A bipolaridade EUA-China

http://blog.taragana.com/wp-content/uploads/2009/06/us-china.jpg
Por Vander Fagundes

Saiu uma boa matéria no Der Spiegel sobre o relacionamento entre EUA e China e a importância dos dois países no mundo.

08/02/2010
Duas superpotências disputam o mundo
.
Andreas Lorenz
Em Beijing (China)
.
Os EUA e a China já são os dois países mais poderosos do mundo. Como aliados, ninguém os seguraria. Será que está se formando uma era de uma superpotência dupla?

Quando a China espirra, o mundo inteiro pega um resfriado. Bill Clinton reconheceu isso durante seu mandato como presidente dos Estados Unidos, falando sobre o “desafio potencial que uma China forte poderia representar para os Estados Unidos no futuro”.

Ao mesmo tempo, ele alertou para o risco apresentado por uma “China fraca”, que poderia desestabilizar regiões inteiras da Ásia.

Agora o sucessor de Clinton e também democrata Barack Obama está buscando formas de trabalhar mais próximo da nação gigante, com seu 1,3 bilhão de pessoas. Obama acredita que a cooperação com a China é essencial nos próximos anos. “Os maiores desafios do século 21, desde a mudança climática à proliferação nuclear passando pela recuperação econômica, são desafios que tocam ambas as nações, e desafios que nenhuma delas pode resolver agindo sozinha”, disse o presidente norte-americano durante sua visita recente à China.

Enquanto isso, na China, políticos, economistas e militares chegam basicamente à mesma conclusão quando pensam sobre a melhor forma de interagir com aquela antiga superpotência, os EUA. “No século 21”, disse o presidente chinês e líder do partido, Hu Jintao, “as relações entre a China e os EUA estão entre as mais importantes do mundo”. Existe a percepção de que, sem a ajuda norte-americana, levaria muito tempo para a China atingir a “prosperidade moderada para todos os cidadãos” que o Partido Comunista promete ao povo e que usa para justificar seu governo.

Nunca os dois países foram mais dependentes um do outro do que hoje. Sem o mercado e os investimentos norte-americanos, as coisas não estariam tão bem quanto estão na China. Mas ao mesmo tempo, muitos norte-americanos teriam dificuldades para pagar suas contas durante a atual crise econômica sem os produtos baratos importados da China. E o governo norte-americano não seria mais capaz de funcionar se o Banco Central chinês não comprasse boa parte da dívida dos EUA. No ano passado, a China tinha cerca de US$ 800 bilhões (cerca de R$ 1,5 trilhão) em títulos do tesouro norte-americano.

A ascensão da Chimérica

O ex-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA Zbigniew Brzezinski vê uma mudança geopolítica do Atlântico para o Pacífico. Ele chama a China e os EUA de “o Grupo dos Dois que pode mudar o mundo”, enquanto o historiador econômico Niall Ferguson cunhou o termo “Chimérica” para descrever sua visão de que os dois países estão tão intimamente ligados, que há muito tempo formaram “uma só economia”.

Um lado dá enquanto o outro recebe: será que isso faz da Chimérica um bom casamento?

A força econômica recém-descoberta da China está causando ansiedade nos EUA. Ver o seu país se tornar cada vez mais dependente das decisões tomadas numa parte distante do mundo é uma sensação pouco familiar para os homens de negócios e políticos norte-americanos. Pior que isso é assistir a essas decisões serem tomadas por governantes comunistas. A República do Povo não só ultrapassou os EUA como o principal destino dos investimentos estrangeiros, mas as reservas de US$ 2,3 trilhões (cerca de R$ 4,3 trilhões) em moedas estrangeiras de Beijing também dão às firmas chinesas a capacidade de adquirir partes de companhias norte-americanas – como aconteceu com a gigante dos computadores IBM, por exemplo.

Garantia estratégica

“Sentimos o hálito quente desse dragão econômico em nossas costas”, escreve Susan Shirk, professora e ex-vice-secretária assistente de Estado durante o governo Clinton, em seu livro “China: Superpotência Frágil”.

É por isso que o vice-secretário de Estado dos EUA James Steinberg cunhou a frase “garantia estratégica” para descrever as relações de seu país com a China. A ideia é a seguinte: se Washington e seus aliados receberem a China no cenário internacional como uma “potência próspera e bem sucedida”, então Beijing “deveria garantir ao resto do mundo que seu desenvolvimento e crescente papel global não acontecerá às custas da segurança e do bem-estar dos demais”, explica Steinberg.

O Pentágono observa com apreensão enquanto a China aumenta seu exército e – em particular – sua marinha. A demonstração militar que aconteceu na Praça Tiananmen no ano passado para celebrar o 60º aniversário da fundação da República do Povo da China não só impressionou, mas também alarmou o mundo inteiro.

Ambições navais

É apenas uma questão de tempo para que a China lance seu primeiro porta-aviões. As forças armadas norte-americanas e os serviços de inteligência também observam apreensivamente para ver se a China consegue desenvolver um míssil antinavios eficaz que poderia comprometer os porta-aviões norte-americanos. De acordo com suas próprias declarações, o exército chinês recentemente testou com sucesso um sistema de defesa que poderia destruir mísseis intercontinentais.

Alguns suspeitam que as intenções chinesas podem não ser tão pacíficas quanto o país sempre alega. Navios de guerra disfarçados de barcos de pesca navegam cada vez com mais frequência pelo mar do Sul da China, onde o país tem disputas territoriais com Taiwan, Vietnã, Malásia, Brunei e as Filipinas pelas ilhas tropicais Spratly e com Taiwan e Vietnã pelas ilhas Paracel.

Navios de guerra chineses também patrulham agora a costa somali para proteger dos piratas os navios chineses que carregam matéria-prima. Especialistas norte-americanos nunca localizaram tantos submarinos chineses fazendo patrulhas tão longas e tão longe de seu território como nos últimos meses.

“Precisamos dos EUA para atingir o equilíbrio”

Em duas ocasiões, barcos de pesca chineses pararam um navio espião norte-americano próximo da Base de Submarinos Hainan da China. Os sentimentos de desconfiança cresceram ainda mais com o anúncio de um general chinês de que Beijing precisaria de bases navais permanentes no Pacífico no futuro.

O “ministro mentor” de Cingapura, Lee Kuan Yew, um astucioso veterano da política asiática, resume a situação: “O tamanho da China torna impossível para que o resto da Ásia, incluindo o Japão e a Índia, iguale-se em peso e capacidade dentro de 20 a 30 anos. Então precisamos dos EUA para atingir um equilíbrio”.

O alerta de Lee face ao crescimento da força econômica e militar da China expressou o que muitos asiáticos estão pensando, ou seja, que os EUA precisam continuar contrabalanceando uma China cada vez mais poderosa.

Na China, entretanto, os comentários de Lee causaram irritação. E os políticos chineses têm suas próprias razões para serem céticos. Eles suspeitam que os EUA têm um único objetivo em mente – impedir o “avanço pacífico” da China e forçá-la a aceitar valores ocidentais como a democracia.

Mantendo o yuan barato

Beijing analisa todas as mensagens que chegam dos EUA com cuidado em busca de indicações de que elas servem ao objetivo de “manter a China por baixo”. Será por isso, por exemplo, que Washington está pressionando tão insistentemente para que o yuan chinês seja revalorizado? Economistas norte-americanos dizem que o governo chinês mantém a taxa de câmbio sobre sua moeda, também chamada de renminbi, tão baixa claramente com o objetivo de aumentar artificialmente o preço das importações norte-americanas e tornar as exportações chinesas especialmente baratas – e que isso custa aos EUA um grande número de empregos.

Beijing responde que a acusação é injusta, uma vez que muitas companhias norte-americanas também manufaturam seus produtos em fábricas chinesas. Se os preços aumentassem por causa de um yuan mais forte, essas companhias também sofreriam.

Mas nos EUA, os pedidos para proteger as empresas nacionais contra os competidores chineses estão ficando mais frequentes. Alguns economistas agora louvam as vantagens das tarifas protecionistas, quando antes pregavam o comércio livre. A China “segue uma política mercantilista, mantendo seu superávit de comércio artificialmente alto”, escreve o economista vencedor do prêmio Nobel Paul Krugman. “No mundo em depressão de hoje, essa política é, falando de forma clara, predatória”. Os EUA, por sua vez, lançaram tarifas altas sobre pneus importados para carros e tubos de aço, numa tentativa de proteger a indústria nacional das importações baratas da China.

A China “não cederá a nenhuma forma de pressão” no que diz respeito a revalorizar o yuan, declarou friamente o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao no começo do ano. Os líderes do Partido Comunista negam, entretanto, que a moeda subvalorizada da China dê a eles vantagens no comércio internacional. Mas se sentem justificados em usar essas vantagens.

A “elite norte-americana não faz ideia” das consequências fatais que uma revalorização do yuan poderia ter, disse o comentarista político Liang Jing, acrescentando que ela levaria a um colapso das exportações chinesas e “pioraria a distribuição interna de renda”.

Desejo por uma voz mais forte

O que isso significa na verdade é que as fábricas chinesas precisariam demitir muitos trabalhadores e o hiato entre ricos e pobres aumentaria rapidamente – potencialmente afundado o país na agitação social.

E se o governo chinês começasse a permitir que o dinheiro circulasse livremente através de suas fronteiras, algo que Washington está pressionando para que aconteça, isso significaria um “êxodo sem precedentes” de capital do país, diz o comentarista.

Quando Zhou Xiaochuan, chefe do Banco do Povo da China, pediu para que o dólar norte-americano fosse substituído a longo prazo como moeda mundial de reservas, ele não estava apenas contribuindo para o debate sobre a crise financeira global. Ele também estava enviando uma mensagem: os políticos de Beijing pretendem ter uma voz mais forte em organizações como o Fundo Monetário Internacional. Eles não querem deixar todo o campo de jogo para seu rival do outro lado do Pacífico.

Acima de tudo, a China quer evitar que os EUA imprimam muito papel moeda para estimular sua economia. A inflação faria com que os dólares que a China investiu nos EUA derretessem como gelo sob o sol.

Casamento de conveniência

Com os temores quanto ao equilíbrio de poder no Pacífico, uma iminente guerra de comércio, a disputa em relação ao yuan, os suprimentos de guerra norte-americanos para Taiwan, e um possível encontro entre o presidente Obama e o Dalai Lama, que é detestado em Beijing, parece que os EUA e a China terão tempos difíceis à sua frente.

O que acontecerá à “Chimérica”, este casamento econômico de conveniência? A ideia de que seria melhor dissolver a união forçada antes cedo do que tarde está crescendo dentro do Partido Comunista chinês. Gerentes financeiros dentro do partido já estão trocando títulos de longo prazo do tesouro norte-americano por títulos de prazo mais curto.
Cedo ou tarde, a Chimérica chegará ao fim. A verdadeira questão é se os antigos parceiros serão capazes de viver pacificamente um com o outro – ou se o os procedimentos do divórcio serão litigiosos.

Sugestão: Hornet

Fonte: Luiz Nassif Online

16 Comentários

  1. Esses chinos maquiavélicos, onde já se viu impedir os navios americanos de espionar suas bases de submarinos? E se disfarçar de pesquueiro ainda, eles não são confiáveis mesmo.

    Que absurdo, semana passada protestaram contra os EUA venderam suas armas a Taiwan. Onde já se viu?

  2. A China está sempre atenta as oportunidades de expandir seus negócios e influencia. Inclusive aqui na América Latina, tem forçado o governo brasileiro, via BNDES, a aumentar seus
    financiamentos e parcerias em obras/projetos com os países vizinhos, para o Brasil não perder espaço e mercado para os chineses….
    _______________

    *”Conta-se que com a crise em 2008/2009, a Jamaica, com seus 10 mil quilômetros quadrados e 3 milhões de habitantes no Caribe, estava com a economia em queda livre devido à crise. Mas nem países amigos vizinhos se manifestaram. Em março último, sem maiores cerimônias, chegou a China e fechou um polpudo empréstimo.

    Num só gesto, transformou-se no maior parceiro financeiro do pequeno país e símbolo de generosidade. A China tem na crise a oportunidade de se afirmar como importante centro financeiro. Nos meios diplomáticos, que são as mais tradicionais fontes de informação, comenta-se que dirigentes chineses responsabilizam os países ocidentais pela crise. E sugerem, a quem queira ouvir, que não é mais seguro ter reservas apenas em dólares ou euros.”
    *(NAHUM SIROTSKY | CORRESPONDENTE/JERUSALÉM)

  3. Do site do Luis Nassif também:

    E.M.Pinto,

    o governo federal está plagiando o nome do seu site :), ‘PLANO BRASIL’, pois está elaborando um projeto de desenvolvimento nacional de longo prazo, chamado “PLANO BRASIL 2020”.

    Saiu na ‘IstoÉ’, um trecho que fala sobre defesa:

    Istoé –

    A indústria de defesa está sendo contemplada no plano?

    Samuel Pinheiro Guimarães –

    Estive em São José dos Campos, recentemente, tratando disso. Dentro da Estratégia Nacional de Defesa, vamos priorizar algumas metas como a de aumentar em 20% o efetivo das Forças Armadas, reposicionar 25% do contingente na Amazônia e no Centro-Oeste e elevar em 40% a capacidade operativa da FAB. Nesse ponto, estamos considerando, além da aquisição do primeiro lote de caças, a construção de 12 unidades do cargueiro KC-390. Também é prioridade a criação de duas esquadras da Marinha, uma no Norte/Nordeste e outra no Sudeste, com capacidade de propulsão nuclear. Queremos instalar mais uma brigada de infantaria de selva e 28 batalhões de fronteira, transferir a brigada de paraquedistas para o centro do País e criar um sistema de defesa antiaérea.

    _____________

    “O Plano Brasil 2020
    Por Diego Alvares
    —————
    http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/02/08/o-plano-brasil-2020/
    —————
    Bom dia a todos. Vi essa entrevista do ministro de assuntos estrategicos na Istoe fqlqndo do PLANO BRASIL 2020

    (http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/47597_E+PRECISO+AMPLIAR+O+BOLSA+FAMILIA+).

    “Elaborar uma agenda de trabalho que sirva como atalho para o Brasil se tornar uma potência global em apenas duas décadas. Essa é a tarefa delegada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Há três meses, desde que assumiu o posto, ele divide sua rotina entre reuniões técnicas e viagens pelo País. O resultado de horas de estudos e negociações é um calhamaço de aproximadamente 200 páginas, batizado de Plano Brasil 2020, a cuja sexta e última versão ISTOÉ teve acesso.”

    • hahahah

      Clones, este é o Plano Brasil Genérico, kkkk
      vou cobrar Royalts

      Valeu Wi, voua cionar meus advogados, eheheh
      grande abraço e obrigado pela informação.
      E.M.Pinto

  4. Os EUA tem sim motivos para se preocupar com a crescente influência chinesa.

    A uma corrida por influência na governança global, e nesse aspecto a China está entre os grandes adversários do Ocidente”.

    Kerry Brown, especialista em assuntos asiáticos do think tank britânico Chatham House, compara as relações econômicas entre a China e os latino-americanos ao papel do país na África: “O interesse primordial da China na América Latina são negócios e recursos naturais”.

    Na América Latina, os chineses também querem ganhar influência através do assim chamado ‘soft power’. Apesar de seu foco comercial bem definido, a economia não é tudo para os chineses.

    É bom lembrar, eles já estão participando do Pre-sal via financiamentos.

  5. GustavoB, acho que vôce não leu o que postei, com a divida atenção! Eu citei a fonte: LUIS NASSIF. A Pravda só divulgou a matéria (tradução?) de Luis Nassif.

    O autor é Andreas Lorenz ! Favor comentar depois de ler com muita atenção

    Em temo, a sua ironia não pegou em cheio.

    Vou citar Marco Aurelio Garcia: “Nunca subestimam a estupidez humana. Quem subestimou a estupidez humana se deu mal na História” (sic.)

    Acho que o texto original é de Andreas Lorenz, e a “matéria” &/ou tradução é de Luis Nassif

    Q.E.D.

    P.S. PLEASE CHECK AND DISCOVER THE ORIGINAL SOURCE OF THE ARTICLE !

  6. Eu acho que a china está querendo dar um tiro no próprio pé,pois ainda não tem condições de ser uma superpotência rival dos E.U.A,mas tenta demonstrar isso a seja por meios sútis ou ás vezes rispidos,ai me pergunto será que isso tudo tem haver com algum problema interno no qual o Governo comunista esteja querendo desviar,vcs querem ver a china tremer de medo basca haver uma grande fuga de companhias,e isso tende acontecer,pois muitas já se questionam se vale a pena ficar na china,pirataria,espionagem,eles se garantem muito nesse mercado deles,há reportagens em que mostram que os indices de desemprego estão alarmantes por lá.
    Tudo na china é fechado e pouco transparente,acho que eles tentam esconder de seu povo algo muito grave e por isso essa busca e justificativa louca deles de ser super pontencia.

  7. GustavoB,

    A fonte: SPIEGAL ONLINE – 29 de janeiro de 2010:

    The Rise of “CHIMERICA” – Two Supepowers Take On The World

    http://www.spiegel.de/international/world/0,1518,674848,00.html

    “We Need America To Strike A Balance”

    http//www.dpiegel.de/international/world/0,1518,1674848-2,00.html

    TEXTO ORIGINAL (em alemão) de Andreas Lorenz, de Beijing, China – tradução para Inglês de Ella Ornstein

    Quem traduziu o texto para Luis Nassif ONLINE ?!

    Tenho a certeza que não foi http://port.pravda.ru/ ….só GustavoB mesmo.

    P.S. AS MATÉRIAS SÃO POSTADOS NO BRASIL UMA SEMANA DEPOIS !

Comentários não permitidos.