Serão as terras-raras uma nova fonte de conflito?

Marie Béatrice Baudet

Terras-raras? Um conto estratégico, cuja heroína é a China e os figurantes são o resto do mundo. Consideremos: Pequim hoje dita as regras no mercado desses 17 metais de propriedades químicas e eletromagnéticas indispensáveis para as tecnologias de ponta.

A China garante 95% da produção desses metais, possui um terço de suas reservas mundiais e, desde 2006, a cada ano restringe um pouco mais (-35% para o primeiro semestre de 2011 em relação ao seis primeiros meses de 2010) suas cotas de exportação, em detrimento da indústria japonesa e ocidental.

De Washington a Tóquio, há indignação e protestos. Mas se esquecem de dizer que foram eles que deixaram isso acontecer…

A desistência dos países ocidentais

O interesse de Pequim pelas terras-raras começou bem antes da máxima pronunciada na primavera de 1992 por Deng Xiaoping: “O Oriente Médio tem o petróleo… a China tem as terras-raras”.

Logo nos anos 1960, lembra John Seaman, pesquisador no Instituto Francês das Relações Internacionais (Ifri), os chineses entenderam que esses metais eram um recurso do futuro e começaram a investir em sua produção.

As autoridades liberaram verba pública, as empresas empregaram uma mão de obra barata, e a questão da poluição associada à extração das terras-raras foi abafada. No final dos anos 1980, os baixíssimos preços das terras-raras chinesas prejudicaram a indústria americana, que até então dominava o mercado, graças à exploração da mina californiana de Mountain Pass.

Pequim desenvolveu não somente suas jazidas, mas também um verdadeiro conhecimento na transformação industrial – muito complexa – das terras-raras. A partida estava ganha. Os concorrentes desistiram e fecharam suas minas, que deixaram de ser lucrativas. Essa desistência conseguiu irritar Augustin Roch, pesquisador do Instituto das Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS): “Os ocidentais pensaram em termos de custos, esquecendo-se totalmente do valor estratégico dos 17 metais. Eles cederam ao curto prazo. E hoje se arrependem amargamente”.

Uma arma política e econômica

A dianteira tomada pela China dificilmente será alcançada. Isso porque seu monopólio sobre as terras-raras não se limita a uma simples arma política que serve para ser exibida quando surgem tensões diplomáticas com vizinhos.

É também, e acima de tudo, uma nova prova do restabelecimento do atual equilíbrio econômico mundial. Pequim dispõe de meios para se tornar o centro daquilo que Augustin Roche chama de “a indústria industrializante” do século 21, a saber: as energias limpas (solar, eólica, carros elétricos, etc.), cujos investimentos cresceram 230% desde 2005.

As terras-raras incluem, entre outros, o neodímio, do qual 1 quilo é necessário para fabricar o motor de um Prius, carro híbrido da Toyota. O metal também interessa à indústria do vento, pois suas capacidades eletromagnéticas não só melhoram o funcionamento das turbinas eólicas, como também diminuem seus custos de manutenção.

A resposta se organiza

Os países dependentes das terras-raras chinesas estão se preparando para o combate. Os primeiros a reagir são aqueles (Japão, Estados Unidos e Alemanha) que temem que suas bases industriais – semi-condutores, indústria de defesa (que também consome muito de terras-raras), telefonia, etc. – sejam prejudicadas.  Embora se ouça cada vez mais um apelo pela reciclagem de terras-raras, assim como pela pesquisa de possíveis substitutos, a tendência é priorizarem a reabertura das minas.

Isso porque, paradoxalmente, as terras-raras são abundantes. A americana Molycorp Minerals reabrirá este ano a mina de Mountain Pass, beneficiando-se de empréstimos garantidos, entre outros; a Japan Oil Gas and Metals National Corporation, órgão estatal, ajudará a indústria japonesa a garantir suas reservas aumentando o número de parcerias com os países que possuem terras-raras: Vietnã, Índia, Cazaquistão, Austrália, Namíbia, Brasil e Canadá. No dia 4 de outubro de 2010, a chanceler alemã Angela Merkel inaugurou, em Hannover, uma agência para as matérias-primas destinada a melhorar a colaboração entre seu governo e a indústria.

Nathalie Alazard, diretora de Economia e Observação do Instituto Francês do Petróleo (IFP), nota: “Temos a impressão de estarmos revivendo o que se passou em 1973, após a guerra do Yom Kippur, quando os países árabes fecharam as comportas do petróleo. Foi preciso desenvolver outras fontes de produção e aprender a racionalizar os custos. Enfim, foi necessário buscar em outros lugares”.

Como observa o economista Philippe Chalmin, a reabertura das minas se tornou possível graças à China, cuja política de restrição das terras-raras causou uma disparada nos preços: “Assim como com o petróleo, estamos vivendo a questão da boa gestão de sua renda por um país em situação de monopólio. Quando ele deixa os preços subirem demais, maximiza seus lucros, mas também atiça a cobiça de novos interessados na exploração”.

Segundo os especialistas, serão necessários dois ou até três anos para que as primeiras minas reabertas rendam suas terras-raras. E quinze anos, segundo John Seaman, para recriar todo o setor americano, desde a extração até a transformação. Até lá, as coisas podem mudar. Alguns chegam a imaginar que a China abandonará todas suas cotas de exportação, provocando uma queda nos preços, acabando então com as esperanças de rentabilidade das minas de seus concorrentes.

Fonte:  UOL

Comentário konner:

É crescente a preocupação dos países da União Europeia (UE) com uma projetada escassez de matérias-primas fundamentais para manter a competitividade do bloco. Para garantir a produção de tecnologia de ponta, os países do bloco precisam importar aproximadamente 40 tipos de recursos naturais (Deutsche Welle, 27/08/2010).

Como exemplo, citam-se circuitos elétricos e eletrônicos modernos, catalisadores de gás de escapamento e imãs por conterem matérias-primas que não são inesgotáveis e já passaram a ser comercializadas com certas restrições pelos países que as exploram, como a China.

Pequim anunciou recentemente uma redução de 40% nas exportações desses minérios raros.

«Os chineses querem atrair para o país a tecnologia de processamento e elevar, consequentemente, o valor agregado», comentou Hubertus Bardt, especialista em matéria-prima do Instituto de Economia Alemã (IW), sediado em Colônia. Para Bardt, a UE precisa assegurar, por meio de pressão diplomática e negociações comerciais, que a China não explore seu monopólio para além da medida.

Fonte do comentário – Ambientalismo

17 Comentários

  1. na minha opinião ta certa a china agora eu quero ver a dita europa de primeiro mundo aque ela vai fazer chorar.. rsrsrsrsrsrsr não adinata ter dinheiro e tecnologia se vc não tem materia prima…
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    Ps. a europa e os eua sempre fizeram o msmo com o petroleo…

  2. Lá na china ninguém vai meter o bedelho porque além de forças armadas bem equipadas, eles têm armas atômicas para imporem respeito, agora o Brasil é que se cuide, senão o já comprovado nióbio da cabeça do cachorro e o urânio da “serra do sol”, já eram!
    Comvem lembrar que existem 200 formações geolôgicas parecidas com a do do morro dos seis lagos na amazônia que ainda não foram pesquisadas, portanto, a possibilidade de jazidas de terras raras e outros minerais na região, é enorme.
    Por aí, dá para se ver a razão da cobiça internacional sobre a região; engole essas “ONGs”, quem quer.

  3. AS TERRAS RARAS QUE NÃO SÃO TÃO RARAS.
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    Apesar de o nome sugerir escassez, há jazidas em vários países, mas o seu processamento é caro e altamente poluidor. Isso explica o predomínio da China na mineração e no refino nas últimas décadas. Em 2009, por exemplo, respondeu por nada menos que 97% da produção mundial.
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    Estimativas dão conta de que as reservas brasileiras somam algo em torno de 48 mil toneladas, quantia suficiente para abastecer uma futura demanda interna e, se houver excedente, exportá-lo. Mas hoje não há nenhuma jazida em exploração.
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    O investimento do Brasil na pesquisa de refino e uso de terras raras recebe pouca atenção do governo.
    Alem de tudo pra piorar cade o parque industrial nacional que faz uso desses materiais, fabricas de lâmpadas LED, celulares, games e notebooks, carros elétricos,miniaturizada do ímã, misseis… etc…etc..
    Vamos enfiar terra rara aonde.
    Abs

  4. Eles tem as terras raras e nós e os EUA temos as terras férteis.No no final quem sobrevivera,eles com seus minerios e pança colada na espinha ou nós?Essa visão de disputa por energeticos e minerios estrategicos habita o raciocineo de todos mas esquecem-se do vital a vida ea sobrevivencia que é agua potavel e viveres que sera a prioridade deste seculo e nós vamos bem nesse substancial quesito.

  5. Taí um exemplo a ser seguido. Mesmo que a longo prazo o controle e conseqüente aumento dos preços da matéria obrigue outros países a “se virar”, até o lucro é garantido. Quanto a China já não lucrou com essa “brincadeira”?

  6. “Serra do Sol” … Meus Deus, que bobagem os nossos políticos fizeram. Dá vontade de chorar.
    O Brasil deve ter muita terra rara. A Vale do Rio Doce está sendo fiscalizada ? Será que eles exploram apenas minério de ferro ?

    Pois é … O mercúrio não é terra rara, mas acho que será a substância mais importante em futuro próximo. Motivo: Antigravidade.

    O Brasil tem praticamente o monopólio do Nióbio. Por quanto o estamos vendendo ?

  7. BRASIL E A SUA ECONOMIA COLONIAL.
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    “(..)Depois da China, é a vez da Índia. Um novo gigante asiático despertou seu apetite pelas matérias-primas brasileiras, provocando temores de que se repita uma relação comercial “colonial” de exportação de commodities e importação de produtos manufaturados.(….)”
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    (trecho do original:Índia avança nas commodites)
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    ————–(fonte:estadão/economia-16/01/11)
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    De volta ao passado na época do “plantation”,no tempo Brasil colônia.

  8. Lucena:

    Ao ser perguntado acerca do comércio Brasil-China o nosso ex-chanceler cortou a o entrevistador com a frase “nosso superávit com a China está em US$ 7 bilhões”….Entretanto, uma análise detida da balança comercial dos dois países reflete uma relação ao melhor estilo colônia-metrópole. Por que? Salvo raras exceções nossas exportações são de commodities tais como ferro e produtos agrícolas. Pior: muitas de nossas commodities voltam na forma de produtos industrializados que, vendidos a preços baixos, terminam por configurar-se em concorrentes desleais aos produtos nacionais sem que o governo faça nada a respeito para proteger as indústrias locais.

  9. GUERRA POR PÃO E ÁGUA.
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    “(…)No final do ano passado ocorreram protestos na China pelos altos preços das refeições dos estudantes do ensino secundário, e na Argélia, pelo aumento do preço da farinha, do leite e do açúcar. Os argelinos voltaram a tomar as ruas na semana passada para protestar contra as duras condições econômicas. As manifestações terminaram com três mortos e centenas de feridos, enquanto que, na vizinha Tunísia, distúrbios similares causaram pelo menos 20 vítimas fatais.(…)”
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    (Título do trecho original:”Os sintomas de uma nova crise alimentar mundial”-fonte:geopolítica Brasil-em17/01/11)
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    A comida será bem a tônica das guerras nos países na Ásia e África.
    Nações como a China e a Índia provavelmente estarão motivadas por conquista de terras agricultável para aliviar as tenções de seu respectivos povos por comida e água.
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    -hms tireless,para mim o Brasil tem que ter uma política sobre a sua matéria prima;pois o que nos impede de vender produtos mais elaborados e com bom valor agregado?
    O Brasil,corre o mesmo risco que a Venezuela,um país com um parque industrial sucateado.
    O Brasil,tem o dever de ter uma política industrial mais agressiva no estilo chinês e indiano,pois condições para isso nos temos,só falta empenho político.
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    abraços.

  10. lucena disse:

    O Brasil,corre o mesmo risco que a Venezuela,um país com um parque industrial sucateado.
    O Brasil,tem o dever de ter uma política industrial mais agressiva no estilo chinês e indiano,pois condições para isso nos temos,só falta empenho político.
    .
    abraços.

    So um detalhe amigo o brasil e medroso,desinteresado com sua soberania exemplo a porcaria do fx2 isso e um circo
    porque não compra 40 f35 ja que dilma e embraer e fab tem interesse no negocio com os americanos e faz engenharia reversa nesse avião para um dia usar contra seus agressores os americanos,
    Mais isso não sera feito pois nosso pais e ganancioso so pensa em dinheiro tomara que amazonia ja tenha sido comprada assim o brasil aprendera a não pensar so em dinheiro e dar mais valor a sua soberania o brasil não e o melhor e numca sera devido a ganancia ate na defesa do pais mais deveria ser esforçar para deixar de ser o pais fraco,medroso,e insignificante que e comparado a suecia,holanda,india e outros

  11. Eu to com o maluquinho1.

    Abram os olhos vocês e não o governo brasileiro. A próxima crise de escassez é de alimentos e é só reparar no meu calculo básico de matemática aplicada.

    Clima + Controle = Calendário

    Calendário + Plantação = (Colheita + Lucro)

    Calendário – Controle = Caos climático

    Caos climático + Plantação = (Prejuízo + Fome)

    Façam as cotações senhores e vejam se o que subiu mais foi o notebook feito de terras raras, ou o seu carro feito de minérios cobiçadíssimos.

    Tivemos um aumento nos preços dos alimentos básicos de 2010 para 2011 como feijão, arroz, derivados do leite, verduras e legumes etc… Sendo alguns itens chegando a 70%.

    Melhor preparar o estoque 2011 vem que vem…

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