O Juramento do Cargo

Sugestão: Gérsio Mutti

Guia histórico para a liderança moral

Tenente-Coronel Kenneth Keskel, USAF

Juro por Apolo, o médico, e por Esculápio, e pela Saúde, e pelo que tudo cura, e por todos os deuses e deusas que, conforme minha capacidade e discernimento, manterei este Juramento.

Hipócrates, 400 a.c.



A primeira lei dos Estados Unidos da América, aprovada na primeira sessão do primeiro Congresso, em 1º de junho de 1789, foi a lei 1, capítulo1: lei que estabelece a época e o modo de prestar determinados juramentos, que estabelecia o juramento de apoiar a Constituição, exigido de funcionários civis e militares.1 Os fundadores do país concordaram com a importância de garantir que os funcionários jurassem sua lealdade. Ocorreu muito pouco debate antes que essa lei fosse aprovada pelo 1º Congresso.2 Embora, na continuação, o juramento do oficial tenha mudado diversas vezes nos dois últimos séculos, o fundamento básico passou pela prova do tempo. O atual juramento é mais do que simples formalidade acrescentada ao ritual de uma cerimônia de admissão ao oficialato ou promoção: ele fornece o fundamento para as decisões de liderança.3

Nossa nação tem numerosos juramentos. Para ser admitido ao oficialato ou ao serviço de praça, cada candidato presta um juramento. O presidente dos Estados Unidos presta juramento antes de ser empossado. Os senadores, os parlamentares, os juízes e outros funcionários do governo prestam o juramento do cargo. Os novos cidadãos dos Estados Unidos fazem o juramento de naturalização. Muitas crianças, na escola, fazem juramento ou compromisso de lealdade à bandeira. Embora não se exija que os membros das forças armadas jurem ou prometam alguma coisa antes de entrarem em combate, as forças armadas dos Estados Unidos desenvolveram um código de conduta para guiar seus soldados. Quando um oficial é promovido, a cerimônia de promoção freqüentemente inclui a reafirmação do juramento do oficial.

O juramento do oficial é uma combinação de exigência constitucional, influência histórica e costume secular. Para apreciar melhor o juramento é preciso compreender sua história. Para isto, este artigo primeiro apresentará breve fundamentação histórica do juramento de cargo e, em seguida, examinará sua formulação específica, bem como os modos pelos quais ele fornece orientação, inclusive orientação moral, aos oficiais das forças armadas.4

Breve história do juramento

Conforme uma obra de referência, juramento é “um apelo solene a Deus para que testemunhe a verdade de uma declaração ou a sinceridade de uma promessa, junto com a evocação do castigo divino no caso de falsidade ou descumprimento da obrigação”.5 Esta definição ajusta-se ao juramento hipocrático, um dos mais antigos e famosos do mundo: “juro que … conforme minha capacidade e discernimento manterei este Juramento… Viverei e praticarei minha arte com pureza e santidade… Enquanto não violar este Juramento, seja-me conferido desfrutar da vida e praticar a Arte gozando todo o tempo do respeito de todas as pessoas. Se, contudo, violar este Juramento e dele me afastar, que minha sorte seja a inversa!”6 Diversas idéias deste juramento ainda ressoam no que os oficiais fazem hoje: apelo a uma potência superior, declaração de agir com o máximo da capacidade da pessoa, senso de honra e reconhecimento das conseqüências de não cumprir com a palavra.

Os juramentos militares remontam à Roma antiga, em que os soldados juravam lealdade a um general específico, para uma campanha específica. Após terminada a campanha, o juramento já não tinha valor. Em 100 a.C. Roma havia estabelecido uma força armada profissional, e o juramento tornou-se eficaz para todo o período de 20 anos de serviço do soldado.7 Desde então, este costume se manteve e se ampliou. Por exemplo, os reis da Inglaterra nos anos 1500 (Henrique VIII), 1600 (Jaime I) e 1700 (Jorge III), estabeleceram juramentos exigindo que os súditos prometessem lealdade a seu rei específico.

Nos Estados Unidos, os juramentos fizeram parte da vida desde os primeiros dias da colônia. Em 1620, quando o Mayflower aportou, os peregrinos estabeleceram o Pacto do May-flower – que serviu de juramento, contrato e constituição – e, em seguida, prometeram fidelidade ao Rei Jaime, concordando em trabalhar juntos como “um corpo político civil” para seu próprio aperfeiçoamento e preservação.8 Ao estabelecerem colônias, os colonos estabeleceram suas próprias versões de um juramento de fidelidade à coroa inglesa.

Ao estabelecerem o juramento de cargo para os oficiais dos Estados Unidos, os fundadores do país tiveram sérias preocupações com a questão de jurar fidelidade a uma pessoa específica. Por exemplo, durante a Guerra de Independência, o General George Washington expediu uma ordem geral, em 7 de maio de 1778, que exigia que todos os oficiais fizessem um juramento, e o assinassem, renunciando ao Rei Jorge III e apoiando os Estados Unidos.9 Mesmo antes da exigência constitucional de prestar juramento, de 1789, esta ordem geral havia tido um peso significativo. Em 1º de outubro de 1779, Washington submeteu Benjamin Ballard à corte marcial por “vender rum, farinha, carne de porco, couro, banha e outros artigos de armazém, de propriedade pública, sem ordem nem autoridade de fazê-lo, contrariando suas obrigações e juramento de cargo” (grifado pelo autor).10 Este exemplo mostra que o juramento representava mais do que simples formalidade cerimonial. Em vez disso, fornecia uma orientação suprema e um padrão de conduta moral, por contraposição à imposição de critérios específicos e limitados.

O primeiro juramento de cargo constitucional de oficiais das forças armadas dos Estados Unidos foi estabelecido em 1º de junho de 1789. A lei implementava as exigências do artigo VI da constituição de que “os senadores e os deputados acima mencionados, e os membros das diversas legislaturas estaduais, e todos os funcionários executivos e judiciários, tanto dos Estados Unidos quanto dos diversos Estados, comprometer-se-ão, por juramento ou promessa, a apoiar esta Constituição”.11 Este juramento inicial era breve e direto: “eu, fulano de tal, [A. B. no original] solenemente juro ou prometo (como fosse o caso) apoiar a Constituição dos Estados Unidos”.12

Durante um período de 60 anos em nossa história, tanto oficiais quanto praças fizeram o mesmo juramento, conforme exigido pelo Congresso em abril de 1790. O juramento usava as palavras “ser fiel e leal aos Estados Unidos da América” em vez de “apoiar a Constituição”, mas mantinha o conceito de fidelidade à nação como um todo. Ele fazia parte, como uma de suas 16 seções, de uma lei que regulava o estabelecimento das forças armadas – precursora das leis “de autorização” de hoje.13 Periodicamente, o Congresso aprovava essas leis de autorização, embora o juramento permanecesse constante (com um acréscimo menos importante em 1795).

Em 1862, quando o 37º Congresso aprovou um juramento abrangente de 176 palavras para todos os funcionários do governo (inclusive oficiais das forças armadas), a fim de comprovar sua lealdade durante a guerra civil, o juramento do oficial tornou-se novamente separado do juramento das praças. Este “juramento prova de fogo” incluía (1) uma “verificação de antecedentes” para garantir que os funcionários do governo não apoiassem ou houvessem apoiado a Confederação e (2) uma parte que tratava do desempenho futuro, do qual grande parte permanece no juramento de hoje.14 Além disso, esta legislação especificava que deixar de cumprir o juramento constituía perjúrio e que os que violassem o juramento incorreriam nas penalidades correspondentes, formalizando, deste modo, a idéia implícita de que os oficiais eram passíveis de responsabilização por deixarem de cumprir seu juramento. Em 1884, após diversos anos de múltiplos juramentos que se aplicavam a diferentes subconjuntos de pessoas (dependendo de qual o lado pelo qual haviam combatido durante a “Rebelião Tardia”), o 48º Congresso emendou uma lei revista de 1873 que eliminava a primeira parte do juramento prova de fogo e estabelecia a formulação que chegou aos tempos modernos.

Pelo menos 19 atos legislativos tratam do juramento; 11 afetam o juramento de cargo, 3 tratam do juramento das praças e 5 tratam de ambos. Percebem-se 4 variações fundamentais, ao longo do tempo, na formulação dos juramentos dos oficiais e das praças (tabela 1).15 As outras mudanças são administrativas ou dizem respeito à prestação do juramento.

Tabela 1
Variações fundamentais dos juramentos das Forças Armadas dos Estados Unidos

Data/Lei Juramento Comentários
1º de junho de 1789
1º Congresso/ 1ª sessão , Lei 1, Capítulo 1
Juramento do oficial: Eu, fulano de tal, solenemente juro ou afirmo (conforme seja o caso) que defenderei a Constituição dos Estados Unidos. A primeira lei dos Estados Unidos formulava a exigência de que os funcionários do governo prestassem juramento ou fizessem uma promessa, conforme o artigo VI da Constituição.
29 de setembro de 1789
1º Congresso, 1ª sessão, Lei 1, Capítulo 25
Juramento das praças: Eu, fulano de tal, solenemente juro ou prometo (conforme seja o caso) ser fiel e leal aos Estados Unidos da América e servi-lo com honestidade e fidelidade contra todo e qualquer inimigo ou adversário, e observar e cumprir as ordens do presidente dos Estados Unidos da América e dos oficiais meus superiores. Esta disposição legal separava o juramento dos militares do juramento dos outros funcionários públicos. Também criava um juramento para as praças, distinto do juramento do oficial, com fidelidade aos Estados Unidos em vez de à Constituição e exigência de obedecer as ordens de sua cadeia de comando. O juramento do oficial refletia o juramento especificado na Lei 1, sessão 1 para os membros do Congresso.
30 de abril de 1790
1º Congresso, 2ª sessão, Lei 2, Capítulo X
Juramento do oficial e das praças: Eu, fulano de tal, solenemente juro ou prometo (conforme seja o caso) ser fiel e leal aos Estados Unidos da América, e servi-lo com honestidade e fidelidade contra todo e qualquer inimigo ou adversário, e observar e cumprir as ordens do presidente dos Estados Unidos da América e dos oficiais meus superiores, conforme as leis da guerra. Esta lei, aprovada como meio de continuação do estabelecimento das forças armadas, exigia que tanto os oficiais quanto as praças prestassem o mesmo juramento. Em 3 de março de 1795, a última frase foi mudada para “segundo as regras e leis da guerra”. Cada novo Congresso revogava a lei do Congresso anterior e aprovava uma nova lei criando as forças militares, inclusive com uma seção a respeito do juramento. Em 1815, (13º Congresso, 3ª sessão), o Congresso já não mais duplicava a lei anterior de estabelecimento das forças armadas e só estabelecia mudanças na lei anterior que havia estabelecido as forças armadas.
2 de julho de 1862
37º Congresso, 2ª sessão, capítulo 128
Juramento do oficial: Eu, fulano de tal, juro (ou afirmo) solenemente que jamais tomei armas voluntariamente contra os Estados Unidos desde que me tornei seu cidadão; que não emprestei voluntariamente ajuda, simpatia, conselho ou estímulo a pessoas envolvidas em hostilidade armada contra ele; que jamais solicitei ou recebi ou tentei exercer funções oficiais quaisquer sob qualquer autoridade ou pretensa autoridade que fosse hostil aos Estados Unidos; que jamais concedi apoio voluntário a qualquer pretenso governo, autoridade, poder ou constituição, dentro dos Estados Unidos, que fossem hostis ou inimigos dele. E, além disso, solenemente juro (ou afirmo) que, com o máximo de meu conhecimento e capacidade, apoiarei e defenderei a Constituição dos Estados Unidos contra todos os inimigos, nacionais ou estrangeiros; que serei fiel e leal ao mesmo; que assumo livremente esta obrigação sem qualquer reserva mental ou propósito de evasão e que desempenharei bem e fielmente os deveres do ofício que irei em seguida assumir, na presença de Deus. A intenção dessa lei, durante a Guerra de Secessão, era garantir que os funcionários do governo não estivessem apoiando ou tivessem apoiado a Confederação. Este “juramento prova de fogo” representou uma enorme ampliação dos juramentos anteriores, e continha muito mais minúcias do que eles. A lei também separava o juramento do oficial do juramento das praças, tornando mais uma vez o juramento do oficial consistente com o juramento dos funcionários públicos.
11 de julho de 1868
40º Congresso, 2ª sessão, capítulo 139
Juramento do Oficial: Eu, fulano de tal, solenemente juro (ou afirmo) que apoiarei e defenderei a Constituição dos Estados Unidos contra todos os inimigos, estrangeiros e nacionais; que serei fiel e leal ao mesmo; que assumo essa obrigação livremente, sem qualquer reserva mental ou propósito de evasão; que desempenharei bem e fielmente os deveres do cargo que vou assumir, na presença de Deus. Esta lei foi a primeira mudança no juramento depois da Guerra de Secessão. O novo juramento retirava a “verificação de antecedentes” da versão de 1862 e estabelecia a formulação exata do atual juramento do oficial. Mudanças legislativas subseqüentes trataram da prestação do juramento, mas não da sua formulação.
5 de maio de 1950
81º Congresso, 2ª sessão, capítulo 169 (Lei Pública 506)
Juramento das praças: Eu, ____, solenemente juro (ou afirmo) que serei fiel e leal aos Estados Unidos da América; que o servirei de maneira honesta e fiel contra todo e qualquer inimigo; e que obedecerei às ordens do presidente dos Estados Unidos e dos oficiais meus superiores, conforme os regulamentos e o Código Uniforme de Justiça Militar dos Estados Unidos. Esta lei foi o primeiro ato legislativo a respeito do juramento depois da Segunda Guerra Mundial, estabelecendo que o Código Uniforme de Justiça Militar [UCMJ] unificava, consolidava, revia e determinava, de modo codificado, as leis da guerra, as leis de regência da Marinha e as leis disciplinares da Guarda Costeira. A sessão 8 identificava um juramento padrão para todas as praças.
5 de outubro de 1962
87º Congresso, 2ª sessão
(Lei Pública 87-751)
Juramento das praças: Eu, _____, solenemente juro (ou afirmo) que apoiarei e defenderei a Constituição dos Estados Unidos contra todos os inimigos, nacionais ou estrangeiros, que serei fiel e leal ao mesmo, que obedecerei às ordens do presidente dos Estados Unidos e dos oficiais meus superiores, conforme os regulamentos e o Código Uniforme de Justiça militar. Na presença de Deus. Este ato legal foi adotado para tornar o juramento das praças mais consistente com o juramento do oficial, usando a frase “apoiar e defender a Constituição” e acrescentando “Na presença de Deus” no final. Esta foi a última alteração legislativa na formulação de um desses juramentos. A legislação subseqüente a respeito do juramento tratou de questões administrativas.

A mensagem do juramento

Algumas pessoas talvez pensem que a concentração no juramento e nos fundadores do país é apenas patriótica, uma retórica altissonante, e talvez questionem o significado do juramento no ambiente de hoje.16 Contudo, durante a Operação Allied Force, o Gen Wesley Clark achou-se em um dilema que envolvia bastante o juramento. Como comandante combatente do US European Command, ele devia fidelidade aos Estados Unidos. Mas ele também estava servindo como comandante aliado supremo, na Europa, com responsabilidade perante os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Em seu livro Waging Modern War, o General Clark refere-se a esse dilema. Quem deveria ter prioridade: os Estados Unidos ou a OTAN? No início da campanha aérea, Clark chamou primeiro Javier Solano, então secretário-geral da OTAN, antes de chamar o Gen Hugh Shelton, presidente da Junta de Chefes de Estado Maior. Ao explicar sua situação difícil ele observa: “eu era o comandante geral, mas representava uma nação que não queria participar”.17 É interessante que em vez de escolher palavras como servia ou trabalhava para, ele usa representava, que tem conotação de grau menor de responsabilidade e é uma relação passiva, em vez de uma fidelidade ativa. Com efeito, Clark dedicou seu livro a Solano e aos seus líderes e forças armadas da OTAN – não aos dos Estados Unidos e a suas forças armadas.18

Embora o General Clark não haja ab-rogado sua fidelidade à Constituição dos Estados Unidos em favor da fidelidade à OTAN, ele lutou com a questão de onde estavam suas prioridades e responsabilidades. A despeito das diferenças de opinião entre os Estados Unidos e a OTAN, com relação a interesses, metas e métodos, ambas as partes tinham o mesmo objetivo final: interromper a purificação étnica em Kosovo. Em conseqüência, Clark não teve de fazer nenhuma escolha do tipo ele ou eu.19 Entretanto, este exemplo mostra como a complexidade da guerra moderna e os problemas gerados por trabalhar dentro de alianças podem fazer com que mesmo um grande americano como o General Clark se debata. O ato de reafirmar o juramento de cargo deve servir de orientação a todos os oficiais quando se encontram em situações difíceis.

Esta breve história do juramento torna mais evidente o significado de sua formulação. O juramento fornece orientação duradoura para os oficiais das forças armadas. Cada frase tem a sua própria história e sua própria mensagem.

Eu, fulano de tal, solenemente juro (ou afirmo)

O juramento começa com a opção de jurar ou afirmar. Embora o direito atual dê conotação menos religiosa à palavra juro, o termo juramentoafirmar. Esta formulação também está consistente com a opção do presidente, de jurar ou afirmar, como prescrito no artigo II da Constituição. De qualquer modo, juramento significa uma declaração pública de compromisso pessoal. Os oficiais precisam ter responsabilidade pessoal por suas ações. claramente tinha essa conotação no final dos anos 1700. Na verdade, a legislação original referia-se a “juramento ou afirmação”. Reconhecendo que alguns grupos religiosos, por exemplo os Quakers, talvez tivessem objeções a “jurar” a um Ser Supremo, ou que alguns talvez não acreditassem em um Ser Supremo, o Congresso deu a opção de

Que apoiarei e defenderei a Constituição dos Estados
Unidos

Para compreender o início do juramento, devemos conhecer e compreender a Constituição. Antes de prestarem juramento, quando do recebimento da patente de oficial, ou reafirmá-lo, quando da promoção, são muito poucos os oficiais que se dão ao trabalho de ler e estudar o documento que eles juram apoiar e defender. O juramento exige que os oficiais apóiem e defendam a Constituição – não o presidente, não o país, não a bandeira e não uma Força militar específica. Todavia, ao mesmo tempo, a Constituição simboliza o presidente, o país, a bandeira, as forças armadas e muito mais. O preâmbulo da Constituição sublinha sucintamente os ideais representados pelo documento.20 A despeito do fato de que a cadeia de comando leva ao presidente, os oficiais precisam prestar lealdade ao poder executivo, legislativo e judiciário, porque a Constituição foi construída com uma série de pesos e contrapesos que distribui o poder por esses três corpos. Esses pesos e contrapesos criam uma ineficiência intrínseca ao sistema democrático americano, que freqüentemente se revela frustrante para oficiais das forças armadas, cujo ambiente tenta fornecer a mais efici-ente e eficaz força combatente disponível.21

O juramento original de 1789 só dizia que se precisa apoiar a Constituição. Embora muitas pessoas talvez considerem, à primeira vista, que a frase apoiar e defender é um único pensamento, cada palavra traz uma conotação ligeiramente diferente. George Washington transmite a idéia de apoio em seu discurso de despedida: “a base de nosso sistema político é o direito do povo de fazer e alterar suas constituições de governo. Mas a Constituição, que exista no momento, até que seja mudada por um ato explícito e autêntico do povo inteiro, é sagrada e obrigatória para todos. A própria idéia de poder e o direito do povo de estabelecer um governo pressupõe o dever de todos os indivíduos de obedecerem o governo estabelecido”.22

As palavras e defender foram acrescentadas em 1862, durante a Guerra de Secessão, quando a defesa e a preservação do país tornaram-se supremas.23apoiar e defender a Constituição é propositalmente vaga, deixando que as melhores mentes a interpretem e aperfeiçoem, dentro de certas orientações.24 Para compreender o significado da formulação, deve-se comparar o juramento dos Estados Unidos com a versão soviética, exigindo esta última que os oficiais “cumpram sem qualquer questionamento as exigências de todos os regulamentos militares e ordens de comandantes e superiores”.25 É uma verdadeira bênção que os Estados Unidos não exijam que seus oficiais obedeçam “sem questionamento”, mas lhes dêem a oportunidade e a flexibilidade para inovar. Entretanto, com essa flexibilidade, vêm tanto a responsabilidade quanto a imputabilidade pelas próprias ações. O compromisso passivo de apoiar foi ampliado para incluir a exigência ativa de defender. A frase

Contra todos os inimigos, nacionais ou estrangeiros

Esta frase foi acrescentada em 1862, como resultado direto da Guerra de Secessão – especificamente, para tratar da possibilidade de soldados da União se unirem à Confederação (mais notoriamente às forças comandadas pelo Gen Robert E. Lee). Quer dizer, pessoas que anteriormente haviam jurado lealdade aos Estados Unidos estavam agora lutando contra ele.

Embora as pessoas agora se preocupem pouco com a possibilidade de outra Guerra de Secessão, nossas forças armadas ainda precisam estar preparadas para todos os inimigos e contingências. O ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 apanhou muitos americanos desprevenidos. A reação ao lançamento de caças de escolta mostra como a liderança do país enfrentou o dilema de fazer voar patrulhas aéreas de combate nos Estados Unidos (defender a Constituição) enquanto tentava cumprir as atuais leis de posse comitatus (apoiar a Constituição).26 Os oficiais das forças armadas não podem simplesmente manter o status quo: precisam olhar para o futuro, identificar ameaças emergentes e desenvolver capacidades para contraporem-se a um espectro completo de ameaças. Aparentemente, nossa capacidade de reagir e, o que é mais importante, impedir um ataque assimétrico futuro é inadequada. Os oficiais precisam ter certeza de tratar todos os inimigos e não apenas defender necessidades centralizadas na Força às expensas das exigências nacionais. Por exemplo, desde muito tempo, sabemos da falta de inteligência de fontes humanas, que necessitamos para analisar a capacidade e a intenção de atores não-estatais emergentes. Todavia, a Força Aérea tem a intenção de comprar mais de 300 aeronaves F-22 ao custo de $63 bilhões, para substituir caças atuais que já podem enfrentar as forças aéreas de qualquer ator estatal importante durante um futuro previsível.27 Precisamos pensar bastante a respeito do que seja aperfeiçoar o poderio já existente na Força em vez de financiar uma deficiência nacional conhecida.28 Nosso juramento exige que apoiemos e defendamos contra todos os inimigos, não apenas contra as ameaças que chamem a atenção ou produzam grandes lucros.

Que serei fiel e leal ao mesmo

A frase fiel e leal remonta, pelo menos, a 1606, quando o rei Jaime exigiu um juramento de “insuperável fidelidade e lealdade à majestade do rei” para todos que deixassem a Inglaterra indo para a América, para trabalhar na Virginia Company.29 Não obstante, o juramento do oficial garante lealdade à Constituição como um todo, não apenas ao presidente. Os oficiais devem jurar fidelidade à nação como um todo em vez de a sua Força ou organização militar, uma idéia que lembra o valor central da Força Aérea de “a Força antes de si próprio”. Contudo, os oficiais precisam não entender Força como a Força Aérea dos Estados Unidos. O valor central do Exército de “serviço altruísta” fornece uma noção mais clara de servir aos demais.30 Além disso, a orientação da Força Aérea a respeito dos valores centrais trata de manter “a fé no sistema”, o que inclui não apenas o sistema militar, mas o sistema do governo democrático, corporificado na Constituição.31

Embora a Constituição tenha elaborado um sistema de pesos e contrapesos para envolver os diversos ramos do governo, os fundadores do país advertiram contra o paroquialismo contra-producente. Em seu discurso de posse, Washington advertiu: “contemplo o mais seguro dos juramentos, o de que, de um lado, nem preconceitos locais, nem apegos, nem pontos de vista separados, nem animosidades parti-dárias serão capazes de desencaminhar o olhar abrangente e eqüitativo que deve zelar por esta grande assembléia”.32 A fidelidade dos oficiais os compele a trabalhar juntos para desenvolverem as melhores soluções para a nação, em vez de empenharem-se na competição entre as Forças para obterem o pedaço maior do orçamento da defesa.

Que assumo essa obrigação livremente, sem qualquer
reserva mental ou propósito de evasão

Esta passagem também se originou durante a Guerra de Secessão. O Congresso e o presidente Abraham Lincoln, desejando garantir que os soldados não desertariam, ampliaram o juramento, na tentativa de garantir a lealdade.33 Em última análise, contudo, a lealdade depende da integridade do indivíduo.

Esta noção corresponde ao valor central da Força Aérea de “integridade primeiro”, ao valor central de “honra”, da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais, e aos valores centrais de “integridade” e “honra”, do Exército.3435 Integridade é um traço que se aprende. Seja esse aprendizado baseado em uma educação religiosa, seja um acolher de normas aceitáveis da sociedade, a honra e a integridade são partes do núcleo de todas as Forças militares. Manter a integridade está implícito no juramento e precisa guiar os oficiais quando eles enfrentam conflitos de interesses e escolhas difíceis.

E que cumprirei bem e fielmente os deveres do cargo
em que vou ser agora investido

Esta formulação tem sua origem no primeiro estatuto, de 1789. Em acréscimo ao juramento padrão, o secretário do senado e o servidor da Câmara dos Deputados tinham de prestar um juramento adicional de que “solenemente juro ou afirmo que verdadeira e fielmente desempenharei os deveres do dito meu cargo, com o máximo de meu conhecimento e capacidade”.36

Esta condição é o epítome do valor central de “excelência em tudo o que fazemos,” da Força Aérea, do valor de “dedicação,” da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais, e do valor central de “dever” do Exército. Precisamos ser proativos e desempenhar nossos deveres com o máximo de nossa capacidade, alcançando mestria em nossas capacidades enquanto somos oficiais subalternos e, em seguida, ganhando amplitude à medida que somos promovidos aos postos imediatamente superiores. O progresso do país depende de que façamos isto.

Na presença de Deus

A controvérsia a respeito da separação entre Igreja e Estado por muitas vezes tolda esta frase final. Não obstante, é a mais importante do juramento. Nossas ações têm implicações morais e, para os que acreditam num Ser Supremo, até implicações religiosas. Às vezes, os oficiais das forças armadas parecem hesitantes em abraçar publicamente sua religião ou reconhecer o significado da orientação divina.37 Contudo, a história americana está repleta de exemplos de apelos públicos a um Ser Superior para orientação e proteção. A Declaração de Independência inclui um apelo “ao Juiz Supremo do Mundo” e, embora a Constituição não inclua a frase na presença de Deus no juramento presidencial, Washington acrescentou estas palavras quando prestou o primeiro juramento.38 O presidente Lincoln tratou abertamente do conceito de orientação divina no discurso de Gettysburg: “Esta nação, sob a proteção de Deus, terá um novo nascimento de liberdade”. Quando o juramento de fidelidade teve adicionada a frase “sob a proteção de Deus“, em 1953, o presidente Dwight Eisenhower comentou: “deste modo, estamos reafirmando a transcendência da fé religiosa na herança dos Estados Unidos e em seu futuro; deste modo fortaleceremos constantemente as armas espirituais que para sempre serão o recurso mais poderoso de nosso país, na paz e na guerra”.39

Na presença de Deus tornou-se parte do juramento do oficial em 1862, mas o juramento das praças não teve essas palavras acrescidas até 1962. O Congressional Record fornece um descortino soberbo quanto a seu significado:

As palavras “na presença de Deus” não são parte da obrigação que se assume ao prestar o juramento. Em vez disso, constituem uma afirmativa de sinceridade ao assumir os deveres do serviço militar em boa fé e com o auxílio do poder supremo reconhecido pela praça. É dirigida apenas à concepção que ele ou ela tenha do todo-poderoso, qualquer que seja ou qualquer que não seja. Não há aqui, um esforço para impor à praça qualquer conceito religioso estabelecido … para a grande maioria das pessoas que prestam o juramento, contudo, esta adição garantirá um grau singular de convicção pessoal que não poderia ser alcançado de outra forma, e se revelará, deste modo, uma fonte bem-vinda de força, tanto pessoal quanto nacional.40

Até os ateus têm, de um ponto de vista da sociedade, a obrigação moral. Encontra-se este conceito na longínqua época de 400 a.C., quando Sun Tzu, em A Arte da Guerra, inicia o seu primeiro capítulo com a declaração “a guerra é assunto de vital importância para o Estado … portanto vamos avaliá-la em termos de 5 fatores fundamentais … o primeiro desses fatores é a influência moral”.41 Claramente, uma das maiores mentes militares de todos os tempos compreendeu as implicações morais de nossas ações e sua importância para o êxito.

Na presença de Deus também implica a punição se os oficiais não mantiverem a palavra. Compare-se a parte do juramento soviético que termina com “se eu romper este solene voto, seja eu severamente punido pelo povo soviético, odiado universalmente e desprezado pelo povo trabalhador”.42 Embora isto seja uma grande condenação, na verdade é menos severa que as conseqüências potenciais para alguém que tem um fundamento moral ou religioso forte. Na presença de Deus reconhece que não existe um compromisso mais forte.43

Conclusão

Ao estudar os documentos e acontecimentos fundamentais na história dos Estados Unidos, os oficiais das forças armadas podem obter melhor descortino a respeito do seu juramento de cargo e da implicação moral de suas ações. Os oficiais subalternos devem concentrar-se em quão bem e fielmente desem-penham os deveres de seu cargo. Para os oficiais superiores, o juramento deve portar ainda maior significado à medida que usam um estilo mais indireto de liderança para inculcar em seus seguidores os valores centrais da Força (tabela 2).

Os oficiais precisam desenvolver a habilidade de tomar as decisões adequadas de liderança quando a orientação talvez seja vaga a respeito da melhor maneira de apoiar e defender a Constituição. Precisam dar-se ao trabalho de identificar capacidades para tratar de todo o espectro de conflitos e enfrentar os diferentes modos de resolver prioridades conflitantes na guerra de coalizão. As pessoas, em todos os níveis, precisam concentrar-se nas necessidades do país, em vez de nos desejos de suas Forças. Finalmente, os oficiais precisam abraçar o fundamento moral simbolizado na frase na presença de Deus, já que ela é o coração e alma do êxito das futuras gerações de soldados, marinheiros, aviadores e fuzileiros navais.  n

Tabela 2

Comparação do juramento de cargo
com os valores centrais

Juramento do Cargo
Valores Centrais

Força Aérea Marinha/Corpo de
Fuzileiros Navais
Exército
Apoiarei e defenderei a
Constituição dos Estados
Unidos contra todos os
inimigos, nacionais e
estrangeiros.
A Força antes de si
próprio
Coragem Serviço Altruísta
Coragem Pessoal
Lealdade
Assumo esta obrigação
livremente, sem qualquer
reserva mental ou propósito
de evasão.
Integridade Primeiro Honra Integridade
Desempenharei bem e
fielmente os deveres do
cargo em que vou se
agora investido.
Excelência em tudo o
que fazemos
Dedicação Dever e Respeito

Notas

1. Richard Peters, ed., The Public Statutes at Large of the United States of America, vol. 1 (Boston: Charles C. Little and James Brown, 1845), 23.

2. Veja-se Joseph Gales Sr., ed., Annals of Congress: The Debates and Proceedings in the Congress of the United States, vol. 1, March 3, 1789 to March 3, 1791 (Washington, D.C.: Gales and Seaton, 1834). Embora o Congressional Record contenha centenas de páginas a respeito de tópicos como crédito público, dívida pública e taxas por tonelagem, só se encontram 3 páginas dignas de discussão a respeito de juramento.

3. O Air War College da Força Aérea [dos EUA] inclui o juramento do oficial e das praças na segunda contracapa de seus livros-texto a respeito de liderança e ética. O Código de Conduta está na primeira contracapa. Em seu livro True Faith and Allegiance: The Burden of Military Ethics (Lexington: University Press of Kentucky, 1995), James H. Toner inclui os juramentos do oficial e das praças na página que antecede o índice.

4. Devido a limitações de espaço, este artigo se concentra no juramento do oficial. Muitos desses mesmos temas e idéias se aplicam aos dedicados profissionais da nossa força de praças.

5. American Peoples Encyclopedia, 1956 ed., verbete “oath.” Segundo o Merriam-Webster Collegiate Dictionary, 10ª ed., um juramento é “solene [e usualmente] formal apelo a Deus ou a um deus para que testemunhe a verdade daquilo que se diz ou testemunhe que se pretende sinceramente fazer o que se diz (2): uma declaração solene da verdade ou da inviolabilidade da palavra da pessoa”.

6. American Peoples Encyclopedia, 1956 ed., verbete “Hippocrates.”

7. Lt Col Thomas H. Reese, “An Officer’s Oath,” Military Review, January 1964, 25.

8. Harold Melvin Hyman, To Try Men’s Souls: Loyalty Tests in American History (Berkeley: University of California Press, 1959), 12–13.

9. John C. Fitzpatrick, ed., The Writings of George Washington from the Original Manuscript Sources, 1745–1799, vol. 11 (Washington, D.C.: Government Printing Office, 1931–1944), on-line, 13 de janeiro de 2002, acessado em http://www.memory.loc. gov. (Clicar “Search”; buscar em “George Washington, May 7, 1778, General Orders”). O juramento de Washington para os oficiais é o seguinte:

Eu … reconheço que os Estados Unidos da América são Estados Livres, Independentes e Soberanos e declaro que Seu Povo não deve Fidelidade ou Obediência a Jorge III, Rei da Grã-Bretanha e abandono, recuso e abjuro qualquer Fidelidade ou Obediência a ele e juro (ou afirmo) que usarei o máximo de meu Poder para apoiar, manter e defender o dito Estados Unidos contra o dito Rei Jorge III, seus herdeiros e Sucessores, e seus Defensores, Assistentes e Partidários e servirei o dito Estados Unidos no cargo de … que agora detenho com Fidelidade segundo o máximo de minha capacidade e compreensão.

10. Ibid. Em outro exemplo, em 28 de dezembro de 1780, Washington mandou à corte marcial Thomas Dewees, tendo-o por culpado de dois crimes (1) não prestar o juramento de cargo e (2) “vender madeira pública em prejuízo do serviço”. Aqui vimos que não prestar um juramento não é um simples erro administrativo. Na verdade, a prática da época era publicar a sentença em um jornal “para impedir, no futuro, que crimes assim sejam cometidos”. Os meios de comunicação mundiais que estão no ar por 24 horas cada dia, continuam, hoje, a tornar públicas as imprudências militares e têm impacto na maneira pela qual o público percebe as forças armadas.

11. Mortimer J. Adler oferece uma soberba análise da Constituição em We Hold These Truths: Understanding the Ideas and Ideals of the Constitution (New York: Macmillan, 1987).

12. Peters, 23. Usar as iniciais A.B. é um formato legislativo para identificar que se deve colocar no lugar o primeiro e o último nome da pessoa.

13. Ibid. 119–21. Como acontece hoje, distintas leis de “dotação” especificam os orçamentos.

14. O juramento de 1862 é o seguinte:

Eu, fulano de tal, solenemente juro (ou afirmo) que jamais tomei armas voluntariamente contra os Estados Unidos desde que me tornei seu cidadão; que não emprestei voluntariamente ajuda, simpatia, conselho ou estímulo a pessoas envolvidas em hostilidade armada contra ele; que jamais solicitei ou recebi ou tentei exercer funções oficiais quaisquer sob qualquer autoridade ou pretensa autoridade que fosse hostil aos Estados Unidos; que jamais concedi apoio voluntário a qualquer pretenso governo, autoridade, poder ou constituição, dentro dos Estados Unidos, que fossem hostis ou inimigos dele. E, além disso, solenemente juro (ou afirmo) que, com o máximo de meu conhecimento e capacidade, apoiarei e defenderei a Constituição dos Estados Unidos contra todos os inimigos, nacionais ou estrangeiros; que serei fiel e leal ao mesmo; que assumo livremente esta obrigação sem qualquer reserva mental ou propósito de evasão e que desempenharei bem e fielmente os deveres do ofício que irei em seguida assumir, na presença de Deus.

Veja-se An Act to Prescribe an Oath of Office, and for Other Purposes, 37th Cong., 2d sess., cap. 128.

15. Para rastrear a legislação que se refere aos juramentos militares, deve-se compreender a organização básica, estrutura e quatro mudanças importantes na legislação dos Estados Unidos. As leis originais, começando em junho de 1798, eram identificadas como estatutos, organizados em capítulos e seções. Em 1o de dezembro de 1873, o Congresso aprovou o Revised Statutes, lei única que codificava todas a leis de caráter permanente que estavam em vigor. Essa lei substituiu todas as anteriores, de 1789 a 1873. O Revised Statutes estava organizado por títulos e seções. O esforço geral seguinte para melhor organizar as leis do país ocorreu em 1926, quando o United States Code (USC) substituiu o Revised Statutes. As leis foram organizadas em 50 títulos, divididos em seções. O Título 5 tratava do Departamento Executivo (incluindo os oficiais das forças armadas); o Título 10 tratava do Exército (e das Forças Aéreas do Exército, dentro do Exército); o Título 32 dizia respeito à Guarda Nacional; e o Título 34 tratava da Marinha/Corpo de Fuzileiros Navais. A versão mais recente ( em vigor) do USC começou em 1946, com um projeto abrangente de rever e pôr em vigência todo o USC como “lei positiva”, o que pôs fim à necessidade de referir-se a leis anteriores para esclarecer a lei atual do país. O atual USC está organizado por títulos e seções, mas também inclui subtítulos, capítulos e partes para organizar adicionalmente a legislação. O atual Título 10 consolida as forças militares (exceto a Guarda Nacional) em um título único, embora haja legislação relativa ao Departamento de Defesa, do poder executivo, no Título 5. Pelo menos 19 trechos da legislação tratam de juramentos militares. Para descrição mais minuciosa da história legislativa do juramento de cargo, entre em contato com o autor no correio eletrônico kdkkeskel@hotmail.com.

16. Em um confronto que ganhou bastante publicidade durante a Guerra da Coréia, contrapondo o Gen Douglas MacArthur ao Presidente Harry S. Truman, MacArthur criticou abertamente o modo pelo qual a administração conduzia o esforço de guerra, chegando a ameaçar invadir a China, desafiando, assim, a política da liderança civil. Como resultado das ações do general, em 11 de abril de 1951, o Presidente Truman demitiu MacArthur de comandante supremo do Comando das Nações Unidas. Truman explicou como, em sua perspectiva, MacArthur não apoiava as exigências constitucionais e não desempenhava seus deveres lealmente: “O debate pleno e vigoroso dos assuntos da política nacional é um elemento vital no sistema constitucional de nossa democracia livre. É fundamental, contudo, que os comandantes militares precisem ser governados pelas políticas e diretrizes que lhes são expedidas consoante o modo determinado pelas leis e pela Constituição. Em épocas de crise, esta consideração é especialmente obrigatória.” “Truman Dismisses MacArthur,” CNN Interactive, on-line, 14 de outubro de 2002, acessado em http://www.cnn.com/SPECIALS/cold.war/ episodes/05/documents/macarthur.

17. Wesley K. Clark, Waging Modern War: Bosnia, Kosovo, and the Future of Combat (New York: Public Affairs, 2001), 154.

18. Embora seja bem sabido que os Estados Unidos são membros da OTAN e, portanto, estejam incluidos na dedicatória de Clark, ele parece concentrar-se conscientemente na OTAN, em vez de nos Estados Unidos.

19. Poder-se-ia também argumentar que o apoio de Clark à OTAN superando a política corrente dos Estados Unidos está consistente com a Constituição, que dá ao poder executivo autoridade para celebrar tratados. Desse modo, a aliança da OTAN, ratificada pelo Congresso conforme a Constituição, é consistente com esse documento.

20. De acordo com o preâmbulo: “Nós, o Povo dos Estados Unidos , a Fim de constituir uma União mais perfeita, estabelecer a Justiça, garantir a Tranqüilidade nacional, providenciar uma defesa comum, promover o Bem-Estar geral e assegurar as Bênçãos da Liberdade a nós mesmos e à nossa Posteridade, ordenamos e estabelecemos esta Constituição dos Estados Unidos da América.”

21. O Maj Larry A. Helgeson tem idéias similares em seu artigo “Moral Obligations from our Oath to the U.S. Constitution,” in United States Air Force Academy Journal of Professional Military Ethics, 1988, 3–19.

22. George Washington’s Farewell Address to the People of the United States, 17 September 1796, on-line, 4 de janeiro de 2002, acessado em http://www.earlyamerica.com/earlyamerica/milestones/ farewell/text.html.

23. Parte da justificativa da Proclamação de Emancipação pelo Presidente Abraham Lincoln demonstra o pensamento da época: “Senti que medidas que de outra forma seriam inconstitucionais podiam tornar-se legais por tornarem-se indispensáveis à preservação da constituição, por meio da preservação do país”. Veja-se Helgeson, 15.

24. Até Washington compreendeu que a Constituição não era perfeita. Antes do Congresso Continental ele observou: “Levantemos um padrão que possa ser corrigido pelos sábios e honestos. O acontecimento está nas mãos de Deus” John Romain Rood, The History of Building the Constitution of the United States (Detroit: Detroit Law-Book Co., 1948), 13.

25. Helgeson, 4. Muitos países exigem, hoje em dia, fidelidade a um rei ou chefe de estado. Por exemplo, os seguintes países exigem que os oficiais jurem lealdade a uma pessoa:

• Grã-Bretanha: “Juro pelo Deus Todo-poderoso que serei fiel e verdadeiramente leal a Sua Majestade a Rainha Elizabeth II, Seus Herdeiros e Sucessores, e que, no cumprimento do dever, defenderei honesta e fielmente Sua Majestade, Seus Herdeiros e Sucessores, em Pessoa, Coroa e Dignidade, contra todos os inimigos, e observarei e obedecerei todas as ordens de Sua Majestade, Seus Herdeiros e Sucessores e dos Oficiais da Aeronáutica e outros Oficiais meus superiores.”

• Jordânia: “Juro ser leal a Deus, ao país e ao rei, e levar a efeito todas as necessidades de meu trabalho com honra e dignidade, sem discriminação ou vieses, e a obedecer todas as ordens militares emanadas de meus superiores.”

• Brasil: “Ao ingressar na Força Aérea Brasileira, prometo obedecer estritamente as ordens das autoridades, respeitar meus superiores hierárquicos e ser bom para meus camaradas e subordinados, dedicar-me inteiramente ao serviço da pátria, defender a honra, as instituições e os deveres com o sacrifício de minha própria vida”.

Informação fornecida pelos oficiais estrangeiros que cursam o US Air War College, Maxwell AFB, Ala., primavera de 2002.

26. O conceito de posse comitatus baseia-se em lei do Congresso (20 stat. L., 145, chap. 263, sec. 15, 18 June 1878). A seção 15 começa com a seguinte declaração: “A partir da aprovação desta lei, e para o futuro, não será legal empregar qualquer porção do Exército dos Estados Unidos como posse comitatus, ou, dito de outro modo, para o propósito de executar as leis, exceto nos casos e circunstâncias em que o referido emprego da dita Força esteja expressamente autorizado pela Constituição ou por lei do Congresso.” Esta lei foi aprovada como resultado de 15 anos de aparente “ocupação militar” do Sul, após a Guerra Civil. Veja-se The Posse Comitatus Act of 1878, on-line, 22 de agosto de 2002, acessado em http://www.dojgov.net/posse_ comitatus_act.htm.

27. Jim Garamone, “F-22 Gets Green Light for Low-Rate Production,” American Forces Information Service News Articles, on-line, 4 de abril de 2002, acessado em http:/www.defenselink.mil/ news/Aug2001/n08162001_200108161.html.

28. Na verdade, o Website do F-22 esclarece como nosso caça de nova geração nos levará da superioridade aérea ao domínio do ar. O site na verdade tem um relógio que faz a contagem regressiva até dos segundos que faltam para alcançar o domínio do ar. Veja-se F-22 Raptor Team Infonet,http://www.f22-raptor.com. Outro exemplo de falha negligenciada é o transporte aéreo estratégico. on-line, 4 de abril de 2002, acessado em

29. Hyman, 5.

30. O Exército tem sete valores centrais: integridade, honra, lealdade, respeito, dever, coragem pessoal e serviço altruísta.

31. United States Air Force Core Values (Washington, D.C.: Department of the Air Force, 1 January 1997).

32. National Archives and Records Administration: Washington’s Inaugural Address, 30 April 1789, on-line, 4 de janeiro de 2002, acessado em http://www.archives.gov/exhibit_hall/american_George Washington’s Farewell Address. O problema do paroquialismo é também iluminado no Novo Testamento da Bíblia: Pois se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode subsistir (Marcos 3:24). originals/inaugtxt.html. Washington reiterou essa advertência contra o paroquialismo no seu discurso de despedida, oito anos mais tarde: “Do modo mais solene, contra os efeitos deletérios do espírito partidarista em geral”. Veja-se

33. É irônico que mesmo patriotas como George Washington e John Adams tenham inicialmente feito juramento e prometido fidelidade ao rei da Inglaterra e, mais tarde, como se diz claramente na Declaração de Independência, tenham reconhecido que algumas vezes temos que agir contra um juramento: “Os Governos são instituídos entre os Homens recebendo seus poderes justos do consentimento dos governados. Que sempre que uma Forma de Governo se torna destrutiva desses fins, é Direito do Povo alterá-lo ou aboli-lo, e instituir novo Governo.” Outro acontecimento irônico foi que, imediatamente depois de receber o juramento de George Washington como presidente dos Estados Unidos (em que Washington prometia conservar, proteger e defender a Constituição), o chanceler de New York proclamou: “Viva George Washington, presidente dos Estados Unidos” em vez de viva a Constituição. Veja-se Gales, 27.

34. A Marinha e o Corpo de Fuzileiros Navais compartilham os valores centrais de honra, coragem e dedicação.

35. Disse o V Alte James B. Stockdale que “a integridade da pessoa pode dar-lhe algo em que confiar quando sua perspectiva pareça ficar borrada, quando as regras e princípios pareçam balançar e quando ela enfrenta escolhas difíceis quanto ao que é certo e o que é errado.” Citado por Maj Mark A. Hyatt’s “Honor and Ethics Must Be Reflected in the United States Air Force Officer’s Oath of Office,” United States Air Force Academy Journal of Professional Military Ethics, 1988, 25.

36. Peters, 24.

37. No discurso a respeito do Estado da União, de 1987, o Presidente Reagan observou: “Finalmente, paremos de suprimir o núcleo espiritual de nosso ente nacional. Nossa nação não poderia ter sido concebida sem o auxílio divino.” Veja-se “Ronald Reagan: State of the Union Address, 27 January, 1987,” This Nation, on-line, 14 de outubro de 2002, acessado em http:// www.thisnation.com/library/sotu/1987rr.html.

38. O discurso de despedida de Washington iluminou a conexão entre valores religiosos e o êxito desta experiência de democracia: “De todas as disposições e hábitos que levam à prosperidade política, a religião e a moralidade são apoios indispensáveis”. Veja-se George Washington’s Farewell Address.

39. The Original Pledge of Allegiance, on-line, 25 de setembro de 2002, acessado em http://www.usflag.org/the.pledge.of. allegiance.html. O juramento de lealdade foi criado em 1892, quando Francis Bellamy publicou algumas palavras na revista The Youth’s Companion para serem ditas pelas crianças em 12 de outubro de 1892, 400o aniversário da descoberta da América por Colombo. Naquele dia, mais de 12 milhões de crianças recitaram a versão original do juramento: “juro fidelidade a minha bandeira e à República que ela representa – uma nação indivisível – com liberdade e justiça para todos.” Em 14 de junho de 1943, a primeira Conferência Nacional sobre a Bandeira trocou as palavras “minha bandeira” por “Bandeira dos Estados Unidos” e, em 1942, o Congresso formalmente reconheceu o juramento. Um ano mais tarde a Suprema Corte decidiu que os estudantes não podiam ser forçados a proferi-lo. Em 1953, após um lobby do Knights of Columbus, o juramento testemunhou sua última mudança, acrescentado-se a frase “sob a proteção de Deus”. Infelizmente essa frase foi recentemente examinada pelo 9th US Circuit Court of Appeals, em San Francisco, que decidiu que o juramento constitui um endosso inconstitucional da religião, porque contém a frase “sob a proteção de Deus”. O lado bom é que é estimulante verem-se muitos funcionários públicos trabalhando ativamente para reverter essa decisão.

40. House, Armed Forces Oath of Enlistment, Report to Accompany H.R. 218, 87th Cong., 1st sess., 25 July 1961, 4. A Constituição garante que “jamais será exigida alguma prova de religião como condição para assumir qualquer cargo ou função pública dos Estados Unidos”. Tanto o Congresso quanto a Suprema Corte decidiram que incluir as palavras na presença de Deus não é inconstitucional.

41. Sun Tzu, The Art of War, trad. Samuel B. Griffith (Oxford: Clarendon Press, 1963), 63.

42. Helgeson, 4.

43. A Bíblia inclui referências a juramentos. Por exemplo, Mateus cita Jesus dizendo: “Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás para com o Senhor os teus juramentos” (Mat. 5:33).


Colaborador

O Tenente-Coronel Kenneth Keskel (Academia da Força Aérea dos EUA; Mestrado, University of Florida) é chefe da Seção de Programas e Organização, Diretoria de Pessoal e Organização, QG, Comando Aéreo de Combate, Base Aérea Langley, Virginia. Serviu anteriormente como vice-comandante, 347o Grupo de Apoio, Base Aérea de Yokota, Japão; comandante, 2o Esquadrão de Apoio, Base Aérea Barksdale, Louisiana; chefe, Divisão de Pessoal e Organização, Comando Sul dos EUA, Miami, Flórida, e Quarry Heights, Panamá; chefe, Gabinete de Pessoal, 384a Ala de Bombardeio e 22a Ala de Reabastecimento em Vôo, Base Aérea McConnell, Kansas; chefe, Desenvolvimento de Sistemas de Pessoal, QG da USAF, Pentágono, Washington, D.C.; e analista de pesquisa, Agência de Engenharia de Gerenciamento da Força Aérea, Base Aérea Randolph, Texas. O Cel Keskel cursou a Squadron Officer School [Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da USAF], a Escola de Nível Intermediário (Estagiário na RAND), e o Air War College.

As opiniões expressas ou insinuadas nesta revista pertencem aos seus respectivos autores e não representam, necessariamente, as do Departamento de Defesa, da Força Aérea, da Universidade do Ar ou de quaisquer outros órgãos ou departamentos do governo norte-americano.

FONTE: ASPJ