Adeus aos dias de glória da Nasa

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Saswato R. Das
George El Khouri Andolfato

A terceirização atingirá duramente a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa) dos Estados Unidos em breve, se as coisas acontecerem como deseja o presidente Obama. O novo orçamento da Nasa, apresentado neste mês, pede para que a agência espacial americana terceirize o desenvolvimento de foguetes para os voos espaciais tripulados –historicamente a força da Nasa– para empresas comerciais. Se o Congresso aprovar, os astronautas da Nasa ficarão limitados a tomar táxis especiais comerciais –um estado das coisas lamentável para a organização que venceu a corrida à Lua. Apesar de algumas das mudanças no novo orçamento não serem inesperadas, como o cancelamento do programa Constellation (que levaria os humanos de volta à Lua até 2020) do governo Bush, o abandono do desenvolvimento de foguetes para voos espaciais tripulados em prol da privatização foi um choque.

O programa de foguetes da Nasa para colocar seres humanos em órbita evoluiu do programa Redstone em Huntsville, Alabama, sob o pioneiro de foguetes Wernher von Braun. Ao longo de sua duração, o programa foi responsável por muitos primeiros, nenhum deles mais espetacular do que o pouso na Lua da Missão Apollo, que tornou a Nasa um ícone americano em todo o mundo.

A agência espacial foi criada em julho de 1958 pelo presidente Eisenhower, após os soviéticos lançarem o primeiro satélite, o Sputnik 1, em órbita poucos meses antes. Os primórdios da Nasa foram caracterizados pela concorrência da Guerra Fria e pela pose entre os Estados Unidos e a União Soviética, enquanto as duas superpotências disputavam a supremacia na exploração espacial.

Sob o governo Kennedy, a agência assumiu o desafio de ser a primeira a colocar os pés na Lua. Os soviéticos –que foram os primeiros a colocar um homem em órbita, Yuri Gagarin, na Vostok I– estavam igualmente determinados a ser os primeiros. A corrida se tornou um símbolo não apenas de proeza tecnológica, mas também uma disputa pelos corações e mentes do mundo. O dinheiro jorrou para a Nasa: no seu auge, o orçamento da agência era quase de 1% do produto interno bruto dos Estados Unidos.

Em 20 de julho de 1969, os Estados Unidos venceram a corrida. Televisores por todo o mundo transmitiram imagens dos astronautas da Apollo 11, Neil Armstrong e Buzz Aldrin, dando os primeiros passos do homem na Lua. Estima-se que 500 milhões de pessoas assistiram.

Quarenta anos depois, ainda é incrível o feito da Nasa. As missões Apollo foram um triunfo da engenharia e trabalho em equipe americanos, empregando cerca de 400 mil pessoas. Os módulos lunares da Apollo 11, o Columbia e o Eagle, e todos seus diferentes sistemas, foram submetidos a quase 600 mil inspeções, testes que expuseram os subsistemas de comunicações, elétricos e de foguetes a uma bateria de choques, vibrações, calor, fogo e gelo.

A Nasa enviou astronautas à Lua mais cinco vezes. Nenhuma outra agência espacial conseguiu realizar esse feito.

Seus esforços levaram a um fluxo contínuo de descobertas científicas de grande benefício para as pessoas na Terra. De tênis com amortecedores de ar a pistas de pouso e decolagem mais seguras, de cobertores para vítimas de acidentes a óculos de sol melhores, de televisão por satélite a painéis solares, todas essas inovações devem algo à Nasa.

Agora em sua sexta década, a agência espacial é muito diferente do que era em sua juventude. As verbas irrestritas que dispunha durante a Guerra Fria há muito secaram. Há anos o Congresso mantém seus gastos sob rédeas curtas. Seu orçamento atualmente é de US$ 18,7 bilhões, menos de 1% dos gastos do governo americano.

Como consequência, as missões da Nasa se tornaram modestas. Seus astronautas não retornaram à Lula em mais de 30 anos. Ela sofreu desastres com o ônibus espacial e outras missões. Ela não é mais o destino preferido dos melhores e mais brilhantes cientistas americanos. O espírito pioneiro vibrante deu lugar a um ethos de sobrevivência cotidiano: ela se tornou mais uma agência do governo.

Nos últimos anos, cerca de um terço do orçamento da Nasa foi gasto em missões científicas, enquanto o restante foi consumido em esforços tripulados– o ônibus espacial e a estação espacial internacional, ambos ultrapassando exageradamente as projeções de custos. A maioria dos cientistas acha que o conhecimento mais valioso vem das missões científicas. Mas as missões tripuladas fazem parte da história da Nasa e o público americano sempre as apoiou.

Tudo isso mudará se o governo Obama prevalecer. A Nasa transferirá o desenvolvimento de foguetes para empresas comerciais como a Space Exploration Technologies Corporation, uma nova empresa que ainda não lançou seu primeiro foguete espacial com capacidade para colocar seres humanos em órbita; a United Launch Alliance, uma colaboração entre Lockheed Martin e Boeing; e outras empresas emergentes.

A decisão do governo Obama retirará totalmente a Nasa do desenvolvimento de foguetes para voos espaciais tripulados. A Nasa conta com competência singular neste campo, que será difícil de reproduzir por empresas privadas. O que acontecerá se não conseguirem atendê-la?

Um dos atributos mais importantes de um programa espacial tripulado é sua capacidade de inspirar os jovens a buscarem carreiras em ciência. Como alguém que chegou ao poder com uma plataforma de inspiração, o presidente Obama sabe sobre a importância de reacender a esperança. Matar o programa especial tripulado cheio de história da Nasa e acabar com um cronograma para viagens espaciais arruinará grande parte da inspiração e deslumbramento que estão associados aos esforços da Nasa.

Saswato R. Das é um escritor de ciência e tecnologia em Nova York

UOL Notícias


Sugestão: Konner

Fonte:  UOL

7 Comentários

  1. Ir a Lua primeiro, é a causa principal do fracasso atual da NASA! Ir a Lua foi um fracasso economico em sim mesmo, por mais que os spin-off tenha dado muito lucro. A NASA e o avesso do modo americano de agir. Agora parece que as coisas estão entrando no seus devidos lugares com as corporações aeroespacias deixando de serem meras contratadas para serem oa principal causa do real desenvolvimento espacial, que ja esta com um atraso de mais de 30 anos!

  2. A NASA tem trabalhado duro em seus feitos para colocar essas naves no espaço, mas chegou a hora de outras agencias tambem fazerem sua parte na exploração espacial, acreditamos que com o onibus espacial para turista vai ficar bom, ainda mais se conseguirem encontrar vida em outros planetas, ai poderemos mudar de planeta como mudamos de casa. Porque a NASA não começa a plantar arvores nos outros planetas?

  3. Verdade seja dita, a grande água está trocando as penas….
    A crise global causou mais estragos na economia americana do que estamos sabendo, e o cancelamento de investimentos tidos como superfluos ou sem a devida necessidade ou emergência são clara demonstração disto.
    O Obama assumiu uma nação que caminhava para o colapso financeiro e junto com sua equipe faz um esforço tremendo para normalizar as coisas.
    Além disto é sabido que a iniciativa privada é muito mais eficiente em qualque lugar do planeta.
    Acredito que a NASA continuará tendo grande importância na pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias espaciais porém a produção será de terceiros com menor custo.

  4. Tudo são negócios nos EUA.
    Parte do seu exército foi terceirizado possibilitando ganhos astronômicos a empresas comandadas por mercenários, e agora a exploração espacial será terceirizada também para o lucro de mais empresas.
    A excessiva aversão à atividade estatal nos EUA será a ruína de sua economia, que digam os bancos de lá que professam o mantra do liberalismo radical, reagindo como xiitas à intromissão estatal na economia, mas quando são confrontados com a realidade de suas ações inconsequentes, correm para as tetas do governo para mamar, e depois de se socorrem da generosa ajuda agem como cães sarnentos que mordem a mão do dono que os afaga.
    O liberalismo que tanto amam será a ruína deles ….

  5. Verdade seja dita, quando o Neil Armstrong pisou na Lua foi come se eu pisasse junto com ele, eu era apenas uma criança. Durante a maior parte da minha vida acreditei que os americanos estavam certos ou que o que diziam não podia ser diferente. Quando Obama foi eleito eu pensei, os americanos vão de novo puxar o carro de boi. Hoje, no entanto vejo o Estado Americano como eles sempre se mostraram, como uma águia que nada mais é de que um voraz caçador, um predador das outras espécies. O pior é que hoje me parece que a águia se volta contra o mundo e contra seu próprio povo. Em nome de quem ou de que lutará os gringos se seu próprio povo não endossa o Governo que tem? Uma nova onda de transformação corre o mundo de uma forma perigosa, todos querem imitar os Estados Unidos no pior do que ele foi capaz de produzir. É lamentável esta vendo isso agora, pobre mundo esta cada dia mais órfão, armado, rico e tecnologicamente mais sadio e cada vez mais divido e mais só.

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