EUA preveem uma guerra longa e difícil no Afeganistão

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Antônio Cano
Em Washington
Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Os EUA travam em Marjah a batalha que gostariam que fosse decisiva na guerra do Afeganistão, uma batalha que se prevê difícil, com muitas baixas por parte das forças da Otan, e longa, com não menos de um ano de duração, mas que também é a última oportunidade para deixar um governo relativamente estável no país e impedir o ressurgimento da Al Qaeda, segundo afirmaram nos últimos dias vários membros civis e militares do governo americano.O avanço dos fuzileiros-navais em Marjah é muito mais difícil do que se previa no início da ofensiva, em 13 de fevereiro. Os contra-ataques taleban, embora esporádicos, impedem que a Otan possa garantir determinadas áreas para começar a estabelecer nelas uma presença civil. A colaboração das tropas afegãs é menos eficaz que o necessário, o que complica a possibilidade de lhes transferir a responsabilidade nas áreas reconquistadas.

Uma jornalista da Rádio Pública Nacional descreveu uma cena de combate em Marjah nos seguintes termos: “Os fuzileiros põem munição extra em seus cinturões e revisam suas armas enquanto esperam impacientemente os soldados afegãos, que estão com várias horas de atraso”.

Os chefes militares americanos em campo se queixaram da falta de disciplina, do despreparo e do pouco compromisso que notam em seus colegas afegãos, que deveriam ter um papel vital para impedir erros como os que estão causando constantemente mortes de civis e desprestigiando o trabalho da Otan.

Uma das tarefas que ocupam mais tempo dos fuzileiros é exatamente a de separar a população civil dos taleban para evitar mortes de inocentes. Na ofensiva de Marjah ela é feita rua a rua, casa a casa. Os fuzileiros explicam a cada família que não vão lhes causar danos e que é preferível que abandonem a área.

Esse trabalho é constantemente interrompido pelos disparos de franco-atiradores e emboscadas, os dois métodos mais utilizados pelos taleban para dificultar o avanço das tropas aliadas. Um correspondente da agência Reuters foi testemunha na terça-feira de um combate de mais de oito horas para dominar um terreno de menos de 5 km de fortificações destruídas. O chefe de um dos batalhões entre os quais trabalham jornalistas americanos, o tenente-coronel Christmas, não acredita que seja possível recuperar uma relativa calma em Marjah em menos de alguns meses. Isso sem contar com o risco de que, uma vez obtida, os taleban continuem atacando esporadicamente a cidade de posições próximas.

Para reduzir esse risco é necessário, portanto, ampliar a ofensiva a toda a província de Helmand e a todo o sul do país. Definitivamente, impedir que os taleban tenham um território “liberado” e que a autoridade do governo de Cabul vigore em todo o país. Em certa medida, algo semelhante ao que se fez no Iraque, onde, apesar das bombas e dos ataques esporádicos, os insurgentes não controlam nenhuma área.

O general David Petraeus, chefe do comando central dos EUA – responsável por toda essa região -, previu que para chegar a esse ponto ainda é necessário muito trabalho no Afeganistão. “Isto é só o início do que será uma operação de 12 a 18 meses de campanha”, declarou o militar em entrevista à televisão no domingo.

Essa longa duração provavelmente se somará a uma longa lista de mortos, o que poderá pôr em risco em médio prazo a colaboração de alguns países da Otan. “Eu não gosto de usar as palavras otimista ou pessimista”, disse Petraeus, “prefiro ser realista, e a realidade é que vai ser duro.”

O tipo de guerra que está sendo travada em Marjah corresponde ao cânone mais clássico – lento avanço terrestre, um certo apoio de helicópteros, mínimo uso de artilharia moderna – e exige a suposição de um alto número de baixas, principalmente se os soldados afegãos não puderem atuar no avanço. Os EUA alcançaram na terça-feira o número de mil soldados mortos. Só este ano o país já perdeu cerca de 60 homens.

Aparentemente, tudo está dentro dos planos esboçados. Richard Holbrooke, o enviado especial do Departamento de Estado ao Afeganistão, declarou ontem que, se o avanço militar prosseguir no ritmo atual, antes de um ano haverá no país mil civis americanos trabalhando nas necessidades mais imediatas da população: luz elétrica, água corrente e escolas.

Enquanto se desenvolve a ofensiva, Holbrooke é o encarregado de lidar com dois ingredientes dos mais delicados dessa estratégia: a colaboração do Paquistão e a reabilitação do presidente afegão, Hamid Karzai. Holbrooke esteve em Islamabad um dia antes da detenção do chefe militar taleban Abdul Ghani Baradar e qualificou essa operação como “um momento decisivo para a cooperação do Paquistão”. Quanto a Karzai, sua fé em transformá-lo em uma figura para a reconciliação nacional é notavelmente menor.

Essa combinação de esforços políticos e militares representa, em todo caso, a estratégia mais consistente implementada desde o início da guerra. Seu objetivo, como disse Petraeus, é “garantir que o Afeganistão não volte a ser um santuário para ataques como os de 11 de Setembro”. Prazo: o verão de 2011.
Sugestão: Konner

UOL Notícias

Fonte:  UOL

5 Comentários

  1. guerra longa e dificil tal como os sovieticos tb foi longo dificil e tiveram sair de lá ..vamso cer quanto tempo mais vao aguentando os paises da aliança..

  2. Os afegaos, como os arabes, persas, tem cultura diferente da ocidental em todos os aspectos. Basta agir usando os metodos deles, dai é possivel ganhar a guerra. Isso explica de certa forma como Israel age, nao pode dar moleza nao. Contraditorio, triste até, mas é pura verdade.

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