Paciência de Israel para com o Irã diminui

  

 

Der spiegel

 

Os líderes do Irã continuam a rejeitar compromissos quanto ao seu programa nuclear e estão a repelir a intervenção da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O Ocidente deverá responder com sanções mais rigorosas, mas é improvável que isso satisfaça Israel, que já possui planos de ataque.

Seis homens sentam-se em torno de uma mesa, decidindo o futuro do mundo. Os homens, que representam os Estados Unidos, a Rússia, a China, a França, o Reino Unido e o Irã, analisam questões como: Teerã está de fato construindo uma bomba nuclear? As sanções surtem efeitos, e caso surtam, como elas deveriam ser intensificadas? Bombardear as instalações nucleares iranianas seria a única solução real, e quais seriam as consequências de tal medida?

Esses homens não são políticos, mas sim cientistas e diplomatas que assumem papéis de outras pessoas. Todos eles são cidadãos israelenses. Isso não faz com que a experiência – que ocorreu duas semanas atrás no Instituto de Estudos de Segurança Nacional em Tel Aviv – seja menos espetacular. Os participantes nessa encenação, todos eles bastante familiarizados com as questões em pauta, foram capazes de adotar abordagens completamente diferentes daquelas dos políticos diante de cenários hipotéticos, pelo fato de não serem responsabilizados por nenhum resultado – positivo ou negativo – das suas decisões.

O resultado do experimento deveria ter sido mantido em sigilo, mas esta parte dele vazou: o indivíduo que fazia o papel de representante dos Estados Unidos enfatizou as negociações e repeliu o confronto por muito tempo, enquanto o “Irã” se mostrava convencido de que possuía cartas excelentes neste jogo e via como remoto o risco de sanções verdadeiramente prejudiciais. “Israel” inicialmente pediu o isolamento internacional do Irã e a adoção de sanções econômicas devastadoras contra este país por parte da Organização das Nações Unidas (ONU), mas, a seguir, como último recurso, ameaçou atacar.

 

Os planos estão prontos

 

Os resultados provavelmente agradaram ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, porque eles estão de acordo com a forma como o premiê pensa. Embora Netanyahu ainda não esteja preparado para enviar aviões de caça israelenses para bombardear as instalações nucleares iranianas, as forças armadas possuem planos prontos.

Netanyahu afirmou com bastante frequência que jamais aceitará uma bomba nuclear iraniana. Ele não acredita no presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad quando este insiste que o programa nuclear do Irã tem fins exclusivamente pacíficos. Mas ele acredita em Ahmadinejad – um notório contestador da veracidade do Holocausto – quando o presidente iraniano ameaça repetidamente varrer Israel do mapa. Netanyahu traça paralelos entre a forma como a Europa procurou atender aos desejos de Hitler e a atual situação. “Estamos em 1938, e o Irã é a Alemanha“, diz o primeiro-ministro israelense. “Desta vez, porém, os judeus não permitirão que sejam usados como ‘cordeiros sacrificiais’“.

Mas até mesmo os políticos que normalmente adotam uma postura menos radical, como o vice-primeiro-ministro Dan Meridor, ministro da Inteligência e da Energia Atômica de Israel, estão percebendo neste momento que a situação está evoluindo para um ponto crítico. Uma estreita maioria da população israelense atualmente é favorável ao bombardeio das instalações nucleares iranianas, enquanto 11% cogitariam deixar Israel caso Teerã adquirisse armas nucleares.
Meridor afirma que os seus congêneres no governo dos Estados Unidos anunciam uma elevação drástica do nível de preocupação entre os vizinhos árabes moderados do Irã. “Atualmente, 90% das conversas entre os Estados Unidos e países como o Egito e a Arábia Saudita giram em torno do Irã, e 10% dizem respeito ao conflito israelense-palestino“, afirma Meridor.

 

Estágio decisivo

 

Esta preocupação não se restringe à região. Em Washington e na União Europeia – e, mais recentemente, em Moscou – o foco deslocou-se drasticamente na direção do Irã. Após anos de manobras e dissimulações, e após um longo período de oportunidades perdidas, também por parte do Ocidente, o conflito está caminhando para um estágio decisivo.

Em uma entrevista a “Der Spiegel” em meados de novembro, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, disse que não tinha a intenção de “remover da mesa” a opção militar. O seu congênere alemão, o ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, participou de uma reunião no Ministério das Relações Exteriores de Israel na terça-feira passada, onde foi informado sobre os últimos relatórios de inteligência israelenses a respeito do programa nuclear iraniano. No dia seguinte, em Viena, quando estava ao lado do ganhador do Prêmio Nobel da Paz e diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohammed ElBaradei, que está deixando o cargo nesta semana, após ter chefiado a agência de fiscalização nuclear da ONU por 12 anos, Westerwelle afirmou que a “paciência da comunidade internacional para com o Irã não é infinita”.

Teerã engajou-se por muito tempo em um jogo de gato e rato com a AIEA. Entretanto, como signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear, o Irã conta com privilégios – tais como assistência técnica para o uso civil da energia nuclear – e tem obrigações claramente definidas. O regime iraniano deixou repetidamente de cumprir tais obrigações, apesar de vários esforços para a promoção de entendimentos, especialmente por parte de ElBaradei. Isso gerou a fúria do governo do ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que chegou a interceptar telefonemas de ElBaradei.

No seu relatório interno mais recente, datado de 16 de novembro de 2009, e marcado com a classificação “somente para uso oficial”, a AIEA adotou um tom incomumente duro. Segundo o relatório, é evidente que a instalação de Fordo para enriquecimento de urânio, perto da cidade de Qom, no noroeste do Irã, que os inspetores da ONU descobriram em setembro último, “precisava ter sido anunciada“, porque ela aparentemente estava em construção por um período bem maior do que o sugerido pelos iranianos. Um possível programa nuclear militar, que a liderança iraniana nega sistematicamente, gera questões “alarmantes“, segundo o relatório, enquanto Teerã continua recusando-se a permitir inspeções não anunciadas. Em suma, o relatório declara: “O Irã não cumpriu as suas obrigações. O seu comportamento não conduz ao estabelecimento de confiança“.

 
A apenas um ano da bomba?
 

 Por trás dos bastidores, em Viena, há sérias preocupações quanto à notícia de que o Irã poderia estar desenvolvendo um míssil de alcance intermediário Shahab-3 capaz de ser modificado para transportar armas nucleares e de atingir Tel Aviv. Há quem acredite que os cientistas iranianos conseguiram simular com sucesso a detonação de uma ogiva nuclear. A detonação é um dos problemas tecnologicamente mais difíceis na fabricação desse tipo de arma nuclear. Os especialistas acreditam que o Irã poderia demorar apenas um ano para adquirir o conhecimento e a quantidade suficiente de urânio altamente enriquecido para fazer uma verdadeira ogiva nuclear.

Os relatórios de inteligência sobre uma reestruturação do Ministério da Defesa iraniano não são menos alarmantes. Segundo esses relatórios, um “Departamento de Aplicações Expandidas de Alta Tecnologia” (FEDAT) está atualmente sob grande pressão por parte do governo em Teerã para implementar um programa nuclear militar. Segundo um organograma do FEDAT obtido por “Der Spiegel“, o departamento está dividido em subdepartamentos para a mineração e enriquecimento de urânio, metalurgia, pesquisa de nêutrons, materiais altamente explosivos e suprimento de combustível nuclear (“Projeto 111“). O FEDAT é chefiado pelo misterioso Mohsen Fakhrizadeh-Mahabadi, uma das principais autoridades que a AIEA deseja entrevistar, embora Mahabadi tenha até agora se recusado a conversar com a agência.

 

Gestos para negociação

 
 
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez vários gestos ao Irã para uma negociação. Ele admitiu a ocorrência de erros históricos, como o golpe de 1953, apoiado pela Agência Central de Inteligência (CIA), que derrubou o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh. Em uma mensagem de vídeo ao povo iraniano que coincidiu com o festival de Nowruz, que marca o início do ano novo iraniano, Obama falou sobre as grandes realizações civilizatórias da nação persa. Ele abandonou totalmente a exigência por parte de Washington de que Teerã abrisse mão do enriquecimento de urânio, algo que era uma exigência para negociações durante o governo do seu antecessor, George W. Bush.

E Obama propôs, juntamente com outros membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha, um acordo de troca que permitiria que nenhuma parte saísse humilhada: o Irã enviaria uma grande parcela do seu urânio pouco enriquecido ao exterior durante um ano, à Rússia ou à Turquia, e em troca receberia elementos de combustível nuclear processado pela França.

O benefício para Teerã seria o recebimento, para o seu reator de pesquisas, de radioisótopos usados no tratamento do câncer, e dos quais  Irã necessita com urgência. O benefício para a comunidade internacional residiria no fato de que ela teria certeza de que os iranianos, durante o período coberto pelo acordo, não teriam nenhuma oportunidade de realizar as suas próprias atividades amplas de enriquecimento necessárias para a produção de urânio altamente enriquecido, o material utilizado para a fabricação de bombas nucleares.

A princípios os iranianos pareceram estar interessados, mas a seguir eles começaram a estabelecer condições. Finalmente, o ministro das Relações Exteriores, Manouchehr Mottaki, rejeitou a oferta, afirmando que Teerã não enviaria de forma alguma material radioativo para o exterior.

 
 

Agarrando-se às últimas esperanças

 

Em um apelo quase desesperado, ElBaradei a seguir dirigiu-se diretamente à liderança iraniana, dizendo: “Vocês precisam se engajar em uma diplomacia criativa. Precisam entender que esta é a primeira vez em que contam com um compromisso genuíno por parte de um presidente norte-americano de conversar com vocês integralmente, com base no respeito e sem impor condições“. Nos seus últimos dias no cargo, o chefe da AIEA agarra-se à esperança de que ainda haja uma resposta final.

Mas atualmente o Irã prefere os gestos ameaçadores aos compromissos de qualquer tipo. Os iranianos ficaram tão furiosos devido a uma resolução apresentada pela Alemanha à diretoria da AIEA na última quinta-feira, que foi apoiada por Washington, Moscou e Pequim, que ameaçaram limitar a sua cooperação com a ONU. A resolução, que foi aceita no dia seguinte por uma grande maioria, consiste essencialmente em uma demanda de garantias por parte de Teerã de que o Irã não manterá em funcionamento nenhuma outra instalação nuclear não declarada. Em uma das maiores manobras militares dos últimos anos, a liderança iraniana passou cinco dias exibindo todos os seus equipamentos militares disponíveis, quase que como estivesse se preparando para o pior.

Mas a exibição de tanques e aviões de caças iranianos não tinha como intenção apenas intimidar o “agressor sionista” e os seus aliados. Os mulás também utilizaram a manobra para demonstrar a sua determinação e capacidade de agir no cenário interno, onde o regime está em conflito com a oposição nos últimos seis meses. Desde a eleição presidencial iraniana em junho passado, quando o inflexível Ahmadinejad privou o seu adversário reformista Mir Houssein Mousavi da vitória por meio de suposta fraude eleitoral, a oposição não dá trégua.


 
Pagando o preço
  

 O regime leva bastante a sério os gritos de protesto “Allahu akbar” (“Deus é grande“) e “Marg bar Dictator” (“Morte ao ditador“). Nos meses da revolução, em 1978 e 1979, milhões de iranianos usaram os mesmos slogans em protestos contra o xá Mohammad Reza Pahlavi e o seu brutal serviço de inteligência, o Savak.

Dezenas de apoiadores do “Movimento Verde” já pagaram pelos protestos com as suas vidas, e pelo menos 4.000 opositores do regime foram presos. Embora muitos deles tenham sido libertados alguns dias depois, os relatos de torturas e estupros só fizeram aumentar o ódio da população pelo regime. O idoso grande-aiatolá Hossein Ali Montazeri, que contestou a legitimidade do regime e declarou uma fatwa afirmando que as bombas nucleares são “anti-islâmicas“, está mais uma vez sob prisão domiciliar. 

 
“O inimigo está por toda parte”
 

 A liderança aumentou a pressão mais uma vez nas últimas semanas. Ela fortaleceu a temida Guarda Revolucionária, ou Pasdaran, formada por indivíduos que são considerados os apoiadores mais leais do regime, acrescentando a ela duas novas unidades para “combater as operações psicológicas do inimigo”. Uma outra nova unidade foi criada para monitorar os sites oposicionistas na Internet e combater “insultos e a disseminação de mentiras“. Essas unidades estão sob o comando da procuradoria-geral de Teerã, famosa pelos seus julgamentos teatrais. O país encontra-se em uma “guerra suave“, segundo o general da Pasdaran, Mohammad Bagher Zolghadr, “e o inimigo está por toda parte“. Um dos alvos da última onda de repressão foi a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Shirin Ebadi, cujo prêmio foi confiscado pelas autoridades.

A ira popular não está voltada apenas para o “ladrão de votos” no gabinete presidencial. Muitos acreditam que Ahmadinejad seja apenas um fantoche do líder revolucionário, o aiatolá Ali Khamenei, que anteriormente era praticamente intocável. Ele é o homem forte do poder; o homem que controla os serviços de inteligência, as forças armadas, a Guarda Revolucionária e as odiadas milícias Basij. É ele que determina as características básicas da política de governo e decide o rumo seguido pelo Irã no conflito em torno da questão nuclear.

 
Disposto a fazer acordos?
 

 

Mas até que ponto a liderança do país é capaz, neste momento, de agir? Será que ela levará em consideração a comunidade global neste conflito em torno do seu programa nuclear, ou o regime vê o confronto com o Ocidente como a sua oportunidade de sobrevivência?

Segundo fontes conservadora em Teerã, o presidente Ahmadinejad recentemente deixou de se dispor a fazer acordos. Ele aparentemente esperava que poderia melhorar a sua reputação, altamente prejudicada devido ao desastre eleitoral, pelo menos no cenário internacional. Isso, segundo fontes em Teerã, explica por que motivo o principal negociador nuclear iraniano, Saeed Jalili, acenou com uma disposição a fazer concessões no histórica reunião de cúpula sobre a questão nuclear no início de outubro, em Genebra, um encontro no qual uma autoridade iraniana ficou frente a frente com uma autoridade graduada do “Grande Satã” pela primeira vez desde a revolução iraniana. Mas, para Khamenei, o acordo – o processamento de urânio no exterior, em troca de combustível nuclear – era inadmissível. Ironicamente, Mousavi, o político oposicionista, concorda com Khamenei.

Um motivo fundamental para a autoconfiança exibida pelos políticos iranianos é que eles não acreditam que Israel arriscar-se-ia de fato a atacar o Irã. Especialistas dos Estados Unidos também advertem contra o bombardeio de instalações nucleares iranianas.

David Albright, diretor da organização de pesquisas políticas ISIS, situada em Washington, acredita que um “ataque cirúrgico” contra as instalações nucleares seria totalmente impossível. Segundo Albright, ninguém sabe quantas instalações nucleares o Irã possui, e as centrífugas das instalações existentes, como Natanz, estão aparentemente instaladas em túneis escavados tão profundamente no subsolo que nem mesmo bombas especificamente projetadas para a destruição de bunkers seriam capazes de destruir qualquer coisa.

Os israelenses, por outro lado, acreditam que o Irã só está procurando ganhar tempo. O Mossad, a agência de inteligência de Israel, não começou a focar-se no Irã depois que Netanyahu chegou ao poder. As operações da agência há muito tempo já estavam dirigidas contra o Irã. Enviados israelenses visitam discretamente companhias europeias que exportam produtos para o Irã. Quando agitados executivos alemães insistem que os seus produtos são utilizados para fins estritamente civis, os israelenses apresentam fotos mostrando os componentes europeus instalados em uma das usinas nucleares iranianas.

 

 
Chances de sucesso

O Ocidente aprova as sanções da ONU de dia e negócios com o Irã à noite, e Ahmadinejad aproveita-se dessa ambivalência“, disse a “Der Spiegel” o ministro israelense do Comércio, Binyamin Ben-Eliezer. Ben-Eliezer, um general da reserva, acredita de forma otimista que o Irã possa ser contido, mas ele acha que isso exigiria um embargo total: “Nada poderia entrar ou sair“.

Com a economia iraniana enfraquecida, o regime sob pressões internas após a contestação dos resultados eleitorais e os russos distanciado-se do Irã, as chances de que as sanções tenham sucesso jamais foram tão boas, afirmam alguns diplomatas em Teerã.

O regime do Irã não é irracional“, garante o ministro da Inteligência Dan Meridor. Segundo Meridor, Ahmadinejad só tomará uma decisão contrária à fabricação da bomba atômica caso a posse desta arma ameace a sobrevivência do regime.

Outros, no entanto, acreditam que o cronograma para a escalada desse problema já existe, e que o conflito está caminhando para um ponto crítico. Eles acreditam que sanções mais duras terão início na primavera de 2010, seguidas de bombardeios aéreos talvez no verão de 2010.

Enquanto isso, um membro do governo iraniano já fez ameaças preventivas: “Se o inimigo quiser testar o seu azar e disparar um míssil contra o Irã, antes que a poeira baixe os mísseis balísticos iranianos atingirão o coração de Tel Aviv“.

Tradução: UOL

Sugestão e colaboração Lucas Urbansk
 

1 Comentário

  1. O estado sionistas julga q o iRÃ É O MISERAVEIS E DESARMADOS PALESTINOS, q eles oprimem ,matam por fuzilamentos de mulheres ,crianças,por doenças m fome e sede,estão enganados, é a radiação poderáir até o caração da europa…sem contar com a pesada retalição….tenta a sorte.Q Deus (YHWH ) nos ajude.

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