Para analistas, Brics se articularam em voto sobre Líbia na ONU

http://i.telegraph.co.uk/telegraph/multimedia/archive/01375/Sarkozy_1375359c.jpgCamila Viegas-Lee

De Nova York para a BBC Brasil

A abstenção de Brasil, Rússia, Índia e China (que juntos formam o grupo conhecido como Bric) na votação no Conselho de Segurança da ONU na quinta-feira, que autorizou ações militares na Líbia, refletiu uma articulação desses países no órgão, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.

A resolução, proposta pela Grã-Bretanha, França e Líbano, foi aprovada com dez votos a favor, nenhum contra e cinco abstenções. A medida estabeleceu uma zona de exclusão aérea na Líbia e autorizou “todas as medidas necessárias” para “proteger civis e áreas habitadas por civis” de ataques das forças do coronel Muamar Khadafi.

Para Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil do Centro Woodrow Wilson, em Washington, “não devemos menosprezar o grau de articulações que há entre esses países (membros do Bric) (…) sobretudo às vésperas de um encontro (do grupo) na China”.

Segundo Sotero, o voto da resolução sobre a Líbia pode ser visto como um teste do futuro Conselho de Segurança.

“O dia em que o Conselho for reformado, esses quatro países estarão lá”, diz o analista. Rússia e China são membros permanentes do órgão e têm o poder de veto; Índia e Brasil ocupam vagas rotativas no Conselho, mas pleiteiam o mesmo status dos primeiros.

‘Voto do Bric’

Segundo Riordan Roett, diretor do programa de estudos de América Latina da Universidade Johns Hopkins, também de Washington, “não há dúvidas de que foi um voto do Bric”.

“Acho que veremos mais solidariedade no futuro em questões relacionadas. As prioridades da política internacional do Bric vão se diferenciar cada vez mais do G7 (grupo que integra as sete economias mais desenvolvidas do globo). Na minha opinião, o voto foi mais um desejo de se diferenciar dos países industrializados.”

Apesar da articulação e do interesse de Índia e Brasil em integrar permanentemente o Conselho, Roett diz que se trata de uma “questão de política muito complicada” e que levará tempo até que um acordo seja alcançado.

“Será interessante ver se o voto terá qualquer impacto na viagem de (Barack) Obama ao Brasil.”

Para Thomas Trebat, ex-diretor da divisão de América Latina do Citigroup, professor e atual diretor-executivo do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Columbia, em Nova York, “é possível que tenha havido um tipo de acordo prévio dos quatro países, mas, do ponto de vista do Brasil, que conheço melhor, essa ação de abstinência de voto é completamente consistente com a linha do Brasil na ONU”.

“A intervenção brasileira tradicionalmente tenta evitar ações militares”, diz Trebat.

Justificativas

Ao justificar a abstenção na votação, os países usaram argumentos semelhantes. A embaixadora brasileira na ONU, Maria Luisa Viotti, disse que o Brasil teme que ações militares exacerbem tensões e façam “mais mal do que bem aos próprios civis com cuja proteção estamos comprometidos”.

O representante da Índia no Conselho, Hardeep Singh Puri, afirmou que não havia clareza sobre detalhes da intervenção e como ela seria executada. Puri também expressou preocupação com possíveis vítimas civis das ações militares.

O Ministério de Relações Exteriores da China afirmou que o país se opõe “ao uso de força em relações internacionais e tem sérias reservas com parte da resolução”.

Um representante do governo da Rússia, por sua vez, disse à agência russa Interfax que um ataque ao território líbio poderia desencadear uma guerra entre o Ocidente e o mundo árabe.

O conceito dos Brics, acrônimo que agrupa os três maiores países em desenvolvimento (China, Índia e Brasil) mais a Rússia, foi formulado em 2001 por Jim O’Neil, economista-chefe do banco americano de investimentos Goldman Sachs.

Em 2006, segundo texto no site do Itamaraty, chanceleres dos quatro países se reuniram durante a 61ª Assembleia Geral da ONU. A partir de então, os países começaram a atuar coletivamente em alguns foros mundiais, embora o grupo tenha um caráter informal, sem possuir um documento constitutivo nem fundos destinados a financiar suas atividades.

Fonte: BBC Brasil

21 Comentários

  1. Logo quando saiu a notícia dessa votação na ONU a primeira coisa que pensei também foi que houve uma articulação dos BRICS, achei estranho e pensei que não fosse possível, mas agora entendi como a banda toca…

  2. Realmente pode ter havido algum tipo de articulação no sentido do BRIC terem se abstido(?) de votar a favor da ação militar que já está ocorrendo. Na minha opinião, equivocada. Kadaffi já está fazendo a faxina na oposição e se continuar no poder, continuará mais forte ainda. E com muito mais repressão do que vinha ocorrendo até agora.

    []’s

  3. Não só existiu uma articulação, como o Brasil foi o responsável pelas consultas, porque está na Presidência do CS. Quer dizer a abstenção é um apoio com ressalvas as medidas propostas, essas abstenções devem ser entendidas como um apoio as medidas, ainda que, o grupo considere que o uso da força pode trazer consequências mais danosas que produtivas.

  4. nao vou mentir, pelos acontecimentos libios, era d fato preciso uma intervenção urgente por la. sim, sou brasileiro, e tbm, odeio guerras.
    mas as coisas passaram do limite por la.
    força aerea atacando população? é inconvebivel.

    espero porem q o confronto num tome proporções, e q kadafi desista o quanto antes, pq bem ou mal, homens e mulheres, civis e militares, estao morrendo por erro d um homem — lembrei de alguma coisa…

    abraços, fuiz, e força ao povo libio, a nação libia, q é o seu povo, e ao japao.

  5. Caros tenho buscado em vão a lista de todos os países membro que votaram a favor da intervenção mas sem sucesso, alguém sabe???

  6. Senhores bom voltar a ler o texto (apesar de longo )sobre o fato do Brasil, a Índia e a África do Sul meteram uma cunha na engrenagem norte-americana, na sua política no Norte da Africa e O.M.
    Nick essa articulação existe e começou com a IBSA, no texto que estou indicando
    o analista da reportagem indica inclusive que a posição da
    India Brasil e Africa do Sul influenciou o voto Chines.
    :http://planobrasil.com/2011/03/15/brasil-india-africa-do-sul-e-a-revolta-arabe/

  7. Não houve voto… A lógica da votação, não é cartesiana, sim e não… Abstenção não significa voto contrário…

    O Conselho de Segurança, como diz o próprio nome, está para a resolução da segurança de todos os povos, e não para interesses individuais ou em grupo de determinada nação…

    Colocar jogo político em um orgão que tem como dever garantir a segurança de todos no planeta, não faz nenhum sentido e é, extremamente arriscado (a guerra fria demonstrou isso… Por duas vezes conhecidas e divulgadas – fora as classificadas -, quase o botão foi acionado)…

    O grande desafio na reforma do CS, não é a própria reforma em si, ou a admissão desse ou daquele membro, e sim, a despolitização do mesmo, transformando de um orgão político com matizes ideologicas – e muitas vezes com intuitos comerciais no ânimo das decisões – para um orgão de segurança que de fato deveria ser)… Vejo como uma espécie de última seguradora do bem estar da humanidade, e pelo que tenho conhecimento, não existem seguradoras apoiadas em ideologias ou colocar em risco por interesses comerciais, aquilo que se segura, vai contra o próprio objetivo da coisa…

    Por N motivos, muitos países não podem apoiar medidas de ataque (por ex. hoje o Brasil não, devido a natureza do povo, mas isso não significa que o mesmo, clame por uma retaliação legal por parte da ONU a algum país amigo do mesmo injustamente atacado ou com sua população em risco (ex. devido a ligação provacada pela imigração e descendentes entre outros), motivo esse, já que em nossa constituição o poder emana do povo, deve ser votado pela interveção, que não foi o caso…

    Acredito, que o jogo político-ideológico devem sair do palco do CS, e ir para outros palcos mais condizentes, como o Tribunal Internacional, OMC, etc…

    Quanto maior o número de membros, menor o problema da abstenção, e maior a legitimação perante outros países…

    Abs.

  8. Caso queiram retirar a abstenção, por motivos óbvios, se retira o poder de veto, e assim, se muda a lógica, talvés, mais adequada aos países do G7 (cartesiana) e demais países que encarem a questão abstenção como negativa para o sistema…

  9. Em tempo: A lógica ficaria como: SIM, a medida adotada é justa e correta ou NÃO, a medida não é justa e correta…

    Colocar na lógica: SIM – está do meu lado e NÃO – não está do meu lado é um pensamento em minha opinião, que cai no problema politização herdada da guerra fria…

    Abs.

  10. O que a Líbia fez ao Brasil? Expulsou algum embaixador? Denunciou o Brasil por alguma coisa? Bloqueou algum bem nosso? Matou civis brasileiros? Ou melhor, algum país da América do Sul teve algum problema parecido? Não.

    O Brasil fez muito bem em se abster. Mostrou que não entrou no trem da alegria em que a maioria foi.

  11. Ja deveriam a tempos termos unidos os BIRCs e mais Africa do Sul e Indonésia ( que por sinal é o pais com maior numero de população Islamica e influente com os Arabes).Não somente em economia e mercado mas acima de tudo em geopolitica-estrategica e ate militar.Mais cedo ou mais tarde seremos nós contra a dominação ocidental,querendo ou não isso sera inevitavel.O problema é justamente a verdadeira posição Russa,porque pensam elem dos BRICs,mas em uma hegemonia plena e unica.Nesse jogo de xadres eles são á Rainha,com plena mobilidade e mortiferos…..Quanto a situação Libia,BRICs a parte ja esta mais na hora de o mundo acabar com aquela bagunça.Aquele que derrama o proprio sangue não é humano e sim um microbio e deve ser erradicado para o bem de seu proprio povo…

  12. Foi voto do BRIC-A sim, mas não foram radicais. Ficaram em cima do muro. China e Rússia não vetaram a proposta,e o restante dos países não votou contra.

  13. Brasil que não se cuide. Se insistir demais nos BRICS vai ser engolido pela China, tornando-se mero fornecedor de commodities. Ganha a China, ganha o Eike Batista, Perde o Brasil

  14. MUITO SANGUE E HIPOCRISIA NO ORIENTE MÉDIO
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    O Brasil jogou, assim como muitos fazem ali;quando CS tentou punir Israel pelas suas atrocidades com os palestinos e o EUA simplesmente vetou,ninguém disse que os americanos não sabiam “jogar” ou amarelarão;…não é interessante?
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    Agora estão todos comovidos com o que acontece com que o nefasto Kadaf faz com o povo líbio?
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    Ora bolas,e o que acontece todos os dia no Afeganistão?
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    Só quero ver o que a CS,irá fazer com o Bahrem e a Arábia Saudita,que estão passando o rodo de ferro na oposição xiita,em quando o mundo fica sensibilizado com o que o sanguinário do Kadaf faz, os reis sauditas faz o mesmo com os civis de lá…não é interessante!_rsrs…

  15. Na atual conjuntura da politica mundial, este(BRICS) é realmente o grande trunfo na qual a politica externa Brasileira, tem que investir toda a sua força.

    Este grupo de nações embora sendo heterogêneo ao fazer uma
    análise rápida, tem tudo a ver porque estas nações tem objetivos idênticos no cenário internacional atual.

    Todas as nações deste grupo, tem preocupação de auto afirmação regional embora já seja as maiores nações das suas regiões, tem um forte potencial de riquezas naturais e até um bom desenvolvimento industrial, solidas democracias, exceto a China, e não tem pretensões ambiciosas de domínio como os EUA e a União-Europeia.

  16. o G7 seriam as sete “antigas” maiores economias, ou grandes economias desenvolvidas, e certamente não as mais industrializadas, isso é que não são mais mesmo!!!

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