Lula e Angela Merkel discordam publicamente sobre programa atômico de Teerã

Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a chanceler alemã Angela Merkel, durante assinatura de atos no Palácio do Planalto Foto: Antonio Cruz/ABr

Fernando Duarte

Enviado especial BERLIM

Numa entrevista coletiva até então marcada por amabilidades, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a chanceler federal alemã, Angela Merkel, divergiram publicamente sobre o programa nuclear iraniano. Enquanto Merkel voltou a afirmar que sua paciência está no fim com a recusa de Teerã em aceitar a proposta de enriquecer o urânio até níveis suficientemente altos para uso pacífico, mas não militar, no exterior, Lula afirmou que é preciso mais paciência nas negociações e que falta autoridade moral a países como EUA e Rússia para fazer exigências e exigir sanções.

— Tratar o Irã como se fosse um país insignificante e aumentar a pressão não poderá resultar em coisa boa. Sempre há brecha para encontrarmos um jeito de mostrar que a paz é mais barata e eficaz. Mas autoridade moral para a gente pedir aos outros que não tenham é a gente também não ter. Espero que não haja arma nuclear em nenhum lugar do mundo. E que os EUA desativem as suas, que a Rússia desative as suas — disse Lula, sem mencionar que EUA e Rússia estão negociando uma redução de seus arsenais, e diante de uma relativamente surpresa Merkel.

Lula: ‘Aumentar o grau de paciência

Pouco antes, Merkel havia feito questão de ressaltar que Brasil e Alemanha tinham posições distintas. Ela se disse frustrada com a falta de avanço nas negociações com Teerã e defendeu o estudo de novas sanções: — Eu e o presidente Lula temos os mesmo objetivos, mas devo dizer que, embora a Alemanha não queira encostar nenhum país contra a parede, o Irã há quatro anos tem violado acordos internacionais e não mostrou nenhum progresso nas negociações. Se o Irã continuar testando nossa paciência, será preciso estudar novas sanções.

O que o presidente brasileiro não levou em consideração na conversa com Merkel foi a atual falta de credibilidade de Teerã junto à comunidade internacional. A crise começou quando, em 2002, descobriu-se que o Irã mantinha um programa nuclear secreto há 18 anos. Há três meses, serviços secretos ocidentais mostraram para técnicos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que o país estava construindo outra usina nuclear em sigilo — e com indícios de que ela não poderia ser usada para fins pacíficos. As novas descobertas fizeram a AIEA aprovar (apesar da abstenção do Brasil) uma resolução exigindo a interrupção do programa.

Ontem, Lula ressaltou o fato de ter se encontrado na mesma semana com os líderes de Irã, Israel e da Autoridade Nacional Palestina, e recentemente com os de EUA, França e Reino Unido.

Lula reafirmou o compromisso brasileiro com o uso pacífico da energia nuclear e, nas entrelinhas, cobrou do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, uma posição mais clara.

— O Irã tem uma cultura muito forte, 80 milhões de pessoas e problemas internos muito grandes. Precisamos aumentar o grau de paciência para estabelecer novo tipo de conversa e diminuir o grau de desconfiança generalizada que existe hoje. Minha posição é clara: o meu país tem um compromisso constitucional que proíbe a utilização de armas nucleares e assinou o Tratado de Não-Proliferação. Temos enriquecimento de urânio para uso

“O Irã há quatro anos tem violado acordos internacionais e não mostrou nenhum progresso nas negociações”.

Angela Merkel

“Precisamos aumentar o grau de paciência para estabelecer novo tipo de conversa e diminuir o grau de desconfiança generalizada que existe hoje”.

Luiz Inácio Lula da Silva

Sugestão e colaboração Lucas Urbansk

Fonte: Resenha CCOMSEX

4 Comentários

  1. Tenho que concordar com o Pres. Lula. Alguns países querem manter o monopólio do domínio da energia nuclear e manter os outros países, a qualquer preço, distantes dessa tecnologia. O Irã está certo em construir usinas de enriquecimento de urânio a 40 metros de profundidade; pois, Israel (que possui mais de 200 bombas atômicas)tem o hábito de bombardear qualquer vizinho que queira desenvolver qualquer instalação nuclear. Pode-se bloquear tudo, menos o conhecimento.

  2. Israel a meu ver já esta passando dos limites, invadindo espaço aéreo de outros países, criticando a criação de complexos nucleares de outros países, mas por que eles tem esse direito e os outros países não tem, e se o Irã realmente estiver armamento nuclear, acho que o Irã não ira pestanejar em lançar uma ogiva nuclear nos EUA e em Israel caso um conflito armado ocorra, mas torço para que isto não aconteça, pois os resultados poderiam ser catastróficos.
    Abraço.

  3. Não que eu aprecie a proliferação de armas nucleares (especialmente nas mãos de regimes ditatoriais), mas se alguns países as possuem os outros também se sentem no mesmo direito.
    Lucas: não quero sua inimizade (nem a de ninguém), mas Israel invade o espaço aéreo de outros países para revidar ataques recebidos. Se os árabes querem a paz, podem demonstrar isso deixando de lançar “Katyusha” no vizinho. Abraço, amigo.

  4. A Alemanha e o Brasil estão certos de se posicionarem desta forma,pois países sem estrutura como o Irã, não podem cultivar armamento nuclear.Pois em um possível aborrecimento eles podem usá-las sem menor hesitação.

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