A crise fabricada

Por Luiz Carlos Azedo

 Presidente da Frente Parlamentar de Defesa Nacional, o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) teve uma longa conversa por telefone com o secretário especial de Direitos Humanos, ministro Paulo Vannucchi, sobre a crise militar causada pela criação da Comissão da Verdade, no âmbito do Plano Nacional de Direitos Humanos. O relato da conversa revela como o governo Lula é capaz de criar problemas políticos a si próprio, à falta de uma oposição que lhe dê mais o que fazer.

Segundo Vannucchi disse a Jungmann, quando o presidente Lula fez escala em Natal, rumo a Copenhague, em 15 de dezembro, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse-lhe que a expressão “repressão política” deveria ser complementada com a referência a “conflitos políticos”, para que o documento contemplasse o ponto de vista dos militares. Ou seja, que além dos militares e civis que participaram da repressão, deveriam ser objeto de investigação os militantes da esquerda que pegaram em armas. Lula concordou e mandou fazer a mudança, mas, quando a ordem chegou, o material já estava impresso.

Memória

Pivô da confusão com Jobim e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que chegaram a colocar os cargos à disposição, Vannucchi reiterou que não tem a intenção de revogar a anistia. “Isso quem vai decidir, repito, é o Judiciário, o STF. Agora, direito à verdade, à memória, a saber o que se passou, isso é inegociável e todas as nações que passaram por isso, por esse processo, fizeram. Até para que tais fatos não se repitam”, justifica.

Acordo

 Segundo Vannucchi, até ali, tudo tinha sido negociado com a Defesa.

Em setembro, pessoalmente, recebeu de Jobim o texto com três mudanças. “Foi uma luta com o pessoal dos direitos humanos, mas aceitamos tudo; então, por que aquela mudança de última hora?”, questiona. Vannuchi, porém, deixou claro para Jungmann que não é obstáculo à mudança. “Não criarei problema para a inserção da expressão proposta pelo ministro Jobim. Não tivemos intenção de promover essa crise, muito menos traímos ou rompemos pacto algum”, garante.

 

Fonte: CCOMSEX