A confissão que falta

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Clóvis Rossi

LONDRES – Introduzo, na polêmica sobre a Lei de Anistia e a Comissão da Verdade, contribuição de um colunista não convidado, chamado Dmitri Medvedev, que vem a ser presidente da Rússia.

Em discurso comemorativo dos 65 anos da vitória sobre o nazismo na Segunda Guerra Mundial, obtida quando Josef Stálin ocupava o cargo hoje de Medvedev, o atual presidente disse: “Stálin cometeu crimes maciços contra seu próprio povo e, apesar de que trabalhou muito, apesar de que, sob sua direção, o país logrou êxitos, o que fez com seu povo é imperdoável.” Mais: “O regime que se formou na União Soviética só pode qualificar-se como totalitário, e nele se sufocavam os direitos e as liberdades elementares”.

Medvedev advogou pela abertura dos arquivos históricos, incluídos os da guerra, e até defendeu a criação de arquivos eletrônicos. Justificou: “Nós permitimos a falsificação da história, e a verdade deve, ao fim e ao cabo, ser apresentada à nossa gente e aos cidadãos estrangeiros que estejam interessados”. Completou: “Quanto mais material seja de livre acesso, tanto melhor”.

Não estou comparando o regime militar brasileiro com o estalinismo, até porque são raras as situações comparáveis em países tão diversos como Rússia e Brasil. Feita a ressalva, é importante observar que, em matéria de direitos humanos, ocultação da verdade e liberdades públicas, as coisas não podem se medir por quilo, na base de ali foi mais, aqui foi menos. Se houve violações e ocultações -e houve, tanto no Brasil como na URSS-, cabe prestar contas, expor a verdade, fazer mea-culpa como Medvedev está fazendo, ainda que ele seja jovem demais para poder ser responsabilizado pelos crimes do estalinismo. Ainda assim, ousou usar o “nós” para falar do passado.

Fonte: FSP via Notimp

10 Comentários

  1. Concordo com a abertura dos arquivos SE a intenção for a de mostrar o que, de fato, ocorreu. Todavia, considero que:
    1 – Isso não deve ser usado (como está sendo), para dar pensão vitalícia para bandido, sequestrador e assaltante de bancos, mesmo porque, esse País já está cheio de vadios vivendo de nossos impostos.
    2 – Isso também não deve ser usado para questionar a legitimidade da Lei da Anistia e muito menos, do jeito que está sendo pretendida por alguns.

    Ressalvada estas duas situações, sou a favor, sim, da abertura dos arquivos.

  2. Estudem a historia, e veram que antes mesmo de 1964 ja havia luta armada por esses militantes que hoje se dissem vitimas.Viva nossos PATRIOTAS que defenderam esse pais contra a instalação de uma ditadura comunista.Olhem a venezuela de hoje.Existe liberdade de pensamento e de expressão?.Outro exemplo a França invadida pelos nazistas,de um lado a França colaboracionista e do outro a França da resistencia de De Gaulle.Quem sãos os herois da França hoje.(dica a resistencia).

  3. Meu pensamento é próx. o do Intruder. Mas vou desafinar este discurso para um outro lado apenas:
    -Temos uma ferida que dói muito ainda aqui no Brasil.
    -Estamos consolidando nosso passadão, está contido, mas doído para muitos queixosos, com propostas de um futuro tremendo, isso se pensarmos que nosso hoje já é inacreditável face ao passado recente.
    -Estamos retomando nossa dignidade, poder dissuasório, oportunidades pipocando como nunca por aqui, e todas requerem salvaguarda.
    -Vejo interesses velados neste momento querendo insuflar os militares contra os “ditos vítimas da ditadura ferrenha”, e de quebra fraturar o nosso atual processo democrático/desenvolvimentista.O interessante é criar tanto dano a esta paz (frágil) indesejável aos que estão por fora, pois pode consolidar mesmo um país com status continental, e sua indústria bélica, e todas as demais que crescem a reboque da primeira.
    -A velocidade tomada pelo Brasil neste momento, por muitos interesses externos, deveria ser freada, seja contaminando seus processos de desenvolvimento, auto-gestão, auto – preservação, e se puder usar a mídia tão honesta para apimentar o que puder. Aqui pode-se ver como um problema que “gere autofagia democrática” poderia ser útil, tanto para desarticular, como abrir oportunidades a penetração externa. Leia-se inclusive penetrar na região geopolítica da Am.Sul.seja contribuindo, vendendo armas, dando um clima de auto -determinação local, e se possível estimulando algo semelhante ao fascismo entre os vizinhos, mas disfarçando de argumento legítimo, se intitulando de auto – crítica.
    -Certamente foi feito um pacto voraz entre tio -Sam e o urso siberiano, para poderem olhar para o curral sem se preocupar um com o outro. Neste momento é MUITO IMPORTANTE VENDER ARMAS, lograr divisas, e criar o clima ideal para que isso ocorra.

    Bom, apenas apontei a lanterna no rumo que percebo, e este ataque de sinceridade é mesmo bem oportuno. Eu se estive por fora querendo entrar, eu apressaria antes do tempo de maturação esta quebra de sigilo, e poria fogo no que está calmo e pacificado. Paro por aqui…

  4. Colocando o pingo nos iis, primeiramente que a possibilidade de abertura dos arquivos de identificação e inteligência da ditadura a respeito de prisioneiros, assassinatos e outros tipos de atitude não se traduzirá em revisão da lei da anistia, já que a sentença final foi dada pelo STF e endossada pela AGU.

    A Comissão de Verdade, se aprovada e liderada pelo Supremo, buscará informações e registros referentes aos desaparecidos e executados pelo regime, com cooperação do Exército no processo, levando essa discussão a superação de qualquer embate ideológico, não para confrontar as FA, mas para trazer a resolução a respeito no mínimo, do paradeiro desses grupos ou indivíduos.

    As pensões vitalícias apesar de indevidas, num país cujo sistema previdenciário não está com o melhor equilíbrio, foram concedidas aos próprios exilados ou mortos pelo regime, além de suas famílias que entravam com processo contra o estado brasileiro desde os anos 90 pela preocupação com os que fossem perseguidos de consciência ou mortos em conflito. Eu sou a favor apenas do ressarcimento aos operários manifestantes, que foram as ruas sem pegar em armas, mas considerados subversivos pelo DOi-Codi desapareceram ou foram torturados.

    Outro ponto, antes de 64 o país passava por uma crise fiscal e econômica após JK, marcada pela escalada da inflação, alta do custo de vida e é claro perda do rendimento dos mais pobres. Os direitos trabalhistas e sociais até então montados, não foram extendidos ao campo, e a propensão dos investimentos favoreciam à infra-estrutura urbana e transferência de renda para as famílias de classe média alta nas cidades, enquanto uma imensa parcela da população rural ficava logisticamente desassistida e outra trabalhadora assalariada e operária de baixa renda, via a degradação violenta do poder de compra acompanhada inclusive de queda da massa de lucros de seus contratantes.

    Jango foi eleito em meio a um barril de pólvora, quando pra piorar, a lógica geopolítica da guerra fria já se encontrava estabelecida pela ideologia bipolar.
    Sua atitude como governante era tentar alcançar a conciliação de interesses divergentes na sociedade democrática que até então havia, queira ou não, para evitar uma convulsão nacional partindo entre diferentes setores. Tanto, que uma de suas primeiras medidas foi visitar o presidente americano à época e retornar com os planos das reformas de base, mostrando sua intenção em equilibrar as forças internas e superar a crise social profunda da década de 60.

    Jango, nunca iria alterar o status quo por via revolucionária, até mesmo pela sua posição como latifundiário e conhecedor dos interesses ruralistas, mas reformar um país que enfrentava quadros de empobrecimento e deterioração dos termos do trabalho em escalada, com forte tendência ao abismo de desigualdade regional. Afinal, a situação especialmente nos ambientes urbanos era de perda de dinamismo.

    Porém, a posição de Jango foi vista tendenciosamente por parte dos setores empresariais, midiáticos e ruralistas junto aos militares como ameaça comunista, se encaixando na justificativa de contenção da guerra fria, pela política externa americana para a região e evitando que fossem promovidos meios que ameaçassem a correlação de influência favorável a esses grupos no período.

  5. Fernando, sem querer ser chato mas “As pensões vitalícias apesar de indevidas…”, pra mim não faz o menor sentido. Se SÂO indevidas, então não deveriam existir! Justificar isso com o fato de que nossa previdência é deficiente, para mim é injustificável.
    Infelizmente, ainda é parte de nossa cultura retrógrada sempre procurar um “cabide”, para ganhar sem trabalharl.

  6. Existe umas lei de anistia, p os dois lados ou +, abrir os arquivos p conhecer-mos a história ñ mt distante p ñ repertir-mos os mesmos erros…Deixem o passado no passado, assim td ganhamos, bola prá frente.

  7. Intruder eu disse indevidas, por serem vitalícias para um sistema previdenciário que não pode suportar essas distorções, sem entrar no mérito daqueles que as recebem. Pois estes foram considerados passíveis desse tipo de indenização, após séries de processos movidos na justiça e sancionados legalmente.

    Aposentadorias vitalícias não existem somente nessa categoria, mas também na política, legislativa e judicial, muitas delas adquiridas indevidamente sem que o indivíduo tenha efetivamente contribuído.
    Isso porque não mencionei os rendimentos inseridos nas acumulações de cargos em funções comissionadas que entram na contabilização, além de outras distorções, como a sonegação fiscal empresarial dos contratos de trabalho. Lembrando que todos esses contribuem sim, para o desequilíbrio na previdência.

    Por isso, analisando no maior contexto, sou contra todos os tipos de aposentadoria e pensões vitalícias, concordando contigo no final das contas , mas fazendo obsevações.

    Obrigado pela compreensão e abraços.

  8. Sem a vitória Rússa o nosso mundo atual estaria falando Germans….eu estaria ,talvez, morto…valeu.Aliás os Rússos entram em Berlim meses antes dos ALIADOS .

  9. Interessante é que no final… Quem venceu mesmo a 2ª GM foram os russos…

    Enfim…

    Sou contra a abertura desses arquivos, acho o discurso de Medved muito bem colocado e bonito, mas na Rússia todos sabem que não se pode acreditar em tudo, tem muita coisa é mais ocultada do que parece, e penso simplesmente que esse discurso todo vai ser para garantir o acesso a população à parte “superficial” das coisas.

    Para o Brasil, eu não vejo condições disso ser feito, basicamente pelas razões:
    1 – Nossa população não consegue lidar com a realidade dos fatos, caso ela apareça.
    2 – Nossa classe política claramente não sabe lidar com os fatos do presente, muito menos com os planejamentos de futuro e o que dirá do passado não é? Tudo vira interesse política…

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