Trago aqui, mais duas importantes reflexões sobre o tema que deve estar congestionando os provedores de internet nesta semana.
A primeira, é dos colegas Alexandre Galante e Nunão do Blog Poder Aéreo, que fazem uma reflexão muito lúcida do estado atual de nossas Forças Armadas bem como tecem considerações sobre as promessas orçamentárias e continuidade dos programas militares.
Já a segunda, é de autoria de Luis Nassif que leva em consideração segundo a sua visão, as razões para o virtual vazamento de informação ter ocorrido.
Mais uam vez, gostaria d erecordar aos nosso leiotres que.
“A verdade está lá fora… “
E.M.Pinto
Decisão pelo Gripen: a FAB aposta na continuidade da penúria?
Por Alexandre Galante e Fernando “Nunão” De Martini
Quem acompanha a realidade das Forças Armadas brasileiras há anos sabe a verdadeira situação reinante nos quartéis, bases aéreas e meios navais. Quase sempre tem faltado dinheiro para as coisas básicas, como comida e uniformes. Para munição então, nem se fala.
Na FAB, o contingenciamento constante dos recursos tem obrigado a Força a diminuir o número de horas de voo dos seus pilotos e a manter vários aviões no chão, por falta de dinheiro para manutenção. Ocasionalmente, a situação parece melhorar, mas mesmo assim, ainda aquém das necessidades de uma Força Aérea competitiva.
Quase não há recursos para investimentos. Os melhores equipamentos da FAB e da Marinha foram comprados durante os Governos Militares, há décadas, tendo passado por modernizações para se manterem minimamente competitivos com os cenários atuais, ou sendo desativados e substituídos, em grande parte, por equipamentos de segunda mão, com algumas exceções. Os Governos Civis, apesar de algumas iniciativas mais recentes, não souberam definir o que querem do Brasil em matéria de Defesa, ou conciliar o discurso com a prática.
É o caso do atual governo que, mesmo tendo criado a END (Estratégia Nacional de Defesa), continuou contingenciando os recursos destinados ao custeio das Forças Armadas e não defininiu um percentual do PIB constante para a Defesa. Os royalties do petróleo da Marinha, por exemplo, continuam contingenciados e ainda querem deixar a Marinha fora dos projetados lucros do Pré-Sal.
A FAB, por sua vez, parece saber que os contingenciamentos continuarão. Quando a situação aperta, são as Forças Armadas os primeiros alvos da Equipe Econômica do Governo. Então faz sentido que a Força Aérea escolha um caça que seja barato de manter e voar (caso se confirmem as informações do relatório divulgadas pela Folha de São Paulo), pois é essa a realidade do Brasil.
O Rafale, que teve sua preferência sinalizada pelo Presidente da República e do Ministro da Defesa, é um ótimo avião de combate, mas seu custo operacional é, muito provavelmente, 10 vezes superior ao do caça mais usado pela FAB atualmente, o F-5. Para uma Força que luta constantemente para manter seus aviões voando, receber um avião sofisticado que não terá garantia de recursos para se manter plenamente operacional é uma temeridade.
Esse é o nó operacional, aquele que faz a diferença no dia-a-dia e na real capacidade de dissuasão da Força, um nó que pode ser desatado, em parte, caso a transferência de tecnologia, indispensável para a operação local de um novo caça, seja realizada a contento. E que também pode ser ainda mais apertado caso essa transferência se complique, o que vale para todos os três finalistas.
Para a operação na realidade da FAB, não faz sentido um Governo que já cancelou o primeiro F-X por causa do “Fome Zero”, escolher no F-X2 o avião mais caro. Para ser coerente, o Governo deveria escolher também o mais barato.
Minha hipótese para esse vazamento de informações sobre as preferências da Aeuronáutica na licitação FX:
luis nassif
1. Desde o início a escolha recaiu sobre o Rafale. As razões são óbvias. A França é potência militar, o acordo vai se espalhar por outras áreas da Defesa, o avião é bom e testado, há plena garantia de transferência de tecnologia.
2. A Dassult depende fundamental desse contrato para sua sobrevivência, o que poderia garantir ao Brasil enorme poder de barganha nas negociações.
3. Ao antecipar a preferência do Brasil pelo Rafale, no entanto, Lula acabou enfraquecendo a posição brasileira nas negociações em torno de preço. Os franceses se valeram disso para endurecer.
4. Meses atrás, suecos e americanos passaram a jogar pesado na questão preço, mas os franceses se acomodaram, sentindo-se garantidos pela incontinência de Lula.
5. O relatório da Aeronáutica pode ter sido utilizado, então, como elemento estratégico para virar o jogo e derrubar os preços franceses.
Baseio-me nos seguintes fatos:
1. A Eliane Cantanhede tem como fonte o próprio Nelson Jobim – que desde o início defendia a solução francesa.
2. Não cabe à Aeronáutica discutir preços. O relatório deveria se ater (e provavelmente se ateve) aos aspectos técnicos. A pessoa que vazou para a Folha o relatório, com a improvável menção ao preço do equipamento, visou passar um recado para os franceses.
3. Para não cravar 100% nessa hipótese, considere-se o poder de lobby da sueca Grippen junto a alguns brigadeiros – hoje na reserva, mas com bom trânsito na imprensa. E não se deve menosprezar a ação do notório deputado Raul Jungmann.
6. Seja qual for a hipótese correta, Lula errou ao antecipar a preferência pela França.