Autor: E.M.Pinto
Plano Brasil
A ladainha
O assunto está mais que chutado e batido, não faltam versões na internet e nos corredores por ai afora. No epicentro das críticas está a postura do estado brasileiro e das instituições envolvidas no melindroso program de aquisição de caças pra a Força Aérea Brasileira.
Dúvidas, falsas alegações e a cada dia que passa surgem novas datas para a definição porém, os únicos atos e fatos concretos que cercam o programa FX 2, são os que envolvem a polêmica.
Para nós admiradores e contribuintes (eleitores), fica apenas o desejo de que o processo se resolva da melhor forma e que o passo seguinte seja mais ambicioso, pragmático e correto.
Após o FX 2 a FAB fatalmente necessitará de algo mais e não poderemos esperar mais 15 anos para decidir aquilo que chamamos o “pós” F X2.
É necessário decidir o atual e iniciar já os estudos e desenvolvimentos do “pós” F X2, para que na altura necessária se possa contar com algo concreto. Tecnologia de verdade não se compra nem se empresta e só há um caminho o do desenvolvimento, não há outro…
Atendendo ao pedido de muitos leitores, tentei aqui resumir e passar a minha impressão pessoal sobre o programa mediante algumas de suas questões as quais selecionei e espero poder elucidar, não prometo, mas poderei responder as outras questões em artigos futuros…
Para que o FX 2?
Antes de mais nada, destaca-se que a FAB não deseja pura e simplesmente trocar 120 caças de vários modelos e de diferentes estágios tecnológicos por um vetor mais moderno e de melhor performance. Há algo mais no programa FX2 que não se resume trocar 6 por meia dúzia.
A FAB quer se atualizar aos cenários atuais e se projetar para o futuro, adquirindo para isto capacidades que não dispõe, e para tanto é necessário desenvolver além dos sistemas, as doutrinas e capacidades de forma a absorver em alguns anos, todo o arcabouço técnico e doutrinário do qual esteve sem acesso e conhecimento até então.
Destaca-se que, apenas agora a FAB considerou operacional a sua capacidade de combate BVR (beyond visual range) ou seja capacidade de combater a distância além do alcance visual. Este é um dos exemplos do quanto atrasados estivemos e o quão necessário é desenvolver ao longo das próximas décadas tudo o que envolve as doutrinas de emprego e os sistemas que ela necessita, até que se possa galgar espaço na vanguarda tecnológica e militar mundial.
Neste ponto, salienta-se que a problemática não se resume apenas aos problemas técnico e econômicos, mas também, de pessoal, treino, desenvolvimento e capacitação.
A Força Aérea Brasileira está “sucateada” e defasada. Os esforços e a luta diária para efetuar os upgrade nas atuais aeronaves são bastante positivos, mas é preciso encarar o problema com seriedade e sem paixões pois estas são medidas paliativas e ainda insuficientes, necessárias, porém, não definitivas.
A FAB já perdeu faz muito tempo a liderança e supremacia aérea na América do sul. Nossos pilotos demonstram capacidade e adestramento em níveis internacionais, entretanto, vontade e treino não são os únicos fatores que decidem a superioridade de uma nação sobre a outra num eventual conflito.
Os upgrade efetuados nos A-1 e F5, tornaram nossos caças tecnologicamente atualizados à média mundial, a eletrônica embarcada é superior a muito do que se vê em potências militares mundo a fora. Porém, as quantidades são insuficientes e por se tratarem de vetores de projetos antigos (mais de 40 anos anos em alguns casos) estes caças não são pário para os desafios desta meia década, pos devido ao surgimento de caças de alto desempenho concebidos para os cenários atuais e futuros, não lhes deixam chnaces, pois possuem capacidades superlativas em relação aos nossos.
Se os nossos caças já são inadequados para os cenários atuais, o que dizer do futuro?
A FAB então necessita acompanhar a evolução dos sistemas de armas e eletrônicos embarcados, necessita dispor de vetores e armamentos capazes coibir toda e qualquer ameaça antes que ela se configure. Isto significa ser dissuasora e para tanto, faz-se necessário a evolução tecnológica e atualização às tecnologias vigentes.
Por sua vez, o programa do caça não se resume única e exclusivamente em comprar o que o mundo oferece, esta tem sido a prática do Brasil até então. Esta prática é sem dúvida uma das razões pelas quais a FAB encontra-se neste atual estágio “sucateado”.
Ressalta-se que quando FAB “comprou” os Mirage III, estes vetores eram considerados os melhores interceptadores da sua época, Israel e seus hábeis pilotos lograram vitórias e supremacia diante dos seus inimigos utilizando estes mesmos caças Mirage III, porém, sem um programa de atualização, sem revitalização sem poder acompanhar a evolução tecnológica , os M III tornaram-se num curto espaço de 20 anos em sucatas voadoras.
Neste mesmo período, a Dassault, Fabricante do M III desenvolveu o Mirage 5, Mirage F1, Mirage 2000, Mirage 4000 (projeto) e até mesmo o Rafale, na Suécia e EUA (ambos concorrentes do FX 2) ocorreu o mesmo, todos frutos da evolução constante dos programas.
Todos estes programas faziam parte do caminho necessário para se manter atualizado e moderno ao longo dos anos, e o Brasil? O que fazia neste mesmo período com os seus Mirage III? Operou-os quase que no estágio tecnológico em que se encontravam quando foram adquiridos.
Mas então para que serve o programa FX 2 além de substituir os atuais caças?
O programa FX 2 tem algo de bastante correto e objetivo, pois não se trata de um programa para única e exclusivamente substituir os caças da FAB e sim, de um programa do qual a FAB (e as empresas brasileiras envolvidas) além de substituir a sua frota geriátrica, deseja obter “alguma”, tecnologia ou capacidade, as quais pretende empregar num futuro vetor nacional.
Isto significa que:
- O Brasil não quer mais “comprar” aquilo que é oferecido, esta compra deve ser seguida de contrapartidas tecnológicas, comerciais e diplomáticas, pois espera-se uma contrapartida geoestratégica entre o país fornecedor e o Brasil como um todo.
- O Brasil quer desenvolver tecnologias, mas para isso não adianta reinventar a roda. Forçosamente é necessário fazer parcerias e este é sem dúvida o caminho mais curto e prático, mas não, o mais desejável.
- Neste caso específico da capacitação, não adianta adquirir pura e simplesmente o programa mais avançado e tecnologicamente superior sem se levar em conta a capacidade de absorção do off set, pois em 15 anos toda e qualquer tecnologia dele, estaria defasada. Caso a indústria nacional não tivesse capacidade ou pudesse contribuir para sua evolução, ela se perderia novamente. O caça em questão seria o que hoje é para nós os caças F 5 e Mirage 2000, plataformas passíveis de upgrade, mas infinitamente longe de ser o ideal para as nossas necessidade; Portanto, seria necessário mais um dispendioso programa de aquisição de um novo vetor e sistemas para substituí-lo.
- O Brasil não desenvolverá um caça 5G ou 6G sozinho, pelo menos por um bom tempo não terá capacidade de fazer isto, portanto, o que se quer no FX 2 é tentar absorver tecnologias e adquirir know how naquilo que for possível, para então poder evoluir seu vetor (seja ele qual for) até um estágio tecnológico atualizado e com isto poder aplicar suas tecnologias nos futuros vetores.
Por esta razão o que se quer é um 4.5G pois a intenção é desenvolver ou adquirir um 5G-6G futuramente e ai sim, nele introduzir as tecnologias que se quer ou que se pode.
Há riscos de não haver transferência de tecnologia- (os offset)?
Sim há e é inerente ao vencedor, mais do que isso, é decorrente de inúmeros fatores que não dependem exclusivamente do vencedor (EUA, França, Suécia). Muito da limitação em absorver as tecnologias pretendidas são fatores que dependem do Brasil, gostaria de enumerar apenas algumas delas para fixar a ideia:
- Continuidade orçamentária:Sem os recursos orçamentários necessários ao longo das décadas que virão, nenhum dos programas poderá sobreviver. No campo da defesa os investimentos de décadas são necessários para suas evoluções e adaptações.
- Mão de obra e planta industrial capaz de absorver:Algumas tecnologias desenvolvidas por décadas requerem capacitação profissional da qual um punhado de países possui pessoal capacitado, por exemplo a tecnologia empregue nas turbinas militares ).
- Aplicabilidade tecnológica:De nada adianta se capacitar em uma tecnologia se não houver escala de aplicação e ou produção. Exemplo: Tecnologias caras como a produção dos radares Eireye empregues nos E 99 não justificam a criação de uma empresa brasileira capaz de os produzir isto porque em sua melhor hipótese a FAB adquiriria 10 sistemas, sem possibilidades de empregar este sistemas em outros campos como o civil.
- Interesse tecnológico:Nem todas as tecnologias são interessantes e muitas delas ainda que necessárias atualmente deixarão d eu ser nos próximos 10 ou 15 anos. Apenas para ilustrar, considere que determinada indústria esteja interessada em aprender a fazer válvula pois os sistemas atuais o exigem, porém nos próximos 10 anos todos os sistemas eletrônicos serão feitos de feito de transistores. Tempo e dinheiro perdido no intervalo de uma década ou duas.
A questão dos offset portanto é complexa e não é garantida apenas pela vontade ou boa intenção de quem cede, mas também e mais ainda pela capacidade e vontade de quem os recebe.
Porém neste quesito há um fator negligenciado nas discussões que cercam o FX 2 pois muitos se preocupam em perguntar “se” tal fornecedor realmente fornecem o que prometem, enquanto que a pergunta certa deveria ser “o que” será fornecido.
Explico, não se trata de questionar se “terá”, a questão básica na transferência de tecnologia com vista a nossa capacitação não reside não no que “deveria” (pois isto é indefinido e dependente por exemplo dos fatores acima assinalados), mas sim naquilo que certamente sabemos que não teremos acesso. Aquilo que certamente sabemos que não teremos apoio ou transferência de tecnologia será o nosso fator limitador num possível projeto futuro. Portanto, diante desta certeza o país deve se concentrar sobre esta, buscando desenvolvê-la com outros parceiros, buscando abreviar tempo.
É salutar esperar que o escolhido como vencedor do programa FX 2 possa ser um potencial parceiro em projetos futuros, porém, que esta não seja uma exigência de obrigatoriedade, que nos atenha a ele por um cordão umbilical.
O Brasil precisa buscar parcerias para poder caminhar no futuro com as suas pernas, mas não necessita assinar um matrimônio irrevogável com ninguém. O objetivo primordial deve ser a busca pela capacitação, desenvolvimento tecnológico, industrial, a renovação e atualização das nossas forças armadas.
Esta é a minha visão pessoal e posso estar enganado mas creio que não.
Muitos vislumbram o programa FX 2 como possibilidades econômicas futuras, na esperança de que um dia o Brasil passe a ser um polo exportador do vetor escolhido.
Esta possibilidade não pode ser negligenciada porém, igualmente não se pode esperar que com a produção seriada do caça 4.5G no Brasil, o nosso país torne-se da noite para o dia um exportador caças para países da América do sul ou outros, recuperando os recursos investidos. Até porque, o cenário previsto para o fim desta década demonstra que esta possibilidade é remota. Na pior das hipóteses, a partir de 2018 haverá no mercado uma grande oferta de aeronaves 4 e 4.5G por um custo muito atrativo.
As grandes economias estarão se desfazendo de suas máquinas mais antigas e substituindo por vetores 5-6G. Neste cenário não vislumbra-se espaço para 4.5G novos, pois o fosso de custos entre os programas 5G novos e os 4, 4.5G usados será enorme e forçosamente as nações desprovidas de recursos optarão por máquinas de segunda mão recondicionadas e as providas de recursos, passarão para vetores 5 ou 6G.
Este cenário já é notado na Europa atual e pode-se exemplificar os casos da Noruega e da România , onde uma optou pelo salto para um 5G enquanto a segunda abriu mão de vetore 4 e 4.5 G novos trocando-os por 4 G usados a serem recondicionados.
Isto Não quer dizer que os 4.5G não terão espaço neste cenário, mas sim que seria mais atrativo recondicionar caças F 18 EF, F 16 Blok 60, SU 30, Rafale, Typhoon, Gripen CD e outros que por esta altura porventura poderão estar dando baixa, convertendo-os para padrões 4.5 do que aquirir 4.5 novos bem mais caros.
Neste cenário apresentado um 4.5 G novo não sobreviveria à algumas encomendas frente a avalanche de usados disponíveis, especialmente frente a oferta de segunda mão oriunda da Europa, que poderá estar saindo da crise por esta altura e portanto terá espaço para adquirir vetores mais modernos.
Como recuperar o investimento então?
Apenas para citar uma possibilidade, o programa AMX drenou na altura o orçamento da FAB, galgando ganhos e perdas para a “FAB” o programa recebeu críticas ferozes dos economistas e dos meios de comunicação que consideravam um fracasso comercial retumbante.
Antes de mais nada um programa militar visa desenvolver tecnologia e possuir superioridade militar em seu campo, nunca pode ser pensado como prioridade econômica, o retorno econômico não é causa e sim consequência do programa.
Retornando ao programa AMX, bastaram 10 anos para que as tecnologias e o know how desenvolvido no programa retornasse economicamente na forma dos programas EMB 145 e sua família, foi de lá que o Brasil e não a FAB recuperou o investimento de uma década. Hoje o programa E Jet também oriundo dos avanços do programa AMX e ERJ lançam a EMBRAER como o terceiro maior fabricante de aeronaves do planeta.
Portanto, um programa militar desta envergadura não necessariamente necessita gerar retorno econômico direto, mas certamente gerará de forma indireta tal como o exemplo ilustrado. Para já, podemos considerar que os offset prometidos no programa FX 2 poderiam ser aplicados em tecnologias no programa KC 390, e deste de maneira mais imediata, ter-se-ia o retorno dos investimentos empregues no programa FX2, com retorno e efeito prático nas próximas décadas.
Em que estágio se encontra o programa FX 2?
Pelo que sabemos dos órgãos oficiais, o FX 2 ainda não foi decidido, não há um vencedor e mais uma vez um falou-se de uma data possível, daqui a 3 ou 4 meses.
A decisão está nas mãos da presidente Dilma Rouseff e do conselho de Defesa, que pode decidir por um dos 3 concorrentes, por outro vetor que não seja estes, por nenhum deles ou simplesmente cancelar e reabrir o programa futuramente.
Seja qual for a decisão do governo ela já é prejudicial a indústria nacional, à FAB e à soberania do país.
A FAB necessita dos caças, pois a obsolência dos vetores atuais é alarmante e latente, há a necessidade de substituir em curto prazo alguns vetores.
Para indústria que absorveria a tecnologia o atraso se torna mais ainda alarmante, muitas das tecnologias oferecidas na altura da reabertura do FX 2 já estão entrando em estado de obsolência o que não dará ganhos significativos para a nossa indústria.
A janela de oportunidades de negócios advindos dos offset e capacitação industrial está se fechando a medida que o tempo passa e que novas tecnologias afloram mundo afora. A demora no FX 2 certamente se refletirá na escolha do FX 3. Os 5G começaram a brotar no oriente e certamente chamarão a atenção dos potenciais clientes que teríamos num horizonte de tempo curto.
Fora isto, perdemos competitividade e capacidade frente a estes vetores mais avançados que os que pretendemos adquirir por agora.
Em suma, quanto mais o tempo passa, menos interessante torna-se o offset, mais dispendioso torna-se o programa, pois o que antes era investimento com vistas em retornos econômico e tecnológicos, tornam-se gastos, pois esmorece as chances de retorno de ambos.
O tempo tem sido o inimigo do qual a Força Aérea e a indústria nacional repetidamente tem perdido o combate…
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