Brasil prepara cápsula que poderá ficar 10 dias em voo orbital para a realização de experimentos em baixa gravidade. Primeiro teste de lançamento deve ser realizado no próximo ano

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Gisela Cabral

A microgravidade é uma grande aliada de estudos desenvolvidos nas mais diversas áreas, entre elas a medicina, a biologia e a biotecnologia. Por isso, o Brasil se prepara para, nos próximos anos, ser capaz de lançar ao espaço uma cápsula com a qual poderão ser realizados experimentos estratégicos em órbita de baixa altitude (cerca de 300km). A iniciativa faz parte do projeto do Satélite de Reentrada Atmosférica (Sara), desenvolvido com tecnologia e mão de obra nacionais e gerenciado pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), um dos centros de pesquisa do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), do Comando da Aeronáutica, em São José dos Campos (SP).

Não é de hoje que ambientes gravitacionais próximos a zero são utilizados em pesquisas. Exemplos disso são as estações espaciais Mir e Skylab, desenvolvidas, respectivamente, pela Rússia e pelos Estados Unidos, entre as décadas de 1970 e 1980. Segundo os cientistas, a microgravidade propicia estudos como os de novos medicamentos destinados ao tratamento de doenças diversas, como câncer e diabetes. Além disso, a cultura de células e tecidos, no ramo da biologia, e o desenvolvimento de semicondutores, voltados para a indústria eletrônica, também podem ser beneficiados.

No Brasil, a empreitada é pioneira. Segundo o gerente do Sara e pesquisador da Divisão de Sistemas Espaciais do IAE, Luis Loures, estão previstas quatro etapas para projeto. A primeira delas recebeu o nome de Sara Suborbital e poderá ser testada em 2010. Nela, a cápsula será lançada acoplada a um foguete e entrará em ambiente de microgravidade, para, cerca de oito minutos depois, retornar à Terra (veja arte). “Nessa fase, também serão desenvolvidos, entre outros fatores, a eletrônica de bordo, o conhecimento da estabilidade da cápsula em voo na atmosfera, o sistema de paraquedas, além do módulo para a realização dos experimentos”, explica Loures.

Segundo veículo

Os ensaios funcionais são de extrema importância e serão feitos quantas vezes forem necessárias para a solução de problemas, segundo o pesquisador. Isso porque dados europeus mostram que as taxas de falha de alguns sistemas podem chegar a 20%. “No segundo veículo, ou etapa, criaremos um sistema de controle de altitude, importante para definir as posições relativas durante o voo. Será desenvolvido ainda o motor de reentrada, que possibilitará a frenagem da cápsula em órbita, para que ela entre na atmosfera. Essa operação deverá ser feita com todo o cuidado, para que a cápsula caia no local pretendido”, diz.

De acordo com o responsável pelo projeto, o terceiro veículo atuará em escala orbital e terá capacidade de permanecer cerca de duas horas no espaço. O quarto e último veículo será importante para o aprimoramento do escudo térmico da cápsula, além do desenvolvimento da capacidade de armazenamento de energia. “A ideia é que cada fase dure, em média, quatro anos”, afirma. Loures diz que o objetivo é chegar a uma cápsula que possa ficar até 10 dias em órbita terrestre.

O IAE conta com o apoio da empresa de engenharia Cenic, responsável pela industrialização da plataforma de lançamento. Parte da tecnologia dos próximos veículos também está em desenvolvimento. A plataforma para controle de altitude será criada pelo projeto Sensores Inerciais Aeroespaciais (SIA), com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Já os materiais capazes de suportar altas temperaturas estão sendo criados pela Divisão de Materiais do IAE e deverão voar como experimentos na plataforma Shefex 2, sigla de um programa espacial alemão de sucesso.

O programa brasileiro pretende ser, no futuro, uma plataforma industrial orbital para a qualificação de componentes e equipamentos espaciais a um baixo custo. “O que abre interessantes chances de negócios no Brasil e no exterior, além de realizar pesquisas em microgravidade”, afirma Loures.

Diversos estudantes também participam do projeto. Um deles é Artur Arantes, 23 anos, aluno da Universidade do Vale do Paraíba (Univap). Para ele, a experiência é encarada como um grande aprendizado profissional. “No momento, estou atuando nos cálculos estruturais e me sinto lisonjeado por participar de algo tão importante”, enfatiza. Já o aluno de doutorado do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA) Eduardo Henrique de Castro, 28, também auxilia na coordenação do projeto. “É uma área que tende muito a crescer e pode servir para o desenvolvimento de pesquisas de extrema importância”, avalia.

Avanços no Projeto SARA

IAE realiza revisão crítica da rede elétrica do projeto Sara

O Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e a empresa Mectron – Engenharia, Indústria e Comércio S.A, realizaram no dia 19 de março a Revisão Crítica de Projeto (CDR) do Subsistema de Redes Elétricas do Sara Suborbital.
A Rede Elétrica do Sara Suborbital comandará o veículo de sondagem VS-40 e poderá ser recuperada e reutilizada depois do vôo, após a necessária avaliação e manutenção de seus componentes.
O diretor da Mectron, engenheiro Carlos Alberto, após uma apresentação sobre o tema ao grupo de revisão, realizou uma demonstração do Modelo de Engenharia das Redes Elétricas nos laboratórios da empresa.

O grupo de revisão, que é presidido pela Chefe da Divisão de Eletrônica (AEL) do IAE, engenheira Mara Lucia Storino Teodoro da Silva, especialistas da AEL e doutores da Embraer, avaliou os temas que culminarão com a elaboração de Relatórios de Itens de Discrepâncias (RIDs).
A qualidade de uma revisão de projeto se mede pela qualidade e quantidade das RIDs emitidas pela Comissão de Revisão. “Sob este aspecto, a revisão foi um sucesso, pois os membros da comissão fizeram uma profunda avaliação das soluções apresentadas e identificaram potenciais discrepâncias que poderiam acarretar dificuldades futuras”, como explica o gerente do projeto Sara, Dr. Luis Eduardo Loures.

Os próximos passos no desenvolvimento das Redes Elétricas envolvem um importante ensaio de qualificação funcional. “As Redes serão agora testadas funcionalmente na mesa de mancal a ar de um eixo, situada no Laboratório de Propriedades de Massa do IAE”, informa Loures.

O engenheiro do IAE esclarece ainda que, a partir dessa etapa, “o grupo poderá estudar a montagem e a integração do subsistema, além de testar as principais funcionalidades em conjunto, como o funcionamento do sistema de controle acoplado aos atuadores de gás frio”.

Pretende-se, já durante o processo de desenvolvimento, realizar a industrialização das redes elétricas do Sara Suborbital, de modo a garantir com que as soluções de projeto estejam compatíveis com o parque industrial nacional.

13 Comentários

  1. Isso é que é um artigo bom, é disto que o povo precisa, motivação, ver que nosso povo é capaz como qualquer outro. Como disse nosso presidente a gente levanta de manhã cedo pra trabalhar e vai tomar o café assistindo as notícias do inicio do dia e só se depara com noticias ruins como se fosse só isso, a grande imprensa só põe coisa ruim na tela só pra massacrar o povo e impedir o desenvolvimento, de manhã cedo. Chega, temos que dar um basta nisso, eles querem ver o inferno do povo, pra gente conseguir ver noticias boas só aqui na internet, menos mal que há quinze anos que eu só vejo notícias na internet e jamais vejo nos jornalões capachos e submissos aos grandes centros economicos. Parabens E.M.Pinto, espero que esta pagina ganhe milhões de ascessos diários pra que voce colha noticias boas seja de onde vier, mas que sejam boas, pois é disto que este povo esta precisando.

  2. Argus, GPS nosso n]ao é exatamente uma coisa dificil, acho eu até que poderemos revolucionar essa área.
    Estamos projetando micro satélites,bem, até lá, GPS brasileiro, pelo menos para a defesa, acho que poderemos ter um dia.

  3. Fernando

    Você está corretíssimo, nunca na minha vida vi num jornal (não que não haja) uma única noticia dos nossos foguetes,. O que mais de deixa triste é saber que a maioria da população nem sabe que nós fabricamos foguetes, misseis, aviões etc.
    Total descaso da mídia.

  4. Os poucos jornais que noticiam alguma coisa são aqueles da madrugada (Jornal da Globo, e… eu acho que só)E olha que eu não sou de defender a Globo, e eu tenho um ódio mortal dessa emissora! No meu caso só encontrei este site por que procurava notícias relativas à esta área e a de Defesa, por isso cá estou… Aproveito para parabenizar o site, pois ele é uma ilha de informação na mediocridade que é a internet…

    • Obrigo do Júlio, fazemos o melhor para apresentar uma gama variada e atualizada.
      mas há muitos outros colegas que o fazem, obrigado pela participação.
      Sds. E.M.Pinto

  5. Olha a base de nosso ICBM aí gente!!! 😈

    A altitude é boa, mas o alcançe de 303Km ainda é baixo, mas com um 3°estágio seria possível uns 8-10mil KM… 🙄

    Quanto os jornais, eu acho que a edição matutina deveria se obrigada por lei a dar só boas notícias! 😮

    Valeu!!

  6. Olha a base de nosso ICBM aí gente!!! [2]

    hehehehe, quem sabe um dia além de termos ICBM, naum lançamos um homem ao espaço…

  7. Pra mim mais parece um aviso do tipo “Já sabemos fazer a bomba, agora vamos fazer o míssil.”

    Mas, de qualquer jeito, ACORDA BRASIL! Chega de conformismo e pensamento pequeno!
    Somos o BRASIL, nao um paizinho no meio da África…

    Esse foguetinho fajuto ainda é muito pouco. A China já tinha uma merdinha dessas no meio do século passado e a gente ainda nessa brincadeira de criança!

    O problema do brasileiro é pensar pequeno e ficar satisfeito com titica. Depois reclama dos governantes.

  8. Temos como fazer bombas (eu acho), estamos a uns anos de um míssil, (quer dizer, foguete espacial…) e um sub. nuclear.
    Mas tem o eterno problema dos recursos, sempre sujeitos aos humores políticos.
    Realmente andamos devagar demais às vezes. Nos anos 60 tínhamos um programa de foguetes equivalente ao da Índia. Hoje estamos décadas atras.
    E temos de pensar também em uma educação melhor, pois não dá pra crescer tecnologicamente com uns poucos centros de excelência, tem de ter muitos.
    Outro problema é fazer a estrutura industrial ‘entrar’ no esquema da ‘high tech’ autóctone, o que não é fácil para um país que se acostumou a exportar produtos primários e mão-de-obra barata em industrias muitas das quais são apenas ‘montadoras’.
    Mas estamos andando, e isso tudo aí em cima é muito importante.
    Parabéns aos envolvidos nesses projetos e realizações.

    Raul,
    Realmente é algo revoltante a ‘pequenez’ de nossos propósitos às vezes.
    Essa maneira de pensar dos brasileiros infelizmente é antiga. Mudou um pouco, mas pouco de fato e muito lentamente.
    No império foi notável a luta de Mauá ( um personagem simplesmente 100 anos à frente…) para avançarmos, e ele foi derrotado.
    Mas sejamos mais otimistas, acho que agora existe uma mentalidade realmente progressista mais disseminada e um pouco mais forte.

  9. ATÉ AS PEDRAS SABEM AFAVOR DE QUEM TRABALHA A GRANDE IMPRENSA NO BRASIL,POR ISSO NÃO E DE ESTRANHAR O POUCO ESPAÇO DADO AS CONQUISTAS TECNOLOGICAS REALIZADAS NO BRASIL

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