A estreita janela do turismo no espaço

Le Monde
Jacques Villain*

A empresa californiana Virgin Galactic apresentou em 7 de dezembro o primeiro exemplar de seu Space Ship Two, veículo destinado ao “turismo espacial” e que deverá ser posto em funcionamento em 2011. Esse turismo responde a uma antiga aspiração de quase 2 mil anos que tem sido trabalhada por gerações de romancistas e, mais recentemente, pelo cinema e pela televisão. Ir ao espaço está nos genes do homem.

Além disso, há quarenta anos os voos tripulados estão limitados à periferia da Terra. Contra todas as expectativas, a Apollo não foi seguida pela fixação do homem na Lua nem pela viagem a Marte. Essa espera passiva acabou suscitando iniciativas fora das agências espaciais: há cerca de uma década a idéia de passear no espaço começou a ser vendida por alguns empresários que têm o gosto pela aventura.

Duas vias foram abertas. A primeira, hoje a única em operação, é ir passar oito dias a bordo da estação internacional a 400 km de altitude por meio da Soyuz russa. A operação funciona desde 2001. Seis pessoas desembolsaram de US$ 20 milhões a 25 milhões para fazer essa viagem. Então é preciso ser muito rico, o que reduz o número de candidatos potenciais; além disso, não há perspectiva de se reduzir esse custo no futuro, sendo a Soyuz uma das menos caras do mundo.

É de fato uma viagem pelo espaço, uma vez que a nave é colocada em órbita e opera acima da atmosfera, à velocidade de 7,8 quilômetros por segundo. É necessária uma excelente condição física, pois o retorno da Soyuz à atmosfera já é um teste! Então não é uma viagem permitida a pessoas de condições modestas ou de saúde precária, nem aos covardes, pois ficar sentado sobre 200 toneladas de oxigênio requer domínio de si e gosto pelo risco. Em resumo, o cidadão médio está fora desse jogo. Deve-se deixar claro, nunca iremos ao espaço como se vai ao campo.

Três minutos sem peso
Quanto a enviar esses mesmos cidadãos para a Lua ou para Marte, não se cogita para os próximos cinquenta anos ou até mais! É muito mais caro e arriscado que a simples satelitização terrestre. Lembremos que o programa Apollo custou US$ 165 bilhões, e que o projeto Constellation de volta à Lua está avaliado em no mínimo US$ 104 bilhões. Além disso, o que será dessa atividade quando a estação espacial internacional for retirada de serviço por volta de 2020?

A outra via para ir ao espaço é a promovida pela Virgin Galactic, com seu Space Ship Two. Mas evidentemente não se trata de um voo pelo espaço, e sim pela fronteira simbólica que delimita a atmosfera e o espaço. Um avião movido por dois turborreatores leva uma mini-nave sob suas asas. Depois de se separar do avião que a carrega, esta, movida por um motor de foguete em uma trajetória quase vertical, atinge a altitude de 100 quilômetros sobre seu impulso. Ela termina sua corrida com uma velocidade final quase zero. Durante esse vôo suborbital, o viajante fica sem peso durante cerca de três minutos e meio. Então é um voo curto próximo ao espaço.

Aliás, é algo que a empresa Novespace faz há muito tempo com seu Airbus A 320, mas a uma altitude mais baixa. Um veículo como esse (Space Ship Two) não pode ir ao espaço, ao contrário do que se ouve. Ele não é feito para isso. De qualquer forma o custo desse vôo suborbital é da ordem de US$ 200 mil. Mesmo para isso é preciso ter dinheiro! Mas, é verdade, haverá mais beneficiários do que no caso anterior. Deve-se dizer ainda que essa iniciativa privada de “turismo espacial” tem seus riscos. O primeiro acidente com morte pode ser o seu fim.

Outros projetos também nasceram da iniciativa de bilionários americanos. A empresa Space Adventures oferece, por US$ 200 milhões, uma viagem de cinco dias para duas pessoas e um piloto ao redor da Lua e a volta em uma Soyuz melhorada. Outros imaginam hotéis em órbita. Enfim, se há algo que não é proibido na conquista do espaço, é ter imaginação. Felizmente! Resta distinguir entre o sonho e a possibilidade de realizá-lo.

Certamente surgirá um negócio de voos suborbitais no estilo Virgin Galactic se este der certo, mas não é logo que veremos mortais comuns percorrendo os espaços interplanetários. O passeio entre a Terra, a Lua e Marte ainda terá de esperar por décadas. E para passar de uma galáxia para outra, vamos esperar que surja uma nova física fundamental!

*Jacques Villain, membro da Academia do Ar e do Espaço.

Sugestão e colaboração: GÉRSIO MUTTI

Tradução: Lana Lim