Pretensão do governo brasileiro é consolidar a autossuficiência em todas as etapas da produção do elemento combustível nuclear, em escala industrial
Paralelamente à aposta na finalidade pacífica dos projetos nucleares iranianos, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara um plano para o setor nuclear até 2022. Parte das “políticas de Estado” que o governo quer deixar aos seus sucessores será alvo de “oficina de trabalho” promovida pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) em Brasília.
Os debates, que serão realizados nesta semana, vão se concentrar na possibilidade de inserção do Brasil entre os fornecedores de urânio enriquecido, de combustível nuclear e de serviços do setor no futuro.
O governo quer consolidar a autossuficiência em todas as etapas da produção do elemento combustível nuclear, em escala industrial, visto que o Brasil dispõe de tecnologia autóctone de enriquecimento de urânio, de matéria-prima em abundância, de decisão política favorável e de uma insuspeita finalidade pacífica de seu programa.
A inevitável opção por fontes de energia renováveis – em especial a nuclear – pelos países mais comprometidos com a questão ambiental deve oferecer ao Brasil um “mercado extraordinário”, na opinião do ministro da SAE, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães. “As projeções mais recentes mostram que 40% da matriz energética mundial será nuclear entre 2016 e 2027.”
Usinas. Nos cálculos das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), o Brasil dispõe atualmente de 310 mil toneladas em reservas de urânio. Se outras seis usinas vierem a ser instaladas, além das três em Angra dos Reis (RJ), esse conjunto deverá consumir 130 mil toneladas ao longo de sua vida útil. Há uma sobra potencial de cerca de 180 mil toneladas, sem contar as novas reservas que venham a ser reconhecidas.
Para o presidente da INB, Alfredo Tranjan Filho, embora a prioridade seja o mercado doméstico, nada impedirá a exportação do urânio enriquecido, de serviços e equipamentos para usinas nucleares.
Os debates devem resultar na retomada de um grupo de trabalho coordenado até o ano passado pela ministra da Casa Civil e candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff.
Segundo Odair Dias Gonçalves, presidente do Conselho Nacional de Energia Nuclear (Cnen), a ambição final é deixar pronta uma política de Estado para o setor, clara e de longo prazo, e que possa ser levada a cabo pelos futuros governos, independentemente da coloração partidária.
“Assim como os fundamentos da política econômica e o plano estratégico de energia elétrica são inquestionáveis, o mesmo se espera para o programa nuclear brasileiro.”
No ano passado, já estava definido um passo-a-passo para o País alcançar a autossuficiência até 2014, antes do início da operação da quarta usina nuclear do País, e as etapas necessárias nos 16 anos seguintes, quando até oito novas térmicas podem entrar em operação. Nas contas da Cnen, serão necessários R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões em investimentos no programa, diluídos em dez anos, e mais R$ 7 bilhões por usina instalada.
Deveres. Para suprir esse mercado interno, uma lista de deveres terá de ser cumprida – entre eles, o início da operação da Usina de Hexafluoreto de Urânio (Usexa) pela Marinha, em Iperó (SP). Hoje, o urânio beneficiado (yellowcake) é enviado ao Canadá para ser transformado em gás. Outra obrigação será a construção de duas unidades da INB em Resende (RJ), para a fabricação e a montagem de novas centrífugas. Mas as etapas para a produção de elementos combustíveis em escala industrial serão dimensionadas somente a partir de 2016.
Solução negociada
Para o caso do apoio do Brasil a uma solução negociada no Irã, o ministro Pinheiro Guimarães usa o mesmo argumento que aponta o protocolo adicional do TNP como afronta à soberania brasileira.
O Brasil ‘fecha’ o ciclo completo do urânio, com a produção de HF6.
Isso tornara o país completamente auto suficiente em combustível nuclear.
Mas também o torna ‘alvo’ mais assíduo da ação da AIEA, que não ‘conta até três’ para exigir a submissão das nações aos ditames das grandes potências.
Não se surpreendam se logo começarem as demonstrações mais contundentes sobre as ‘dúvidas’ a respeito do nosso programa nuclear.
Vejam no ‘Seminário Internacional sobre Não-Proliferação Nuclear e Desarmamento: O Futuro do TNP’, realizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), em 29-30 de outubro, no Rio de Janeiro (RJ). e analisem bem o que foi dito por Joseph Cirincione do Ploughshares Fund:
“Não há justificativa econômica para o Brasil prosseguir o enriquecimento de urânio. Há muita disponibilidade de combustível para reatores (Folha de S. Paulo, 30/10/2009).”
e também por Pierre Goldschmidt, ex-diretor de Salvaguardas da AIEA e atual pesquisador da Fundação Carnegie na Bélgica:
“Afirmar que o Brasil proíbe em sua Constituição o desenvolvimento de armas atômicas não é mais suficiente (Folha de S. Paulo, 31/10/2009).”
Como se vê, essas ‘dúvidas’ vão desde a ‘finalidade pacífica’ do programa até a ‘conveniência’ do programa do ponto de vista econômico e ambiental. Nesse último quesito, os ambientalistas xiitas do Greenpeace certamente estarão a serviço da AIEA em seu (dela AIEA) trabalho de solapamento de nossa independência nuclear.
Ainda tem muita luta se apresentando para nossa diplomacia, não tenho dúvidas.
Hoje é o Irã que está na berlinda, amanhã será o Brasil…
Agora era a hora para o Enéas Carneiro, que sonhava com a bomba atômica brasileira…
Espero que não viremos o próximo alvo de “assédio” por razões nucleares.
Eduardo Carvalho
É muito fácul mesmo forçar o Brasi, um paíse sem força militar. Queria ver eles falarem isso da China, Índia, Paquistão.
Ahco que estamos arriscando de mais, acho que podemos pelo menos mostrar as máquinas para mostrar que nós so queremos guardar a tecnologia.
O que devemos fazer é asegurar a nossa soberania em não nos sujetarmos as essas novas “protocolos de inspeção” da AIEA.
Vai chegar o dia em que teremos que juntar forças com a China para derrubar essa agencia. O pelo menos denunciá-la.
China com toda pressão contra, conseguiu densenvolver seus armamentos e a India está conseguindo, o Irã vai conseguir. Nós também conseguiremos.
Acho que o Brasil deve seguir sua trilha de desenvolvimento de tecnologia nuclear. A finalidade pacífica é o argumento fundamental.
Ao argumento do Luiz. Meu caro, nesse mundo de secredos seria engenuidade o Brasil fazer isso, seria colocar décadas de desenvolvimento tecnológico na lata de lixo, seria de um irresponsabilidade anti-patriótica, creio que o argumento tem que ser conseguido na diplomaia em articulação com as potências emergentes em contraponto a hipocrisia da AIEA.
Sim, cocordo, mas estamos no Ocidente, não somos armados até os dentes como Índia, Hina e Rússia. Não teremos força de pressão e de dissuasão para resistir.
É isso que dar ser “padifista”. estão usando esse argumento contra nós. Eu não queria votar na Dilma, mas eu não quero esse Serra nos enfraquecendo mais ainda como fez FHC. rsrs
Fala aí Luiz!
Concordo com você! Os recursos energéticos são a desculpa para as invasões ou imperialismo. Veja por que temos que nos armar:
“A Amazônia é patrimônio da Humanidade, e que sua posse por países é meramente circunstancial”
Conselho Mundial das Igrejas (1981).
“as nações carentes de dinheiro a venderem seus territórios e fábricas”.
Margareth Thatcher (1983)
“a Amazônia não é deles, é de todos nós”
Al Gore (Vice presidente dos EUA ) – 1984
Nesses anos não havia sido descoberto o Pré-Sal!
O TNP já nasceu morto. Nenhuma potência nuclear o respeita. Basta ver o que a Russia fez recentemente: aperfeiçoou seus ICBM’s com ogivas mais potentes e o mesmo fez os EUA e todas as demais potencias nucleares e ainda por cima querem que as potencias emergentes aceitem esse tratado ridículo e mais termos adicionais. Parece brincadeira mas essa gente da AIEA não nos respeita, pensam que somos imbecis. Acho que o Brasil deveria abandonar esse tratado que não serve pra nada a não ser para nos enfiar no atraso tecnológico. Esse tratado morto só teria razão de existir se todas as potencias nucleares destruissem totalmente seus arsenais atômicos, coisa que nunca vai acontecer uma vez que é de verificação prática impossível saber se um país destruiu ou não seu arsenal ou se ainda o desenvolve secretamente, fato que gera dúvida e desconfiança entre potências nucleares rivais. Acredito que o Brasil pode e deve adquirir capacidade técnico-científica para produzir ogivas nucleares como fator de dissuasão e isso não violaria o morto TNP (que exige a não produção de armas atômicas) do qual atualmente é signatário. Devemos nos lembrar da guerra das Malvinas onde a Inglaterra cogitou o uso de armas atômicas contra a Argentina num momento crucial da guerra onde este país levava vantagem no conflito causando reveses assustadores nos Britânicos. A idéia só foi abandonada devido a reviravolta no desdobramento daquela guerra de onde a Inglaterra se saiu vencedora. Então as potencias nucleares não somente não cumprem o morto TNP como são capazes de usar seus arsenais atômicos contra qualquer país que não os detenha, em caso de conflito.
Claudio,
concordo com relação ao TNP, acho que é um ‘espectro’ para subjugar as demais nações não-nucleares.
Creio que vamos abandonar o TNP, mas ainda é meio ‘cedo’.
Deixa as coisas degringolarem mais um pouco, podemos esperar alguns anos.
Acredito que temos capacidade de produzir bombas, mas não as temos, principalmente por questões legais nossas (nossa CF).
Em termos de efetividade, nosso problema maior seria a ‘entrega’ (a chamada ‘delivery’), que necessita de misseis de diversos tipos.
Isso ainda não temos, e com relação aos ICBM’s não podemos ter, por conta de outro tratado assinado na mesma época ( e pelo mesmo ‘iluminado’) da assinatura do TNP.
Pessoalmente acho que ICBM’S para fins bélicos não nos fazem muita falta, o acordo prejudica mais o setor aeroespacial, só por isso já deveria ser denunciado.
Realmente houve na guerra da Malvinas uma ameaça nuclear, explicita ou velada, por parte dos britânicos.
Um submarino nuclear, com mísseis nucleares, esteve atuando nos mares da região, e chegou a afundar um vaso argentino, o ‘Gal. Belgrano’.
Creio que mesmo o Brasil se viu ameaçado, pois ‘devolvemos’ antes do anunciado (isso era para acontecer somente ao final do conflito) o bombardeiro vulcan que invadiu nosso espaço aéreo e foi forçado (pela FAB) a pousar no Rio.
Por isso, apesar de não ser apologista de armas nucleares, defendo que o Brasil as tenha, nem que seja apenas um arsenal tático.
Além de uma FA’S dissuasórias mas bem ‘parrudas’ em termos convencionais.
Se a Inglaterra divesse os seu Submarino com ogivas nucleares, eu acho que a Argentina ia mesmo ser atacada.
Mas veja pelo lado bom, se tivessem sido atacados, nós não teríamos assinado a TNP.
E a Inglaterra seria como os EUA, usando armas nucleares em países já derrotados.
Caro amigo Eduardo
Vi seu comentário e concordo sim com seu ponto de vista. O problema é que estamos vivendo num período chamado “guerra de sobrevivência”; a primeira vítima foi o Iraque. Temos que estar completamente concios de que paira sobre o nosso país uma grande ameaça e que ninguém está vendo ou não quer ver, pelo fato de determos, em nosso subsolo, enormes quantidades de minerais estratégicos principalmente na região amazônica e isso sem falar na nossa igualmente enorme biodiversidade. Países como EUA e Reino Unido morrem de ódio e inveja ao ver nossas riquezas e já falam abertamente e sem nenhum temor ou respeito em internacionalizar a nossa Amazônia. Tomara que abandonemos esse maldito TNP antes que essas ameaças veladas se transformem em ações práticas. Acho que mostrar para o mundo que nós temos capacidade de produzir armas atômicas em questão de dias, ainda que não tenhamos o interesse de possuí-las, seria bem interessante para que nações hostis ao Brasil não tentem nenhuma aventura louca.
Concordo tambem com o comentário do Luiz. Nunca deveríamos ter assinado esse tratado. Maldito seja FHC.