Fronteiras da Ciência: Etanol é viável como biocombustível mundial?

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O Brasil poderá produzir e exportar etanol em larga escala sem que exista um mercado internacional para o biocombustível? É possível confiar nos modelos utilizados para prever as mudanças no uso do solo decorrentes do aumento da produção de cana-de-açúcar? As tecnologias desenvolvidas no Brasil podem ser aplicadas em outros lugares do mundo?

Durante o evento Fronteiras da Ciência, que está sendo realizado em Itatiba (SP), um grupo de especialistas em biocombustíveis respondeu a essas e muitas outras perguntas feitas por proeminentes cientistas de áreas como geologia, matemática e astrofísica.

Durante o evento, que se encerra nesta segunda-feira (30/8), 78 destacados cientistas do Brasil, do Reino Unido e do Chile discutem importantes questões das fronteiras do conhecimento.

Etanol como commodity

No debate de abertura, a professora Glaucia Mendes de Souza, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), comentou que o etanol ainda não se tornou uma commodity e isso poderá ser um obstáculo para os planos brasileiros de expansão da produção do biocombustível.

“O projeto nacional é aumentar a produção de etanol para que o país se torne o grande fornecedor mundial do biocombustível. Mas, para isso, precisamos ter um mercado internacional de biocombustíveis. Uma das saídas é fazer com que o etanol se torne uma commodity“, disse Glaucia, que é uma das coordenadoras do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).

Segundo ela, análises sugerem que o advento de um mercado internacional não seria vantajoso para o Brasil, pois ao transformar o etanol em commodity o país deixaria de ser competitivo. Mas a pesquisadora afirma que só assim o etanol nacional poderia ganhar o espaço desejado no contexto mundial.

“Sem um mercado internacional, não há regulação e isso gera incertezas. Trata-se de uma questão de segurança energética. Se quisermos propor que o Brasil seja uma fonte de etanol para o mundo, precisamos de um mercado internacional regulado. Transformar o etanol em commodity implica padronização, acesso à bolsa de valores e mercadorias e garantia de oferta”, disse Glaucia.

Além da ausência de um mercado internacional, o principal obstáculo à expansão da produção, segundo Glaucia, é o excesso de barreiras tarifárias. “É preciso também produzir estudos capazes de dirimir qualquer desconfiança internacional relacionada à sustentabilidade do etanol. O mercado também está sendo definido por essa discussão “, afirmou.

http://oglobo.globo.com/fotos/2006/08/15/15_MHG_060815_eco_cana.jpgColheita da Cana


Sustentabilidade dos biocombustíveis

As questões de sustentabilidade estão sendo debatidas no âmbito internacional para definir quais biocombustíveis irão efetivamente diminuir a emissão dos gases de efeito estufa. Os Estados Unidos, por meio da Environmental Protection Agency (EPA) já definiu o etanol brasileiro como biocombustível avançado. Essa iniciativa foi um importante passo para o Brasil.

“Agora, a Europa está debatendo publicamente uma nova legislação sobre biocombustíveis. O continente decidirá se, ao avaliar a sustentabilidade, levará em consideração as mudanças no uso da terra. Isso poderá gerar barreiras, pois é muito difícil medir essas mudanças, especialmente em relação aos seus efeitos indiretos”, afirmou.

A questão da confiabilidade dos modelos utilizados para medir os efeitos indiretos das mudanças de uso do solo foi levantada, durante o evento, por cientistas de outras áreas. Segundo Glaucia, de fato ainda há grandes limitações, que demandam grandes esforços de pesquisa.

“Não há conhecimento suficiente em muitos dos parâmetros usados para medir os efeitos indiretos. Os modelos que existem são ainda especulativos. Trata-se de uma área nova do conhecimento e a ciência ainda não está madura nesse campo. Temos um longo caminho de estudos pela frente”, disse.

No estágio atual, com poucos dados para servir de parâmetros aos modelos, a maior parte deles não gera resultados confiáveis, segundo Glaucia. “Hoje, pode-se provar pontos contraditórios de acordo com os parâmetros que forem usados. Para chegar a um consenso sobre como usar os modelos, a única solução é ter uma comunidade de cientistas debatendo intensamente. Para isso, é preciso aumentar o número de pesquisadores na área”, afirmou.

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Centro de pesquisa do Etanol Celulósico


Resposta para a questão energética

Cientistas britânicos, durante o simpósio, demonstraram preocupação em relação à viabilidade do etanol como biocombustível em contextos diferentes do brasileiro e à aplicabilidade, em outros países, do avançado conhecimento produzido no Brasil sobre o etanol.

De acordo com os pesquisadores brasileiros, a cana-de-açúcar pode ser plantada em outras regiões e tem grande potencial para ser utilizada em produção de etanol em outros países.

“Acredito que não teremos uma única resposta para a questão energética. Mas, com toda certeza, o etanol será uma delas. Outros países poderão produzir também. O Brasil, no entanto, já tem há muito tempo uma legislação sobre biocombustíveis e fez esforços para o avanço do conhecimento sobre etanol que não têm paralelo no mundo. Com isso, o que está ocorrendo é que o país não apenas se destaca como o principal produtor da planta, mas está se tornando uma referência para modelos de biorrefinarias”, disse.

Fonte: Inovação Tec.

9 Comentários

  1. Etanol só concentra a renda e terras nas mãos de poucos, polui também e a tendência é a total automatização da produção não gerando empregos…

    Não dá pra pular o Etanol e partir para fontes de energia mais limpas e renováveis, ou algo mais moderno mesmo? hummmm..

  2. Transição fóssil – sustentável…

    O cenário em países mais desenvolvidos seria a utilização da queima do alcool em termoelétricas para suprir a demanda elétrica (ao qual entra nucleares, eólicas, solares, hidroelétricas, geotérmicas, etc… em substituição gradual ao fóssil) na alimentação da frota de carros elétricos.

    Nos países produtores de etanol, seria a substituição do uso da gasolina via tecologia flex (e carros menores e mais leves), evoluindo para o cenário elétrico.

    Já está mais que na hora, da discussão e elaboração de marcos regulatórios internacionais para a comercialização de biocombustíveis a exemplo da tradicional fonte de energia atual, o petróleo…

    O Brasil, seria um ótimo candidato para ajudar na definição deste tema.

  3. A dita transformação do etanol em commodity, como dito, pressupõe perdas financeiras para o Brasil. No entanto, a lei do mercado mais importante é a da simples “oferta e procura”. Podemos até determinar normas internas que estabeleçam as padronizações do etanol no Brasil, para que os interessados internacionais saibam exatamente o que estarão adquirindo, sem qualquer submissão a controles externos com interesses alheios aos nossos, pois, quem estiver precisando, que venha comprar, mandando às favas os interesses das bolsas de valores espalhadas pelo mundo que só fazem especular sobre as mercadorias dos que suam a camisa para produzi-las.

  4. Raptor :
    Transição fóssil – sustentável…
    O cenário em países mais desenvolvidos seria a utilização da queima do alcool em termoelétricas para suprir a demanda elétrica (ao qual entra nucleares, eólicas, solares, hidroelétricas, geotérmicas, etc… em substituição gradual ao fóssil) na alimentação da frota de carros elétricos.
    Nos países produtores de etanol, seria a substituição do uso da gasolina via tecologia flex (e carros menores e mais leves), evoluindo para o cenário elétrico.
    Já está mais que na hora, da discussão e elaboração de marcos regulatórios internacionais para a comercialização de biocombustíveis a exemplo da tradicional fonte de energia atual, o petróleo…
    O Brasil, seria um ótimo candidato para ajudar na definição deste tema.

    É pode até ser, a bagaço da cana está p ser usado na agricultura como adubo e p produzir tbm + álcool. Sds.

  5. Quanto ao problema de segurança energética… poderia ser estipuladas cotas dos EXCEDENTES para a venda para o mercado internacional… Colocaria os interesses dos usineiros em covergência para a transição elétrica automobilística nacional e formação de outra cultura de transporte individual (quanto menos alcool gastar no mercado interno, sobra mais para exportar a melhores preços). Ao invés de queimar em motores a pistão, o mesmo seria queimado nas termoelétricas para suprir o consumo dos carros elétricos. Seria a continuação natural do pro-álcool até a superação desta transição, com o funcionamento comercial de usinas de fusão e economia do hidrogênio (pós 50).

  6. novos processos e novas fontes de energiam surgem a todo instante… se fosse apostar para os proximos 30 anos … ficaria com os fosseis (ainda) nuclear e solar … os de origem vegetal em 4º lugar .. 😉

    Etanol será commodity mundial ??? … creio que sim mais não somente o da cana.. o Etanol celulósico avança de forma inexorável.. EUA e Europa podem surpreender.

  7. Exato xtreme, se não for continuado a P&D na área de biocombustíveis e energia (área que temos vantagem) aliado a uma postura comercial mais incisiva, perderemos o posto de “potência energética”…

    A tecnologia do etanol celulósico, beneficia os países tropicais com vasta área territorial, solos férteis e tecnologia agrícola avançada… No Brasil, a tecnologia do álcool celulósico, poderia, salvo engano, dobrar a produção do etanol sem a necessidade de aumentar a área do cultivo, mesmo o proveniente da cana…

    Mas não só a cana se transforma em energia… Temos também, avançada tecnologia em energias hidroelétricas (qualquer tamanho, da micro a hiper), nuclear e caminhando para outras fontes como a eólica no nordeste (houve um expressivo aumento na fabricação de turbinas eólicas no Brasil)…

    O problema quanto aos combustíveis fósseis é o preço no futuro que tende sempre a aumentar devido ao peak oil…

    A transição está sendo impulsionada por causa principalmente do din din e não por motivos românticos verdes…

    O ecossistema mais crítico para o ser humano, é o econômico… risos…

    Abraços.

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