Autor: Carcará do Cerrado
Plano Brasil
Essa é a história de quando os franceses decidiram desenvolver aeronaves com capacidade VTOL (Vertical Take-Off and Landing).
A história dos deltas franceses decolando e pousando na vertical remonta o início da década de 60, mais precisamente o mês de Agosto de 1960, quando “Armée de l’Air“) fez os requisitos operacionais de uma aeronave com capacidade VTOL para as suas necessidades.
Ao contrário do que é frequentemente comentado que o interesse francês neste tipo de avião foi motivado pelo “NATO Basic Military Requirement 3 (NBMR.3)“, a própria Força Aérea Francesa tinha sim interesses em um jato de combate VTOL e a prova do interesse próprio francês é que o projeto deveria substituir os Mirage III E apartir de 1967.
O projeto aceito pelo Governo Francês foi o do Mirage III V (V de Vertical), ainda em Setembro de 1960, que seria um programa conjunto entre Dassault e Sud-Aviation com a intenção de possuir dois estágios:
1 – Provar a viabilidade da idéia utilizando-se os motores à jato existentes em vôo subsônico.
2 – Criar então um avião com capacide supersônica, voando à Mach 2, consequentemente com motores mais potentes.
O primeiro estágio, seria uma fase experimental e daí portanto chegou-se ao “Balzac V” (também com V de vertical), onde seria uma aeronave abrigando 8 motores de ascensão (Rolls-Royce RB108-1A) e para propulsão um motor ( o Bristol-Siddeley Orpheus, muito menos potente do que conhecido ATAR, porém este seria futuramente o “pai” do famoso Rolls-Royce Pegasus).
Em Fevereiro de 1961 veio a autorização para se construir o protótipo, ou berço de testes ou demonstrador de tecnologia, que seria o Balzac V.
Os 8 motores de ascensão foram montados em posição quase vertical, dois à dois em quatro compartimentos nas partes laterais do avião, alimentados por 4 tomadas de ar no dorso do avião e com 4 escapes pela barriga do mesmo, sendo tanto as tomadas de ar, quanto os escapes partes movéis que se abririam para o pouso e decolagem e se fechariam durante o vôo nivelado.
Ao contrário do que também é frequentemente comentado, o Balzac não foi somente uma “modificação” no protótipo Mirage III-001, conforme a própria fabricante (Dassault) o avião utilizou-se das asas do “001” porém a fuselagem foi construída em conjunto com a Sud-Aviation (mesmo que tenha grandes semelhanças com a fuselagem do “001”.
Assim sendo no dia 12 de Outubro de 1962 em Melun-Villaroche, o piloto René Bigand fez o primeiro vôo estácionário com o avião, isso também de acordo com a fabricante, outras fontes indicam que somente no seis dias depois o vôo teria sido estável. Ainda no mês de Outubro, no dia 25 o Balzac efetuou a passagem para vôo nivelado e efetuou um curto vôo livre em baixa altura, porém pousando convencionalmente.
Em 29 de Outubro de 1962 os franceses fariam história, sendo uma das poucas nações do mundo que conseguiu efetuar o ciclo completo: decolagem na vertical, vôo nivelado e pouso na vertical.
O avião permaneceu voando em outros testes, até mesmo com o advento de seu sucessor (o Mirage III V), e foi testado até mesmo pela Força Aérea Americana, com pilotos americanos no comando da Balzac.
Infelizmente o programa teve dois acidentes fatais, um em 10 de Janeiro de 1964, matando o piloto Jacques Pinier, que não conseguiu ejetar, o avião perdeu o controle durante uma decida vertical, os danos a aeronave foram relativamente pequenos mas fatais ao piloto.
Em 8 de Setembro de 1965 o Major P. E. Neale, da Força Aérea Americana faleceu no comando do Balzac, em um acidente mais sério do que o primeiro e cujas as causas não se tornaram públicas, o existindo somente rumores de falha hidráulica ou falta de combustível.
Os danos novamente não foram extensivos mas a aeronave não foi reconstruída, infelizmente assim o primeiro Delta que efetuou vôo na vertical se perdeu, o programa Mirage III V já estava em andamento e não havia mais necessidade de se manter o Balzac V.
CURIOSIDADE: O Balzac teria sido apelidado de Balzac V devido a uma coincidência, pois seu nome junto de seu número de série (001) formavam o número de telefone (BALZAC 001) de uma empresa de publicidade conhecida de Paris, a Publicité Jean Mineur.
Especificações:
Tripulação: 1
Comprimento: 13.1 m (42 ft 11.75 in)
Envergadura: 7.3 m (23 ft 11.25 in)
Altura: 4.6 m (15 ft)
Área Alar: 27.2 m² (292.78 ft²)
Peso vazio: 6,124 kg (13,500 lb)
Peso carregado: 7,000 kg (15,432 lb)
Motorização:
1× Bristol-Siddeley Orpheus BOr 3 – 21.57 kN (4,850 lbf)
8× Rolls-Royce RB108-1A – 9.6 kN (2,160 lbf) cada
Desempenho:
Velocidade Máxima: 1,104 km/h (686 mph) at sea level
Capacidade de carga alar: 257.3 kg/m² (52.7 lb/ft²)
Peso/Potência: 1.12:1 em vôo vertical
Autonomia: 15 minutes
Vídeo do Balzac
Está com o nome de Mirage 3-5, mas é o BALZAC V (não peguei o link de incorporação, pois não sei qual tamanho o blog utiliza).
O Mirage III V
Após os extensos testes realizados no Balzac V entre 1962 e 1963 a Dassault partiu para a intenção original do programa, o Mirage III V, que atenderia aos requistos da OTAN e ainda substituiria os Mirage III franceses, e assim poderia alcançar grande potencial de exportação até.
Os motores agora eram mais potentes, o primeiro protótipo foi equipado com a versão francesa do Pratt & Whitney JTF10 (o SNECMA TF 104b), ainda não sendo o previsto para o avião, porém já bem mais potente que o motor do Balzac, e com motores de ascensão sendo os Rolls-Royce RB162-1, sendo uma versão mais potentes que o RB108 que equipara o Balzac V.
O Mirage III V era substancialmente maior do que o Balzac e com fuselagem mais larga que os Mirage III convencionais, para abrigar os motores de ascensão. Porém ao contrário da pouca capacidade de carga do Balzac V, o Mirage III V deveria possuir a mesma capacidade de carga que o Mirage III convencional.
O primeiro vôo ocorreu em Melun-Villaroche no dia 12 de Fevereiro de 1965, também pilotado por René Bigand (o mesmo que fez o primeiro vôo do Balzac), posteriormente o motor foi trocado pelo SNECMA TF-106 mais potente, o primeiro vôo de transição da decolagem vertical para vôo nivelado ocorreu em 24 de Março de 1966. Infelizmente os dados são imprecisos sobre quando o avião quebrou a barreira do som, alcançando velocidade de Mach 1.35, se foi ainda em 1965 ou em 1966, e nem mesmo a própria fabricante desmente as informações de que o avião nunca superou a barreira do som em vôo com decolagem vertical.
Ainda no final de 1965 as autoridades francesas perceberam que a configuração escolhida era mais complexa e onerosa do que o originalmente planejado e com isso o projeto de tornar o Mirage III V operacional mudou para 1970, ao contrário do inicialmente previsto para 1967 e esta mudança também ia de encontro para a substituição do vetor para carregar armas nucleares francesas. Porém em 28 de Março de 1966 o Governo Francês cancelou o programa de produção, ou seja o Mirage III V não se tornaria operacional, porém os testes poderiam continuar dado o programa da OTAN para um avião com capacidade VTOL e supersônico, que viria a ser abandonado também em 1966 no mês de Junho
O segundo protótipo voou em 22 de Junho de 1966, já com sem o apoio do governo e com o programa da OTAN encerrado. O novo protótipo possuí um motor ainda mais potente, o SNECMA TF-306 e este sim alcançou Mach 2.03 em vôo nivelado no dia 12 de Setembro, porém novamente sem confirmações se isso ocorreu após decolagem vertical.
Mas pouco depois no dia 28 de Novembro em Istres o segundo protótipo foi perdido em um acidente, completamente destruído e encerrando por completo o programa.
Especificações:
Tripulação: 1
Comprimento: 16.30 m (53 ft 6 in)
Envergadura: 8.80 m (28 ft 10 in)
Altura: 5.55 m (18 ft 3 in)
Peso Vazio: 6,750 kg (14,880 lb)
Peso carregado: 13,440 kg (29,630 lb)
Motorização:
1× Snecma TF104b – 61.8 kN (13,900 lb) – No V 01
ou
1× Snecma TF106 – 74.5 kN (16,750 lb) – No V 01
ou
1× Snecma TF103 – 82.4 kN (18,500 lb) – No V 02
8× Rolls-Royce RB162-81 F 08 – 1,600 kg (3,525 lbf) cada – Tanto no V 01 quanto no V 02
Desempenho:
Velocidade Máxima: Mach 2.03
Imagens do III V:
Considerações Finais
O program de VTOL francês demonstra uma opção bem diferente daquela que se tornou operacional na Inglaterra e Estados Unidos com o Harrier, e muito diferente de opções desenvolvidas por Britânicos e Alemães durante a década de 1960, o caminho trilhado pelo franceses é considerado por muitos como extremamente complexo, caro e ineficaz. Fato é que o Balzac, mesmo sendo um modelo experimental, não possuia capacidade de carga e nem alcance para se tornar um jato de combate.
No caso do Mirage III V, as dificuldades começavam na controlabilidade do avião, o comportamento lateral da aeronave na transição para vôo nivelado era problemático em relação ao apresentado pelo Balzac, além disso o controle e sincronismo dos 8 motores ascensão era muito complexo e este fator já havia ocasionado um dos incidentes com o Balzac.
Dados oficiais não estão disponíveis sobre as capacidade de carga do Mirage III V, porém fontes não oficiais indicam que mesmo com o aumento de tamanho e potência do avião um dos problemas para seu desenvolvimento teria sido também o curto alcance e limitada capacidade de carga.
Assim o sonho do VTOL francês acabou, porém como a própria fabricante do avião afirma, este é até hoje o único avião VTOL que quebrou a marca de Mach 2. Tarefa que dentro em breve devemos ver o F-35 e sua turbina monstruosa fazendo, mas ainda (oficialmente) não fez.
Fontes:
http://wapedia.mobi/en/Dassault_Balzac_V
http://wapedia.mobi/en/Dassault_Mirage_IIIV
http://www.aviastar.org/air/france/dassault_balzac.php
http://www.aviastar.org/air/france/dassault_mirage-3v.php
http://www.militaryfactory.com/aircraft/detail.asp?aircraft_id=535
http://www.rp-one.net/mirage_iii_v/mirage_iii_v.html
http://www.dassault-aviation.com/en/passion/aircraft/military-dassault-aircraft/balzac.html?L=1
Ae Carcará voltando a ativa, matéria realmente interessante, mostrando mais uma vez que os franceses apanharam muito para chegar aonde estão.
Grande Abraço.
Bela matéria Carcará!
Interessante como a indústria aeronáutica avançou neste período de pós-guerra (1945 até 1960). Realmente um grande feito destes engenheiros!
Abraço
Excelente matéria, realmente nunca tinha ouvido falar que os franceses já haviam desenvolvido tal ferramenta. Quer dizer então que o F-35 hoje, nada mais é do que apenas mais um vetor de decolagem e pouso vertical.
Materia muito boa, excelentes fotos. O Balzak foi um erro monumental de concepção de projeto, muito dinheiro jogado fora, como diz o texto “o caminho trilhado pelo franceses é considerado por muitos como extremamente complexo, caro e ineficaz”. A assa do tipo duplo delta é excelente para caças supersônicos, não para um VSTOL. Os projetos do YAK-38/141 e do Harrier foram muito melhores desenvolvidos. Mas é testando e errando que se evolui.
Interessante, que me lembre o F-35 segue a solução de ter motor auxiliar para manter a decolagem e pouso verticais não? A mesma usada no yak-38 também.
De qualquer modo não há demérito para os franceses, até hoje o uso de VTOL é complicado, vê-se pelo tempo que levou para o Osprey entrar em uso operacional.
Onde fica esse museu de onde vieram as fotos?
Excelente materia! Parabens
Deviam ter falado com o George Lucas ! quem sabe ele não passa os esquemas das naves x-wing ????
Salve Lucas,
Agradeço o apoio!
Renato,
O Museu ao que me consta fica em “Le Bourget”, e além do belo arsenal que já pode-se ver por aí ele tem mais máquinas.
Aparentemente os franceses tem uma preocupação grande com sua história, não só pelo acervo do museu, como também pelo cuidado no site da Dassault em preservar história destes e outros modelos que não passaram de protótipos, é bastante curioso observar isso e eu recomendo à todos a visita ao site da Dassault.
Agr teriamos um vetor = ou > q dos ianks…
Os franceses poderiam iniciar um novo projeto de caças desse tipo. Assim, se bem sucedido o Brasil poderia adiquirir as aeronaves no futuro e almentar ainda mais o nível dos pilotos da FAB.
Há muitos problemas na utilização deste tipo de aeronave. Creio qu hoje, só pode ser usada de forma mais compensadora, pois há computadores modernos no auxilio do piloto, tornando a pilotagem mais fácil. Veja o F-35.
Pois nos Jump Jets, bem, esse são complicados mesmo.
Sei que naum tem nada haver mais tem uma matéria no site do Globo dizendo que o ‘favorito’ da FAB o Gripen NG é um avião de ‘papel’.
Ai tem o link da matéria:
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/01/06/favorito-da-fab-caca-da-saab-nao-voou-existe-so-no-papel-915479962.asp
Ah é e parabéns a excelente matéria! =)
… amigo Carcará, parabéns!
Muito oportuna a escolha desta matéria, ótima explanação!!!
Salve Luiz,
Fato é que o próprio Harrier britânico teve dificuldades em seu desenvolvimento devido à “controlabilidade”.
Com toda a tecnologia de hoje e o aumento de potência dos motores disponíveis a tarefa de um VTOL de combate e supersônico ficou muito mais simples mesmo.
Muito boa a matéria, eu não sabia que a França também tinha feito aeronaves VTOL, é sempre muito interessante de ser ver esse tipo de avião, mas sempre vai ser difícil manobrar esse tipo de decolagem e pouso eu acho.
Esse Museu deve ser qualquer coisa…