Uma pedra chamada amiga

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O Mercosul na encruzilhada

Bloco completa 20 anos
Patrick Cruz, iG 26/03/2011
“o Mercosul não vai morrer, mas vai ficar cada vez mais irrelevante – ao menos do ponto de vista do Brasil”

Em 1991, as vendas brasileiras ao exterior somaram US$ 31,6 bilhões. Em 2011, isso é o que Minas Gerais exporta sozinho. Em 1991, Bill Gates, fundador da Microsoft, apareceu em segundo lugar na lista dos bilionários do mundo elaborada pela revista “Forbes” com uma fortuna de US$ 4,8 bilhões. Em 2011, a lista tem Bill Gates em segundo na lista – e o brasileiro Eike Batista em oitavo, com fortuna avaliada em US$ 27 bilhões. Em 1991, o ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto, disse que o então presidente Fernando Collor, que estava para visitar Moçambique, viajaria “para conhecer o futuro do Brasil”. Em 2011, o Brasil é a sétima maior economia do mundo, à frente da Itália – e com potencial de chegar à quinta posição ainda nesta década.

Mudou o Brasil, mudou a percepção internacional sobre o Brasil. O agigantamento da economia brasileira, no entanto, não faz o País mais assertivo na definição dos rumos do Mercosul, do qual o futuro é uma incógnita, segundo especialistas. Neste sábado, o bloco comemora exatos 20 anos de assinatura do Tratado de Assunção, com o qual Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai selaram sua criação.

“Do ponto de vista econômico e comercial, o Mercosul ficará em banho-maria”, afirma Rubens Barbosa, embaixador brasileiro em Washington por cinco anos e em Londres também por cinco. “Ele não vai morrer, mas ficará cada vez mais irrelevante”. Barbosa, coordenador da seção nacional do Mercosul na época de sua criação, reconhece que o bloco foi importante para que as empresas brasileiras se preparassem para ganhar o mercado externo. Hoje, contudo, recorrentes decisões da Argentina de impor barreiras às exportações brasileiras têm reforçado o carimbo de “união aduaneira imperfeita” afixado ao Mercosul nos últimos anos.

O ex-embaixador é hoje consultor de negócios e presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ele lançou no fim de 2010 “Mercosul e a Integração Regional”, livro com uma coletânea de artigos que explicam as origens do bloco, mas, principalmente, os meneios que o fizeram chegar à atual encruzilhada – que tem, de um lado, membros que não conseguem resolver impasses, especialmente Brasil e Argentina, e de outro, a iminência da entrada de novos membros, com a Venezuela à frente. Leia a seguir os principais tópicos da entrevista com Barbosa.

Objetivos iniciais e mudança de foco
O Mercosul foi criado como um exercício de integração econômica e comercial. O objetivo do Tradado de Assunção foi criar a médio e longo prazo uma união aduaneira e depois um mercado comum. Mas, ao longo desses 20 anos, com as crescentes dificuldades econômicas e comerciais, o tratado foi sendo desvirtuado. Hoje, o Tratado de Assunção tem uma ênfase muito maior na parte social e política. Na área econômica, o Tratado de Assunção tem uma grande debilidade institucional. Ele deixou de ser respeitado. As instituições do Mercosul criadas pelo tratado, como o mecanismo de solução de controvérsias, não estão funcionando.

Perda de peso
O Mercosul foi muito importante no início para os empresários não só abrirem mercados, mas para que os países-membros fossem mais conhecidos e para que as empresas treinassem na negociação internacional – em 1991, isso era muito incipiente. Em 1998, o Mercosul representava 16% do comércio exterior brasileiro. Hoje representa menos de 10%. Ele perdeu atrativo para as empresas brasileiras. No comunicado conjunto do Brasil com os Estados Unidos, o Mercosul foi citado apenas no último parágrafo. Ele não tem a menor importância no contexto da política comercial do Brasil.

União aduaneira imperfeita
Argentina amplia barreiras contra importados.
Argentina trava compra de tratores brasileiros.
Do ponto de vista comercial, o Mercosul virou um acordo que privilegia entendimentos políticos e na área social. O balanço desses últimos 20 anos foi positivo até certo momento, mas hoje ele é uma união aduaneira imperfeita porque a a Tarifa Externa Comum (TEC, cobrada de países de fora do bloco para que eles vendam aos membros do Mercosul) não é aplicada plenamente. Nos dois últimos anos, sob a ação da Argentina, ela ficou ainda mais imperfeita porque as perfurações da TEC aumentaram muito.

A entrada da Venezuela e de outros países
A entrada da Venezuela acentuaria (a perda de relevância do Mercosul). Vai complicar ainda mais, ao menos enquanto o (presidente venezuelano Hugo) Chávez estiver lá, porque do ponto de vista político vai ser muito difícil o Mercosul fazer acordos com Estados Unidos, com a União Europeia, já que o Chávez é declaradamente contra isso. (A entrada da Venezuela precisa ser aprovada por todos os membros atuais do bloco. O Paraguai foi o único país que ainda não se manifestou sobre o assunto, que segue nas mãos do Parlamento. Os outros três membros já aprovaram).

Negociação com países de fora do bloco
Do ponto de vista do Brasil, não tem outra saída. Não precisa o Brasil insistir (na mudança da resolução 32, que estabelece limites para vendas para fora do bloco). É só não cumprir a resolução. Como nada está sendo cumprido, você deixa de cumprir a resolução e começa a negociar sob a égide do Mercosul. Eu não estou falando para o Brasil fazer acordos sozinho. Ele faz um acordo-quadro com o Mercosul e depois negocia a abertura comercial – como, aliás, já foi feito: esse último acordo com Israel (anunciado em 2010) foi feito assim. Já há precedentes.

Interesse nacional
A Argentina tem colocado barreiras aos produtos brasileiros, mas em vez de isso servir de estímulo à indústria local, a Argentina passa a importar esses produtos da China. O Brasil precisa ter claro qual o interesse nacional. Há 20 anos que a gente ouve sobre o suco de laranja nos Estados Unidos, sobre o aço. Não é possível. Por que não muda? Porque os Estados Unidos têm interesse em não mudar. Eles estão defendendo os interesses deles. Nós temos que defender os nossos. Os países têm interesses, não têm amigos. É o que a Argentina está fazendo.

Rusgas com a Argentina
Se a gente quer mediar o conflito no Oriente Médio, por que não podemos ter uma posição aqui na América do Sul de acordo com o nosso interesse? Estamos dando palpite na Líbia, no Haiti. Por que não podemos fazer isso na região? A Argentina está colocando barreiras que dificultam o acesso a seu mercado. Não é possível ficar cheio de dedos. O que vai acontecer se o Brasil levar para a OMC (Organização Mundial do Comércio) essa situação da Argentina? Eles vão chiar? Tudo bem. E depois? Eles vão fechar o comércio com o Brasil? Não vão.

Problemas do vizinho
Brasil cresce e muda a vida do Mercosul.
Safra agrícola brasileira continua a bater recorde.
Em Buenos Aires, dinheiro do campo vira imóvel.
A Argentina perdeu competitividade e por isso precisa colocar essas barreiras. A indústria argentina foi arrasada por políticas deles – e isso não é problema nosso. Desde o Martínez de Hoz (ministro da Economia argentino entre 1976 e 1981), passando pelo Domingo Cavallo (ministro da Economia do país no processo de dolarização da economia, ocorrido em 1991), eles acabaram com a indústria argentina. O Ulysses Guimarães dizia que a generosidade é a antessala da ingratidão. Quanto mais generoso você for, mais a Argentina vai se sentir inferiorizada – e mais ela vai retaliar o Brasil. A Argentina não votou com o Brasil em nenhuma das candidaturas brasileiras e é contra o ingresso do Brasil no conselho de segurança da ONU. E então, qual é a reciprocidade?

O futuro do Mercosul
Do ponto de vista do Brasil, o Mercosul comercial e econômico , que já está irrelevante, vai ficar ainda mais irrelevante. O Mercosul comercial vai ficar em banho-maria. O político e social vai ter algumas iniciativas na área de educação, coordenação na área de meio ambiente, mas aí a agenda nessas duas áreas se confunde com a da Unasul (União de Nações Sul-Americanas). Você tem uma superposição de competências da Unasul com o Mercosul, o que contribui ainda mais para esvaziar o Mercosul. Ele não vai desaparecer. O Mercosul é uma marca. Nenhum presidente hoje gostaria de assumir o risco de propor seu fim. Ele vai continuar, mas cada vez mais irrelevante – ao menos do ponto de vista do Brasil


Fonte: IG Economia

23 Comentários

  1. Acho que o Mercosul vai ficar cada vez mais irrelevante para o Brasil mas não para os outros paises, ao meu ver alem do mesmo continente a unica coisa que liga as naçoes sulamericanas é o mercosul e por isso esse bloco é muito importante, é claro que mudanças na politica do bloco seriam bem vindas, como foi citado tudo o que for votado tem que ser aprovado por unanimidade e isso não é bom tendo a Venezuela como membro.

  2. Só que agindo assim eles dão um tiro no próprio pé. Alias, agem exatamente como os EUA, com a diferença de que não são a potência dominante do continente.
    Bom para nós.

  3. A verdade é que o Brasil está em um estágio de civilização muito mais avançado que os outros países da AL. Estamos mais próximos aos europeus em muitos aspectos, e isso cria barreiras e ressentimentos por parte dos hermanos…

  4. Mercosul morre depois de 20 anos. O bebe Unasul ja nasceu morto.
    Existe muitas divergencias na America latina e poucas coincidem com os pontos de vista do Brasil;politica externa, interna, economia, crescimento, competividade da industria etc. Tudo tem a aver com o crescimento brasileiro e seu afastamento da orbita Latino Americana de Guayabera com bananas. O salto e para o primeiro mundo e so pode ser feito num voo solo do Brasil. Unasul com suas mesquinhez de inteligencia encefalica selou sua propia sorte, quando inclui os Cabecas de Porco da Venezuela, Bolivia e outros esquerdistas discipulos do falido Fidel.
    Com nosso crescimento os interesses se divergem. Protecao a industria brasileira antes de nada e olho no Dragao Chines. Esse pode arruinar tudo abaixo.

  5. Q o BRASIL, finja q faz parte do mercosul, já q os hernmanos argentinos estão sacaneando a gente e os outros, importandotd da china…vamos tbm taxar os produtos deles da mesma forma, recíproca. Sds.

  6. Dizia minha falecida avó: Quem muito se abaixa, o fundo das calça aparece e o tal é ridicularizado se os nossos ermanos nos boicota, assim então o faremos com eles e afinal de contas quem é a Argentina hoje.

  7. Bobagem. Ou pelo menos deveria ser. Há um interesse muito grande que esse bloco dê errado, assim como a UE.
    =
    Uma AL forte é ruim para os interesses dos colonizadores.

  8. o que aconteceria se as exportações brasileiras caisem 10%
    isses 10% representam quantos empregos aqui no brasil esses 10% representam quanto de imposto que o governo deixaria de arrecadar aqui no brasil, isso sem falando diretamente, e ainda tem o que esta ligado indiretamente, então do meu ponto de vista esses 10% e muito relevante e quem fala que o mercosul com todas suas dificuldades e irrelavante, tá falando de algo que não tem a minima noção do assunto. um abraço amigos!

  9. Mercosul morrer ? Irá enfraquecer os países sul-americanos.
    Agora, se o Brasil estiver tendo fortes déficits, poderia realmente acabar.
    A Europa já está unida contra todos, e é altamente protecionista.
    Os orientais também são protecionistas.
    Os americanos têm os chineses como parceiros, e exportam pra gente produtos made in China, e o Mantega aceita.
    Nós não temos muitas opções, pois não temos cultura tecnológica.
    Vamos ter que nos contentar com as parcerias das multis e exportação de alimentos e matéria prima.
    Espero que as empresas japonesas pós-terremoto migrem para o Brasil, e não apenas para a China.
    Já estão facilitando a chegada dos japoneses para cá ?

  10. Calheiros disse:
    26/03/2011 às 23:28
    Dizia minha falecida avó: Quem muito se abaixa, o fundo das calça aparece e o tal é ridicularizado se os nossos ermanos nos boicota, assim então o faremos com eles e afinal de contas quem é a Argentina hoje.
    ===
    A Argentina é hoje o que o Brasil foi no passado.
    É importante lembrar que só precisa uma eleição onde o o presidente seja mal escolhido para termos uma economia virada numa zona.
    O passado nos assombra, e o futuro é incerto com tantos vende pátrias.

  11. Resumo da ópera:
    A Argentina no meio do caminho atrapalhando COMO SEMPRE.
    E o pior é ver gente dizendo que “devemos aprender com eles…”
    Esse espirito de vira-latismo brasileiro é revoltante!
    Esse mercosul é uma pedra no nosso sapato, a intenção pode até ter sido boa um dia, agora mais atrapalha do que nos trás algum beneficio.
    A economia brasileira é milhões de anos-luz mais competitiva e complexa do que a de todos os outros países juntos, para ficar amarrada a esse tratado freio de mão.

  12. Não conheço como é o Tratado do Mercosul, por isso fica difícil de opinar.
    O Brasil está tendo supeávit com a Argentina de 4 bi dólares e déficit com os EUA de 8 bi dólares.
    O Mercosul está nos dando lucro.
    Os americanos estão nos quebrando.

    http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2011/02/01/internas_economia,207234/chanceler-argentino-diz-que-e-preocupante-deficit-comercial-com-brasil.shtml
    xxxx
    http://www.apukaonline.com/index.php/politica/528-deficit-comercial-com-eua-e-desafio-em-visita-de-obama-ao-brasil

  13. O valor do Mercosul não é irrelevante, coisa nenhuma, na verdade é importante e ainda vai se tornar muito mais importante. Tudo depende de como o Brasil trabalhar com êle, o potencial é muito grande, dá dividendos politicos e economicos ao Brasil. O fato da Venezuela ter entrado não o faz menos relevante. It’s too bad north-americans don’t like him. Fora do Brasil, nossos inimigos vem do hemisfério norte, não do Sul.
    Sds.

  14. O Mercosul já vai tarde. Ter parcerias com essa Argentina, terra de ordinários e cretinos, não vale a pena não. Eles só sabem pedir, pedir, pedir, e não retribuem com nada. Não dão valor ao Brasil e a ninguém na América do Sul, se acham o rei da cocada preta. TCHAU MERCOSUL, TCHAU ARGENTINA. AFUNDEM-SE

  15. Argentina maquia e ou distorce seus números econômicos …
    Devemos ser enérgicos com os argentinos… querem parceria ou querem somente negociar.

    a era do somos hermanos já chegou ao fimnós brasileiros somos a única potência da região… sigam nos ou fiquem ainda mais para trás…

  16. Quem esta sendo partenalista com os outros membros do mercosul e´o Brasil,a Argentina age defendendo seus interesses proprios,o que nao deixa de ser um direito legitimo.O Brasil e´que ta dando mole p/os parceiros,politicos Brasileiros tem a triste ilusao de que,se formos complacentes,ganharemos a confiança dos caras.Estamos bajulando a raça menos confiavel que neste planeta ja abitou!Abrao os olhos macaquitos!

  17. SE NOS DA PREJUISO TEMOS QUE MUDAR AS REGRAS DO JOGO SE NOS DA LUCRO DEVEMOS PELAJARMOS PARA MANTER AS REGRAS DO JOGO,ISSO É O QUE FAZ TODAS AS NAÇÕES,ISTO É A LEI DO MUNDO SE ALGUEM GANHA OUTRO PERDE SÓ ACHO QUE DEVIAMOS MUDAR OU AMENIZAR ESTÁS REGRAS DO JOGO DO COMÉRCIO MUNDIAL,VAMOS ESQUECER OS HERMANOS ARGENTINOS A POUCO TEMPO ESTAVAM A BANCA ROTA MESMO QUE CRESÇAM MUITO VAI LEVAR TEMPO PARA SE TORNAREM UMA AMEAÇA DEVEMOS É PENÇAR EM EDUCAÇAO,INFRA-ESTRUTURA ,REFORMAS TRIBUTÁRIAS E AI NINGUEM SEGURA ESTE PAIS.BRASIL ACIMA DE TUDO.

  18. Kkkk, viuvas da ALCA, au…au…au…Os interesses do Brasil, primeiro. Um pouco de informação insuspeita não faz mal pra ninguém. Podem opinar, sem problemas, mas venham com fatos relevantes, sem achismos puramente emocionais, totalmente infundados. Russos e Chineses se detestam, nem um dos dois tem confiança um no outro, todavia tem seus interesses num bom relacionamento. Lembrando que a China tem mais de 800 bilhões de dolares investidos em titulos do tesouro norte-americano e estendem um enorme tapete vermelho aos chineses quando o presidente chinez visita os EUA e nenhum jornal ianque dá um piu contra os direitos humanos na China!!!! Nem são vizinhos e sistemas sociais totalmente diferentes e sabidamente antagonicos, imaginem se fossem vizinhos e tivessem o mesmo sistema economico !!! Com certeza os ianques estariam de 4 e dizendo ai que gostoso!!!
    Francamente…au..au…au…

  19. Essa matéria do IG é um festival de achismos e inverdades. Todos os países do Mercosul experimentam atualmente taxas de crescimento da ordem de 5% a 8% ao ano com o avanço da integração econômica e política. São situações nunca vividas antes na AL. Então, onde está a irrelevãncia do bloco ou os indícios de que está se tornando inviável?

    “Perda de peso
    O Mercosul foi muito importante no início para os empresários não só abrirem mercados, mas para que os países-membros fossem mais conhecidos e para que as empresas treinassem na negociação internacional – em 1991, isso era muito incipiente. Em 1998, o Mercosul representava 16% do comércio exterior brasileiro. Hoje representa menos de 10%. Ele perdeu atrativo para as empresas brasileiras. (…)”

    Quanto era nosso PIB em 1998 e quanto é agora? E por que se esqueceram de citar o enorme entreposto comercial que Carlos Menen transformou a Agentina e FHC o próprio Brasil com suas políticas econômicas atreladas ao “consenso de Washington”?
    Sem mais comentários!

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