Lições de uma viagem a Gaza International Herald Tribune

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Sugestão: Gérsio Mutti

International Herald Tribune

Catherine Ashton*
Eloise De Vylder

O processo para entrar na Faixa de Gaza é o que mais surpreende. No posto de checagem de Erez, você entra no que parece ser um aeroporto moderno. Saindo de lá, você passa por um labirinto de portões e muros e sai, como se fosse um viajante no tempo transportado para o passado, num caminho de terra. É aqui que costumava ser o centro industrial de Gaza, antes do bombardeio um ano atrás. Agora, pessoas com burros e carrinhos carregam pedras dos escombros.

Ao sair de Israel em direção a Gaza, você vai de um país do século 21 para uma paisagem que foi desfigurada. A reconstrução é impossível uma vez que Israel bloqueia a entrada de bens. As pessoas não têm muito mais do que as ruínas que as cercam à sua disposição. Um sistema ilegal de túneis fornece bens essenciais para o povo – e dinheiro para as quadrilhas criminosas.

Fui para Gaza para ver se o dinheiro de assistência europeu tem algum efeito no local. Ele tem. Em meio às péssimas condições, algumas sementes de esperança estão florescendo. Vi uma escola para meninas onde as alunas recebem uma educação sólida, inclusive sobre direitos humanos. É uma educação assim que luta contra o trabalho infantil.

Visitei a Sociedade Atfaluna para Crianças Surdas, um projeto para melhorar as vidas de pessoas surdas na Faixa de Gaza. Eles têm uma oficina que dá a mais de 300 homens e mulheres marginalizados a chance de ganhar seu sustento produzindo artesanato dos mais belos.

Esses bolsões de normalidade e esperança mostram como a dignidade humana sobrevive e, mais importante, uma visão inspiradora de como as coisas poderiam ser.

O que eu encontrei em Gaza confirmou minha visão firme de que precisamos agir agora – não somente para terminar com a violência, mas porque a paz trará prosperidade para Gaza e a região. Ela abrirá oportunidades para o crescimento e a integração regional, o melhor antídoto contra os grupos radicais. Este é o verdadeiro prêmio.

O extremismo cresce nos escombros e nos campos de refugiados. Estes locais são um território fértil não só para os comandantes locais mas para todos na região que tem interesses, que lucram com a instabilidade e a incentivam com carregamentos de armas.

Os palestinos têm de ser capazes de controlar suas próprias vidas – de construir um futuro melhor para si mesmos. No que diz respeito a Gaza, Israel tem preocupações legítimas de segurança. Mas para o povo israelense, apenas a paz duradoura pode trazer uma segurança sustentável. Esta deveria ser a prioridade para qualquer governo. Fazer a paz fortalece os fracos e protege os fortes. O momento para fazer a paz é quando você está forte.

Por toda a região, do Egito à Síria, do Líbano à Jordânia, ouvi a mesma mensagem de presidentes, primeiros-ministros e um rei, assim como das pessoas comuns – eles querem que suas economias cresçam, que seu povo prospere, seus filhos sejam educados. Para conquistar isso, precisamos da paz no Oriente Médio.

Sabemos o que precisa ser feito – diálogos de aproximação agora, que levem rapidamente a negociações reais. A comunidade internacional precisa oferecer seu total apoio. Não podemos impor a paz, mas podemos oferecer apoio e incentivos para que as partes assumam os compromissos difíceis e necessários.

A União Europeia apoia os esforços dos EUA para relançar as negociações. Se quisermos ter sucesso, precisamos reenergizar o Quarteto [formado por EUA, Rússia, União Europeia e ONU], transformando-o na voz da comunidade internacional. Depois do encontro em Moscou na sexta-feira, o Quarteto estava unido e determinado a avançar com o processo e dar passos concretos como auxiliar a Autoridade Palestina nos esforços de construção do Estado.

Sabemos quais são os elementos necessários. A União Europeia estabeleceu sua posição numa declaração de princípios em dezembro passado. Uma solução de dois Estados com Israel e Palestina lado a lado, em paz e segurança. Um Estado Palestino viável na Cisjordânia, incluindo o leste de Jerusalém, a Faixa de Gaza, nas bases de 1967. É preciso encontrar um jeito de resolver a situação de Jerusalém como futura capital tanto de Israel quanto da Palestina. Precisamos de uma solução justa para a questão dos refugiados.

Precisamos sair da administração do conflito e passar à resolução do conflito, envolvendo toda a região. A paz é urgente e possível. Sonho com o dia em que poderei encontrar o soldado israelense capturado Gilad Shalit e quando os palestinos que foram presos sem julgamento forem libertados. Por amor ao garotinho surdo que segurou minha mão e pelas meninas que querem ter oportunidade de fazer algo com a boa educação que recebem, precisamos avançar do processo para a paz propriamente dita.

*(Catherine Ashton é alta representante da União Europeia para Assuntos Estrangeiros e Política de Segurança e vice-presidente da Comissão Europeia.).

Fonte:Bol

3 Comentários

  1. Pois é. Falta combinar com Israel, que definitivamente,não parece estar interessado em paz, más sim em guerras de expansão colonial…

  2. Toda essa calamidade foi inicialmente causada nao por forças de Israel, mas árabes que nao aceitaram a criaçao legítima de Israel em 48. A proposta inicial de 2 estados foi proposta e rechaçada por eles mesmos. Israel apenas se defendeu e sobreviveu a propostas de aniquilaçao total.

  3. Que eu saiba foi pela ONU, mas os Isrealences faziam guerra a mando dos EUA e acabavam anexando território. Uma aitude completamente expansionista, o que era sempre mal visto pelos árabes, que via que os Isreaelences recebiam ajuda incondicional dos EUA para bombardiarm tudo e todos.

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