Pentágono banca pesquisas sobre vizinhos

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Brasil é 1 dos 10 países que têm sua “cultura estratégica” analisada em relatórios da Universidade Internacional da Flórida Americanos se deram conta da necessidade de entender melhor as nuances de cada Estado da região, afirma o coordenador do projeto

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

O Departamento da Defesa dos Estados Unidos está financiando uma série de estudos acadêmicos que pretende analisar dez países da América Latina e do Caribe, incluindo o Brasil, do ponto de vista de sua “cultura estratégica” -isto é, das experiências históricas e influências externas e internas que moldam suas relações internacionais.
O objetivo dos relatórios, encomendados ao Centro de Pesquisa Aplicada da Universidade Internacional da Florida (FIU), é, segundo seus participantes, ajudar os militares do Comando Sul, sediado em Miami, a lidar com os países em sua área de atuação levando em conta as diferenças entre eles.
Eles [os militares] se deram conta da necessidade de entender melhor as nuances que diferenciam os Estados na América Latina, a dinâmica sócio-cultural de cada Estado. Se deram conta de que a região não pode ser tratada como um bloco homogêneo“, diz Brian Fonseca, que é o coordenador do projeto na FIU.
O general Douglas Fraser, chefe do Comando Sul, “é um dos que entendem melhor essa necessidade“, emenda.
O projeto tem como pano de fundo as mudanças da última década, com a fragmentação política sobretudo da América do Sul, a partir da ascensão de governos de esquerda ou centro-esquerda, e a diversificação das relações exteriores da região para incluir países como Rússia, China, Índia e Irã.
Até então, a maioria dos governantes latino-americanos tendia ao alinhamento com Washington. Reações negativas oficiais como as que se seguiram aos anúncios da reativação da Quarta Frota, no ano passado, e do acordo para o uso de bases colombianas, recentemente, inexistiam ou eram bem menos contundentes do que são agora.

Liberdade acadêmica

O projeto usa parte da verba de US$ 1 milhão de uma parceria entre a universidade e o Comando Sul. Fonseca afirma ter autonomia acadêmica para um trabalho sem facciosismo. “Há acordo sobre os tópicos, mas somos livres para adotar a abordagem que preferirmos.”
No caso dos relatórios com foco na cultura estratégica, há cinco já prontos, sobre Brasil, Venezuela, Cuba, Haiti e Colômbia; dois em produção, sobre Equador e Nicarágua; e três a serem produzidos, sobre Bolívia, Chile e Argentina.
A dinâmica é a mesma nos dez casos. A universidade organiza um seminário, para o qual especialistas convidados levam textos. Depois, um ou dois deles resumem as conclusões em relatórios apresentados ao Comando Sul -e que logo estarão disponíveis na internet.
Fonseca, coautor do texto sobre o Haiti, diz que procura chamar especialistas “de vários lados do espectro político” e já recebeu negativas pelo fato de o projeto ser financiado pelo Pentágono.
Mas o Equador, por exemplo, com governo nacionalista de esquerda, enviou um vice-ministro da Defesa. Quando listados, os nomes dos participantes indicam maioria centrista, com alguns acadêmicos de centro-esquerda de universidades americanas.
O relatório da Venezuela não lista todos os participantes do seminário. O autor é o americano Harold Trinkunas, da Escola Naval de Pós-Graduação e do Centro Carter. O estudo da Colômbia é assinado por Victor Uribe-Uran, da FIU.
Crítico do “personalismo” do presidente Álvaro Uribe e da concentração de poder no Executivo em Bogotá, Uribe-Uran anota que “parece claro que as Farc (forças armadas Revolucionárias da Colômbia) receberam apoio” do governo venezuelano.
O estudo sobre o Brasil foi compilado por Luis Bitencourt, do Centro de Estudos da Defesa Hemisférica da Universidade Nacional da Defesa dos EUA, e Alcides Costa Vaz, da Universidade de Brasília. Outros convidados foram Clóvis Brigagão, da Universidade Candido Mendes (RJ), e o brasilianista Kenneth Serbin.

Fonte: NOTIMP

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