Cuba-Venezuela, o eixo da Malícia/Maldade

Le Monde

Por Paulo A. Paranagua

Depois do “eixo do Mal” tão caro a George Bush (Iraque-Irã-Coreia do Norte), eis que surge o “eixo da Malícia/Maldade” (mischief, em inglês). É assim que a embaixada americana em Caracas classifica a aliança entre Cuba e Venezuela, em um relatório secreto de janeiro de 2006 obtido pelo WikiLeaks e revelado pelo “Le Monde”. No entanto, a embaixada está levando muito a sério “a ampla cooperação dos cubanos com os serviços de inteligência venezuelanos”.

Havana também está ajudando Caracas com a naturalização dos estrangeiros residentes na Venezuela e o estabelecimento de carteiras de identidade. “O papel dos cubanos no plano militar é menos claro, mas não deve ser menos significativo.” Os agentes de ligação de Havana ocupam as posições que antigamente eram detidas pelos oficiais europeus ou de outros países latino-americanos. “Os serviços de inteligência venezuelanos figuram entre os mais hostis aos Estados Unidos na região, mas ainda carecem de expertise, algo que os serviços cubanos podem lhes fornecer”, observa o documento.

O treinamento é feito tanto em Cuba quanto na Venezuela e mistura “doutrinamento político e instrução operacional.” “Os agentes cubanos de inteligência têm acesso direto a Chávez e muitas vezes lhes fornecem relatórios sem passar por seus homólogos venezuelanos.” Os cubanos seriam ativos em diversos ministérios e numerosos na agricultura. Seu número exato “é difícil de determinar”, uma vez que eles se mantêm “discretos”.

Cerca de 350 pessoas pegam de três a cinco voos comerciais ou militares diariamente entre os dois países, sem parar na alfândega ou na polícia fronteiriça. Milhares de cubanos têm documentos venezuelanos. Em agosto de 2006, outro memorando apresentava uma cifra de 40 mil cubanos presentes na Venezuela. Esse segundo texto avalia o impacto da doença de Fidel Castro sobre seu amigo Hugo Chávez. O líder bolivariano poderia se tornar mais “imprevisível” em caso de morte do dirigente cubano. Na verdade, o presidente venezuelano é um “mestre tático”, mas “não é tão bom para gerir as crises”. Ora, seu mentor cubano é um “hábil gerenciador de crises” (superb crisis manager), segundo os americanos.

Clínicas custosas

Ele provou isso diversas vezes, pressionando Chávez a resistir ao golpe de Estado de 2002. “Foi Castro que concebeu as ‘missiones’ [programas sociais] para que a popularidade de Chávez voltasse a subir”. Justamente, a “missão Barrio Adentro” – clínicas instaladas nos bairros pobres por equipes cubanas – é assunto de diversos memorandos americanos. A avaliação da embaixada é severa: custoso, esse programa é ineficaz e não representa uma solução a longo prazo.

Sua implantação foi feita em detrimento dos hospitais públicos, cuja crise resultou em crescentes protestos, observa uma mensagem de dezembro de 2009. Os médicos cubanos que pediram visto para os Estados Unidos permitiram que os diplomatas fizessem um balanço detalhado do funcionamento de “Barrio Adentro”. Segundo suas confidências, ali os cubanos são rigidamente vigiados por seus superiores, seus passaportes são confiscados com frequência. Eles recebem uma parte mínima de sua remuneração, bloqueada em uma conta para garantir que eles realmente voltarão a Cuba após os dois ou três anos de serviço.

Eles trabalham em condições precárias, sem os medicamentos necessários e se veem obrigados a inflar os números de tratamentos. Uma mensagem de abril de 2010 menciona 739 candidatos a partirem para os Estados Unidos entre esses funcionários. Muitos deles tiveram de subornar a polícia fronteiriça em Caracas para não serem entregues às autoridades de Havana. Outros tentaram a sorte atravessando a fronteira terrestre com a Colômbia.

Tradução: Lana Lim

Fonte:  Brasil acima de tudo

10 Comentários

  1. Certo Cuba e certo Venezuela, eles tem todo o direito de integrar suas inteligências, afinal são dois paises soberanos o que não pode é os EUA acharem que podem controlar e vetar acordos entre dois paises, “eixo da Malícia/Maldade”? da pra ver quem é o malicioso e mal dessa historia

  2. “Depois do “eixo do Mal” tão caro a George Bush (Iraque-Irã-Coreia do Norte), eis que surge o “eixo da Malícia/Maldade” (mischief, em inglês).” Ta de sacanagem.. heuheh, eles não tem mais o que inventar mesmo não! Aproveita e põe em latim tambem, como as operações da PF.

  3. Essa mania americana de tipificar todos aqueles com adjetivos maniqueísta a sua ideologia,já se tornou maçante beirando a falta de criatividade.
    Está mais do que na hora esses americanos mudarem de repertório,pois este já está muito manjado.

  4. Se comparece nosso situação médica com as deles, a nosssa medicina é de 1 mundo isso deixa qualquer um com um remorso muito grande os embargos postos a cuba é fidel tentando ajudar o amigo, enviando seus medicos que além de ganharem pouco receber o salário em duas partes pra te certeza que voltaram a cuba é muitos desertam para os USA.
    Um político já falou isso mundialmente devemos nos livre de um único problema os Yankes.

  5. “[…]a “missão Barrio Adentro” – clínicas instaladas nos bairros pobres por equipes cubanas – é assunto de diversos memorandos americanos. A avaliação da embaixada é severa: custoso, esse programa é ineficaz e não representa uma solução a longo prazo.”

    Então a visita à residência de um médico, com acompanhamento constante é ineficaz… Eficácia como se sabe mora na saúde paga, tal como nos EUA, onde quem não pode arcar com os custos, simplesmente morre, deixando de perturbar, não é mesmo?

  6. “Havana também está ajudando Caracas com a naturalização dos estrangeiros residentes na Venezuela e o estabelecimento de carteiras de identidade”

    Uau, nunca antes eu tinha ouvido coisa mais vil na minha vida!!!!

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