Embaixador defende que País está pronto para ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU
Entrevista
Samuel Pinheiro Guimarães: embaixador
Confortável para opinar sobre a política externa brasileira, depois de sete meses de silêncio no segundo posto de comando do Itamaraty, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães avalia que tudo no mundo é da conta do Brasil. Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos desde outubro, Guimarães valeu-se desse conceito para respaldar a intenção do governo Lula de mediar o conflito entre Israel e a Palestina. “O Brasil é um país importante, não é um menor de idade”, afirmou ao Estado.
O senhor acredita que o empenho do atual governo para que o Brasil consiga uma cadeira permanente no Conselho de Segurança terá continuidade?
O Conselho de Segurança não corresponde à atual estrutura de poder mundial. O Brasil tem hoje uma projeção maior que antes. Deixar de considerar a inclusão no Conselho de Segurança não corresponderia ao atual poder de influência do País. Dificilmente o sucessor do presidente Lula poderia abandonar essa ideia porque é positiva para o Brasil.
O Brasil estaria pronto para ser membro permanente?
Se um país não está no Conselho de Segurança, tem de cumprir as resoluções sem ser ouvido. É obrigado a pagar por elas e a cumpri-las. Essa é a diferença essencial. Como membro permanente, nós poderemos defender nossos interesses, que hoje são cada vez mais diversificados e não só na nossa região como no mundo.
Por que o governo está tão empenhado em dar seu apoio ao programa nuclear iraniano e em atuar como mediador do impasse entre o Ocidente e o Irã?
Eu não falo sobre questões específicas, que estão sendo tratadas.
Lula deixará uma relação estagnada ou complicada com os EUA?
Primeiro, os EUA são a maior potência política, econômica, militar, tecnológica e ideológica. Em todos os temas internacionais, é o ator mais importante. Segundo, é o país com maior presença nas relações internacionais do Brasil. É o maior investidor estrangeiro no Brasil, mais importante parceiro comercial. Além disso, há cerca de 1,5 milhão de brasileiros nos EUA. Terceiro, os EUA são o país com maior presença nos vizinhos do Brasil na América do Sul. A interlocução entre os dois países é muito importante.
Mas a relação bilateral não foi castigada no governo Lula?
Não vejo nenhuma reclamação sobre a política econômica ou sobre a atuação brasileira. Há uma interlocução muito grande, mas os pontos de vista nem sempre são iguais. Um país é o mais desenvolvido do mundo, e o outro é um país em desenvolvimento com grande potencial. Esse legado do presidente Lula será positivo. Há sempre uma ideia de que a política externa deu errado. Todavia, se o presidente não tivesse tido esse incidente (a crise de hipertensão), teria recebido pessoalmente o prêmio de Estadista Global do Fórum Econômico Mundial, de Davos.
O Brasil está mexendo em vespeiro que não é da sua conta quando se propõe como mediador do conflito Israel-Palestina?
Tudo é da nossa conta. Temos grandes comunidades palestina e judaica no Brasil. Qualquer questão é da nossa conta. O Brasil é um país importante, não é um menor de idade.
Mas às vezes não age de forma voluntarista e ativista, como um menor de idade?
Por que será que o presidente de Israel veio ao Brasil? Por que será que os presidentes da Autoridade Palestina e do Irã quiseram vir ao Brasil? Porque a opinião e a ação do Brasil é importante para eles. Os EUA não convidaram o Brasil para a Conferência de Annapolis sobre o Oriente Médio (2007) para que votássemos com eles, uma vez que não temos posição de alinhamento, mas pela capacidade brasileira de gerar soluções.
O governo é criticado por ter se omitido na tarefa de dar maior solidez ao Mercosul.
As decisões são tomadas por consenso no Mercosul. O Brasil tem tido uma postura positiva. Mas é preciso compreender que os países têm visões diferentes. Quando há decisões por consenso, é natural que as decisões sejam mais lentas. D.C.M.
Se o Brasil já detivesse a tecnologia nuclear de mísseis, embarcações navais etc, não necessitaria pedir para entrar no CS da ONU; pois certamente ele seria “convidado”.
T.’.F.’.A.’.