A Província Cisplatina (Memória descritiva)

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Sugestão: Gérsio Mutti

Título alterado por sugestão do colaborador

A história da geoestratégia britânica do século XIX sobre a fragmentação do Império espanhol na América do Sul

A Colónia do Sacramento, de que já aqui falei há semanas atrás, fundada por Portugal em 1679 e perdida para a coroa espanhola em 1777, voltou à nossa posse em 1817, quando D. João VI incorporou toda a região do actual Uruguai no Brasil. A região anexada recebeu o nome de “Província Cisplatina”- prefixo cis – do mesmo lado – e platina de Rio da Prata: portanto, do mesmo lado do Rio da Prata (que o Brasil). Durante um século, Sacramento fora por diversas vezes ganha e perdida nas lutas com as tropas espanholas ou nas guerras diplomáticas, até que o Tratado de Santo Ildefonso, assinado em 1777, a fixou como possessão espanhola.

Como sabemos, em Novembro de 1807, D. João VI, ameaçado pela invasão napoleónica, transferiu a Corte para o Brasil. No Congresso de Viena, em 1815, o Brasil foi integrado como Reino, constituindo o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve. Por outro lado, a ida da Corte para o Rio de Janeiro, levou o rei a preocupar-se com o engrandecimento daquela gigantesca possessão portuguesa.

Em 1815, a Casa de Bourbon fora banida do trono de Espanha pelas forças napoleónicas. D. João VI temeu que os espanhóis o imitassem, reproduzindo Espanha no novo Mundo, e na região circundante do rio da Prata nascesse um reino poderoso. Por isso, em 1816, a “Divisão dos Voluntários Reais”, sob o comando do General Carlos Frederico Lécor, invadiu a região oriental, tomou Maldonado e ocupou Montevideu em 1817. Carlos Frederico Lécor, Barão de Laguna (1764-1836) foi um militar e nobre português, mas que serviu o Brasil após a independência.

O Vice-Reino do Rio da Prata, que podia ser a base do tal «reino poderoso» temido por D. João VI, fora criado em 1776. Compreendia os territórios da actual Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai (este último dentro do território conhecido à época como Banda Oriental do Uruguai). Foi criado principalmente como aquilo que hoje designaríamos como zona-tampão, defendendo o império espanhol da cupidez britânica e portuguesa.

O plano português não foi mal recebido no vice-reinado em plena revolução independentista, mas falhou por oposição de Lord Strangford, embaixador britânico junto da Corte portuguesa, pois à Grã-Bretanha convinha a fragmentação das colónias espanholas em pequenos países formalmente independentes. Um novo mastodonte como o Brasil e o sistema de comércio vigente na América colonial impunha um monopólio favorável à Espanha e inconveniente para os interesse económicos britânicos. Pelas mesmas razões, apoiar a expansão dos territórios portugueses nas região, também não interessava à Grã-Bretanha.

Assim, com o beneplácito do Governo de Sua Majestade, começara, anos atrás, a gesta da libertação da América Latina. Simón Bolívar ( 1783 —1830), o «Libertador», conquistava Caracas em 6 de agosto e proclamava a Segunda República Venezuelana. Bogotá, na Colômbia caiu em 1814. Em 1816 a Argentina proclamava a sua independência. No território da banda Oriental, desde 1810, o patriota uruguaio José Gervasio Artigas (1764 —1850) dera também início a um movimento independentista que enfrentou os portugueses até 1820 e depois os brasileiros que, proclamada a sua independência em 1822 mantiveram no entanto a colónia.

Integrando-se neste movimento geral de libertação das colónias espanholas, Artigas juntou-se aos insurrectos, sendo nomeado tenente-coronel pela junta de Buenos Aires. Derrotou os espanhóis na batalha de San José, em 1811, obrigando-os a refugiar-se em Montevideu. Venceu-os também na batalha de Las Piedras e sitiou a cidade. José Artigas, considerado o pai da pátria uruguaia, presidiu ao primeiro governo nacional sendo, no entanto, em 1820 forçado a refugiar-se no Paraguai.

Em 1811, as forças portuguesas haviam ajudado os espanhóis, sitiados em Montevideu, a repelir Artigas e a combater os rebeldes argentinos. Derrotado pelas forças portuguesas na batalha de Catalán, em 1817, Artigas durante três anos remeteu-se à guerrilha. Não podendo mais resistir, após a derrota na Batalha de Tacuarembó em 1820, asilou-se no Paraguai, onde morreu trinta anos depois, sem voltar ao seu país.Com a Independência do Brasil (1822), a Colónia passou a integrar os domínios do novo país até à Independência da República Oriental do Uruguai, em 1828.

Teve então lugar uma prolongada guerra (seis anos) entre o Brasil e a Argentina (que se designava por Províncias Unidas), reivindicando ambos os países a posse do território da Cisplatina. A Grã-Bretanha, a superpotência da época prosseguindo a sua estratégia de fragmentação do império espanhol, obrigou os dois jovens países a assinar um tratado de paz pelo qual reconheciam a independência do novo Estado. Foi em 28 de agosto de 1828 que foi assinado o Tratado do Rio de Janeiro, ratificado em 4 de Outubro do mesmo ano, consagrando a independência do Uruguai. Uma das condições ditadas pelos ingleses era a de o novo estado nunca se unir ao Brasil ou à Argentina.

Comentando o Tratado, um alto responsável britânico, disse: «Pusemos algodão entre dois vidros».

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A vermelho, o Brasil; a Sul, a Província Cisplatina, actual Uruguai.

Fonte: Aventar

12 Comentários

  1. Uma pena D. Pedro I não ter dado a devida atenção a esse pedaço de terra de clima temperado e solo fértil, hoje seria o 4° estado da região sul e teriamos controle sobre o estuário do rio da prata.
    Como sempre, a Argentina no meio do caminho jogando contra, ajudou para a perda de uma parte do nosso território.
    Agora querem apoio do Brasil para ROUBAR as FALKLANDS do Reino Unido.
    Que morram sonhando!

  2. A Inglaterra neste caso nos ajudou por acaso. Realmente puseram um algodão entre dois vidros. Se não houvesse esse tratado do Rio de Janeiro a situação belicosa entre Brasil e Argentina seria hoje muito mais intensa. Menos um estado para cuidar, maravilha.

  3. Bom artigo.
    Vou dar a minha opinião isenta.
    D.João VI invadiu a Colônia do Sacramento, que era da Espanha,a fim de devolvê-la posteriormente para a mesma.
    A Argentina nessa época não estava formada. Era composta por fazendeiros libertadores e altamente aguerridos, que estavam lutando bravamente contra os espanhóis para manterem a sua independência. Estava difícil do Império Brasileiro manter essas posses. A criação do estado tampão do Uruguai foi uma boa solução para o Brasil, pois já estavam invadindo as Missões.
    Revendo a história, já estou achando que a Guerra do Paraguai foi uma conspiração montada por parte dos povos de origem espanhola, pois achavam que o Brasil poderia tentar reconquistar o Uruguai, porém o Império Brasileiro, apoiado pelos ingleses, reverteram a situação, fazendo mudar de lado os governos uruguaio e argentino,colocando pelas armas no poder, os líderes Pro-império. Acho que os argentinos queriam reaver o território paraguaio, incorporando-o, caso contrário não teriam entrado nessa guerra do lado do Império Brasileiro.

  4. A verdade é que o Uruguai era muito importante, o rio do prata era muito importante…sinceramente não sei se a cisplatina fizesse parte do brasil, se mudaria algo na nossa história, a favor, pois como todos sabem nosso país desde aquela época e até hoje é SAQUEADO.
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    Dandolo eu acho que os argentinos de inicio entraram meio que sem vontade na guerra do paraguai, porque estava com medo de tomar nas fuças também, pois se o Brasil perdesse, quem garante que o paraguai fortalecido não ia ciscar em território argentino.
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    Coitado dos argentinos sempre tomando ferro, uma pena eles não atacarem na 2GM, pois iriamos fazer o mesmo que fizemos no paraguai!!

  5. D.João vi foi um zé ruela glutão e chifrudo que fugiu com o rabinho entre as pernas de Portugal e veio ser boi no Brasil.Teve oportunidade de arrendar as terras correspondente ao que é hoje Paraguai,Bolivia,Argentina e Uruguai.

  6. maluquinho, sinceramente, tem alguma figura histórica que você respeita? aliás, você ao menos CONHECE a história de seu país? porque se conhecesse, saberia que esse “zé ruela glutão e chifrudo que fugiu com o rabinho entre as pernas de Portugal e veio ser boi no Brasil” foi muito importante na nossa história… meu Deus, cada uma…

  7. Galileu, os portenhos diziam que os paraguaios eram índios … Li isso em um fórum. Havia discriminação racial.
    Tem muita coisa sobre a Guerra do Paraguai,que está ainda obscura.
    Eu tenho um livro sobre a Guerra do Paraguai aqui na minha casa: afirma que Solano Lopez mandava jogar os prisioneiros negros brasileiros,como refeição para as suas onças.
    Depois da Batalha de Tuiuti, em que o Paraguai perdeu quase todo o seu Exército, Solano Lopez mandou o seu General se vingar. Ele atacou a retaguarda logística brasileira de surpresa, que havia um hospital de campanha, com mulheres, doentes, médicos, comerciantes, padres, etc. Todos foram passados no facão ou na lança.
    Torturaram antes de matar, cortando braços, mãos, pés, furando olhos, estuprando e depois enfiando o facão pela vagina … Horrível. Aposto, que os brasileiros depois fizeram a mesma coisa.
    (colagem)
    Durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), a prática da degola foi largamente empregada pelas tropas brasileiras. Em Maldita Guerra, Francisco Doratioto descreve a execução do coronel paraguaio Caballero, ordenada pelo conde d’Eu: “Atado de pés e mãos às rodas de dois canhões, em frente à igreja e diante de sua esposa, também prisioneira, foi esticado até ficar no ar. Nessa postura, foi intimado a declarar-se rendido e, ao não aceitar, foi açoitado e degolado”.

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