Brasil vai fazer gás de urânio para combustível nuclear

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Roberto Godoy, de O Estado de S. Paulo

O Brasil terá domínio completo do ciclo do combustível nuclear em dezembro de 2010, quando entrará em funcionamento pleno a Usexa, a usina de produção de gás de urânio, no Centro Experimental Aramar, a sede do Programa Nuclear da Marinha, em Iperó, a 130 quilômetros de São Paulo. Os testes começam um pouco antes, em maio. A fábrica, um pavilhão ocupado por quilômetros de tubos, válvulas e uma rede de controle digital, está recebendo o ajuste final para iniciar o ciclo de 150 dias de ensaios que antecede a produção regular.

Esse não é o único segredo guardado na área de 90 mil metros quadrados, garantida por fuzileiros navais, sensores eletrônicos e rígidas normas de segurança. Depois que voltou a receber investimentos, há pouco mais de dois anos, Aramar acelerou o ritmo das obras civis e das investigações científicas. Em meio a vestígios da Mata Atlântica e da densa vegetação de cerrado, há prédios de 30 metros de altura em construção, lastreados sobre a rocha pura: ali vai funcionar em 2014 um reator de 48 MW avaliado em US$ 130 milhões. Está parcialmente pronto e estocado. Vai servir ao submarino atômico que a Marinha está produzindo em parceria com os estaleiros DCNS, da França.

De determinados pontos que só podem ser frequentados pelos técnicos diretamente ligados às atividades do Centro Experimental, estão saindo duas novas gerações de ultracentrífugas, 15% e 30% mais eficientes no delicado trabalho de enriquecer o urânio de forma a que possa produzir energia.

As facilidades atendem à demanda atual das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), mas terão de ser expandidas até o ponto de se transformarem em uma indústria para suprir as exigências das oito novas centrais elétricas planejadas para o setor. O segredo em torno da engenharia e da tecnologia das ultracentrífugas é extremo. A fábrica, prevista para crescer por 40 anos, ficará em Iperó.

Tudo isso significa que 25% dos objetivos pretendidos para 2014, nosso ano chave, estão resolvidos”, explica o comandante André Ferreira Marques, coordenador de Propulsão Nuclear.

A usina de gás é a quarta do mundo. Tem capacidade para fornecer 40 toneladas por ano, volume necessário ao suprimento da Força, empenhada no desenvolvimento próprio do sistema de propulsão dos futuros submarinos. O primeiro navio entra na água em 2020.

É o único segmento do processo que o País ainda compra no exterior, embora domine todo o conhecimento. A Usexa custou R$ 40 milhões. Do total, R$ 23,6 milhões saíram da Financiadora de Projetos e Pesquisas.

Em 13 de dezembro de 2005, em escala de laboratório, foi obtida a primeira amostra de conversão do yellow cake – estágio básico do beneficiamento do minério – em hexafluoreto, a forma gasosa que é utilizada no enriquecimento do urânio.

Atualmente, o material, livre de impurezas, é enviado para o Canadá em tambores de 400 quilos para ser modificado na agência Cameco. Depois, volta para o Brasil.

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Ritmo acelerado

No canteiro de Aramar trabalham 1.100 técnicos sob contrato. A maior obra é um complexo de sete prédios e 6 mil metros quadrados. Fica pronto em 2014. O edifício principal tem 30,5 metros de altura. Ali vai funcionar o LabGene, Laboratório de Geração Nucleoelétrica. No vão livre do pavilhão de ensaios será instalado o reator PWR, de água pressurizada, capaz de gerar 48 MW.

Os componentes, antes mantidos em espaços com ambiente controlado, começam a ser reunidos. Semana passada partes dos grandes vasos de aço especial dividiam um armazém com dois geradores de vapor, peças sofisticadas “que exigiram vinte anos de investimento científico”, segundo Ferreira Marques. Essas máquinas é que vão movimentar o submarino de 6 mil toneladas e 100 metros.

O Programa Nuclear ficou paralisado por dez anos. Voltou a ser prioridade do governo há dois anos. Em julho de 2007, recebeu R$ 55 milhões, empregados em manutenção e salários.

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Investimento

O Comando da Marinha está investindo pouco mais de R$ 400 milhões em Aramar. O reforço orçamentário garantido pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva, em 2007, é de R$ 130 milhões por ano com o compromisso de que será mantido até 2016, totalizando R$ 1.040 bilhão.

O valor está sendo revisto e deve ser aumentado gradativamente, de acordo com o ministro Paulo Bernardo, do Planejamento. A estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) recebe nos próximos 20 dias, do Centro Tecnológico da Marinha, o segundo e mais avançado conjunto de ultracentrífugas para enriquecimento de urânio. São máquinas da geração 1/M2, revelada pelo Estado em julho de 2008. O modelo é 15% mais eficiente que o da série anterior. O tipo mais antigo permanentemente atualizado é 50% melhor em relação à série inicial, ativada em 1989. “Em 2010 a INB vai um terceiro grupo de ultracentrífugas com o rendimento 30% maior em relação a 2009 – e, ao mesmo tempo, será iniciada a montagem do quarto conjunto, todos destinados à Fábrica dos Combustíveis, em Resende, no Rio de Janeiro”, explica Ferreira Marques. A meta da INB é dispor de 10 cascatas de enriquecimento até 2014.

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As maquinas são usadas para aumentar a proporção de isótopos U235 (‘ricos’ em energia), separando, em meio ao gás, o U-238 (mais ‘pobre’). O Brasil enriquece o urânio a 4%. O índice adequado à fabricação de armas é superior a 90%. Os resultados obtidos pela Marinha são submetidos à inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica, a AIEA. A organização mantém câmeras lacradas nas instalações de Iperó e realiza o monitoramento dia e noite. Periodicamente são feitas verificações técnicas no local. O reator e ensaios entra em atividade em 2014 para dois anos de provas.

Depois disso será integrado ao programa do submarino. O gasto em 2009 bate em R$ 2,1 bilhões. No pacote, estão incluídas parcelas referentes aos quatro submarinos Scorpéne, diesel-elétricos . A primeira tripulação do navio atômico começa a ser formada em 2010. São 60 militares, ainda não selecionados, que terão pela frente um ano do curso de submarinista e mais 36 meses de preparação especializada.

Sugestão e colaboração: Konner

Fonte: Estadão

4 Comentários

  1. Sem comentários, parabéns ao governo federal e principalmente a Marinha Brasileira, estamos acordando do nosso complexo de vira-latas, estamos realmente a caminho de ser uma Super-Potência mundial, o caminho é este senhores, não depender de ninguem em áreas estratégicas, e que venham 6~7 submarinos nucleares, pois 3 já estou achando pouco,kkkkk estou brincando.
    Abraço.

  2. Vc está certo, pelos menos uns 5..dois em reparos tres na ativa, n Sampa só vive docado…pq? Ñ tem patrulha p ser feita ? Então ,pq ter algo tão custoso e deixar nossos mares “abertos ” ?Quem pode responder-me?

  3. Caríssimo Carlos, acho que a Marinha Brasileira usa mais o Sampa para treinamento e qualificação de pessoal, para não ter que refazer todos os treinamentos cabíveis a um marinheiro deste tipo de embarcação, pois futuramente ele sera substituido por um outro Porta-Aviões bem mais capaz, a meu ver o Sampa caberia perfeitamente como Porta-Helicopteros, pois este realmente não tem uma ala aérea respeitável, como dizem por aí, nosso querido A-12 serve apenas para criar uma DOUTRINA.
    Abraço.

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