A arrogância da liderança chinesa

Sugestão: Gérsio Mutti.

O Ocidente espera que a crescente prosperidade da China também leve à liberalização política. Mas é provável que o contrário também seja verdade. A confiança cada vez maior do Partido Comunista significa que a China poderá se tornar uma encrenqueira no cenário internacional, além de reprimir com mais brutalidade seus dissidentes.

O Partido Comunista da China é onipotente. Ele pode mover montanhas, como fez ao construir a maior indústria hidrelétrica do mundo no Rio Yangtsé. Ele pode construir a maior ferrovia do mundo, como demonstrou ao construir a ligação ferroviária até a capital do Tibete, Lhasa.

Ele pode até mesmo administrar as reencarnações, o que fez ao escolher um homem fiel a Pequim como o segundo maior líder espiritual do Tibete, o Panchen Lama – um feito particularmente impressionante para um partido ateísta que vê a religião como o ópio que corrompe o povo. Os chefes do Partido Comunista tornaram-se espiritualistas por um breve momento para colocar seu homem na vaga de sucessor do dalai-lama, 74. Mas o dalai-lama escolheu seu próprio vice espiritual. E ele também está pensando em selecionar uma mulher para ser sua reencarnação, disse à Spiegel. Além disso, ele não quer fazer a Pequim o favor de morrer logo.

Na última quinta-feira (18/02), o presidente dos EUA Barack Obama encontrou-se com o líder tibetano vencedor do Prêmio Nobel da Paz na Casa Branca. É uma coisa que os seus predecessores também fizeram, assim como os líderes da França e da Alemanha. Normalmente Pequim responderia a um encontro com seus protestos de praxe. As queixas do Partido Comunista contra o envio de armamentos norte-americanos para Taiwan também foram emudecidas no passado porque eles estão cientes de que os presidentes dos EUA são obrigados por lei a ajudar Taiwan.

Mas dessa vez foi diferente Pequim reagiu com uma fúria incomum ao encontro recente com o dalai-lama e à nova negociação de armas entre Washington e Taiwan, e fez ameaças. Companhias como a Boeing poderão ser excluídas dos negócios chineses, e conversas bilaterais entre oficiais militares foram canceladas.

Autoconfiança que beira a arrogância
Há uma nova era glacial entre Pequim e Washington, entre os dois centros que muitos já consideraram inseparáveis, amalgamados na chamada Chimérica ou na nova potência mundial “G-2”. O que deu na China?

Para começar, o governo chinês está repleto de uma autoconfiança que beira a arrogância. Os chineses veem a si mesmos como os vencedores da crise econômica global. O país gerou um crescimento econômico de cerca de 9% em 2009, enquanto a economia russa encolheu 7,9%, a da União Europeia, 4,2%, e a dos EUA, 2,7%. A China ultrapassou a Alemanha e se tornou a maior exportadora mundial e manteve-se na liderança como o país com as maiores reservas em moeda estrangeira.

Os líderes do Partido Comunista regozijam-se em citar as previsões otimistas para a situação econômica de seu país. O vencedor do Nobel de Economia norte-americano Robert Fogel, por exemplo, prevê que em 2040, a China responderá por 40% da produção econômica global, comparado a apenas 14% dos EUA. “Esta será a face da hegemonia econômica”, diz Fogel.

Enquanto alguns nos EUA acreditam que podem lidar com a ascensão da China enquanto potência mundial, a China está sonhando em “arranjar” o declínio dos Estados Unidos. E nesse contexto o Ocidente deveria dizer adeus à sua crença otimista de que o progresso econômico da China levará à sua liberalização política e a transformará num parceiro responsável no cenário mundial. É provável que aconteça o inverso.

Encrenqueira no cenário mundial
A China atua agora como uma nação encrenqueira e provocativa, tanto na conferência climática de Copenhague em dezembro quanto no Conselho de Segurança da ONU, onde é provável que fique sozinha ao resistir a uma nova rodada de duras sanções contra o I

Os especialistas em economia dizem que a moeda chinesa está de 25% a 40% subvalorizada e que isso está baixando artificialmente o preço dos produtos de exportação chineses. Mas os líderes da China não estão considerando revalorizar o yuan. Eles ignoram as queixas de Obama sobre a taxa de câmbio com a mesma indiferença que mostraram ao enviar funcionários de baixo escalão para negociar com o presidente em Copenhague.

A China acredita que pode se dar ao luxo de agir assim. Na África e na Ásia, o autoritarismo de Pequim é visto como um modelo de sucesso a ser copiado.

No país, o Partido Comunista está intensificando seus métodos brutais. Permitiu que um traficante de drogas britânico que parecia mentalmente instável fosse executado, e Liu Xiaobo, um respeitado ativista pelos direitos civis que apenas usou seu direito de liberdade de discurso, foi sentenciado a exorbitantes 11 anos de prisão.

Minorias que lutam pela autonomia como os uighurs e os tibetanos são oprimidas brutalmente. O ressurgimento do nacionalismo Han substituiu todas as outras ideologias e funciona como um cimento que mantém a sociedade unida.

Os líderes de Pequim estão se comportando como os senhores do mundo, tão arrogantes como se pudessem andar sobre as águas. O dalai-lama diz que reza todas as noites pela iluminação dos chineses. Ele sonha com o renascimento de valores chineses como a modéstia e o senso de proporção. Ele pode continuar sonhando.

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Fonte: Bol/UOL

13 Comentários

  1. Finalmente acordaram.

    Ficam louvando a economia chinesa mas esquecem que a China sempre se considerou o centro do mundo e isso não irá mudar do dia para a noite.

    É nesse tipo de país que o atual governo brasileiro se espelha: uma economia de Estado e partido único.

    O Brasil deveria se unir aos EUA para formar uma barreira militar-política-ideológica contra a China, pois em 50 anos a União Européia será muçulmana e autoritária.

    Mas o que fazer? Afinal, ser “neo-liberal”, ou seja, defender o liberalismo, a liberdade do indivíduo, se tornou palavraão no Brasil.

    Aos poucos o PT está conseguindo subverter os valores da socidade e logo estaremos clamando por uma ditadura (tal qual como ocorreu em 1964) que “dê um jeito em tudo isso aí”.

    Aonde estão homens como Dom Pedro II, Duque de Caxias, José Bonifácio, Honório Hermeto Carneiro Leão, Joaquim Nabuco e Barão do Rio Branco quando mais precisamos?

  2. Como coreano eu só posso dizer uma coisa: Eu já sabia ….
    Pra mim a maior ameaça da China é a exportação de chineses para o resto do mundo. Vide o resto da Ásia e agora a África. Aqui mesmo no Brasil eles já estão concentrando um bom poder econômico e político, e como eles são arrogantes …
    O problema da China é mesmo a arrogância e justificam tal atitude na grandeza que dizem estar reservado a eles mesmos pelo destino.
    Devíamos isola-los para que fiquem sozinhos com o seu ego celestial.
    Na verdade tal agressividade se deve ao fato de que apesar de sua crença inabalável na sua superioridade, ao longo de sua história a China (a etnia Han) foi diversas vezes governada por outros povos como os Mongóis, Manchus, ocidentias, etc) e isso fere o seu orgulho, assim querem controlar o resto do mundo para que tal fato não se repita de novo.
    Parecer que a mãe deles se esqueceu de ensinar-lhes que coexistência também garante paz e sossego com os seus vizinhos.

  3. Muitos militares estatocratas, ditadores e golpistas sonham em cercear os direitos de terceiros a favor dos direitos deles – militares. Por isso as nossas FFAA estão sucateadas e devem continuar assim até que lideranças militares com a mentalidade aberta a nova realidade nacional estejam prontas.

  4. Pra quem achava os EUA arrogantes. Esperem para ver a China.
    Mas eu penso que haverá um limite, com a queda de domínio político dos EUA.
    A U.E. está em primeira faze de colápso por causa de problema relacionados aos EUA e a ONU.
    A China vai fazer o mesmo que os EUA, porém, eles só terão poder econômico, não tendo “morau” política como os EUA.
    Ou seja, nem tudo está perdido. Sem a grande presença dos EUA no futuro, haverá uma chance de a União Europeria acabar com seus ranço e reforças os laços econômicos. Somente assim para não deixar a China se “achar a nova dona do mundo”. Pois se ja era ruim com os EUA, com toda a sua democracia e propaganda, imaginem para o governo inescrupulosos e que não pede desculpas, como o governo Chinês.

  5. A China tem o problema de ter um populçãso mt grande , se liberalizar , tem racha, e o mundo tem de rezer p isso ñ acontecer, + um pouco de democracia é sempre bom…A india é uma prova disto.

  6. Sim Carlos

    O problema que os governante chineses veem, é que si numa eventual “revolução democrática”, a china pode ser literalmente separada, mas não como nações diferentes, mas podendo ser duas Chinas, uma capitalista e outra comunista.

    Isso se mostra por causa das seguintes situações.

    Aos poucos os chineses veem de “mau” a politica de partido único muito exagerada, não dando margem de diálogo e nem de acordo. Ou seja, e política da china não abre espaço para qualquer tipo de acordo em relação a própria politica. Lembrando quem “política” significa uma espécie de “ordem”. Assim como se fala em “politica de mercado”, se refere a “ordem de mercado”. Uma coisa que a China não tem, e nem liga, pois desrespeita toda a propriedade intelectual e de patente. O governo não liga, e nem vai ligar, afinal, a china so é o que é, graças a sua politica de aproveitar a oportunidade de imediato.

    Bem, chegando no ponto do problema da grande população. A China se segura tentando “segar” a sua população em relação a mundo Capitalista Ocidental.
    Bem, até aí, a gente conhecer bem, mas o ponto forte da China, paradoxalmente, é o seu ponto fraco.
    O Conhecimento dos chineses sobre o que seja a “democracia” criaria um movimento separatista dentro da própria nação, havendo assim, um conflito interno de proporções muito grande, isso tuda graças a sua enorme população.

    GUERRA INTERNA

    Certamente, grande parte da população educada para adorar o sistema popular comunista (nos aspecto politico, pois a economia é capitalista) iria se opor ao movimento “separatista pró democracia (mais direitos e etc)”. Haverá uma grande chance da enorme população ficar dividida.
    Seriam mais ou menos 500 ou 600 milhões de habitante com ideias diferentes. Certamente, por mais repreensivo que a força militar poderia ser, não adiantaria nada, e pior, só ia incitar a população a se virar contra o sistema populista , uma vez que ele é “inescrupuloso e desrespeita o cidadão”, isso sem falar que ele (governo Comunista) tem uma tendencia muito grande a se modificar de acordo com a situação geopolitica global, de maneira a sobreviver com essas grandes re-evoluções politicas e econômicas.

    Calos. Uma coisa é certa, por mais que a China seja mais rica que os EUA, os ocidentais tenderão a ser “unidos” para resistir a “provável” imposição do sistema “ching ling” de sociedade.
    Isso quer dizer que, a China não teria a mesma “morau” que os EUA. Uma vez que mesmo a China fazendo toda a exibição militar para mostrar se poder, jamais os países ocidentais poderiam aceitar esse exibicionismo de poder como instrumento de ameaça, isso faria os ocidente se virar contra a China de vez por todas.

    Temos que dar graças a Deus pelo ocidente, mesmo sendo manipulado pelo dinheiro, não poderia se virar contra ele mesmo, delegando valores de sociedade so porque a China quis.

    Então, prepare-se, pois no futuro, brigas e “apontamentos” de dedos poderão ser mais comuns ainda.

    Só mais uma coisa. Quando um esquerdista conhece o valor de ser “economicamente” poderosos, percebe-se que seu pensamento “esquerdista” começa aos poucos a se perder de seus fundamentos de igualdade. A ambição está em cada um de nós.

    Não precisa ter tanto medo assim da China. O Ocidente jamais se venderia a esse sitema. Isso sempre acaba mau. Um dia tudo acaba. Pois democracia é igual $$$$$.

    ************************************************

    Obs: Isso me faz pensar e supor, que a suposta “queda” da União Soviética, pode ter sido algo proposital, uma vez que estava cada vez mais difícil para o seu sistema “igualitário” de se equilibrar com o ocidente, mas precisamente EUA e Europa, que estava cada vez mais unidos. É como se a URSS sacrificasse se padrão politico para não sofrer com constantes “revoluções pró-democráticas” que poderiam desgraçar de vez a URSS e transformá-la numa região de constantes conflitos para militares armados, buscando sua “liberdade” (olhas as FARCs ai gente) e um governo autônomo, com centenas de “micro” países se guerreando. Algo que realmente aconteceu com os países que sobrar depois da URSS.

    Espero não ter cido muito chato.
    E perdoe meus erros gramaticais, sem paciência é isso aí.

    Abração.

    Luiz Rocha
    Entusiasta de Geopilítica.

  7. Percebam que os que mais “odeiam” o ocidente, não conseguem largar a vida e as comodidades da vida ocidental. Eles simplesmente gozam dos prazeres ocidentais (celular, computador, tv, carros e etc)
    Ou seja, seu ódio ao ocidente é motivação cultural, religiosa, pessoal e política.
    Uma coisa que eu, pessoalmente, considero um capricho da parte deles, algo simplesmente de aproveitar a oportunidade.

  8. Rapaz … ver a china rachar é tudo o que eu queria ver nesta vida.
    Obrigado pelos comentários Luiz. Muito esclarecedores, mas a ortografia ….. rsrsrs
    É isso aí Athaliba.

  9. Caros, eu acredito que nós mesmos estamos dando a China o poder que esta busca quando compramos as falsificações baratas que estão infestando nosso comércio. Até marcas famosas e reconhecidas consideram mais barato terceirizar a fabricação na China. É a globalização que está dando esta força aos chineses e o governo deles estão aproveitando bem e fazendo propaganda dentro e fora da China. Lembram dos Jogos Olímpicos?
    Não falo em um boicote sistemático aos produtos chineses mas o mundo precisa encontrar um equilíbrio do tipo via de mão dupla, se compramos da China ela precisa comprar de nós em igual proporção assim evitamos este crescimento muito acelerado em relação ao resto do mundo.
    Com dinheiro no bolso o governo chinês está investindo em poder militar como forma de intimidar o ocidente e não para melhorar a vida de seu povo.

  10. Sempre achei que era uma questão de tempo.
    A China, daqui a 40 anos, será rica, porém, não intimidará o ocidente como ela faz com Taiwan. Com o crescimento da China, obrigará os ocidentais a se unirem numa organização politica econômica, não como a ONU, mas uma mistura dela com ideologias de mercado, como é a União Europeia. Os EUA, por mais atrocidades que fazem, tem moral, mesmo havendo interesses no Haiti, eles foram lá aos montes e realmente ajudaram. Cade a China?
    Ela só se preocupa com sigo mesma.

    Antes, meu temor era de que o ocidente teria que se igualar com a China na questão política de mercado. Porém, vocês não estão considerando o poder das empresas ocidentais, que sempre perdem para as “Ching Ling”, já que lá a condição de trabalho é decadente. O ocidente não irá se igualar a aquela situação nunca. Então só resta uma coisa, ou a China muda, ou o ocidente vai começar a boicotar os produtos chineses.

    Outra coisa interessante que a China não respeita, é que para as pessoas poderem comprar deles, elas tem que trabalhar, fabricar os seus produtos e ganhar seu salário. Se a China invade muitos mercados querendo fabricar de tudo, então ela será boicotada no exterior com certeza, pois o ocidente também fabrica coisas, e seria um erro a china querer fabricar tudo que é produzido no ocidente, mesmo que vendendo barato, mas o ocidente também tem que ter a sua renda. Então, tudo cai dentro da população chinesa, eles terão que se contentar em vender a maior parte para dentro do próprio país, mas olha que 1 bilhão não é pouco.

    Ela doou uma miséria para o Haiti, e o Brasil e os EUA foram os que mais doaram. rsrs Bem, sei que o Brasil doou para aparecer, mas doou muito.
    Então rapaziada, a China não será como são os EUA hoje.

    Torceremos para a China rachar mesmo, pois ela irá usar a força militar e invadindo a costa de muitos países como ela sempre faz com seus vizinhos, mandando militares disfarçados de pescadores.

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