennan, um dos assessores do presidente Obama para assuntos de segurança nacional e contraterrorismo, disse que era “inconcebível que Bin Laden não contasse com um sistema de apoio no país que permitisse a ele ficar lá por um longo tempo”. O presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, negou, por sua vez, que seu governo soubesse do paradeiro de Bin Laden. Porém o fato de a confortável mansão de Bin Laden, com um muro de seis metros de altura, estar situada a um quilômetro da principal Academia Militar do Paquistão, em Abbottabad, indica que ele realmente tinha o respaldo do Inter-Services Intelligence (ISI). E tanto isto é certo que o governo do Paquistão não foi informado da operação até que os helicópteros da Marinha dos Estados Unidos tivessem saído do país. De qualquer modo, como disse Leon Paneta, diretor da CIA, “Bin Laden está morto, mas a Al-Qaeda, não”.

– CC: Que tipo de desdobramentos a morte de Bin Ladin pode ter no Oriente Médio e nos países ocupados por forças americanas?

– MB: Apesar do sentimento de triunfo demonstrado pelo povo americano, para os membros e simpatizantes da Al-Qaeda, Bin Laden é um shahīd, que, na literatura religiosa islâmica, significa mártir da guerra santa, aquele que se dedicou à causa de Alá, mesmo à custa do seu sacrifício, de sua própria morte. Quanto aos desdobramentos, é difícil prever. Todo o Oriente Médio já estava convulsionado muito antes da morte de Bin Laden. A revolta popular, que ocorreu na Tunísia, se alastrou pelo Egito e contaminou os demais países da região decorreu de diversos fatores, conforme as condições domésticas de cada um, pois existem diferenças históricas, sociais e políticas e suas estruturas de Estados e instituições não são iguais. Há, porém, enorme sentimento de hostilidade contra os países do Ocidente devido à opressão colonial e à exploração imperialista. Os adeptos da Al-Qaeda e de outras organizações fundamentalistas certamente tratarão de promover atentados terroristas contra os estabelecimentos dos EUA.

– CC: Então a “Guerra ao Terror” está sendo perdida?

– MB: Apesar da guerra contra o terrorismo, declarada majestaticamente pelo ex-presidente George W. Bush e continuada pelo presidente Obama, o número de atentados terroristas cresceu. Só em 2009 ocorreram 10.999 em todo o mundo, segundo o Country Reports on Terrorism, publicado anualmente pelo Departamento de Estado. Um terço ocorreu no Afeganistão e no Paquistão. Aproximadamente 10% foram realizados por meio do suicídio. Os Estados Unidos e as demais potências ocidentais não entendem a cultura islâmica, para a qual morrer ou matar infiéis é um ritual litúrgico. O espírito de família e tribal ainda é muito forte tanto no Afeganistão quanto nos países do Oriente Médio. Os parentes e membros da mesma tribo sentem a necessidade de vingar o morto. Assim, a morte de cada muçulmano pelos bombardeios dos Estados Unidos, diretamente ou encapados pela Otan, alimenta o terrorismo.

– CC: Há sinais de mudança nessa lógica?

– MB: As Forças Armadas americanas estão chafurdadas no Afeganistão desde outubro de 2001, quando o presidente George W. Bush deflagrou a Operation Enduring Freedom contra os talebans. Eles se recusaram a entregar Bin Laden. Até fevereiro de 2011, morreram no Afeganistão 2.442 soldados da coalizão, dos quais 1.566 soldados eram americanos. Em 2010, foram mortos 711 contra apenas 12, em 2001, e o número de baixas das forças ocidentais cresceu a cada ano, sendo que, até fevereiro de 2011, 161 já foram abatidos pelos talebans. E Bin Laden nem estava no Afeganistão. O número de civis inocentes, mortos pelos bombardeios dos EUA e seus aliados é muito maior. Entre 2005 e 2008, as forças americanas e seus aliados mataram entre 2.699 e 3.273. Só em 2009 pereceram 2.412 , 14% mais que em 2008. E, no Iraque, estima-se que, desde 2003, quando a guerra começou, até 2007, mais de um milhão de civis morreram.

– CC: Em entrevista à BBC, Fawaz Gerges, especialista em Oriente Médio da London School of Economics, avaliou que Al Qaeda não terá dificuldades para repor a liderança perdida. Afirmou ainda que os movimentos que derrubaram ditadores em países árabes podem ter efeito mais significativo, pois refletem uma mudança de pensamento. Em vez da tradicional jihad contra as potências ocidentais, a luta por democracia. O senhor concorda com isso?

– MB: O professor tem razão quando avalia que a Al-Qaeda não tenha dificuldade em substituir Bin Laden. Essa organização terrorista congrega inúmeros fundamentalistas que tentam restabelecer o reinado do Islã e adquiriu vida própria, desde que a CIA e a Arábia Saudita financiaram, juntamente com o Inter-Services Intelligence (ISI), o principal serviço de inteligência do Paquistão, a construção dos campos de treinamento e as instalações da Al-Qaeda para combater as forças da União Soviética. E esses grupos, espalhados nos mais diversos países do Oriente Médio, têm seu próprio chefe. Às vezes, podiam receber instruções, mas passaram a atuar com autonomia. De fato, Bin Laden já não mais tinha efetiva participação no comando da rede terrorista. Estava bastante enfermo, com problemas renais e era submetido a hemodiálises.

– CC: E quanto às revoltas árabes? Há, de fato, uma tendência de mudança na forma de pensar e nas práticas?

– MB: Não creio que os movimentos contra as ditaduras nos países árabes indicam mudança de pensamento na região. Não há nenhuma evidência de que os povos na Líbia, Síria e outros países árabes estejam a lutar realmente por eleições e democracia. A democracia é um fenômeno ocidental, que se desenvolveu inicialmente na Inglaterra, a partir de que o rei John, celebrizado como Lackland (João sem Terra). Ele teve de assinar a Magna Carta, 1215, concedendo direitos e liberdades sob pressão dos barões que se insurgiram contra seu governo. Esse documento é considerado o marco inicial do direito inglês, o fundamento sobre o qual se desenvolveu a monarquia constitucional na Inglaterra. Em nenhum desses países árabes há uma consciência democrática tal como se imagina no Ocidente.

– CC: O regime democrático é incompatível para as nações árabes?

– MB: Não há tradição e as condições históricas, políticas e culturais são muito distintas das que determinaram o desenvolvimento da democracia no Ocidente. O que existe é uma idéia, difusa e confusa, de liberdade, mesmo assim restrita a certos círculos laicos. O que predomina nos povos muçulmanos é o sentimento religioso, fundado no Corão, na crença de que “Allahu Akbar” (“Deus é grande”), conforme o Islã, que significa submissão a Deus, o que, decerto, legitima o poder absoluto, as ditaduras. A democracia que os povos agora reclamam, tanto no norte da África quanto no Oriente Médio, significa maiores oportunidades de trabalho, de participação política, liberdade de expressão e melhora econômica e social. Mas acredito que a situação mais delicada é a existente na Palestina.

– CC: Por quê?

– MB: A situação tende a agravar-se cada vez mais. O Fatah, que domina a Cisjordânia, e o Hamas, com o controle da Faixa de Gaza, cujo bloqueio será levantado pelo governo do Egito, assinaram um acordo visando as eleições no Estado palestino. Tudo indica que essa reconciliação entre o Hamas e o Fatah possibilitará o que o governo de Israel mais teme: a realização de uma intifada branca, no dia 15 de maio, denominado Nakba, que significa desastre, tragédia, como os palestinos qualificam a criação a data em que cerca de 725 mil palestinos árabes foram expelidos de seus lares, durante a guerra com Israel, em 1948. Todos os anos palestinos fazem manifestações e parece que, atualmente, a idéia é de realizar um a demonstração pacifica, com a marcha de milhares, quiçá um milhão de palestinos até Jerusalém, a fim de exigir a declaração independência do Estado palestino.

– CC: Os palestinos serão ouvidos desta vez?

– MB: Israel tem uma população estimada em 7,6 milhões de cidadãos, dos quais 5,7 milhões são judeus e quase 2 milhões são palestinos. A Faixa de Gaza, sob o comando do Hamas, é habitada por 1,3 milhão de palestinos, sendo que 33% vivem com a ajuda da ONU nos campos de refugiados. Na Cisjordânia, administrada pela Autoridade Palestina, vivem também quase 2 milhões de palestinos, mas os colonos judeus, pouco mais de 350 mil habitantes, controlam uma vasta área, onde já foi erigida uma verdadeira cidade. Se os palestinos se unirem e marcharem juntos, em demonstrações pacíficas para exigir o reconhecimento do Estado palestino, o equivalente a uma intifada branca, isso deixaria o governo de Israel em uma situação muito difícil. O Estado ficaria sem condições morais e políticas de usar a força militar para reprimi-las. Caso isso ocorra, como o governo de Israel teme, os reflexos sobre os demais países árabes são imprevisíveis.

Fonte: CartaCapital

13 comentários em “O terrorismo a todo vapor

  1. O terrorismo vai se extinguir por si só. A perda de recursos que esta tática dispõe é absurda, e quanto mais eles se explodem, mais fica sem sentido a sua luta, porque eles não ganham nada politicamente com isso. Aliás, eles perdem, basta vermos Iraque, Afeganistão, Bin-Ladem, e agora só Deus sabe mais o que eles vão perder daqui para frente….. Extremismo e burrice são sinônimos.

  2. Posso estar enganado, más boa parte dos problemas ligados ao terrorismo diminuiriam drásticamente com à criação de um estado Palestino.É claro que com todos os DIREITOS e DEVERES do mesmo.SDS

  3. O entrevistado disse tudo: eles não cometem os atentados suicidas como meio de obter resultados politicos e sim como um ritual religioso. O suicidio pra eles é o mesmo que acender uma vela ou pagar promessas para santos.
    O maior erro desses terroristas é atacar civis, se eles atacassem somente alvos militares ou no maximo dirigentes politicos, eles seriam herois. Mas infelizmente escolheram o caminhão mais facil, que é atacar civis.
    O unico jeito de acabar com o terrorismo islamico é ocorrer uma reforma religiosa equivalente a reforma protestante do cristianismo, que desse uma nova interpretação ao Corão.

  4. Oque,EUA,ISRAEL,OTAN,etc cometem tambem é terrorismo! e pior ainda terrorismo de estado!
    Muitos querem que o HAMMAS fique olhando pacificamente o governo israelense ocupar seu território expulsar o povo palestino de seus lares,negar um futuro aos seus filhos sem fazer NADA !?
    Oque a OTAN faz agora na LÍBIA não é terrorismo? o homem bomba muitas vezes é um desesperado,E ninguém se da conta doque o levou a esse ato!
    Todo mundo se comove com a bandeira dos EUA no caixão do soldado,que muitas vezes é tão fanático como qualquer outro que ele diz combater!
    As ”bombas inteligentes” matam milhares de civis também!
    O O total de mortos nos ataques DE 11 DE SETEMBRO foi de
    2.996 ! ”E, no Iraque, estima-se que, desde 2003, quando a guerra começou, até 2007, mais de um milhão de civis morreram”

  5. Quem iniciou ataques primeiro foi a Al-Qaeda, em navios e prédios americanos, Iraque e Afeganistão foram as consequências, não a causa. Al-Qaeda cometeu o maior erro do mundo, ao atacar o EUA pois simplesmente abriu os portões de países com regimes ditatoriais ou desequilibrados como Afeganistão e Iraque. A economia bélica americana nunca esteve tão bem depois que Bin-Ladem alavancou esta parte da economia.

    Se tem algum culpado por toda esta retalização americana, Al Kaeda é o grupo e Bin-Laden um dos mentores por trás de tudo. Outra besteira dizer que o Bin Laden é Shahid, a religião islãmica não tem uma linha que endossa ataque covarde e suicídio, isso é fruto de uma releitura feita por pessoas doentes a fim de angariar poder e influência nefasta pelo islã. É notório vermos islâmicos apregoando também contra o extremismo destes grupos, e fica a lição aí para quem gosta de defendê-los e dizer que o islã é uma coisa só.

    Outro ponto que muitos sabem mas ignoram, é o que o Paquistão tem em seu governo linhas de pensamentos divergentes da política externa daquele país. Já vi documentários onde relatos de que informações valiosas passadas para o Paquistão acabaram alertando o Al-Qaeda e frustrando planos de ataque. Então porque avisar o Paquistão da possível morte de Bin-Ladem? Ou alguém acha que o Paquistão vai adimitir publicamente que está contaminado por extremistas? Ele próprio pode não saber, e não sabe.

    Para piorar, o pseudo-especialista acha que estas revoltas árabes não trarão o desejo do povo de ter melhores condições de vida, de adotar a democracia. Ele parece que não assiste TV ou jornais, basta ver nos protestos cartazes implorando pela chegada da democracia e eleições livres. O Povo tem a força, e agora o basta veio, estejam avisados sírias, Líbia e outros, o caminho da prosperidade não passa por aquilo que já está lá a 20, 30 anos, isso é certo….

  6. Cesar pereira, vc disse tudo!
    E Cal, voce esta errado. Primeiro que para eles o suicidio nao eh como acender velas e etc. Eles muito diferente de nós, ocidentais corrompidos pelo consumismo e pelo individualismo, sabem que a unica forma de chamar a atençao da ONU e das pessoas do mundo para a sua causa, é atraves de atos que choquem o mundo, e inclusive o suicidio justificado é altamente valorizado pelos extremistas religiosos e tambem por muitas familias, que se orgulham de ter um filho Martir.
    E em relação a reformas religiosas pode esquecer, eles valorizam tanto a origem e as tradiçoes milenares de sua cultura islamica que nunca abririam mão de alguns de seus dogmas. Observe a infinita rixa entre Sunitas e Xiitas que voce tera uma ideia da profundidade de suas convicções.

  7. Delta so queria comentar uma coisa que voce falou logo no inicio.. voce acha que eles um dia acordaram e tiveram a ideia de realizar o atentado somente para ver no que dava…?!
    Viaja nao velinho, decadas e decadas de expansao do territorio israelence, esmagando e subjulgando a população que ali vivia. A Manutenção de ditaduras de minorias, mesmo que oprimindo e deixando boa parte da população somente com as migalhas, vislumbrando com isso o dominio completo do oleo negro.
    Tudo isso saturou paciencia, a auto-estima e a dignidade daquela população.
    Pau na zorba da OTAN, dos EUA e da UE

  8. O terrorrismo de estado está em alta, q fale os ianks e judeuSS…pergunte oas Afegoções ,Irakianos e Palestinos…mataram o Bin Laden…como vai ficar?!?! Quem será condenando?!?! E as torturas, o q a ONU fará a respeito?!?! NADA!?!?

  9. Eu acho que a humanidade está passando por uma crise política séria. Os países estão sendo pessimamente administrados por políticos populistas e ignorantes, fruto do sistema político equivocado americano / francês.
    A China é o menos pior desses países, pois o padrão dos políticos chineses me parece ser bastante elevado.
    Países Teocráticos são o mal na Terra, pois a crença em Deus é individual, e não coletiva.
    EUA, Brasil, Japão, Países Islâmicos, Israel, Índia querem impor crenças religiosas às pessoas ingênuas, o que é contra a lei de Deus, que é a Dinamização.
    Se isso não mudar, vai ter uma Guerra Nuclear no Planeta Terra, não tenho dúvidas.
    Eu acho que os EUA, Europa, Israel, Rússia, China, Brasil e Índia tem que se cuidar para não receberem uma Arma Nuclear Islâmica pela cara.
    Essa história da morte de Osama está muito mal explicada.
    Osama Bin Ladem era amigo dos EUA. De repente virou inimigo ? Muito estranho.

  10. Gustavo G

    O ataque suicida é uma forma de ritual religioso para eles.
    E eu desconfio que a causa do crescimento de conversões ao islamismo no mundo (dizem que o islã é a religião que mais cresce no mundo) e por causa dessas demonstrações de fé.
    A coisa está chegando a um ponto que o resto do mundo está convencido de que os islamitas para exercerem sua fé tem que atacar outras religiões, o que não é verdade, mas se o mundo chegar a essa conclusão e decidir que o unico jeito é acabar a religião islamica. ate os os mulcumanos moderado vão ter de escolher entre mudar de religião ou se juntar aos radicais.

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