Mais energia com menor custo

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Por Sylvia Miguel, do Jornal da USP

O custo incremental de Angra 3, ou seja, os gastos futuros para sua conclusão, ficarão em torno de R$ 8 bilhões. “Podemos demonstrar que com metade desse custo é possível produzir a mesma energia que Angra vai produzir”, afirma o professor Ildo Sauer, do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP.

Há estimativas de que os quatro novos reatores nucleares previstos para serem instalados no Nordeste terão custos semelhantes, ou seja, cerca de R$ 8 bilhões cada um, segundo Sauer. Assim, os cinco novos reatores previstos totalizam um montante de R$ 40 bilhões. “Em artigo publicado na Energy Policy em 2009 com Joaquim de Carvalho, juntamente com os estudos recém-concluídos, mostramos que seria possível substituir esses cinco novos reatores por outras alternativas energéticas que custariam a metade e evitaria a criação de um estoque de material radioativo que vai exigir cuidados intensos por 300 anos, e cuidados de grande porte por cerca de 2 mil anos.”

Há uma pressão muito forte de lobbies e comunidades internacionais que defendem a energia nuclear, lembra Sauer. “Mas precisamos repensar profundamente se seria o caso de lançar mão dessa tecnologia no Brasil.”

A tecnologia nuclear para a geração de energia é herdeira do desenvolvimento feito nos anos de 1940-50 nos Estados Unidos para submarinos nucleares. Ou seja, foi adaptada para a geração elétrica. “Essa tecnologia não necessariamente precisa permanecer como está, pois há outros recursos e critérios que tornam o reator inerentemente seguro, no sentido de que não dependeria mais de componentes ativos como uma bomba acionada por eletricidade para resfriar o reator depois que é desligado. Seria um sistema ativado só por convecção natural. Há projetos na Marinha que contemplam isso. Inclusive tentei defender essa ideia quando fui gerente da construção de parte do reator experimental de Iperó (SP).”

Os reatores de Fukushima também são de geração antiga, afirma Sauer. “Pelo que sei, há dois reatores no mundo apenas sendo construídos considerando os sistemas de convecção natural. O sistema chamado Advanced Pressurized Water Reator (APWR) permite segurança passiva. Os convencionais como no Brasil são Pressurized Water Reator (PWR). Os de Fukushima são Boiling Water Reator (BWR)”, afirma o professor do IEE.

Discurso – Ao contrário do discurso dos que defendem o uso da energia nuclear no Brasil, construir novos reatores não acrescenta muito em capacitação tecnológica, afirma o professor Ildo Sauer. “É uma produção em série, que já está estruturada. É como comprar jatos e dizer que com isso estamos adquirindo tecnologia nova”, afirma.

O sucesso do Brasil na área nuclear deve-se muito menos ao acordo Brasil-Alemanha, que foi um “enorme sugador de recursos públicos”, do que ao programa paralelo que a Marinha comandou com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), na opinião de Sauer.

Segundo o professor, foi o programa da Marinha com o Ipen que trouxe conhecimentos na área de enriquecimento nuclear e permitiu a capacidade de planejar, projetar e construir os equipamentos de um reator autônomo que está desmontado em Iperó e cuja montagem talvez custe de R$ 100 a R$ 200 milhões apenas para sua operação experimental.

“Eu comungo com a comunidade nuclear brasileira o fato de que nenhuma sociedade desenvolvida pode renunciar ao conhecimento científico e tecnológico da área nuclear pelos enormes benefícios potenciais que ele traz à indústria, engenharia, genética, agricultura e, acima de tudo, na medicina”, afirma o professor.

Por isso, defende Sauer, o Brasil deveria reconsiderar o gasto de R$ 40 bilhões em novos reatores de energia nuclear e pensar prioritariamente em montar e operar o reator experimental de Iperó com gastos de pouco menos de R$ 1 bilhão. Além disso, afirma Sauer, o País deveria se preocupar em finalizar o desenvolvimento de um reator de alto fluxo neutrônico que já vem sendo planejado há cerca de 20 anos e que traria grandes avanços na área de novos materiais, agricultura e, sobretudo, resolveria a enorme dependência que o Brasil tem hoje na produção de radioisótopos para diagnósticos médicos.

“Hoje o Ipen faz o que pode, mas ainda temos que importar radioisótopos e com isso a população usuária do SUS está praticamente desligada desse benefício diagnóstico pelo seu alto custo”, afirma Sauer. Esse ambiente de planejar, projetar, construir reator consolidaria a capacitação humana de grande especialidade no Brasil.

O professor Sauer defende ainda que o Brasil revise sua posição no Tratado de não-Proliferação de Armas Nucleares, assinado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. “O documento cria países legitimados para o desenvolvimento de armas nucleares e outros desautorizados. Acho que a ideia seria limpar a humanidade desses armamentos, mas o quadro atual não permite isso. Portanto, o tratado cria uma disfunção entre o poderio militar e o econômico.”

Para o professor, atualmente não há por que delegar hegemonia aos dez países detentores de armas nucleares. “Isso cria uma relação muito desigual. É necessário usar o papel do Brasil, Argentina e outros países para forçar uma mudança nesse cenário. O Brasil foi ingênuo ao assinar esse tratado, sem as salvaguardas de que o mundo realmente iria caminhar para o desarmamento.”

Fonte: Ambiente Energia

18 Comentários

  1. Para o professor, atualmente não há por que delegar hegemonia aos dez países detentores de armas nucleares. “Isso cria uma relação muito desigual. É necessário usar o papel do Brasil, Argentina e outros países para forçar uma mudança nesse cenário. O Brasil foi ingênuo ao assinar esse tratado, sem as salvaguardas de que o mundo realmente iria caminhar para o desarmamento.”
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    concordo perfeitamente professor Ildo Sauer.
    porem sobre as usinas nucleares acho que é o meio mais rapido e ecologicamente correto de se obter energia, sei que á outras formas de se obter energia que sejam tb ecologicamente corretos, mais nenhuma atinge tanta potencia como a nuclear.
    sds a todos.

  2. Segundo estudos, o governo brasileiro não pode abrir mão de nenhuma fonte de geração de energia, sob pena de, em cerca de 30 anos, não conseguir mais suprir o país com uma produção de energia suficiente para manter seu crescimento, e fatalmente, causando um colapso progressivo em todo o sistema, e mergulhando o país num caos sem precedentes… E, segundo esses mesmos estudos, as usinas nucleares de geração de energia elétrica, junto com outras fontes alternativas de geração, tem papel fundamental na complementação regional, e em situações emergencias, no processo de fornecimento da principal matriz de geração que são as hidroelétricas, já essas últimas podem ter suas capacidades de geração comprometidas por questões naturais/ambientais – ex.: longos períodos de estiagem … E quanto aos resíduos radioativos, segundo representantes do setor, já existem, em avançado estágio, estudos em vários países do mundo para neutralizar/exaurir a radiação desses resíduos e reaproveitá-los para diversos outros fins… Estuda-se até a possibilidade de reciclá-los para voltarem a ser reutilizados como combustível nuclear… Então, é esperar pra ver…

  3. Daqui a pouco o dandolo aparece dizendo que consegui fazer o Brasil ter energia por 1.000 anos apenas soltando um pum.
    …hahaha..

    Mas sério, eu concordo com o professor, acho que toda tecnologia pode ser adaptada e melhorada e até mesmo rejeitada, se existir algo (mesmo que tecnologicamente inferior) que lhes de resultados melhores…

  4. Será que o Brasil esta preparado para usar a energia nuclear?
    Todos sabemos dos riscos da energia nuclear,dos perigos e gastos para estocar seus resíduos,sabemos também da incompetência de nossas autoridades para lidar com isso!
    Atualmente existe um grande lobby a favor da energia nuclear,mas devemos ter cuidado,os riscos são imensos e embora existam estudos, ainda não há nenhum meio eficaz de se reciclar o lixo das usinas,cuja estocagem volto a repetir, demanda altas somas de dinheiro além dos altos riscos ao meio ambiente e as pessoas!

  5. Considerando todos os argumentos, chego a uma conclusão, oque adianta o Brasil ter todo esse aparato tecnologico se ainda não tem hegenomia sobre sí, qualquer coisa que fazemos para nosso bem, é barrado pelos yaankes, até quando esse país, vai ficar se submetendo aos caprichos de outrora, digo é repito vivemos na realidade todo ser que esta no topo da pirâmide não quer descer muito menos se desfazer de seu poderiu nuclear, viver fora dessa realidade é inlusão so vejo futuro num país que se compromete com os cientista e seus militares, o Brasil tem Nióbio pra isso, construir verdadeiros reatores de fusão nuclear como nosso sol propriamente dito, muito mais potente é economico é não emite radiacao, pra isso falta capacitacao, somente um grupo fechado almeja dominar esse tipo de tecnologia os 5 mais potentes as querem mais sem o nióbio do Brasil eles não faram isso o descaso do governo com nosso nióbio deixa até os generais mais procupados que o presidente que é cego e ingnorante por não dá importancia a tal minério, nunca um país fraco vai ser membro da ONU, não temos forca pra isso muito menos armamentos. até mais abs.

  6. O que entendi é que o professor argumenta que tanto Angra 3 como as planejadas 4 usinas virão de projetos externos (provavelmente as novas usinas terão projeto francês ou inglês). Se é para usar usinas nucleares devemos usar este dinheiro para projetar nossas próprias usinas e não comprar projetos externos. Com a matriz que temos hoje, estas novas 4 usinas podem ser adiadas por 4 a 8 anos até que a Marinha, o Ipen e Eletronuclear elaborem um projeto nacional de usina atômica. Sei que vai ter engraçadinho que vai dizer que é melhor ou mais seguro comprar no exterior, que brasileiros vão projetar uma usina que não presta e etc… Mas no todo acho uma das melhores coisas que já li sobre o tema. Depois de décadas operando uma usina de projeto americano (Westinghouse, USA) e uma de projeto alemã (Siemens, Alemanha), estar construindo uma segunda alemã (Angra 3) e estar projetanto um submarino nuclear com planta propulsora nacional (reator MB), não faz qualquer sentido em termos de desenvolvimento tecnológico comprar novo projeto estrangeiro de usina nuclear…
    Quanto ao que ele fala sobre o TNP, mais pragmático e patriota que isso é simplesmente impossível…
    Concordo em gênero, número e grau…
    Parabéns professor Ildo Sauer!

  7. Caro Cesar o Brasil não só esta preparado com esta para dominar todo o ciclo tecnologico necessario para fazer uma usina nuclear funcionar – em Ipero esta sendo concluido uma usina com potencial de 50MW ( que devera ser utilizado no sub )- o Angra II tem potencial de 1.350MW.
    Gilberto acho que o professor quer dizer que o Brasil deve deixar de lado o investimento em usinas atomicas para produção de Energia Eletrica, mesmo que seja nacional.
    O que ele apoia é pequenas usinas nucleares para pesquisa, bem mais baratas como a de Aramar que nos deu resultados incontestáveis.
    Para produção de energia eletrica ele fala de procuramos outras alternativas de menor risco financeiro e ambiental, veja o exemplo do Japão.
    Apoia também o desenvolvimento de um reator de alto fluxo neutrônico, bem sobre isso o Dandolo bem que poderia nos esclarecer, He, He, He…
    Abs

  8. Nilo eu acho que me expressei mal,eu não estou pondo em dúvida a capacidade de nossos cientistas!
    Mas sim o compromisso dos nossos políticos com o bom funcionamento das usinas !,será que eles fornecerão os meios necessários para que as usinas funcionem em segurança?
    Ou deixarão tudo cair no descaso e ficar perigosamente sucateado?

  9. Caro César sobre Segurança em Usinas:

    Governo demite toda a diretoria da CNEN após descobrir que reatores atômicos operam sem licenças e que Angra 2 não tem autorização definitiva para operar

    Há exatamente uma semana che­gou à mesa do ministro da Ciên­cia e Tecnologia, Aloizio Mercadante, um relatório explosivo contra membros da cúpula do programa nuclear brasileiro.
    Com base nas denúncias do documento assinado pelas associações de servidores dos principais órgãos ligados ao programa (a CNEN e o Ipen), Mercadante pediu uma imediata investigação in­terna. Em poucos dias convenceu-se de que a situação era, de fato, grave e decidiu agir.
    A primeira medida será a demissão do presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves, e de toda a direção do órgão.
    =====
    Reatores atomicos exigem investimentos constantes em prevenção de risco. Isso não dá voto.

    No Japão as usinas de Fukushima se não me engano era privada, o governo esta estudando de estatizar.
    Agencia atomica da ONU, do Japão, EUA…todos se mostram omissos enconderam informações, até entende-se a razão, Mas será que explica????
    Abs

  10. Então esta tudo bem Nilo! o importante é fazer tudo com responsabilidade,lembrar sempre do povo,do meio ambiente e da nação como um todo!
    Eu sempre acredito na capacidade do Brasil como nação e vamos crescer cada dia mais!

  11. Foi um erro os governos militares terem feito essas usinas nucleares em Angra dos Reis, entre RJ e SP.
    A Bahia tinha (e tem) o litoral ideal para tais usinas.

  12. O prof.. Ildo Sauer disse tudo , anos de psquisa & desenvolvimento no país e ainda não dominamos a técnologia de produzir nosso própios reatores nucleares ( o reator que será instalado em Angra III é importado e os outros também serão. ) O Brasil & Argentina recentemente assinaram um acordo para desenvolver e construir 2 reatores de pesquisa , detalhe vale salientar que os reatores serão desenvolvidos com técnologia Argentina.
    O mundo caminha para técnologia de fusão nuclear , e nós ainda sonnhamos com o reator de regeneração rápida e outras técnologias que caducam á espera de investimentos para pesquisa em algum centro de P&D nacíonal . Agora vamos gastar 40 bi.. em reatores com técnologia da década de 60 / 70 , é muito confuso as coisas no Brasil viu.
    Aproveitando o gancho, o mesmo vale pro projeto do TAV ( Trem de Alta Velócidade.) , com nossos metrôs nas grandes cidades parados ( de Belo Horizonte , cidade onde resido ,sai de lugar algum e leva a lugar nenhum rsrs) precisando de verbas e vamos gastar bi,s.. de dolares euros sei lá.

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