Brasileiros ganham projeção internacional

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/foto/0,,16069737,00.jpg04/01/2011

Cientistas despertam atenção com trabalhos que vão da cura do Mal de Parkinson até a ‘energia escura’

Cibelle Bouças | De São Paulo, no Valor Econômico

O neurocientista Miguel Nicolelis pode receber um prêmio Nobel por seu trabalho sobre o mal de Parkinson. Outro brasileiro, o físico Daniel Vanzella, descobriu que a energia contida no vácuo é capaz de destruir estrelas. Gilberto Ribeiro desenvolve um resistor de memória capaz de mudar radicalmente o mercado de armazenagem de dados.

Ainda é raro encontrar cientistas e pesquisadores brasileiros como os da lista acima, que ocupam o topo da pirâmide acadêmica ou de inovação empresarial. O reconhecimento recente do trabalho deles, no entanto, mostra que há uma percepção internacional positiva sobre o trabalho de profissionais brasileiros, o que pode se traduzir em ganhos para a ciência no país.

Nos próximos meses, hospitais brasileiros podem abrigar a próxima fase do trabalho de Miguel Nicolelis sobre o Mal de Parkinson. Pela primeira vez, o tratamento proposto pelo neurocientista será testado em seres humanos. Em avaliação, estão instituições médicas em São Paulo e nos Estados Unidos.

Atualmente, Nicolelis divide seu tempo entre o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) e o Centro de Neurociência da Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA). No ano passado, ele recebeu o prêmio NIH Director’s Transformative R01, que concede US$ 4,4 milhões para aplicação em pesquisa, e o Director’s Pioneer Award, de US$ 2,5 milhões. Os prêmios estão entre os mais cobiçados no meio científico e costumam indicar potenciais candidatos ao Nobel. Nicolelis foi o primeiro cientista a receber as duas premiações no mesmo ano.

Os recursos serão usados na pesquisa para a cura do mal de Parkinson, desenvolvida desde 2006. Nicolelis e sua equipe já haviam desenvolvido uma técnica para tratar a epilepsia, a partir de estímulos elétricos em regiões periféricas do sistema nervoso, quando perceberam que havia semelhanças no padrão de comportamento do cérebro dos portadores das duas doenças, conta o cientista.

Com a constatação, cobaias passaram a receber medicação para apresentar sintomas como os do mal de Parkinson. Depois, a equipe implantou uma prótese na medula espinhal das cobaias, que disparava estímulos elétricos. A paralisia muscular e os demais sintomas desapareceram.

Esse trabalho tem sido realizado tanto na Universidade de Duke como no IINN-ELS. “Já foram feitos testes com camundongos e primatas. Agora buscamos um parceiro clínico para fazer testes em pacientes”, afirma Nicolelis. “Em dois anos será possível ter uma resposta categórica sobre o tratamento”, diz.

Outra pesquisa surpreendente é comandada pelo físico Daniel Vanzella, professor do Instituto de Física Teórica da Unesp e do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP). Vanzella e o doutorando William Lima publicaram, em abril, um estudo sobre a “energia escura” na “Physical Review Letters”, a mais respeita revista de física do mundo.

O artigo teve uma grande repercussão. Embora pareça uma fantasia tirada da série de filmes “Star Wars”, a energia escura intriga o meio científico há muito tempo. Na física, existem duas grandes teorias sobre o universo: a da Relatividade Geral, que descreve a organização do universo em grande escala (estrelas, galáxias etc) e a Quântica de Campos, que focada na chamada pequena escala (ligações químicas, átomos etc). Físicos no mundo tentam, ainda sem êxito, unir as duas teorias. Vanzella e seu aluno se atiraram a esse trabalho com uma análise da “energia escura”. Essa força, que faz o universo se expandir de forma acelerada, exerce uma forte pressão negativa, que seria contrária à gravidade.

Os cientistas partiram do princípio de que o vácuo é preenchido por partículas virtuais, como prótons, elétrons e fótons, que surgem e desaparecem em uma fração de segundo. Imaginava-se que a flutuação dessas partículas, por ser muito rápida, não gerava efeitos nos materiais macroscópicos. Vanzella e Lima descobriram, porém, que sob algumas circunstâncias o crescimento da energia do vácuo pode ocorrer de maneira exponencial e descontrolada, podendo destruir até uma estrela de nêutrons (a matéria mais densa já encontrada no universo).

Vanzella iniciou a pesquisa na Universidade de Wisconsin, nos EUA, mas só chegou à essa conclusão em São Carlos. Agora, ele procura responder, em seu pós-doutorado, o que ocorre com uma estrela quando a energia do vácuo “desperta”. “Essas são questões conceituais sobre os fundamentos da física, mas que vão ajudar a trazer um melhor entendimento sobre a natureza”, afirma Vanzella.

Antes de Vanzella, outro apreciador do espaço ganhou renome. Em 2006, Marcos Pontes, tenente-coronel da Força Aérea Brasileira (FAB), hoje na reserva, participou de uma missão à Estação Espacial Internacional (ISS), com oito experimentos em microgravidade de universidades e institutos brasileiros. “No espaço, [nós, astronautas] somos as mãos e os olhos dos cientistas; executamos os experimentos”, diz Pontes. Atualmente em Houston, na sede da Nasa, ele aguarda nova convocação para missões espaciais. “Espero ansiosamente por essa escalação”, diz.

Fonte: Viomundo

9 Comentários

  1. Taí os brasileiros que merecem 100% de aprovação no IBOPE! Pena que tem de sair daqui, em alguns casos, pra mostrar serviço!!

  2. É brasileiros assim!!!!!!Que nos da orgulho!!!
    Toma que Nicolelis ganhe mesmo o Nobel!!!Vai ser muito bom ver um brasileiro ganhando esse prêmio!!!!!

  3. Este cara gera é desconfiança!!.. pois na concepção dele o Brasil está evoluindo por demais! em educação de qualidade e tecnologia.. quando não é verdade o que só tem é tampão aqui e aculá, e as industrias de ponta em sua maioria tendo de recorrer a outros países próximos que mais lhe fornecem benefícios.. Bonito falar da capacidade do país, mas também não expor os reais entraves para não perder o apoio governamental em seus belos projetos aí é complicado. Mas não to criticando os projetos educacionais e sociais dele, que são sensacionais. Tomara que não tenha sido escolhido pra alienar o povo com um toque de ufanismo.

  4. O Nicolelis já devia ter vencido o Nobel no ano passado. Mas tudo bem, fico na torcida para que ele vença agora. Aliás, a ciência brasileira já devia ter vencido vários prêmios Nobel tempos atrás, com Cesar Lattes, com Mario Schenberg e outros tantos.

    A academia suéca está nos devendo um Nobel (mais que um, na verdade), pois nós já fizemos por merecer isso faz tempo.

    abraços a todos

  5. Pq os brasileiros tem de sair do páis pra fazer ciência?! Pq brasileiro tem mentalidade ainda: “pq uma colonia precisa desenvolver algo? compramos pronto!”.Ou seja os brasileiros q se destacam trabalham e estudam no exterior onde existe estímulo e financiamento para o desenvolvimento de novas tecnologias! Brasileiro é mesquinho, um povo de degredados! Abraços a todos

  6. estas áreas de investigação são de excelência, impressionante!
    caso a investigação de Miguel Nicolelis dê resultado prático deverá ser o próximo Prémio Nobel da Medicina (embora hoje em dia seja uma nomeação algo politizada – com menor valor do reconhecimento científico).
    Daniel Vanzella pode ser um futuro laureado no Nobel da Física também, a teoria é mirabolante mas consistente: será o Santo Graal da física, a Teoria do Campo Unificado!!!
    quanto ao cientista Gilberto Ribeiro não há mais informação mas seria muito interessante e útil a concretização do seu projecto.
    parabéns cientistas brasileiros!

  7. Os creditos são deles e somente deles, a, e claro, eles vão estudar fora. A única relação que eles tem com o Brasil é o fato de serem brasileiros. No mais, credito a eles, que estudaram fora, pois se fosse ficar aqui, iriam virar meros cientistasinhos de faculdade. Muito raramente um brasileiro no Brasil com tecnologia brasileira consegue fazer algo grande, isso a nível mundial.

  8. Não tem nada haver o fato de estudar fora.
    Aqui existe oportunidade SIM, pode até ser mais difícil, mas tem sim oportunidade, tem sim como investir, o Brasil não é essa bola que é impossível se equilibrar não.
    Tanto que a cada dia, vem mais estrangeiros para cá a procura de oportunidades no nosso mercado.
    Eu acho que não tem nada demais o cara querer ir pro Exterior aprender e ter novas oportunidades e novos mercados, isso se chama GLOBALIZAÇÃO, já se foi o tempo em que fulano nascia em pais X e ia ficar lá pra sempre, assim como seu pai, seu avô e seu filho um dia vai ficar.
    Tem mais é que ir pro Exterior mesmo, aprender muito e pensar em você, se der orgulho a sua nação bom, se não der, fazendo o que gosta e sendo honesto está valendo.

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