China aumenta controle político e social para manter regime

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Leda Balbino, IG São Paulo

Com sua ascensão sobre o Japão como segunda economia do mundo em 2010, a China deve aumentar seu controle sobre a sociedade para reprimir distúrbios e evitar que o crescimento econômico force a abertura política e o fim do sistema de partido único do país.

A análise feita por especialistas ouvidos pelo iG contradiz estudos que indicam que ditaduras são ameaçadas com o desenvolvimento econômico e o consequente crescimento do PIB per capita. “A sabedoria convencional de que o crescimento econômico abre caminho para a democracia não se aplica à China. O cerco político é grande e vem aumentando paralelamente ao fortalecimento econômico”, afirmou Willy Lam, professor de Estudos da China na Universidade Internacional de Akita, no Japão.

Segundo o analista, no início deste mês o governo afinou o plano para uma nova rede de segurança nacional, para ajudar o Partido Comunista a manter seu status e impedir a chegada de informações “subversivas” do Ocidente.

Com reserva em moeda estrangeira de US$ 2,2 trilhões (a maior do planeta) e amplo controle sobre a economia do país, o Partido Comunista chinês tem dinheiro suficiente para importar equipamentos sofisticados antidistúrbios e voltados para a espionagem da oposição, relatou o especialista chinês. “A polícia também está usando um sofisticado software para controlar ainda mais a internet chinesa”, disse.

O recrudescimento do cerco político ocorrerá, de acordo com Willy, apesar de o PIB per capita chinês estar em US$ 3 mil – patamar similar ao de Taiwan e Coreia do Sul quando os dois países adotaram reformas políticas e a democracia, em meados dos anos 80.

Segundo o analista político, dois aspectos explicam a diferença entre os casos: os níveis educacionais da China são mais baixos do que os de Taiwan e da Coreia do Sul na década de 80 e, mais importante, o Partido Comunista Chinês está determinado a manter-se como única força política do país.

“O governo autoritário de partido único permanecerá na China até pelo menos os anos de 2020”, disse Willy, que também é professor adjunto de História na Universidade Chinesa de Hong Kong.

A opinião é compartilhada por Bo Zhiyue, pesquisador sênior do Instituto de Ásia Oriental da Universidade Nacional de Cingapura. Segundo Bo, o processo de democratização eleitoral demorará muito tempo, tendo mais chances de ocorrer daqui 10 a 20 anos, quando o PIB per capita chinês alcançar a faixa de US$ 5 mil a US$ 10 mil.

Atualmente, eleições diretas na China restringem-se aos 700 mil vilarejos do país, mas são marcadas por nepotismo, compra de votos e escolha de líderes corruptos. Além disso, nos anos 90, Pequim instruiu autoridades locais a garantir o “protagonismo do Partido Comunista”, após receber informações de que apenas 40% dos eleitos eram do partido. Hoje, a maioria dos líderes das vilas é da legenda governista, de acordo com o especialista em China John Thornton, em artigo publicado no início de 2008 na revista “Foreign Affairs”.

Protestos sociais
Com uma distribuição de renda desigual, com a maior parte do crescimento dos últimos 30 anos tendo beneficiado pessoas vinculadas ao partido, é provável que continuem aumentando as reivindicações sociais na China, concordam os dois analistas. Segundo Willy, estima-se que, só neste ano, ocorreram 100 mil protestos, confrontos e atividades antigoverno. “Mas esses distúrbios isolados não derrubarão o regime”, disse.

Bo afirma que as demandas por melhorias na educação, saúde, habitação e meio ambiente incentivarão o governo a adotar mais medidas restritivas e, ao mesmo tempo, ceder em algumas disputas. “Apesar de não serem eleitos diretamente, os líderes chineses estão há anos mais democráticos em termos de governança. É uma questão de sobrevivência política”, afirmou.

Segundo o analista, dois exemplos recentes embasariam sua afirmação. Em 2007, protestos da população da cidade costeira de Xianem contra o projeto de construção de uma petroquímica forçaram o governo a realocá-lo. Neste ano, o governo decidiu suspender a construção de um trem de alta velocidade entre Xangai e Hanzhou depois que milhares entraram com queixas judiciais contra a construção. A população que vivia perto do local onde a linha férrea passaria temia o barulho e outros inconvenientes do projeto.

Bo também vê avanços na liberdade de comunicação, por causa da internet e dos celulares. Segundo o analista, é muito difícil para o governo controlar os estimados 338 milhões de internautas chineses (com 87,5 milhões de blogueiros, em 2008) e os mais de 700 milhões de usuários de telefonia celular do país.

“Há blogs críticos, e o governo vem incentivando discussões em seus próprios sites. Apesar de se tentar controlar o fluxo de informação, a população descobre meios de burlar a censura”, afirma.

Apesar de concordar que a sociedade e a cultura chinesas estão mais diversificadas, com os chineses tendo liberdade de viajar ao exterior e manter contatos com ocidentais, Willy não acredita que esses avanços levarão ao desenvolvimento do pluralismo político e democrático.

“O monopólio do Partido Comunista da China sobre o poder político impede isso. Mesmo ONGs estão sob forte supervisão policial e do serviço secreto. Os dissidentes estão presos ou foram expulsos do país. O Estado policial chinês é muito eficiente”, completou.

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Fonte:  Último Segundo