Instável, Paraguai preocupa a OEA

Organizações paraguaias denunciam risco de país tomar rumo de Honduras

Denise Chrispim Marin

 Um alerta amarelo foi disparado do Paraguai, segundo a Organização dos Estados Americanos (OEA). Alvo de uma tentativa de golpe de Estado em 1998, o país vizinho estaria vivendo, de acordo com a entidade, um momento de instabilidade política, que poderia convertê-lo em uma Honduras sul-americana.

Na semana passada, em Buenos Aires, organizações paraguaias reunidas nas Forças Democráticas Progressistas fizeram um apelo ao Mercosul – e em especial ao Brasil e à Argentina – pedindo colaboração na redução do risco de uma ruptura institucional no país.

A preocupação foi registrada pelo secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, segundo informou ao Estado um de seus assessores. No Itamaraty, ainda há dúvidas sobre se os discursos inflamados da oposição e do governo paraguaio representam um perigo real. Na dúvida, a diplomacia brasileira se mantém tão alerta como há 11 anos. “Ninguém acha, no Paraguai, que haverá um golpe. Mas todo mundo fala em golpe”, resumiu um diplomata.

Até o momento, o presidente Fernando Lugo não pediu ajuda ao governo brasileiro. Mas agradece em público todo apoio que recebe do exterior. Com sua popularidade em queda (ela passou de 93% em agosto de 2008, quando tomou posse, para 25% em novembro), Lugo enfrenta a oposição da ala política dominada pelo general Lino Oviedo e do Partido Colorado (que conduziu a política paraguaia por seis décadas).

 MINORIA

A coalizão de conveniência que viabilizou sua eleição reunia siglas de esquerdas e o conservador Partido Liberal. Mas hoje é minoria no Congresso.

Há meses, o governo não consegue aprovar no Senado seus embaixadores para o Brasil, a Argentina, o Uruguai, a Bolívia e a Venezuela, por exemplo. Tampouco deve conseguir barrar o corte de 20% no orçamento para programas sociais, proposto pelos colorados.

Na terça-feira, o próprio Lugo denunciou que “setores que dominaram o poder durante décadas” estariam tramando um golpe. “Mas se houver golpe no Paraguai, não será militar”, opina o analista Alfredo Boccia Paz.

Nos últimos 12 meses, Lugo demitiu quatro cúpulas das Forças Armadas – todas dominadas pelo Partido Colorado que, até 1995, só permitia o ingresso de seus filiados nas academias militares – e cortou o orçamento militar. As medidas geraram mal-estar, porém reduziram a possibilidade de uma reação imediata.

Segundo analistas, qualquer tentativa de derrubar Lugo seria, como em Honduras, embasada na Constituição, que permite ao Congresso abrir um processo de impeachment por “mau desempenho” do governo. Um deputado de Ciudad del Este já tentou protocolar um pedido nesse sentido, mas recuou por pressão colorada.

O Partido Colorado quer que um eventual processo de impeachment envolva membros do governo Lugo – inclusive seu vice-presidente, o liberal Federico Franco. Segundo Boccia, qualquer movimentação política para conseguir a saída do presidente só deve ocorrer depois de 1º de abril, quando o Congresso retomará seus trabalhos.

  

Brasil ajudou a abortar golpe no país em 1998

Denise Chrispim Marin

 Em 1998, a Embaixada do Brasil em Assunção chegou a se mobilizar para dar asilo político a Juan Carlos Wasmosy, então presidente do Paraguai. Wasmosy não precisou abrigar-se na missão brasileira. Gestões diplomáticas e militares do Brasil e da Argentina ajudaram a esvaziar o golpe do comandante do Exército e candidato à sucessão presidencial, Lino Oviedo, e criaram um anteparo contra novas tentativas de rompimento da ordem institucional no país.

Nos meses seguintes, as diplomacias brasileira e argentina redigiram a chamada cláusula democrática para o Mercosul, que foi assinada pelos chefes de Estado dos quatro países do bloco, além de Chile e Bolívia. Ela prevê a exclusão do Mercosul do país que sofrer um rompimento de sua ordem institucional.

Outras tentativas de golpe foram abortadas, segundo autoridades paraguaias, nos anos seguintes. Oviedo foi indultado pelo presidente Raúl Cubas, em 1998. Quando Cubas renunciou, ele novamente foi acusado de tentar dar um golpe de Estado, agora contra o presidente Luís González Macchi.

Fonte: Resenha CCOMSEX

3 Comentários

  1. ..e é bom manter os ianks afastados, eles podem apoiar os golpistas…olhos neles. E da nossa parte o MercoSul tem + é que alerta-los q serão punidos, e o precedente hondurenho, culpa dos ianks…sacanas.

  2. O maior perigo de um golpe de Estado nas fronteiras brasileiras é da perda da confiança no Brasil em resolver problemas dessa ordem. a agravante paraguaia consiste ainda na usina de Itaipu (palco de discórdias recentes) e da existencia de milhares de “brasiguaios” (brasileiros que vivem no paraguai) que são alvos dos movimentos sem-terra desse pais que os acusam de roubar suas terras.
    desse modo, faz-se necessário uma resposta mais enérgica que os canais diplomáticos típicos permitem…

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