O papel do Brasil no debate nuclear global

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Ivan Lewis

Ministro de Estado do Reino Unido, com responsabilidades que incluem Ásia, Oriente Médio, contenção do terrorismo e América do Norte

Há mais de 40 anos, o Brasil se tornou signatário do Tratado de Tlatelolco, que criou na América Latina uma das maiores zonas livres de armas nucleares do mundo. Essa liderança regional foi uma prévia do que viria pela frente na medida em que o Brasil se tornava um agente cada vez mais influente no cenário global. Agora, na iminência de duas cúpulas nucleares internacionais, é fundamental que o Brasil use sua respeitada voz regional e global para clamar, mais uma vez, por medidas para evitar a proliferação nuclear e promover o desarmamento.

O Reino Unido e o Brasil possuem muitos objetivos em comum, incluindo o desejo de um mundo mais pacífico, estável e próspero. Um dos objetivos do Reino Unido é assegurar um mundo mais seguro, em que armas nucleares não sejam necessárias e todos os arsenais nucleares sejam eliminados de forma permanente e verificável. O Reino Unido está comprometido a alcançar esse objetivo, motivo pelo qual tomou medidas para reduzir o poder explosivo de suas próprias forças nucleares em 75%.

Também já deixamos claro que, assim que for útil incluir o arsenal do Reino Unido em negociações mais abrangentes, estaremos prontos para participar e agir. Nós fazemos isso porque é de interesse global, e eu sei que o Brasil também reconhece isso. Apesar de o Brasil não ter o poder de estabelecer consenso global sobre essa questão, o potencial peso de sua voz é tal que, se o país se pronunciar e engajar todos os seus parceiros internacionais, a chance de diminuir e reverter o avanço das armas nucleares é bem mais provável.

Se atingirmos essas metas, nossas recompensas serão enormes: um mundo mais seguro, estável e próspero; e um mundo sem armas nucleares, mas com programas de energia nuclear para ajudar no combate à mudança climática e ao aumento da demanda de energia, garantindo um futuro mais limpo e verde.

Todavia, se não alcançarmos nossos objetivos, as ameaças seriam igualmente gravíssimas. Sem a segurança nuclear adequada, o risco de tecnologia e materiais sensíveis caírem em mãos erradas é real. As ambições nucleares da Coreia do Norte e do Irã ameaçam desestabilizar as regiões vizinhas e gerar a faísca para nova e indesejada corrida armamentista nuclear.

A Guerra Fria pode ter acabado, mas a triste verdade é que há novas ameaças a serem consideradas. O Irã é agora uma das principais preocupações mundiais na área de política externa. Apesar de o Reino Unido continuar apoiando o direito do Irã de ter um programa nuclear civil pacífico, o país não está cumprindo as obrigações atreladas a tal direito. O nível de cooperação do Irã com a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) é lamentável e, a cada relatório, cresce a lista de acusações da Aiea contra o país.

Os programas ilícitos da Coreia do Norte continuam sendo uma ameaça para a paz e a segurança da região, e sua rede de proliferação facilita a disseminação global de material nuclear. Portanto, com riscos tão altos em jogo, não me sinto em culpa por pedir ao Brasil que use sua influência, seu alcance e sua voz para dizer que tais comportamentos são simplesmente inaceitáveis.

Em dois meses, 188 Estados se encontrarão para a Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear, que acontece a cada cinco anos. Essa é a pedra fundamental de nossos esforços para prevenir a proliferação nuclear. É vital para a segurança regional e global que todos os presentes usem essa oportunidade para reafirmar o compromisso coletivo para com o TNP e seus princípios fundamentais. Sem um tratado robusto para lutar contra a disseminação de armas nucleares, a segurança de todas as nações está ameaçada, façam essas nações parte de uma zona livre de armas nucleares ou não. O Brasil pode mais uma vez mostrar sua liderança global para ajudar a atingir um consenso sobre um Tratado de Não Proliferação Nuclear que seja ambicioso, equilibrado e mais forte.

Fonte: Correio Braziliense

7 Comentários

  1. É falando de paz que eclode a guerra. O império romano ruiu quando decidiu que não mais queria guerras. A ver quem aperta “o botão”.

  2. “O Reino Unido e o Brasil possuem muitos objetivos em comum, incluindo o desejo de um mundo mais pacífico, estável e próspero.”

    É muita hipocrisia dos ingleses, especialmente depois de ler o link fornecido pelo roberto correia matos.

    O Iran é insignificante do ponto de vista ameaça nuclear, a maior ameaça nuclear ao mundo, em 1º lugar, são EUA e depois , seus aliados.

    E dentre estes aliados, a maior ameaça nuclear é Israel, um país com armas nucleares ilegais e cujo governo adota um discurso religioso fundamentalista do tipo: Israel é uma “nação sagrada” e “Jerusalém é a capital eterna e indivísivel de Israel”

  3. Vejo a notícia acima sob dois ângulos, um bom, outro bem ruim.

    O bom:
    Um interlocutor ‘autorizado’ diz que nosso programa nuclear não está sob suspeitas e por isso não teremos problemas futuros.
    Assim, poderíamos apoiar as sanções contra o Irã, que isso não significaria que a comunidade internacional se voltaria contra o programa brasileiro.
    Essa fala toda pode ser apenas uma sinalização tranquilizadora (não seríamos tratados da mesma forma que o Irã) para a diplomacia brasileira ‘abandonar’ a postura atual em relação ao Irã.

    A ruim:
    Esse reconhecimento do “Brasil exemplar’ é uma preparação para se exigir do Brasil a adesão ao Protocolo Adicional ao TNP, uma excrescência a que o Brasil já anunciou que não vai aderir.
    Teríamos assim que nossa postura deveria ser ‘liderando pelo exemplo’, isto é, para continuarmos a ser ‘exemplo e insuspeitos’ deveríamos aderir a esse protocolo.
    Então essa ‘adulação’ toda seria apenas uma armadilha.

    O RU pode até mesmo desmontar seus arsenais nucleares enquanto os EUA não o fizerem, pois continuarão protegidos sob o ‘guada-chuvas’ americano.
    Mas duvido que o faça.

    A política externa do RU nunca foi de paz e convivência, mas sim de dominação e subserviência, basta lembrar o passado recente da Índia.
    Mas isso não é uma exclusividade deles, todas as grandes potências são assim.

    Concordo quanto à insignificância bélica (em termos nucleares) do Irã.
    Mesmo que esteja pretendendo construir bombas, ainda demora muito para se considerar o Irã uma ameaça, pois uma bomba, mesmo operacional, e um arsenal delas são coisas muito diferentes.
    Não é questão de se achar que o Irã não ‘chega lá’ se for deixado ‘sossegado’, mas sim que ainda demora o suficiente para muita negociação.

    O Brasil não deve, por cautela, mudar ainda suas posturas gerais quanto ao programa nuclear iraniano.
    Devemos esperar o que sairá dessas cúpulas sobre o assunto.

  4. Eduardo Carvalho

    Eduardo, podemos dizer que o Brasil liderará no futuro uma espécie de “Revolução Dos Reprimidos”. Fazendo com que eles tenham direito a igualdade de tratamento, afinal, o Brasil do futuro terá o seguinte histório:

    “País pobre, que sempre viveu à sombra de seu viznho (Argentina). Conseguindo supera-lo e alé de ajuda-lo. Liderou seu continente rumo a Democracia e igualdade. Pregou a boa vizinhança e a união, onde não havia subserviencia e sim a coexistência pacifica.

    Seu rápido crescimento o demosntra digno de respeito até entre os grande. Dando-lhe o direito de opinar e de aconcelhar.”

    Bem, morau nós temos, mas precisamos de força. Temos mostrar mais ceriedade, e nada mais horoso que mostrar o patriotismo e reconhecimento da defesa.

    😉

  5. É um belo caminho.
    Espero que sigamos nele mesmo.
    Acho que o mundo já está farto de ‘lideranças’ que são na verdade ‘gangues’ predatórias.
    Valeu.

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