O ativista e ganhador do Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei disse nesta sexta-feira que poderia concorrer às eleições presidenciais do Egito “se o povo egípcio assim o pedisse”, rejeitando a notícia veiculada por um jornal austríaco de que não disputaria o cargo.
“Não é verdade”, disse ElBaradei em entrevista por telefone à rede Al Jazeera. “Se o povo egípcio quer que eu continue o processo de mudança, não vou desapontá-lo”.
Questionado se quer concorrer à Presidência, ele diz que está “pronto para assumir um papel para ajudar o Egito a alcançar a mudança política”. Ele também afirma que irá considerar disputar o cargo “se houver perspectiva de eleições justas e livres”.
Segundo o jornal austríaco “Der Standard”, ElBaradei teria dito que o ditador do Egito, Hosni Mubarak, deveria renunciar imediatamente, mas que ele deve ser capaz de fazê-lo com “dignidade”.
“Não, eu não vou participar. O melhor que posso fazer é agir como um agente de mudança”, teria dito o oposicionista ao jornal, quando perguntado se iria se candidatar às eleições presidenciais.
“Naturalmente quero ter um papel no futuro, mas quem está na eleição não é realmente tão importante no momento.”
TRANSIÇÃO IMEDIATA
O premiê egípcio, Ahmed Shafiq, disse nesta sexta-feira à rede de TV Al Arabiya que é “pouco provável” que o ditador do país, Hosni Mubarak, ceda o poder a seu vice, Omar Suleiman, como teria sido cogitado pelo governo dos EUA e pela comunidade internacional, que continuam a fazer pressão pela transição de poder imediata.
“Precisamos do presidente por razões legislativas”, disse ele à TV Al Arabiya.
Segundo o “New York Times”, a Casa Branca discute com dirigentes egípcios “várias opções” para que Mubarak saia do poder sem desestabilizar o país. Uma das possibilidades seria ceder o poder a um governo de transição dirigido por Suleiman.
No entanto, autoridades egípcias parecem resistir a fazer a transição imediatamente. “Mais de 95% do povo egípcio votaria para que o presidente completasse seu mandato, e não saísse agora, como os EUA e alguns países ocidentais defendem”, disse Shafiq.
O premiê e sua equipe tentam se redimir e mostrar uma face moderada ao público, pedindo desculpas pela violência causadas por partidários de Mubarak nas ruas, e prometendo implementar a ordem e a democracia.
O novo ministro das Finanças, Samir Radwan, disse à agência Reuters que o prejuízo econômico devido aos 11 dias de protestos será “enorme”. O turismo, centrado nas pirâmides e nos resorts à beira mar, já sofre grande perdas.
Segundo Radwan, o governo disponibilizou um fundo de US$ 850 milhões para indenizar as pessoas que tiveram suas propriedades danificadas.
PROTESTOS
Centenas de milhares continuam nas ruas do Cairo e de outras cidades, pedindo a queda de Mubarak, que está há quase 30 anos no poder. O principal centro dos protestos é a praça Tahrir, no centro da capital.
A manifestação estava sendo realizada pacificamente no Cairo nos primeiros dias, e os partidários do presidente –que provocaram confrontos violentos nesta quarta e quinta-feira– não estavam visíveis perto da praça, onde o Exército mobilizou dezenas de veículos. O movimento de contestação, chamado “Sexta-feira da Partida” esperava reunir 1 milhão de pessoas no país, no 11º dia da revolta que já deixou ao menos 300 mortos e milhares de feridos, segundo a ONU.
“É um movimento egípcio. Todo mundo participou, tanto muçulmanos como cristãos, para exigir os direitos que lhes roubaram”, declarou o imã que liderou a oração, identificado como Khaled al Marakbi pelos fiéis reunidos na praça.
A oração ocorreu sob os olhares atentos dos militares, mas de maneira pacífica após dois dias de violentos confrontos entre manifestantes da oposição e apoiadores de Mubarak, no poder há 30 anos.
O ritual, dirigido por um imame, foi seguido com grande fervor por manifestantes da oposição que estão chegando maciçamente ao local. Em seu sermão, o imame solicitou orações pelos mortos da revolta popular um pedido que foi seguido com lágrimas por muitos dos participantes do ato.
Tão logo acabou a cerimônia, as pessoas começaram a gritar “vá embora, vá embora já” para pedir a renúncia de Mubarak.
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