Enviado dos EUA vem tratar de Irã e Honduras

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Em viagem de menos de 24 horas, Arturo Valenzuela também fará lobby em favor da Boeing, fabricante do caça F-18, junto ao ministro Jobim

Arturo Valenzuela, responsável pela América Latina e o Caribe do governo americano, desembarca na noite de hoje em Brasília para uma visita de menos de 24 horas.

Valenzuela vem atrás, também, de uma flexibilização da posição do Itamaraty em torno da crise em Honduras – o Brasil dá sinais de que pode reconhecer o governo eleito, de Porfírio “Pepe” Lobo, que toma posse no próximo mês, mas ainda insiste, pelo menos formalmente, na volta do presidente deposto Manuel Zelaya ao poder.

Depois da passagem rápida pelo Brasil, Valenzuela seguirá para Argentina, Paraguai e Uruguai. O período curto será suficiente para que as mensagens de Washington alcancem o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, o secretário-geral das Relações Exteriores e ex-embaixador nos EUA, Antônio Patriota.

VISITA DO IRÃ

A decisão do Brasil de receber Ahmadinejad estará no centro das conversas de Valenzuela. O governo brasileiro teve oportunidade de evitar o controvertido encontro quando o iraniano cancelou sua visita agendada para maio. Quando finalmente ele ocorreu, foi marcado pelas declarações de apoio do Brasil ao programa nuclear iraniano em um período sensível – depois que foi revelada a existência de uma usina clandestina de enriquecimento de urânio na cidade de Qom.

Além disso, Teerã recusa-se a aceitar uma proposta negociada com o Ocidente e a Agência Internacional de Energia Atômica para que o Irã enriquecesse urânio para a produção de energia em terceiros países – como Rússia e França.

A declaração de Lula de que os EUA e a Rússia não têm “autoridade moral” para exigir o fim do programa nuclear do Irã, feita ao lado da chanceler alemã, Angela Merkel, também foi registrada pelo Departamento de Estado. O encontro do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, com Ahmadinejad, no Irã, reforçou as preocupações de Washington com o esforço brasileiro de romper o isolamento que os EUA, com respaldo da China e da Rússia, conseguiram impor a Teerã.

Na última sexta-feira, Hillary alertou que o flerte de países latino-americanos com o Irã era uma má ideia e deixou no ar uma ameaça latente. “As pessoas que quiserem flertar com o Irã deveriam ver quais podem ser as consequências e esperamos que pensem duas vezes”, declarou. Interpretada como recado para a Venezuela e seus aliados na Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), setores do Itamaraty não tiveram dúvidas de que a mensagem também teve o Brasil como destinatário. A Venezuela tem acordos secretos na área militar com o Irã, mas quem “flerta” com Teerã neste momento é o Brasil.

Ligação entre o Departamento de Estado e o Conselho de Segurança, o grupo mais duro que também conduz a política externa americana, Valenzuela trará um recado mais ácido do que a ameaça de Hillary, avaliam diplomatas que observam o governo americano. Os EUA reconhecem que o Brasil ganhou força para atuar como líder na região, mas devem lembrar que suas posições e as escolhas de aliados obrigarão o País a arcar com o peso da responsabilidade pelas consequências.

A mensagem de Valenzuela não se restringirá apenas à aproximação Brasil-Irã. A opção brasileira de aliar-se ao discurso mais incendiário da Venezuela na crise causada pelo acordo militar entre os EUA e a Colômbia, em vez de atuar como moderador, azedou ainda mais os contatos a Casa Branca.

Essa questão deverá ser abordada por Valenzuela com Marco Aurélio e com Nelson Jobim, que têm mantido uma posição menos alarmista em relação à presença americana em sete bases militares da Colômbia.

Sugestão e colaboração: Konner



Fonte: Estadão

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