Os novos Reis do Espaço
O ônibus espacial Endeavour partiu para mais uma missão nesta segunda-feira, mas o gosto é de fim de festa. Afinal, o mundo mudou. Depois da atual missão, haverá apenas mais quatro voos dos famosos ônibus espaciais americanos, cujas viagens fascinaram o mundo desde os anos 80. O Columbia, primeiro a ser lançado, acabou tendo o mesmo destino do Challenger e foi literalmente pelos ares, em 2003. Após o acidente, a Nasa decidiu abandonar os ônibus e optar pelo projeto Constelação, anunciado por George W. Bush e que previa modelos semelhantes às missões Apolo, com cápsulas espaciais. Na semana passada, entretanto, o presidente Barack Obama anunciou o fim do projeto do seu antecessor e, por tabela, o abandono do sonho de recolocar um astronauta americano na Lua em 2020.
Os Estados Unidos, ainda a grande superpotência mundial, com a maior economia do planeta, não têm mais a força de outros tempos. Com um déficit orçamentário previsto pelo próprio governo para ultrapassar a marca de US$ 1,5 trilhão, o que já preocupa as agências avaliadoras de risco, Washington simplesmente não tem dinheiro para garantir sua supremacia no espaço. Enquanto isso, do outro lado do mundo, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, assistiu dias atrás, orgulhoso, ao lançamento de um novo foguete do país, desenhado para colocar satélites em órbita. Sobre a ambição de pisar na Lua, os americanos já sabem quem vai substituí-los na tarefa: com a desistência de Obama, a China agora lidera a corrida, com seu plano de colocar astronautas na superfícia lunar ao final desta década que se inicia.
Os russos, com seus cosmonautas ou com turistas a bordo, continuam com suas idas regulares ao espaço, e a Índia também quer uma fatia do espaço sideral. No mês passado, autoridades indianas anunciaram que o país pretende lançar sua primeira missão tripulada em 2016. Até mesmo o Brasil tem ambições nessa área, tendo colaborado em projetos com Rússia e China, mostrando que todos os BRICs vêem o setor espacial como estratégico. O mercado nessa área, décadas atrás restrito a americanos e russos (na época, soviéticos), está completamente e oficialmente aberto. A Nasa tem hoje poucos recursos, os Estados Unidos têm outras prioridades (Obama só está interessado em empregos, empregos e mais empregos), e outras nações correm para ganhar terreno. Se o mundo mudou, o mesmo já pode ser dito sobre o espaço.