Índia e China: Rivais e parceiros

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International Herald Tribune
Stanley A. Weiss
em Bangkok (Tailândia)

No último outono, uma rara pesquisa de opinião foi conduzida na China. A pergunta era simples: para você, qual é a maior ameaça que a China enfrenta? As respostas foram interessantes, mas ainda mais interessante foi a forma como a pesquisa foi divulgada na Índia. A maior parte dos jornais indianos disse que 40% dos chineses entrevistados acreditam que a Índia é a maior ameaça de segurança depois dos EUA. Enquanto isso, os jornais de negócios indianos enfatizaram que 60% dos chineses não viam a Índia como ameaça. O “Indian Business Standard” explicou que enquanto a Índia foi vista na China como a segunda maior ameaça, 6 em cada dez chineses nem mencionaram a Índia -um reflexo das preocupações maiores de um povo mais rico.

As contradições não surpreenderam -a Índia é um caleidoscópio de realidades diferentes. Contudo, enquanto a China e a Índia estão se preparando para a celebração de 60 anos de laços diplomáticos, a mesma esquizofrenia passou a caracterizar suas relações bilaterais.

Onde reside o cerne do relacionamento entre o dragão e o elefante?

Reside em sua disputa cada vez mais pública pelo território na fronteira do Himalaia, onde as autoridades indianas acusaram a china de 270 violações de linha de controle e 2.285 eventos de agressividade na patrulha de fronteira no ano passado?

Ou está nas relações econômicas prósperas que viram a China tornar-se a maior parceira da Índia, com o comércio bilateral saltando de US$ 15 bilhões para US$ 40 bilhões nos últimos cinco anos -e que deve crescer para US$ 60 bilhões em 2010?

Está no franco apoio pela China ao arquirrival indiano, o Paquistão? Na estratégia de Pequim de construir estradas e portos em países no Oceano Índico, como “um colar de pérolas”, formulada para sufocar a Índia? Em seus esforços de impedir um empréstimo de US$ 2,9 bilhões do Banco de Desenvolvimento Asiático para a Índia?

Ou está ancorado na frente notavelmente unida que a Índia e a China apresentaram em Copenhague para assegurar que os países desenvolvidos não extraíssem concessões unilaterais em mudança climática?

Neste instante, a resposta parece estar em ambos. “Os indianos em geral concordam que precisamos ter relações diplomáticas e econômicas excelentes com a China, mas também precisamos estar alertas. Achamos que nossa política externa deve ter o apoio da força -um pulso de aço em uma luva de veludo”, disse o ex-chefe do Comando Naval do Leste, almirante A.K. Singh.

Não se sabe se o futuro deste relacionamento será de veludo ou de aço, mas três verdades estão emergindo.

Primeira: a China parece comprometida com uma visão de um mundo multipolar, mas de uma Ásia unipolar. Também não foi por acaso que a postura da China em relação à Índia endureceu em 2006. Dias após os EUA e a Índia revelarem uma estrutura de defesa e um acordo nuclear, o embaixador da China em Nova Déli começou a referir-se ao Estado indiano de Arunachal Pradesh como “Tibete do Sul”, uma provocação que não se ouvia desde que as duas nações travaram uma guerra de 32 dias pelo território em 1962.

“A China sempre achou que a Índia não tinha força de vontade para resistir a uma lança afiada. Contudo, uma aliança militar entre EUA e Índia sempre foi um pesadelo para a China, porque ela teme que a Índia se torne um novo Japão para os EUA”, diz Brahma Chellaney, um dos principais estrategistas da Índia. As manobras regionais da China parecem ter a intenção de distrair a Índia e mantê-la enquadrada, permitindo que a China surja como a voz da Ásia.

Segunda: a Índia parece determinada a não ser manipulada pela China. Desde 2006, a Índia reforçou sua segurança de fronteira, reiterou posição territorial e deportou milhares de trabalhadores chineses sem qualificação. O governo também aprofundou o apoio ao Dalai Lama, recebendo-o em um mosteiro histórico budista em Tawang no último outono, apesar dos protestos de Pequim. Em vez de enfraquecer a determinação indiana, é possível que a intransigência chinesa a esteja reforçando.

Terceira: é do interesse americano manter boas relações com as duas nações. Após as viagens do presidente Obama à China e a visita do primeiro-ministro indiano a Washington, a piada em Nova Déli era que a “China conseguiu um acordo; o Paquistão recebeu dinheiro; e a Índia, um jantar agradável”. Como me disse um diplomata indiano proeminente, com a China agindo como financiadora dos EUA, “é improvável, no futuro próximo, que os EUA funcionem como contrapeso para a China, e a Índia terá que cuidar de seus interesses da melhor forma que conseguir. Contudo, há também uma sensação que os EUA vão se recuperar e sua passividade em relação à China será temporária.”

“A verdade é que tanto a Índia quanto a China têm papéis importantes a desempenhar na arquitetura global emergente”, disse uma autoridade do Departamento de Estado norte-americano.

“Estamos preocupados com a fronteira, porém é provável que na próxima década os EUA se encontrem envolvidos em uma questão diferente no Himalaia: a total falta de água nas duas nações, e o papel que as águas tibetanas podem ter.”

O que nos traz de volta à pesquisa de opinião: quando perguntados o que mais os ameaçava, os chineses citaram as ameaças tradicionais, como mudança climática, falta de água e de comida. A China e a Índia podem ainda terminar no mesmo barco.

(Stanley A. Weiss é fundador do grupo Executivos pela Segurança Nacional.)

Tradução: Deborah Weinberg

Sugestão Konner

Fonte: UOL

2 Comentários

  1. Texto muito oportuno.

    É interessante observar o papel que o Brasil e as Américas podem ter neste contexto, que, mesmo sendo regional, teria repercussão mundial.

    Argentina, Brasil e Estados Unidos, para citar apenas estes tradicionas exportadores, têm um potencial agropecuário imenso. Sendo mais direto, poderiam ser, em conjunto, os maiores fornecedores de comida do mundo.

    Sim, eu escrevi ‘comida’ mesmo. Nada de comodities ou palavras bonitinhas do ‘economês’, que eu até entendo, é no popular mesmo.

    Energia sempre foi o gargalo do mundo, mas agora e no futuro não muito distante água e comida já começam a se aproximar em importância. Segundo alguns pensadores, inclusive alguns conterrâneos pernambucanos, depois das guerras pelo petróleo as próximas serão pela água.

    Neste contexto o Brasil, de forma supra-partidária, deve pensar no seu futuro papel na aldeia global. A exemplo da Índia, potencialmente um grande parceiro democrático, mantendo boas relações com o gigante Chinês e o Americano, mas com toda a os cuidados necessários, calculando cada passo e sem afobação, com naquele malfadado reconhecimento da China como economia de mercado.

    Atenciosamente,
    Ivan.

  2. O mercado pode até levar a guerras, + via de regra leva ao conhecimento dos “OUTROS”, então , a guerra fica bem + distante , é se forma as parcerias ; onde td procuram ganhar..até se completando, nisso é naquilo..assim é bem melhor.

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