Novos segredos sobre o agente duplo que enganou a CIA

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Rémy Ourdan
Enviado especial a Cabul (Afeganistão)
Lana Lim

Sugestão: Gérsio Mutti

Ele atingiu a CIA em cheio. O médico jordaniano Humam Khalil Abu-Mulal al-Balawi conta, em um vídeo gravado pouco antes de sua morte, sua saga de agente duplo, que o levou de uma prisão de Amã para uma base da CIA no Afeganistão, onde em 30 de dezembro de 2009 ele matou, com um cinturão de explosivos, agentes americanos encarregados de capturar os chefes da jihad internacional. O vídeo de 43 minutos foi transmitido, no domingo (28), pela As-Sahab, o órgão de comunicação da Al-Qaeda.

“Tenho 32 anos e trabalho como médico na Jordânia. Minha jihad começou há alguns anos, após a invasão americana do Iraque…” Balawi tornou-se admirador dos jihadistas, em especial do falecido Abu Musab al-Zarqawi, comandante da Al-Qaeda na Mesopotâmia, originário como ele do vilarejo jordaniano de Zarqa. Ele afirma que a operação contra a CIA é especialmente destinada a vingar sua morte. Na época, Balawi escreveu, sob o nome de “Dr. Abu Dujaanah al-Khorasani”, em sites islâmicos da internet.

Sua conversão em agente jihadista se deu em dois tempos. Ele afirma ter primeiro sentido que devia entrar mais ativamente na jihad “depois de ter visto os acontecimentos de Gaza”. Em seguida, “tudo começou quando a segurança jordaniana entrou em minha casa”. Ele foi detido por “posse de material ilegal” e por seus escritos, foi preso e recrutado por “Abu Zaid”, oficial da divisão de contra-terrorismo dos serviços de inteligência jordanianos.

“Abu Zaid era um idiota que me pediu para trabalhar com os serviços de segurança espionando os mujahidins no Waziristão (zona tribal paquistanesa) e no Afeganistão. O inacreditável é que eu queria justamente voltar para a terra da jihad mas não tinha conseguido, e esse cretino chegou e propôs me enviar para a terra da jihad. Meu sonho estava se realizando… Esse idiota estava cavando sua própria cova. Ele me prometeu somas que chegavam a milhões de dólares dependendo do alvo”. Balawi chegou, bancado pelos serviços jordanianos, a Peshawar, no Paquistão. “Entrei em contato com os mujahidins, que convocaram uma shura (assembleia)”. Seu objetivo era atrair Abu Zaid, o oficial jordaniano, para uma armadilha e sequestrá-lo em Peshawar. “Retomei contato com ele quatro meses depois e lhe transmiti vídeos dos chefes mujahidins. Também lhe passei informações verdadeiras que achávamos que o inimigo já conhecia. Com o tempo, os serviços de inteligência jordanianos se convenceram de que eu trabalhava para eles”.

Abu Zaid lhe informou que arranjaria um encontro para ele com agentes da CIA no Afeganistão. Segundo Balawi, a reunião era destinada a lhe dar material que permitiria transmitir as coordenadas dos alvos que ele deveria localizar. Segundo a imprensa americana, a CIA pensava que ele vinha entregar informações sobre Ayman al-Zawahiri, o adjunto de Osama Bin Laden. “Abu Zaid convenceu a equipe da CIA encarregada dos ataques de aviões não-tripulados a vir à reunião”, conta Balawi. “Era um presente de Alá. Então tive a certeza de que o melhor meio de dar uma lição nos serviços jordanianos e na CIA era vir com um cinturão de mártir”.

Uma shura da Al-Qaeda aprovou o projeto de atentado suicida. “Nós discutíamos a forma de lhes infligir uma derrota e um massacre com o mínimo de perdas, e concordávamos que isso dependia de uma operação mártir. Essa oferta era um presente de Alá”.

Humam al-Balawi atingiu seu objetivo. Em 30 de dezembro de 2009, ele foi recebido na base Combat Outpost Chapman em Khost, no Afeganistão, de onde a Agência Central de Inteligência (CIA) americana conduzia suas operações contra os refúgios jihadistas no Paquistão. Ele chegou de carro com o oficial de inteligência jordaniano. Antes de entrar na sala de reunião, foi revistado por dois mercenários da empresa privada Blackwater, encarregada da segurança. Os agentes americanos se mantiveram por perto. Balawi ativou os explosivos, matando nove pessoas: cinco agentes da CIA, entre os quais a principal especialista americana em Al-Qaeda, os dois guardas da Blackwater, o oficial jordaniano e seu motorista. Pelo menos seis outras pessoas ficaram feridas, entre as quais o chefe adjunto da CIA em Cabul. Para a Al-Qaeda, foi um golpe de mestre.

Qari Hussein, um comandante taleban paquistanês encarregado dos atentados suicidas, foi o primeiro a reivindicar a operação. Mustafa Abu Yazid, chefe da Al-Qaeda no Afeganistão, divulgou seu próprio comunicado. Os serviços de inteligência americanos também suspeitam que os talebans afegãos de Sirajuddin Haqqani, muito próximos à Al-Qaeda e operantes em Khost, tenham coordenado a operação. Depois, em 9 de janeiro, foi divulgado o primeiro vídeo de Humam al-Balawi, onde ele aparece ao lado do chefe dos talebans paquistaneses, Hakimullah Mehsud, e afirma querer vingar a morte do criador do movimento taleban paquistanês, Baitullah Mehsud, morto por um avião não-tripulado americano.

Os Estados Unidos estariam hoje convencidos de que a operação foi organizada conjuntamente pela Al-Qaeda, que recrutou Balawi, pelos talebans paquistaneses, que o receberam e treinaram, e pelos talebans afegãos de Haqqani, responsáveis pelas operações na província de Khost. O atentado confirmaria que esses jihadistas cooperam para as ações mais delicadas. Os mais antigos viveram juntos no Paquistão durante a jihad antissoviética no Afeganistão, e todos se reencontraram nas “zonas tribais” paquistanesas após 2001.

E assim o agente duplo Balawi se tornou o herói da jihad internacional. O homem infligiu à CIA uma das piores derrotas de sua história.

Fonte: UOL/BOL

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