O Brasil é a nova China em energia eólica

Nelson Rocco, iG São Paulo
Entidade que trabalha para o desenvolvimento do setor afirma que o Nordeste tem melhores condições de geração que a Alemanha.

Foto: NYT

Turbinas de geração de energia: custos estão em baixa, favorecendo investimentos

O Brasil se tornou a bola da vez em energia eólica na visão das empresas que atuam no setor, posição detida pela Argentina no final dos anos 1990. Essa é a razão do desembarque das grandes empresas do segmento para disputar os leilões que vêm sendo promovidos pelo governo federal desde o final de 2009. “Todos querem encontrar a nova China e o Brasil está no topo da lista”, diz Steve Sawyer, secretário-geral da Global Wind Energy Council (GWEC).

A capacidade instalada de energia eólica no País era de 606 megawatts em 2009, segundo dados da GWEC, organização não governamental com sede em Bruxelas, na Bélgica, que trabalha pelo desenvolvimento do setor em todo o mundo. No ano passado, diz a entidade, foram acrescentados mais 326 megawatts à capacidade brasileira, elevando o total para cerca de 930 megawatts, quase metade do que está disponível em toda a América Latina.

O norte-americano Sawyer, secretário-geral da GWEC, está bastante otimista com o Brasil. Ele está em São Paulo para o “Wind Forum Brazil 2011”, que se realiza até amanhã. Em entrevista ao iG, disse que o Nordeste brasileiro tem uma das melhores condições climáticas para a geração de energia a vento.

“A taxa de geração de energia de uma turbina de um megawatt é aproximadamente 27% da capacidade plena, na média de diversas usinas no mundo, por ano. No Brasil, há locais em que essa taxa chega a 45% ou 50%. Pode-se dizer que os melhores locais estão no Ceará e no Rio Grande do Norte, com duas vezes mais capacidade de geração que a Alemanha”, conta o executivo.

O crescimento da economia e as condições climáticas têm atraído a atenção das maiores competidoras mundiais do setor, afirma. “O maior sinal é que, desde o leilão de dezembro de 2009, vimos Alston, Gamesa, GE, Siemens, Suzlon e LM Glass Fiber, os maiores integrantes desse setor, se comprometendo a investir.”

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

iG: América Latina já tem uma boa produção de energia eólica ou está em um estágio inicial?

Steve Sawyer: América Latina está num estágio inicial, com o Brasil na liderança, onde deveria estar, mas todos ainda no começo. Porém com o desenvolvimento nos últimos seis ou sete anos, principalmente nos últimos 12 a 18 meses, acho que a indústria no Brasil está entrando no seu caminho. Isso pelos acordos e anúncios do resultado do primeiro leilão de energia eólica ocorrido em 2009, do segundo, ocorrido no ano passado, e próximo que ocorrerá em junho. Investidores internacionais e empresas agora têm uma visão clara de como o mercado deve ser.

Os leilões e o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, do governo federal) garantiram contratos de investimentos na geração de 500 megawatts (MW), sem contar os próximos leilões que ocorrerão neste ano. E há o comprometimento do governo de que fará leilões de outro tanto a cada ano.

Porém penso que o maior sinal é que, desde o leilão de dezembro de 2009, vimos Alston, Gamesa, GE, Siemens, Suzlon e LM Glass Fiber, os maiores integrantes desse setor, se comprometendo a investir e os investimentos virão rápido, acredito.

iG: Quanto você calcula que eles irão investir?

Sawyer: Construir uma usina de geração eólica não requer um investimento enorme, algumas dezenas de milhões de dólares. Não é como uma usina siderúrgica ou algo assim. Mas o tamanho de cada usina, o que irão gerar em empregos e o que irão demandar de capital dependem do desenvolvimento do mercado. Por fim, todas essas grandes companhias têm de reconhecer que o Brasil será um mercado forte e que, pelos nossos cálculos, fará valer os investimentos.

iG: Há alguns anos tínhamos um mito de que os custos da energia eólica eram muito altos. Isso é verdade ou apenas um mito?

Sawyer: É o custo do aprendizado tecnológico. Cada vez que dobramos a capacidade total instalada em uma companhia, os custos tecnológicos caem em torno de 10%. Essa é uma boa teoria e, em geral, ela provavelmente é verdadeira. Mas não leva em conta uma série de coisas, como a baixa demanda das empresas de energia ou o preço das commodities.

O preço da tecnologia tem caído muito por conta do processo de produção, da eficiência que as geradoras têm conseguido. Tivemos um pico de custos em 2007, quando a indústria estava realmente no auge, a demanda estava muito maior que a capacidade, processo que foi interrompido com a quebra do Lehman Brothers (em 2008). Agora os preços voltaram a subir novamente.

iG: Você poderia nos dizer quanto custa uma turbina?

Sawyer: Varia muito, de acordo com o tipo de turbina, as condições de vento que ela deverá enfrentar e onde será fabricada, além de muitos outros fatores. Mas de acordo com a Bloomberg New Energy Finance (uma publicação especializada), do início desta semana, as instalações para cada megawatt de energia gerada estavam em cerca de US$ 1 milhão no ano passado, menos do que era necessário em 2005.

iG: Então estamos em uma boa época para investimentos…

Sawyer: Estamos em um momento muito bom e o Brasil, especificamente, porque há capacidade excedente de produção ao redor do mundo, o mercado tradicional para energia eólica nos Estados Unidos e na Europa está fraco, e o crescimento tem sido transferido nos últimos anos para a China, a Índia, outros países. A China já ficou grande demais hoje e dobra sua capacidade a cada ano. Por isso, principalmente os fabricantes europeus, estão desesperados para novos mercados. Todos querem encontrar a nova China e o Brasil está no topo da lista.

iG: Você já conhece nossas fazendas geradoras?

Sawyer: Algumas delas. Para mim, o Brasil tem uma das melhores condições de vento no mundo, particularmente na costa do Nordeste. Há vento muito forte em toda a costa, sem muitas turbulências, com poucas tempestades. Então está entre as melhores condições no mundo.

Há várias maneiras de medir o vento como fonte de energia. A taxa de geração de energia de uma turbina de um megawatt é aproximadamente 27% da capacidade plena por ano, na média de diversas usinas no mundo. Porque o vento sopra o tempo todo, mas nem sempre a turbina consegue chegar à sua capacidade total. No Brasil há locais em que essa taxa chega a 45% ou 50%. Pode-se dizer que os melhores locais estão no Ceará e no Rio Grande do Norte, com duas vezes mais capacidade de geração que na Alemanha.

iG: A produção de energia eólica do Brasil é significativa se comparada às outras fontes? O que você prevê para a produção do País?

Sawyer: Não sei exatamente, mas é menos de 1% do total das fontes. As previsões dependem de uma série de fatores, como quanto o Brasil continuará crescendo, se 5%, 6% ou 7%, como no último ano; quanto será a demanda para a energia elétrica e para a eólica e para a proveniente do gás e da biomassa; além de quanto será investido em cada uma delas.

Depende também de quando o País passará a cobrar pelas emissões de gás carbônico e qual será seu impacto no setor de energia. Vocês hoje não pagam pela emissão, mas passarão a pagar a partir de 2020, se não me engano, e isso trará efeitos nas decisões de investimentos.

Mas não vejo razão de o Brasil não alcançar em energia eólica de 15% a 20% de toda a capacidade de geração instalada até 2020, se as condições ajudarem, fornecendo de 8% a 10% de toda a energia elétrica. Mas isso depende de decisões políticas e de decisões de investimento.

iG: A Argentina também tem uma boa capacidade de geração eólica. O que houve com eles que perderam o passo?

Sawyer: No final dos anos 1990, a Argentina seria o lugar em termos de energia eólica na América Latina. É engraçado. Néstor Kirchner (1950-2010) era um grande torcedor para atrair investimentos para Santa Rosa e Patagônia. Seriam feitos os primeiros investimentos para construir nesses locais as primeiras fazendas de energia do País. Nós estávamos excitados porque ele acabou sendo eleito presidente. Porém, quando foi para Buenos Aires, ele esqueceu tudo sobre energia eólica, tudo sobre nós.

Depois disso, os argentinos tiveram a crise cambial, a crise econômica e uma série de problemas. No último ano, eles realizaram pela primeira vez um leilão de energia eólica. É um projeto pequeno, de 27 megawatts de geração, mas é o primeiro em aumento de capacidade de energia em muitos anos.

Fonte: Último segundo

17 Comentários

  1. Eh…segundo o “jenio” FHC no último programa do PSDB disse que “o Brasil tem muito vento”. Pena que ele descobriu tarde.

  2. Demanda para energia elétrica é o que não falta nesse país. Se o governo investisse em fontes que dependam exclusivamente de energia elétrica a necessidade dessa energia seria elevadíssima.
    Um exemplo seria as maiores cidades possuírem trólebus como principal fonte de energia, demandando proporcionalmente mais energia eólica. Como o trólebus é um ônibus caro devido, justamente, á pouco interesse das viações por esta tecnologia não ter apoio do governo, o uso em larga escala diminuiria o custo unitário do veículo, resultando em mais demanda desse modelo. Isso sem falar dos metrôs e trens de superfície (tanto de carga como de passageiros).

  3. Parece que a capacidade brasileira para a energia eólica chega ao equivalente gerado atualmente pelas hidroelétricas e hoje as fazendas podes se situar a pelo menos 100km da costa.
    abç

  4. Eu ainda prefiro as Hidrelétricas… a força da água para transformação de energia einda é bem maior que a do vento,
    Mas para uma região carente de rios que nem o Nordeste é uma excelente alternativa energética.

  5. O Nordeste tem potencial para grandes geradores eólicos, mas quase todo o território brasileiro tem potencial para geradores prediais urbanos e rurais. A geração do Nordeste tem perdas na transmissão para os centros consumidores do Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Uma produção de energia descentralizada, localizada nos próprios centros consumidores, embora com rendimento menor, tem menos perdas de transmissão e pode equiparar no custo/benefício. Nesse caso, vejo a região Sul como grande chance para a energia eólica de pequena escala. A alta produção dos pequenos geradores acaba barateando o custo e consolidando a aplicação nas cidades e no campo.

  6. Energia Solar! Essa deveria ser a solução.
    Eólica acho melhor no mar , em terra deve ser muito barulhenta.(Já mediram o barulho ?)

    abrc.

  7. Por questão de segurança essas instalações sempre ficam em lugares isolados o barulho é o de menos, mas é isso mesmo investi tanto em energia solar, eólica, hidroelétrica, nuclear e o que aparecer nosso país precisa de energia elétrica para continuar a crescer.

  8. Energia Aeolica e a bola da vez, a tecnologia melhorou muito neste setor, e o Brasil, tem talvez o maior potencial nessa arae..
    Outra coisa, na minha opinião é a tecnologia que causa menos impacto no meio ambiente… pode causar para algumas pessoas poluição visual, mas para mim é muito bonito, eficiente e rápido para instalar…
    Outra coisa, sem falar na parte estrategica, podemos instalar em varios pontos do Brasil, seras, morros… ficaria muito dificil para alguem conseguir liquidar tal fonte de energia no caso de guerra… “Não tem como parar vento!!
    Abração

  9. Energias verdes, balela!
    Se é uma tecnologia que não dominamos, vamos importar tudo, no máximo montar aqui, mas ao mesmo tempo dominamos a energia hidrelétrica e nuclear, por qual razão voltar a estaca zero?

    Para que uma energia, gerada por uma fonte cara e ineficiente (sem vento não funciona a eólica, sem sol não funciona a solar), se podemos continuar a investir em formas mais baratas?

    “Grandes empresas desembarcam”, “diz Steve Sawyer”, ora, se essas fontes são tão maravilhosas assim, porque essas empresas vem de países pontilhados por usinas termoelétricas, nucleares e hidrelétricas?
    Isso é típico desses “ecopilantras”, não vendem seus peixes podres na Europa, EUA e afins, e aí vem nos empurrar essa “bombas”, e nós engulimos e garantimos o lucro absurdo deles.
    Hoje nos buscam por que perderam a China, que acordou da lorota.
    A idéia pode ser até boa, mas a conta será salgada, muito salgada. Quem viver verá. Ou não.

  10. Eu bolei um novo tipo de captação de energia, que tornará todos os outros sistemas obsoletos. Energia Hidrotérmica.
    Serve para mar, rios e lagos.

  11. O problema que geralmente não dizem, é que esses geradores ficam na direção exata do vento que as aves utilizam para migração, tem muita ave se dando mal nessa história, o melhor é investir grana em reatores nucleares mais seguros.

  12. Acredito que nenhuma nação deveria se ver dependendo de um punhado de opções. No caso do Brasil ainda mais pelo potencial nas diversas áreas.
    Aproveitar as potencialidades naturais, como a eólica pro nordeste, é não só o modo mais inteligente como também seria uma oportunidade unica de desenvolver de maneira mais eficaz, tecnologia que ainda não dominamos.
    abç

  13. “No caso do Brasil ainda mais pelo potencial nas diversas áreas.”
    Pois é, Fernandez, temos enorme potencial energético em diversas fontes (hidroelétrica, nuclear, biomassa, petróleo) e o que precisamos é de um plano que preveja (e quiçá obrigue) investimentos para diversificar nossa planta, para não acontecer o que aconteceu em 2000/2001, quando, por causa da estiagem prolongadas, houve racionamento de energia… PQP, um país com o Pré-Sal, dono de uma das maiores reservas de urânio e tório do mundo, com uma capacidade ímpar para produzir biocombustíveis/energia de biomassa passar por racionamento de energia beira o ridículo…

    Abraço

  14. Obtenção de energia é água, nunca foram críticos para nenhum país desse planeta.Isso é balela.
    A chuva não vai parar e o oceano não vai secar.
    A China está fazendo um túnel, para a água ir de um lado a outro do país. O deserto deles vai virar floresta.
    Simples … um túnel condutor de água.
    Poderíamos fazer a mesma coisa da Foz do Amazonas, para a Caatinga. Deve dar uns 1000 km.
    Tudo em nossa volta é ENERGIA.
    Eu tenho um projeto em mente, do carro elétrico sem bateria. Pode até ser adaptado ao carro comum em 10 minutos.
    Alguém estaria interessado ? Quem sabe os curitibanos, que gostam de projetos desse tipo.

Comentários não permitidos.