Por Reed Stevenson
HAIA (Reuters) – O ex-dirigente servo-bósnio Radovan Karadzic assumiu a palavra na segunda-feira em seu julgamento num tribunal da ONU em Haia para negar que tenha sido responsável por algumas das piores atrocidades registradas na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Karadzic, 64 anos, nega as 11 acusações, sendo 2 de genocídio, relativas à guerra de independência da Bósnia (1992-95), na qual sérvios do país lutaram contra muçulmanos e croatas.
Os promotores acusam Karadzic de liderar uma campanha para eliminar a população muçulmana e criar um Estado exclusivo para os servo-bósnios, numa guerra que matou cerca de 100 mil pessoas.
“Tudo que os sérvios fizeram está sendo tratado como crime”, queixou-se Karadzic, argumentando que os conflitos resultantes do esfacelamento da Iugoslávia eram a consequência natural da disputa de terras entre três grupos. “A Iugoslávia só poderia se esfacelar em uma guerra”, afirmou.
Ele acusou os muçulmanos bósnios de rejeitarem propostas de compartilhamento de poderes, a fim de criarem um Estado fundamentalista islâmico. Por isso, Karadzic descreveu sua luta contra eles como “justa e sagrada”.
Depois de boicotar em outubro o início do seu julgamento no Tribunal Penal Internacional para a Ex-Iugoslávia, Karadzic passou a se defender sozinho das acusações, que podem levar à prisão perpétua.
Ele apareceu de terno escuro, com seu tradicional topete grisalho, e falou em sérvio, com tradução de um intérprete do tribunal.
Lendo uma declaração na qual citava a si mesmo várias vezes na terceira pessoa como “Karadzic”, ele também usou videoclipes, gravações de áudio e citações literais para corroborar seus argumentos.
Ele terá dois dias para fazer suas alegações iniciais, e depois será a vez da promotoria.
Os promotores devem enfatizar particularmente o massacre de mais de 7.000 muçulmanos em julho de 1995 na cidade de Srebrenica, acusando Karadzic de orquestrar “um dos capítulos mais sombrios da humanidade”.
O psiquiatra Karadzic, que foi o líder político dos servo-bósnios até 1996, é acusado também pelo cerco de 43 meses a Sarajevo, que matou cerca de 10 mil pessoas. Ele foi preso em 2008 em Belgrado, onde trabalhava com medicina alternativa.
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