Brasil se prepara para lançar, em 2012, seu primeiro satélite produzido com ampla participação de estudantes. Batizado de Itasat, o equipamento ajudará na transmissão de dados ambientais
Gisela Cabral
Formar profissionais capazes de ampliar, no futuro, a produção brasileira na área aeroespacial. Esse é o principal objetivo do programa de desenvolvimento do Itasat, primeiro satélite universitário de coleta de dados do país. Projetado com grande participação de alunos de diferentes instituições de ensino, o projeto conta com a coordenação de instituições de grande porte, como os Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), além da Agência Espacial Brasileira (AEB).
Segundo os cientistas responsáveis pela iniciativa, o lançamento está previsto para o fim de 2012. Até lá, porém, ainda há muito trabalho a fazer. A intenção é desenvolver técnicas e testar novos componentes buscando o aperfeiçoamento e a redução de custos. Atualmente, o Itasat possui um orçamento total de R$ 5 milhões. Somente no ano passado, o projeto chegou a envolver 60 jovens cientistas, entre graduandos, mestrandos e doutorandos.
A ideia é lançar o pequeno satélite de 85kg, semelhante a um cubo, em órbita baixa, a cerca de 600km de altitude. Segundo David Fernandes, professor responsável pelo projeto no ITA, o equipamento será enviado ao espaço como carga secundária de um lançador de satélites. O lançamento como carona é comum, quando se trata de satélites de pequeno porte, para redução dos custos, explica. O Itasat deve ficar em órbita por cerca de um ano. A cada 90 minutos, será dada uma volta completa no planeta. Durante a passagem pelo Brasil, ele será utilizado para a coleta de dados ambientais, destaca.
De acordo com Fernandes, mais de 700 plataformas em terra transmitirão dados ambientais para o Itasat. Ele funcionará como um repetidor, retransmitindo os dados para duas estações no Brasil, uma em Cuiabá e outra em Alcântara (MA). Depois disso, as informações serão enviadas para o Inpe em Cachoeira Paulista (SP) e distribuídas aos usuários, descreve o especialista. Atualmente, no Brasil, os satélites operacionais do Inpe o SCD-1, SCD-2 e CIBRERS-2B já operam como coletores de dados ambientais das plataformas existentes.
O projeto está inserido em uma ação do plano plurianual de desenvolvimento e lançamento de satélites tecnológicos de pequeno porte. Apesar do trabalho conjunto de ITA, Inpe e AEB, cada uma das entidades tem suas próprias responsabilidades. O Inpe, por exemplo, possui uma grande experiência na área de satélites e, portanto, vem atuando como consultor, podendo, inclusive, ceder componentes que farão parte do protótipo. Fernandes destaca, no entanto, que a participação de universidades de várias partes do Brasil tem sido fundamental.
Como diz o próprio nome, o satélite é universitário. Isso significa que ele será projetado e construído por estudantes de graduação, mestrado e doutorado, orientados por especialistas, enfatiza. Entre as instituições participantes, estão a Universidades de São Paulo (USP), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a Universidade Estaduais de Londrina (UEL) e Universidade Estaduais de Campinas (Unicamp), entre outras. Alunos da Universidade de Brasília (UnB) poderão em breve participar do projeto.
Oportunidade
Estudante do quinto ano de engenharia eletrônica do ITA, Antônio Kotsugai, 21 anos, é um dos estudantes que têm a oportunidade de integrar o projeto. Ele participa da elaboração do Itasat desde fevereiro de 2008. Estou inserido no grupo do subsistema de suprimento de energia do satélite. Estudamos tecnologias já usadas em outros projetos, avaliamos novos modelos e criamos e testamos os protótipos a serem implementados, explica. Segundo ele, o trabalho de integração de todos os subsistemas do projeto é feito constantemente, com reuniões periódicas para a definição de parâmetros e requisitos do satélite. O Itasat tem como um dos objetivos a formação de profissionais para a área aeroespacial, tendo grande importância estratégica para o nosso país, conta.
David Fernandes, do ITA, explica que, por se tratar de um produto feito por universitários, o satélite apresenta custos relativamente baixos. Nossa intenção é testar conceitos, componentes e subsistemas, informa. De acordo com o professor, até o lançamento, serão desenvolvidos sistemas que precisam ser resistentes aos ambientes de radiação. O período de vida do satélite também está muito ligado a isso, enfatiza o especialista.
Para Thyrso Villela, diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da AEB, o treinamento de profissionais que vão atuar na área espacial é mesmo um dos grandes ganhos do projeto. Esse tipo de iniciativa já ocorre no mundo todo. O treinamento envolve um tempo grande, pois são muitos os riscos envolvidos nessa empreitada, destaca. O uso de tecnologias que ainda não foram aplicadas em satélites também tem sido um dos trunfos do Itasat. O ITA, inclusive, está contando com a colaboração da Universidade de Berlim, na Alemanha. A entidade tem fornecido toda a sua experiência em satélites para o nosso projeto. Precisamos disso, pois o Brasil está começando a formar os primeiros especialistas na área espacial, finaliza.
Esse tipo de iniciativa já ocorre no mundo todo. Precisamos disso, pois o Brasil está começando a formar os primeiros especialistas na área espacial
Thyrso Villela, diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da AEB
Maioria das galáxias distantes são desconhecidas, diz estudo
Até 90% das galáxias mais distantes no Universo teriam escapado do registro de nossos telescópios, segundo um estudo divulgado ontem na revista Nature e que permite prever a possibilidade de se desvendar o passado do Cosmos. Graças ao Very Large Telescope (VLT), instalado no Chile, uma equipe liderada por Matthew Hayes, do Observatório Astronômico da Universidade de Genebra, conseguiu detectar algumas galáxias menos luminosas que datam da infância do universo, quando este tinha cerca de 4 bilhões de anos sua idade estimada é de 13,7 bilhões de anos.
Para descobrir a quantidade de estrelas formadas em galáxias distantes e elaborar mapas do céu profundo, os astrônomos recorrem a uma radiação característica do hidrogênio, elemento mais abundante do Universo. Aquecido por estrelas nascentes, o hidrogênio emite raios ultravioletas de uma longitude de onda de 121,6 nanômetros, as chamadas raias Lyman-alfa, em homenagem ao físico Théodore Lyman, que as descobriu. No entanto, como diversos fótons (partículas de luz) são interceptados por nuvens de gases interestelares e de poeira, a maior parte da radiação fica aprisionada na galáxia originária.
Cerca de 90% das galáxias onde nascem estrelas não emitem radiação Lyman-alfa suficiente para poder ser detectada, resumem os autores do estudo. Onde 10 galáxias são visíveis, pode haver 100, explica Hayes em um comunicado do Observatório Europeu Austral (ESO). Essas galáxias são tão distantes que sua luz leva 10 bilhões de anos para chegar até nós.
Medição
Os astrônomos já sabiam que parte das galáxias não estão em suas listas de céu profundo. O estudo, no entanto, permitiu medir isso pela primeira vez e constatar que o número de galáxias que faltam é considerável. Utilizando dois dos telescópios de 8,2m do ESO no Chile, a equipe conseguiu observar galáxias distantes em Lyman-alfa e em outra longitude de onda característica do hidrogênio quente, a raia H-alfa. Menos suscetível de ser absorvida por gases interestelares frios, essa radiação foi captada com a câmera Hawk-1, do VLT, que desvendou galáxias desconhecidas em uma região do céu bastante estudada.
Essa é a primeira vez que observamos tão profundamente uma porção de céu com duas longitudes de onda diferentes que o hidrogênio irradia, indica Göran Oslin, da Universidade de Estocolmo. Agora que sabemos quanta luz nos escapou, podemos começar a criar representações muito mais exatas do Cosmos, porque entendemos melhor a velocidade com que se formaram as estrelas em diferentes épocas do universo, concluiu Miguel Mas-Hesse, do Centro da Astrobiologia CSIC-INTA, da Espanha.
Agora que sabemos quanta luz nos escapou, podemos começar a criar representações muito mais exatas do Cosmos
Miguel Mas-Hesse, pesquisador do Centro da Astrobiologia CSIC-INTA, da Espanha